sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Medelín

Hoje foi o primeiro dia que peguei o carro e andei sozinho por Medelín e esse fato foi o que me fez escrever o meu primeiro texto sobre como ser um habitante dessa cidade.

Nao tenho tils ainda, perdao.

Enfim, falando em trânsito, caros amigos de Porto Alegre, nao reclamem mais de nossa perimetral, Assis Brasil, ou zona norte; aqui é muito pior, aliás, nao há comparaçao. Aqui o trânsito em um bairro residencial consegue ser insuportável às 15h, a qualquer hora, é uma tranqueira que dura o dia inteiro. No entanto, é facilmente percebível os motivos desse problema que, admito, é difícil de solucionar.

A cidade é localizada num buraco, entre montanhas, nao há por onde sair, nao há válvula de escape, é uma espécie de Santa Maria em proporçoes gigantes. Para ficar mais claro e evidenciar melhor o problema da falta de espaço da cidade, Medelín tem cerca de 100 km² a menos que Porto Alegre e quase um milhao a mais de habitantes, ou seja, difícil ter-se um trânsito que funcione. Soma-se a isso a falta de sinalizaçao e um planejamento (ou ausência dele) de trânsito terrível, tem-se como resultado o que eu já mencionei anteriormente.

Prosseguindo, listarei algunas curiosidades da capital do departamento de Anteóquia que me chamaram a atençao ao longo das minhas primeiras duas visitas e agora, quando nao sou mais um turista e sim um morador da cidade.

Essa é a segunda vez que moro em uma cidade diferente a minha. A primeira vez foi em Londres e todas as minhas impressoes iniciais foram de absoluto desbunde pela capital inglesa; agora, sao curiosidades que nao cansam de me surpreender.

Para quem pensa que em Medelín vive-se em meio ao tema das drogas, está enganado. Pouco se ouve falar do tema. Nao obstante, algumas peculiaridades nos fazem pensar no que esta cidade e país já passaram em um passado recente. Na entrada de centros comerciais, supermercados ou qualquer recinto que receba uma margem grande de veículos, o teu carro pode ser farejado por um cao em busca de bombas ou entao alguém pode colocar um espelho embaixo do veículo também em busca de explosivos. Ainda semana passada explodiram uma Blockbuster em Bogotá.

Nao se pode falar ao telefone celular dentro de agências bancárias.

Nao há como se fazer depósito de dinheiro ou cheques no caixa eletrônico.

Há uma espécie de prato típico chamado “mazamorra” que é nada mais nada menos do que um copo de leite com milho dentro. Das piores coisas que já vi na minha vida.

Falando em piores coisas, o gosto musical da populaçao de Medelín é incomparable (bom, pode ser comparable ao Triângulo do Mal: Goiás, interior de Minas e interior de Sao Paulo). Há cerca de 200 estaçoes de rádio que tocam salsa ou qualquer outro desses pavorosos ritmos latinos, o que dá a impressao diabólica de que todas estao tocando a MESMA coisa. Se o ritmo nao é latino, a coisa pode ser pior, acreditem se quiser. Eles ouvem uma espécie de música sertaneja, igual, tanto a melodia quanto a letra que eles chamam de “vallenatos”. De entristecer. Para completar, “reggaeton”, uma espécia de hip-hop em espanhol. Enfim, comemora-se quando toca Shakira…

Os porteiros dos prédios vendem coisas; sim, sao pequenos mercados. Vendem Coca-Cola, salgadinhos, leite…

Há uma campanha publicitária do governo na televisao sobre a chegada da TV digital no país. A personagem usada é uma criança que diz que estará “grande” quando essa tecnologia chegue ao país. Diz-se por aqui que chegará em, pasmem, 10 anos. Pregunta: por que essas campanhas com tanta antecedência? Ainda nao sei a resposta.

Tem gente vendendo varas de pescar nas sinaleiras.

Informaçao preciosa para quem pensa em vir à Colômbia: se um cidadao daqui marcar qualquer compromisso para daqui a oito dias, cuidado, ele se refere a daqui a 7 dias, ou seja, uma semana depois. Simulaçao:

Sabado:

- Bueno, Eduardo, nos vemos de nuevo en 8 días, listo?
- Ok, Juan (aquí todos se chamam “Juan” alguma coisa), nos vemos.
- Chau, Eduardo, hasta sabado.

Sabado + 8 dias = domingo.

Pois é…

O Valderrama é considerado o maior jogador da história do futebol colombiano, entao imaginem o nível da coisa…

O Higuita ainda joga e participa de reality shows.

Ninguém fuma aqui e isso é fabuloso.

O suco em pó aqui é muito melhor.

Tem novela em horário nobre com casal de guei dormindo na mesma cama.

As apresentadoras de telejornal sao insinuantes e gostosas; nao usam terno como as do Brasil.

Os instrutores de academia sao gordos acabados que nunca fizeram um exercício.

Cachaça é bebida de todas as classes sociais e nao só dos miseráveis. Deprimente. Aliás, essa é mais uma característica semelhante ao Triângulo do Mal: a maioria da populaçao é alcoólatra.

Chamam ônibus de tamanho menor de “bucetas”.

Eles falam “Carrefull” e nao “Carrefour”.

Os restaurantes sao bem mais baratos que os de Porto Alegre enquanto que a comida em supermercado é absurdamente mais cara. Uma lata de creme de leite é quase R$5,00.

Há terremotos aquí.

A televisao a cabo é absurdamente barata, se tem direito a colocar em quantos aparelhos se quiser e tem ESPN+, Fox Sports e TyC Sports. Boa.

Eles aqui têm uma emisora igual à Globo. Novelas patéticas que conseguem ser ainda piores que as do Brasil intercaladas com telejornais e todo mundo só vê isso mesmo tendo cabo. Nao tem Big Brother pelo menos.

Assim como em Londres e Nova Iorque, há esquilos nas áreas verdes.

Para quem gosta de xópins, aquí é o paraíso. Centenas, de tudo quanto é tamanho e com tudo quanto é loja.

Eles colocam avisos nos elevadores de prédios residenciais com os nomes das pessoas que têm dívidas de condomínio. Nao morava em apartamento aí talvez façam isso aí também, mas o engraçado é que, aqui, o texto começa: “viemos por meio deste de forma muito DISCRETA…”

Há mulheres bem bonitas aquí. O problema é que muitas se destroem com plásticas e afins, acho que é característica herdada da proximidade com o Estados Unidos, mas ainda assim há uma boa porcentagem de mulheres bonitas e gostosas. Ao mesmo tempo, e aí vem a notícia boa para os amigos que talvez um dia venham a pôr os pés aquí para me ver: os homens sao patéticos. Além de gordos, feios, índios, sao alcoólatras e idiotas, com uma idade mental de crianças de 10 anos, incrível, juro que passo uma noite inteira sem pauta de conversaçao alguma, eles falam única e exclusivamente sobre absolutamente NADA, nem futebol dá para falar com as figuras. Fácil de entender porque tantas mulheres daqui voltam do exterior casadas. Difícil de entender tendo em vista que ambos, homens e mulheres, saem das mesmas vaginas…

Antes que o caro e saudoso Gustavo questione o que um homem da minha elegância está fazendo aqui, esclareço: Medelín apesar dessas pecualiaridades, é uma cidade moderna (bom, exceçao é o aeroporto que é de entristecer), agradável, bonita e com todos os recursos, longe de ser aquela imagem que grande parte da populaçao mundial tem em seu imaginário associada à violência e outros problemas sociais. Explico melhor.

Por ser localizada em um buraco e por sofrer tanto de problemas de falta de espaço, o “asfalto” como dizem os cariocas é dominado pelos “incluídos” sendo os morros destinados à populaçao pobre e miserável. Essa situaçao dá a ideia de que a cidade é de primeiro mundo. Nao se vê miséria e favelas na cidade, TUDO está nos morros. Essa divisao da cidade é boa para os incluídos que vivem em um mundo maquiado, mas terrível para os excluídos que devem demorar cerca de 3 horas para chegar ao trabalho. O serviço público de transporte é de nível africano, infinitamente pior que o do Rio de Janeiro. No entanto, na cidade, no “asfalto”, apenas bons carros e brancos sorridentes. A Colômbia possui a segunda pior distribuiçao de renda da América, fica atrás apenas do Brasil; no entanto, o Brasil mistura. Ao lado de bairros de casas de um milhao de dólares há favelas; aquí nao. No “asfalto” até se pode encontrar regioes de classe média, mas jamais favelas, essas ficam no morro, esses muito semelhantes aos do Rio de Janeiro.

Quem quiser conferir de perto, é meu convidado e perdao se a correçao automática em espanhol cometeu algum equívoco.