quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A vida é uma novela

A Rede Globo é reconhecida por ser a maior emissora de televisão da América Latina.

Além desse reconhecimento, tem a fama de “fazer escola”, ou seja, servir de exemplo e parâmetro para outras emissoras do continente.

Dizem que a Televisa, segunda maior potência midiática do continente, é uma cópia fiel da gigante brasileira, no entanto, felizmente, jamais morei no México para poder conferir isso de perto.

No entanto, me considero apto a analisar a maior rede de televisão colombiana, a RCN.

Para quem tiver preguiça de ler tudo, resumo: é, basicamente, o mesmo lixo que é a Globo, mas com produções ainda piores devido a artistas que conseguem a façanha de serem ainda PIORES do que os brasileiros.

A semelhança que mais salta aos olhos é a grade de programação. É basicamente idêntica a da Globo. De manha, ao invés de Ana Maria Braga e seu papagaio, eles têm “Muy Buenos Días” que é um programa muito semelhante ao da socialaite brasileira, mas tem um pequeno e vexatório detalhe: é apresentado por um homem. Para quem não acompanha o Blog, vale lembrar que é impressionante a quantidade de características femininas que os homens daqui têm e esse fator acaba de certo modo justificando a escolha de um homem para ser a Ana Maria Braga colombiana. Os homens aqui gostam de fofocas, de novelas, reparam nas roupas e cortes de cabelos dos demais, entre outras características extremamente femininas.

Voltando ao programa, a velha fórmula vazia para mentes pobres recém postas a funcionar: artistas (de novelas) convidados, papo furado, superficialidades, fofocas de celebridades...nada mais adequado para o seu público alvo, donas de casa
colombianas com absolutamente nada na cabeça além de acompanhar novelas.

O vício por novelas faz com que os brasileiros sejam considerados anti-noveleiros de carteirinha. Somente na parte da manha, pasmem, há DUAS novelas, mas isso não é nem a ponta do iceberg. Além dessas duas doses matinais, há mais...O-I-T-O novelas que se espalham como vírus suínos pelos períodos da tarde e da noite. Oito! Querem saber os nomes para rirem um pouco? Lá vai:

1. La Usurpadora;
2. La Rosa de Guadalupe;
3. El Fantasma del Gran Hotel;
4. Las Detectivas Y El Victor;
5.El Capo;
6. Verano En Venecia;
7. En Nombre del Amor;
8. María Belén;
9. Café Con Aroma de Mujer;
10. Sortilegio.

Para completar, outras três somente de finais de semana.

As tramas das novelas colombianas, assim como as brasileiras, têm a profundidade de uma poça d água, que é o limite em que o público pode acompanhar sem se perder.

Basicamente é assim: histórias violentas envolvendo guerrilhas, narcotráfico e afins, traições, amores impossíveis, criaturas que descobrem apenas no final que são filhos do fulano e não do beltrano, pobres felizes e honestos, brigas de mulheres, ameaças de morte e choro, MUITO choro, todo o tempo, é uma choradeira infinita e, a cereja do bolo, tudo isso sob muita, mas MUITA maquiagem. Talvez essa seja a grande diferença das novelas da Globo quando comparadas as colombianas: menos drama, o brasileiro não consegue ser tão dramático e fatalista como os hispânicos e maquiagem adequada, menos cafona.

Outra coisa que não sei se serei capaz de me fazer entender, é a veneração de artistas após esses protagonizarem cenas de “exceção”, como por exemplo: brigas, desabafos com muito, mas MUITO choro, lições de moral entre outras. Após uma cena dessas, o país inteiro fica comentando: “que artista fantástica, como trabalha bem”.

PS: os homens também, eles não perdem um capítulo sequer.

Além das novelas, há, não poderia faltar, um reality show. O daqui é uma versão do programa global “No Limite” que, com toda certeza, deve ter sido copiado de algum enlatado americano. O fato é que o colombiano El Factor X é exatamente igual. Aqui na Colômbia é como na natureza: nada se cria, tudo se transforma. Ou se adapta.

O programa consiste de pessoas que estão em uma área selvagem e ficam realizando tarefas estúpidas em busca de pontos e de fama. Não vou perder mais tempo desdobrando um enredo que pouco oferece. Vale salientar que o apresentador não é um garotão jovem e sim um cinqüentão a la Pedro Bial, faz aquele estilo de “sou coroa, mas ainda estou na moda”, estilo George Clooney, Richard Gere ou Chico Buarque.
Lamentável.

Devido à imensa quantidade de novelas, há espaço somente para um telejornal. Mesma fórmula, apresentador negro para parecer moderno, mas é mais pobre. Muitas notícias locais, muitos factóides, difícil não pegar no sono vendo o telejornal aqui. Mais uma vez: feito sob medida para um público que não se interessa por nada além de seu jardim. Quem acompanha o Blog sabe que me refiro ao povo colombiano como o com menos conhecimentos gerais do mundo, sabem muito pouco além dos seus umbigos.

Nos sábados à noite, enquanto a Globo coloca seu patético programa de comédia, a RCN aposta em uma coisa inacreditável para um horário nobre. É um programa estilo Olimpíadas do Faustão, pessoas tentando passar em buracos na parede, todos caem na água...enfim, isso é o programa de sábado à noite na Colômbia, mais uma vez muito bem pensado quando se sabe que o povo já está em estado de ou a caminho da inconsciência alcoólica.

O “Globo Repórter” colombiano tampouco poderia ficar de fora. Aqui se chama Especiales Pirry (nome do apresentador patético), mas, diferentemente do programa global, não é sobre animais e/ou lugares inóspitos e sim sobre os temas preferidos da nação: drogas, prostituição, modelos, anemia, operações plásticas...não sai muito disso e tudo com aquele caráter de benfeitor popular que as emissoras de televisão sempre buscam ter em países subdesenvolvidos.

Vale destacar também uma campanha que constantemente aparece nos principais canais do país, que é a da “televisão livre”, sem censura. Não conheço o regulamento dos meios de comunicação na Colômbia como conheço o do Brasil, mas imagino que deve conter pontos semelhantes como horários adequados para a baixaria, limite de comerciais, parcela de programas educativos, enfim, tudo isso que ninguém cumpre.

Logo, fica fácil de entender o motivo dessa campanha disfarçada de interesse social pela livre expressão e pela democracia. Eu, como sou pouco afeito a democracias, principalmente quando o assunto é mídia, sou a favor das medidas tomadas pelo governo argentino de limitar o poder dos grandes grupos midiáticos do país.

Não posso deixar de comentar sobre a segunda potência televisiva colombiana, o Canal Caracol, tão ruim como a RCN. Em sua grade, DOZE novelas! DOZE! Isso mesmo! Ou seja, resumindo, entre as duas principais potências televisivas colombianas, chegamos ao número de 25 produções! Apenas incrível. E triste.

Vale também salientar que, não satisfeitos com as 25 produções, há dois canais na televisão fechada que transmitem apenas novelas, 48 horas por dia. Os nomes: RCN Novelas e Caracol Novelas.

A televisão é tão ruim que até coisas boas são destruídas. Quem consegue resistir a 12 minutos de propagandas em um episódio dos Simpsons que dura 22 minutos? Ou quem aguentará ver Lost sendo chamado de Desaparecidos e, obviamente, dublado? Sem contar que é transmitido de madrugada em dia de semana.

Cabe a mim resistir e contar até quanto for necessário em presença de uma cena comum aqui: homens discutindo sobre novelas ou sobre a vida “privada” de celebridades
locais.

É dose.