segunda-feira, 28 de março de 2011

Quartas-de-final UCL

Antes de começar a palpitar sobre os próximos enfrentamentos da mais prestigiada competições de clubes do planeta, analisemos as oitavas-de-final.

Tive um ordinário desempenho em minha análise anterior e fui traído por algumas zebras. Acertei apenas cinco dos oito confrontos.

Jamais poderia pensar que a Roma perderia em casa para o Shakhtar. Apesar da má temporada do clube capitalino, apostava em uma classificação contra os ucranianos que não ocorreu e, muito pelo contrário, foi o confronto mais fácil de todos em pró dos soviéticos;

Em AC Milan e Tottenham dei um belo palpite. O time londrino vem muito bem na temporada e conseguiu a vaga com uma vitória brilhante em solo italiano;

O Schalke, de campanha irregular na sua liga, foi, para mim, a maior surpresa ao eliminar o bom time do Valencia, atual terceira força da Espanha. Com Raúl, Huntelaar e companhia mandaram os valencianos para casa.

Em um dos melhores confrontos das últimas décadas, Inter Milan e Bayern Münich protagonizaram dois jogos fantásticos. Apostava nos alemães, mas deu Inter.

Marseille e Manchester U deu o óbvio assim como no confronto entre Lyon e Real Madrid, Arsenal e Barcelona e Copenhague e Chelsea.

Vamos para as quartas:

Real Madrid x Tottenham

Apesar da excelente temporada que o time londrino vem realizando, aposto na maior experiência madrilenha. No segundo jogo em Londres no confronto contra o AC Milan, mesmo tendo ganhado na Itália, o time de White Hart Lane sentiu a pressão da diferença de história e quase deixa escapar a classificação que parecia tranquila. Vou de Mourinho que terá a volta do artilheiro Higuaín que deverá suar bastante a camiseta para desbancar Benzema, em grande fase.

Chelsea x Manchester U

Apesar de o Chelsea ser uma pesada touca do maior clube da ilha, aposto no Manchester U mesmo considerando a boa recuperação dos Blues e a última vitória no último confronto entre ambos os clubes.

Barcelona x Shakhtar Donetsk

Barça, sempre Barça.

Inter Milan x Schalke

Dessa vez não creio em mais uma surpresa da turma de Raúl. Vou de Inter Milan sem titubear.

sexta-feira, 4 de março de 2011

José Gaddafi

O mundo árabe é notícia constante em todas as fontes de informação do mundo e dessa vez o tema não é terrorismo ou petróleo. Tampouco estamos falando de mais um hotel de formato cafona e inovador de Dubai a ser construído debaixo d´água ou alguma outra excentricidade típica de árabe brega. O tema do momento é o efeito dominó causado pela Revolução Jasmin que fez com que o presidente tunisiano se refugiasse na Arábia Saudita abandonando o poder e que essa semana foi complementada com a renúncia do primeiro ministro do país, aliado do presidente foragido.

Os árabes sempre passaram uma imagem de durões, facas na bota, terroristas sanguinários, líderes bizarros como Bin Laden, mas nunca me convenceram de fato. Por trás de toda pessoa de fala forte e ostensiva, há hipocrisia, mentira ou demagogia.

Durante os anos em que morei em Londres vi repetidas manifestações de árabes em pleno inverno europeu, descamisados e batendo fortemente no peito até sangrar, ou então com chicotes ou outros artefatos de auto-tortura. As imagens impressionam, mas eram hipócritas, demagógicas e mentirosas.

Para princípio de conversa, se amam tanto as tradições e ideias do mundo árabe e odeiam tanto a futilidade capitalista do ocidente, o quê estão fazendo na Inglaterra, Holanda, Bélgica, Itália, Estados Unidos e etc? Onde estão os princípios? São peças do capitalismo ocidental e seguem se auto-mutilando para demonstrar o quê? Que odeiam a terra em que passaram a viver? Não faz sentido.

Ok, o motivo desse êxodo é porque a situação econômica dos países de onde são provenientes é precária. Mas então porque todo esse amor aos seus líderes sanguinários e perpétuos que, em muitos casos, para completar, são bancados pela política externa das mais potentes economias ocidentais como Estados Unidos, Grã-Bretanha ou Itália e que são os maiores responsáveis de todos os problemas sociais tendo em vista que são, na maioria dos casos, países ricos devido à presença farta de ouro negro? Puras contradições.

Na Tunísia o povo demorou mais de 20 anos para finalmente indignar-se contra o governo de seu ex-mandatário; no Egito, todos aguentaram um governo de mais de 30 anos de um tirano que pode estar na capa da próxima edição da revista Forbes como o homem mais rico do mundo dono de uma fortuna aproximada de 40 bilhões de dólares; para completar, a Líbia bateu o recorde e demorou mais de 40 anos para contrariar a ditadura miserável de Gaddafi ou Kadhafi.

Para completar ainda mais o quadro vexatório que os árabes têm em minha visão, essa revolução no seio do seu mundo tomou forma através de ferramentas providas pelo mundo ocidental, não de maneira governamental, mas através de saites e de um livro.

As manifestações foram todas convocadas via Facebook ou Twitter e a bíblia dessa revolução foi a obra de um escritor americano pouco conhecido chamado Gene Sharp: “From Dictatorship To Democracy” que apresenta os meios de se conseguir a democracia após governos ditatoriais sem tocar em armas.

As mudanças ou possíveis mudanças que ocorreram na Tunísia, Egito e Líbia ocasionaram esse efeito dominó em diversos países da região e até de áreas mais distantes. Djibuti, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Irã, Jordânia, Líbano, Iêmen, Argélia, Marrocos e agora as ameaças de revolução em Angola. Isso tudo sem contar a China. Toda essa hecatombe em um status-quo que parecia controlado provocou reações desesperadas de alguns facínoras dessas bandas. O rei saudita, principal aliado americano na região, anunciou pacote de medidas com benefícios para a população do reino e até o próprio Gaddafi, do alto de sua falácia de que é um homem humilde e com sua surrada farda a la Fidel Castro decretou um aumento de 150% para o funcionalismo e uma mesada a la Bolsa-Família de mais ou menos 250 libras esterlinas para as famílias líbias. Por que isso não foi feito antes?

A mesada do Gaddafi buscando reconquistar a admiração de seu povo é um grito desesperado e que reforça a minha tese sobre o Bolsa-Família de Lula. Gaddafi conhece o Bolsa-Família e está incorporando o seu. Motivos? Os de Gaddafi são maldosos. Acalmar o povo e garantir a propriedade de sua velha vaca. Como disse em textos anteriores: dar um pouquinho que seja aos pobres, ou seja, uma tetinha pelo menos de sua vaca faz com que a vaca permaneça com os mais poderosos. Quem não oferece sequer cinco minutinhos da teta de vez em quando, perde a vaca, como aconteceu com a elite venezuelana e é o que pode acontecer com Gaddafi e seus estafetas.

Essa ebulição no mundo árabe também serve para mostrar a grande falta de vergonha na cara dos governos dos países mais poderosos do ocidente. Mubarak foi, depois do rei saudita, o maior aliado americano no mundo dos produtores de petróleo e agora Hillary Clinton e Obama têm coragem de dizer que o tempo de Don Hosni no poder deveria chegar ao fim. E na Líbia? Mais confusão ainda. Além de ser o principal aliado árabe da Itália, outro tema foi esquecido. Ano passado o governo britânico extraditou o terrorista líbio responsável pelo atentado de Lockerbie sem dar maiores explicações. Alegaram apenas que o dito cujo se encontrava doente, quase morto e por isso seria justo que o assassino vivesse seus últimos dias em sua terra onde foi recebido oficialmente como herói nacional. Esse mês um dos ministros de Gaddafi que desertou quando a coisa apertou declarou ter sido o ditador Gaddafi quem ordenou o atentado no longínquo 1985. Vale lembrar que na mesma época em que o governo britânico libertou o terrorista, a BP se via envolvida em um grande vexame mundial que foi o acidente em sua plataforma no Estados Unidos e precisava de um empurrãozinho governamental, algo típico dos países neoliberais. Sendo a Líbia um dos maiores produtores de petróleo do mundo, cogitou-se uma hipótese de que essa libertação realizada pelos britânicos seria uma troca por vantagens petroleiras à BP. Será? Dizem as línguas líbias que o seu terrorista estrela, dado outrora como semi-morto, hoje vive lépido e faceiro pelas ruas de Trípoli.

Todo esse imbróglio me traz o nome de José Sarney à tona. Sarney sempre tem que estar em meus pensamentos, pois é, para mim, o maior gênio político mundial. Desde sua passagem como presidente do Brasil depois da redemocratização, Sarney jamais exerceu cargo público no executivo. Seu posto eterno é, além de integrante da Academia Brasileira de Letras, senador. Foi pelo Maranhão, passou pelo Amapá, mas sempre está. No Brasil ninguém nem sabe o que é um senador, o que faz ou o que deveria fazer ou não fazer. Sarney joga nos bastidores, fala manso e não bate pênalti. Sarney é gênio e ficará muito mais tempo na vida pública brasileira do que Gaddafi na Líbia e, o melhor de tudo, sem ser muito incomodado.

Há qualquer chance de o povo brasileiro organizar-se via Facebook para arrancar Sarney de seus tronos na ABL e no Senado? Duvido. Após a eliminação na Libertadores do Corinthians frente ao Tolima, Roberto Carlos e Ronaldo, os dois maiores expoentes do time não duraram nem uma semana no clube. Movidos por uma raiva e determinação invejáveis, no melhor estilo egípcio, tunisiano ou líbio, a nação corintiana deu fim ao período dos dois atletas no clube. Ronaldo foi mais longe e encerrou a carreira.

E com o Sarney? Será que Sarney não é mais daninho à sociedade do que Roberto Carlos e Ronaldo? Mas o Brasil é diferente: não punimos ditadores e não enjaulamos políticos. Pelo contrário: até hoje os arquivos secretos do período ditatorial não foram abertos e reelegemos os piores políticos do país e ainda os premiamos com incentivos financeiros às suas ONGS e com distinções literárias. Isso sem contar que elegemos palhaços analfabetos e ex-presidente que passou por impeachment.

O que reforça ainda mais a imbecilidade do povo brasileiro é que esses três países não são tão diferentes do Brasil socialmente e economicamente. Usando o último resultado do ranquim de IDH que mede a qualidade de vida em quase todos os países do mundo, o Brasil aparece na 73ª posição, atrás da Líbia, 53ª, um pouco à frente da Tunísia, 81ª e com certa vantagem com relação aos egípcios, 123º. Essa situação mostra que as revoltas árabes não são resultado de uma qualidade de vida tão inferior a dos países sul-americanos e sim uma demonstração de diferentes prioridades e de menor paciência. Enquanto lá eles tardam, mas agem, aqui preferimos focar nossa indignação em jogadores de futebol que perdem jogos ou que optam por um clube que pague mais ao invés de ir ao clube que teoricamente tem mais laços afetivos.

Conclusões: pobre não é feliz. Os árabes apenas necessitavam dessa ajuda tecnológica ocidental para finalmente revoltarem-se de fato não contra o mundo ocidental e sim contra os seus ditadores. Todos os outros países em que suas populações demonstraram indignação pós-Tunísia são pobres. Na pobreza ninguém vive feliz. As novelas que mostram ricos maus e pobres boa gente e contentes não expressam a realidade. No último ranquim da felicidade onde se pergunta apenas se o indivíduo é feliz ou não, os países mais felizes não foram os mais pitorescos e carnavalescos e sim os escandinavos com todas as suas regras, formalidades e bonança. Rico se diverte e vive bem, pobre sofre e de vez em quando chuta o pau da barraca ou as canelas de seus ex-ídolos de futebol.

Finalizando: falta o Gaddafi abandonar. Ele diz em discursos coléricos que é amado por todo o povo, que os “desertores” são influenciados pela Al-Qaeda através de álcool e drogas e que morrerá no país explodindo todas as refinarias. Outras más línguas dizem que ele estuda uma fuga para Brasil, Venezuela ou Cuba, países que ainda mantém a hipocrisia esquerdista de defender tirano antiamericano com menor intensidade como no Brasil ou de maneira esquizofrênica como nos outros dois países citados.

Para completar, o que pode resultar positivo de isso tudo é a destruição de Dubai. Quero o fim de Dubai com seus árabes esnobadores, cafonas e ostentadores que são mais uma prova dessa contradição árabe de detestar o Ocidente, mas ceder a ele ou até mesmo deixar-se levar por alguns dos pecados capitais ocidentais.