domingo, 28 de outubro de 2018

De Fascista A Comunista No Mesmo Dia

O Brasil (e talvez o mundo) nunca esteve tão polarizado. Não há clichê mais batido na atualidade eleitoral tupiniquim. Os gaúchos historicamente foram vistos como seres de extremos, sempre se usou a comparação do comportamento político do século XIX e XX com o Grenal e com os chimangos e maragatos. No Rio Grande, historicamente era-se uma coisa ou outra. Pois, tudo mudou. O Rio Grande decidirá no segundo turno entre dois candidatos que poderiam, em caso de que os vices fossem apenas figuras decorativas da política nacional, estar de mãos dadas já pensando na decoração de seus gabinetes no Palácio Piratini. Eduardo Leite é um Sartori mais sofisticado e moderno. Em outras palavras, versão 2.0.

No meio de tanta polarização, entro eu. Em tempos de redes sociais, fui acusado, num mesmo dia, de ser fascista e esquerdopata, duas alcunhas que ninguém diz ser, mas que todos creem, cegamente, que um dos dois sim existe, dependendo do que estes querem ver, dependendo do tao atual ideologismo seletivo.

Sou a favor de políticas sociais. Logo, sou comunista e devo ir morar na Venezuela.

Eu, sem a necessidade de ser brilhante para chegar a tal conclusão, considero a Venezuela mais um dos tantos fracassos do esquerdismo burro e retrógrado, portanto, sou coxinha.

Sou contra qualquer forma de ditadura. Considero, e essa é, talvez, minha única certeza quanto a formas, meios e doutrinas de governo, que a democracia é o melhor dos mecanismos. Muito falho, é verdade, mas o melhor, ou usemos então o também atual “menos pior”. Acho, portanto, que um candidato exaltar a figura de energúmenos torturadores e ditadores corruptos, sim, corruptos, uma barbaridade e jamais, então, estes teriam o meu voto, o que tenho certeza que não os faz perder o sono. Sendo assim, sou esquerdopata.

Questiono as contradições da ala do Messias. Ao mesmo tempo, que insistem na degradação de homossexuais e exaltam os “bons costumes”, como podem ter acolhido como um de seus mais fortes cabos eleitorais o novíssimo deputado federal Alexandre Frota, ex-ator de filmes pornográficos e que tantos beijos gays já deu por aí em seu passado de palhaço midiático? E a constante louvação à igreja, essa que acobertou por tantos séculos abusos e mais abusos de padres contra meninas, mas principalmente contra meninos, ou seja, abusos homossexuais e infantis? Aproveito a menção ao que costumava dividir câmaras comprometedoras com ritas cadillacs da vida e faco uma pergunta ao ex-índio Mourão: será o ex-Casa dos Artistas um dos “notáveis” que escreverá a nossa nova constituição? Aliás, rasgar a carta-magna de um país e ter outra reescrita por “notáveis” é algo que nem a não-democrática Venezuela fez, pelo menos ainda.

Além das acusações que dão título a esse texto, também já fui acusado de ser o tal “centrão” que, segundo meu acusador, é algo falso, carapaça para esquerdopatas se esconderem. Daí pergunto: por que não podem existir pessoas que não se identificam com nem um extremo, nem outro? Teremos que sempre ter ou fotos fazendo gesto de armas como foto de perfil do Facebook, ou foto com a inscrição Lula Livre? Sou a favor do Lula esgotar suas apelações em liberdade. Por que o adoro? Não. Porque é o que manda a consituição. Devo ir pra Cuba? Calma! Também julgo que Maluf foi justamente mandado pra cumprir sua sentença de prisão domiciliar nos Jardins porque é, novamente, o que a constituição, esta que Bolsonaro diz ser um “escravo”, diz. Logo, sou defensor de ladroes.

Sou a favor do casamento gay, da adoção gay, do aborto, da eutanásia e da legalização de todas as drogas. Penso que o Estado não deve se meter nas vidas pessoais dos cidadãos ao dizer com quem cada um deve transar ou deixar de transar, ou dizer que droga é legal (álcool, cigarro) ou que droga é ilegal. A direita fanática quer Estado mínimo na economia e Estado máximo pra controlar as vidas de cada um. Pagariam uma polícia religiosa como ocorre na tao vanguardista Arábia Saudita assassina de jornalistas? Teríamos guardas separando beijos gays pela rua? Preferimos deixar crianças jogadas em nefastos albergues sem muita verba ao invés de dá-las a casais de pessoas do mesmo sexo? Gastaríamos verbas do tao ansiado estado mínimo para tais fins? Guardas e albergues custam dinheiro, bem como pessoas não querendo mais viver/sofrer em hospitais públicos.

Sendo assim, por ter essa opinião sou acusado de ser esquerdopata. Ao mesmo tempo, sou a favor das políticas anti-imigração de Trump, Marine Le Pen e da AFD alemã entre outros fenômenos parecidos que vêm se fortalecendo Europa afora. E agora, onde me colocam? Racista ou esquerdopata? Sou contra a tal pedofilia de esquerda que a turma do mito tanto acusa com seguidas fake news. Ao mesmo tempo, sou contra a pedófila Igreja Católica, tao defendida pelos seguidores do Messias, todos homens “de bem”. A simplificação é o pior dos extremismos que enfrentamos atualmente. Nãose pode simplificar a tao complexa existência humana. Esse mês tanto a mesma Marine Le Pen quanto representantes do AFD alemão saíram a dizer que as ideias de Bolsonaro jamais seriam aceitas em seus programas.

Falando em suas ideias, Bolsonaro este mês falou em mudar o nome do Bolsa-Família e, inclusive, estabelecer um 13 “salário” deste programa. Está sendo o mito populista para com o povão que não o engole ainda? A resposta de seus apoiadores é o mais gritante silêncio. Os apoiadores de Bolsonaro não se importam com o que o salvador fará em relação ao que é, talvez, o aspecto mais importante de qualquer governo: a economia, a base de tudo em uma sociedade capitalista. Dá nada. Seu mentor econômico diz uma coisa, Messias rebate de sua cama de hospital e tudo segue sem causar muito alvoroço entre seu séquito de seguidores fanáticos, tão fanáticos como os que acampam na frente da cadeia de Lula. Repito o que antes já disse: vota-se em Bolsonaro por quatro motivos: combate a corrupção, algo que todos dizem que irão fazer e que deveriam fazer sem serem elogiados por isso já que deveria ser uma obrigação; segundo, votam em Bolsonaro para terminar de acabar com o PT, partido que já é um zumbi, um morto que insiste em incomodar, que vem respirando por aparelhos há horas; terceiro, vota-se em Bolsonaro para se ter mais segurança pública algo também impossível de resolver sem um novo pacto social, vide o fracasso das operações do exército no Rio de Janeiro; e, para terminar, votam em Bolsonaro para liberar tantos sentimentos violentos e raivosos que a maioria cansou de guardar. Não dá mais pra chamar crioulo de afro descendente; não aguenta-se mais chamar sapatonas ou viadinhos de homossexuais; não dá mais pra pesar negro em quilos, exige-se a volta da “arrouba”. Por esses motivos a classe média e as elites brasileiras insistem em se apegar a um salvador, algo pouco original em termos de história e esse apego tem a ver, e muito, com seu imaginário.

Haddad, no desespero de agarrar o poder com unhas e dentes novamente, não fica muito atrás. Não tem coragem de dizer que é ateu. Frequenta missas católicas e evangélicas na maior cara de pau. Por votos. A prostituição política é normal a todos. Iguaizinhos. Perdoem-me os torcedores de Bolsonaro e os adoradores do PT. Vocês têm muitas semelhanças, não vale a pena negar. O poder justifica tudo. A sede é imensa. Bolsonaro engole o Bolsa-Família, Haddad esconde o vermelho debaixo do tapete e se veste de verde e amarelo.

Acho eu que Bolsonaro seja corrupto e tenha más intenções? Não, sinceramente não e por isso poderiam, pelo menos nesse parágrafo, me chamar de fascistão. Acho que ele tem boas intenções, mas seus métodos de conseguir tais resultados são um mistério e, quando aparecem, são estapafúrdios e acho que jamais funcionarão. Armar a população não resolve o problema da violência apesar de que sou a favor do porte de arma, mas de maneira controlada como é a licença para dirigir um veículo, por exemplo. Mas não solucionará. Não é assim que funciona. Perguntem para os revolucionários franceses de 1789 e eles têm a solução para os problemas da violência: pacto social. Se Bolsonaro ganhar, espero que consiga cumprir os seus quatro anos. É bom para a jovem democracia de um país que ainda não entendeu como esta funciona. Desejo toda a sorte do mundo ao capitão e seu time de coroneis e artistas pornôs. Bolsonaro esquiva-se de temas mais complexos, a massa igualmente. Todos, candidatos e massa (e mídia) seguem na insistência de falar de racismo, pecuinhas de Twitter entre homossexuais e súditos do mito e ignoram que tudo isso é de pouca importância prática ao país. Bolsonaro nem de debates participa porque ele sabe que pouco sabe de temas vitais. A imprensa joga o seu jogo. Apoia Bolsonaro? Apoia a Haddad? Não, apoia a si mesma. As polêmicas do capitão e sua trupe vendem jornais, sendo assim, que venham mais e mais.

Acho Haddad mais apto ao cargo? Não sei, mas pelo menos tem uma ideia. A ideia irá funcionar? Não sei. Um neoliberalismo no melhor estilo ianque funcionaria no Brasil? Acho impossível. A Argentina de Macri é um exemplo que a direita prefere não comentar. Um estado com mais ingerência na economia é melhor? Acho que sim. Prego o estado máximo? Jamais. Mínimo? Tampouco. Um meio-termo. Estado mínimo num país como o Brasil é como pôr tubarões para cuidar de peixes. O poder econômico voraz sul-americano engolirá os mais fracos. A Lei Áurea terminará revogada. O capitalismo não sacia-se jamais. Haddad prega isso? Não sei, talvez. Dizem que, se ganhar, escolherá um ministro da economia liberal. Será verdade? Ou será somente estratégia para se desvincular de Lula e do PT e conquistar votos do antipetismo assim como foi sua mudança de cores? Acho que nunca saberemos porque parece que ele tem poucas chances de ganhar.

Assim estamos. O tao louvado “mercado“ adorando a verborragia de Bolsonaro, parte da população liberando seus preconceitos, a mídia vendendo jornais, notícias falsas por todos os lados, campanha mais vazia da história e eu aqui com os meus botoes, pensando qual será a receita para algum dia esse país sair do buraco.