segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Pode ou não pode?


Pela primeira vez o Brasil tem um presidente que não foi democraticamente eleito por meros eleitores, senão por torcedores. A maioria das pessoas que votou em Bolsonaro, o tem como um ídolo. Não o apoiam: torcem para ele. Essa fidelidade extremista é saudável para uma democracia?

Não considero que saciar todas as vontades de filhos seja uma boa forma de educá-los. A crítica os faz entender um pouco mais da realidade. Quando chegarão críticas a Bolsonaro provenientes de seus eleitores? Os torcedores mais fanáticos dizem não haver motivos para tais. Será?

Bolsonaro foi eleito não por suas ideias profundas em relação à economia do Brasil. Ele mesmo dizia e segue dizendo que entende pouco e nada desse tema que, em meio aos meus devaneios de sempre buscar a lógica, julgo ser uma barbaridade, mas enfim, Paulo Guedes está lá para isso. Bolsonaro se preocupa mais com os bons costumes. Bolsonaro foi eleito por defender os costumes que são os ideais em sua forma de pensar e se pôs na posição de cavaleiro da ética, da moral e do combate à corrupção. No poder, Bolsonaro colocou sobrinho no governo e, como presente de 35 anos a um filho, lhe ofereceu o cargo mais importante da diplomacia nacional. Mas isso não é nepotismo. O próprio Eduardo Bolsonaro explicitou para quem quiser ver que em seu currículo tem o domínio do idioma inglês, do espanhol e experiência fritando hambúrgueres. Mas não, não há qualquer resquício de nepotismo. Ah, vale salientar que a nova esposa de Eduardo já tem seu passaporte diplomático em mãos, mas não, não há favorecimento, é questão da mais pura meritocracia tão defendida pelo clã Bolsonaro.

A torcida Bolsonaro se cala. Alguns, sorrateiramente, dizem que sim, não pega bem. Mas não há comoção. Eduardo é bonitão e não é petralha, então tudo bem.

Lulinha andava lépido e faceiro pelos camarotes da política e do poder nacional. A cada semana alguém se dava ao trabalho de inventar alguma capa de revista internacional grosseiramente falsificada para explicitar a vida glamorosa consequência da intermediação do poderoso pai que dava acesso ao rebento à alta roda. Lulinha chegou a ter uma empresa de marketing esportivo e, se não me falha a memória, até uma de jogos eletrônicos com obesos contratos junto ao estado. Gozava de sua posição. Era o “filho do homem”. Era massacrado pela ala anti-PT e com razão.

Qual a diferença entre Lulinha e Eduardo? O primeiro enriqueceu com o seu cargo de filho do presidente; o segundo ganhou um belo cargo de presente que o fará ganhar cerca de 66 mil reais por mês. Mas pelo menos não roubou, dizem os torcedores de Bolsonaro que têm energia suficiente para dedicar também aos familiares do Messias. Então, estrategicamente abordo os temas escusos de outro filho do capitão, o pitoresco Flávio.

Flávio, como toda a dinastia Bolsonaro, jamais trabalhou. Desde jovem em um cargo público. Foi honestamente eleito, não contradigo isso, mas nunca trabalhou, crítica bastante comum feita à classe política. Pois Flavinho, com seu cargo de vereador no Rio de Janeiro, fez e aconteceu. Seus variados assessores tinham movimentações financeiras estranhas. E seu braço direito, o esquecido outrora famosíssimo Queiroz, simplesmente desapareceu. Fez dancinha “live” no hospital para todo mundo ver, mas desapareceu. E, agora, Dias Toffoli, num ato de regressão enorme e sem precedentes para a nação, mandou parar tudo porque dados conseguidos via COAF não podem ser levados em consideração. Com essa mudança de ponto de vista, Flavinho está livre, leve e solto, Queiroz segue desaparecido e uma cambada de criminosos goza do efeito colateral. Para salvar o filho do capitão vale tudo, até dar liberdade a outros perigosos criminosos que incluem traficantes e líderes de milícias que, diga-se de passagem, alguns são também bem próximos a Flavinho.

Dizem que torcida boa é a que apoia mesmo quando se joga mal e que não vaia nem quando se perde em casa. Portanto há de se dizer de que a torcida de Bolsonaro é modelo a ser seguido. Bolsonaro vive em sua “Bombonera” tupiniquim.

Lembro de Bolsonaro vociferando que não era político, que era contra o tal “toma lá dá cá” característico da política nacional. Eu, ingenuamente, vibrei. Pois não é que, para aprovar a reforma da previdência antes condenada pelo mesmo Jair, liberou-se 1,5 bilhão de reais em emendas para “comprar” os votos favoráveis da classe política tão massacrada pelo presidente? E isso aconteceu em tempos de enxugamento de gastos, vejam só. Bolsonaro, bem como outros partidões como PSDB e PT, também tem o seu mensalão, mas esse na versão 2.0, legalizado, em cima da mesa, para todo mundo ver. Usou-se aquela velha tática: coloca-se o item que está sendo procurado em cima da mesa, no lugar menos escondido e este se tornará o menos provável que as pessoas procurarão.

A polêmica do momento agora é a atuação criminosa de hackers divulgando, através do site The Intercept Brasil, detalhes de conversas amigáveis entre Moro, Deltan e companhia. O mesmo Deltan que agora clama por justiça e prisão dos envolvidos, há alguns meses atrás mostrou o seu famoso PowerPoint para todo mundo ver. Moro, que agora trabalha assiduamente para destruir as mensagens que, deve-se dizer, não contêm qualquer coisa que o possa prejudicar, mas que sim devem ser destruídas, há alguns meses atrás divulgou o promíscuo áudio de Dilma blindando Lula quando o cerco começou a apertar o antigo presidente. Moro depois pediu desculpas e tudo esteve bem. Lembro que a torcida de Bolsonaro celebrou o vazamento do áudio e bateu mais forte do que nunca em suas panelas agora usadas novamente para o corriqueiro ato de cozinhar. Os fins justificavam os meios. Não importa como o áudio foi conseguido, o que importava era o ato inescrupuloso de poderosos membros de um partido corrupto e desesperado. Agora os meios importam. Hackear telefones é ilegal. Portando, conclusão lógica, todo o conteúdo deve ser eliminado e desqualificado.

O próprio outrora herói dos bons costumes e subscritor do impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior agora diz que Bolsonaro não merece ser arrancado do cargo como Dilma. O que merece o mito é interdição psicológica. Será um comunista, um “melancia” segundo as refinadas palavras de Jair, parte da guerrilha que os médicos cubanos queriam impor no Brasil segundo os lunáticos seguidores do guru que acredita que a Terra é plana?

Termino com um comentário que define bem a postura da torcida verde e amarela de Bolsonaro. Ao comentar em meu perfil do Facebook sobre a indicação de Eduardo ao cargo de embaixador no mesmo dia em que seu irmão Carlos disse que o Brasil era “o maior cabide de empregos do mundo”, um comentário foi o seguinte: “é que ele confia no filho para acabar com os petralhas lá instalados” seguido de bandeira do Brasil. Essa é a mentalidade. Bolsonaro não defeca; Bolsonaro tem restos dos alimentos por ele consumidos expelidos de seu corpo em forma cilíndrica causada pelo excesso de petralhas em seu sistema digestivo, petralhas estes que obtiveram acesso ao seu estômago pela perfuração praticada por Adélio Bispo que tinha exatamente este objetivo: permitir a entrada de petralhas às entranhas do Messias. Está na capa do New York Times. Procurem.