Pela primeira vez o Brasil tem um presidente que não
foi democraticamente eleito por meros eleitores, senão por torcedores. A
maioria das pessoas que votou em Bolsonaro, o tem como um ídolo. Não o apoiam:
torcem para ele. Essa fidelidade extremista é saudável para uma democracia?
Não considero que saciar todas as vontades de filhos
seja uma boa forma de educá-los. A crítica os faz entender um pouco mais da
realidade. Quando chegarão críticas a Bolsonaro provenientes de seus eleitores?
Os torcedores mais fanáticos dizem não haver motivos para tais. Será?
Bolsonaro foi eleito não por suas ideias profundas em
relação à economia do Brasil. Ele mesmo dizia e segue dizendo que entende pouco
e nada desse tema que, em meio aos meus devaneios de sempre buscar a
lógica, julgo ser uma barbaridade, mas enfim, Paulo Guedes está lá para isso.
Bolsonaro se preocupa mais com os bons costumes. Bolsonaro foi eleito por
defender os costumes que são os ideais em sua forma de pensar e se pôs na
posição de cavaleiro da ética, da moral e do combate à corrupção. No poder,
Bolsonaro colocou sobrinho no governo e, como presente de 35 anos a um filho,
lhe ofereceu o cargo mais importante da diplomacia nacional. Mas isso não é
nepotismo. O próprio Eduardo Bolsonaro explicitou para quem quiser ver que em
seu currículo tem o domínio do idioma inglês, do espanhol e experiência
fritando hambúrgueres. Mas não, não há qualquer resquício de nepotismo. Ah,
vale salientar que a nova esposa de Eduardo já tem seu passaporte diplomático
em mãos, mas não, não há favorecimento, é questão da mais pura meritocracia tão
defendida pelo clã Bolsonaro.
A torcida Bolsonaro se cala. Alguns, sorrateiramente,
dizem que sim, não pega bem. Mas não há comoção. Eduardo é bonitão e não é
petralha, então tudo bem.
Lulinha andava lépido e faceiro pelos camarotes da
política e do poder nacional. A cada semana alguém se dava ao trabalho de
inventar alguma capa de revista internacional grosseiramente falsificada para
explicitar a vida glamorosa consequência da intermediação do poderoso pai que
dava acesso ao rebento à alta roda. Lulinha chegou a ter uma empresa de
marketing esportivo e, se não me falha a memória, até uma de jogos eletrônicos
com obesos contratos junto ao estado. Gozava de sua posição. Era o “filho do
homem”. Era massacrado pela ala anti-PT e com razão.
Qual a diferença entre Lulinha e Eduardo? O primeiro
enriqueceu com o seu cargo de filho do presidente; o segundo ganhou um belo
cargo de presente que o fará ganhar cerca de 66 mil reais por mês. Mas pelo
menos não roubou, dizem os torcedores de Bolsonaro que têm energia suficiente
para dedicar também aos familiares do Messias. Então, estrategicamente abordo
os temas escusos de outro filho do capitão, o pitoresco Flávio.
Flávio, como toda a dinastia Bolsonaro, jamais
trabalhou. Desde jovem em um cargo público. Foi honestamente eleito, não
contradigo isso, mas nunca trabalhou, crítica bastante comum feita à classe
política. Pois Flavinho, com seu cargo de vereador no Rio de Janeiro, fez e
aconteceu. Seus variados assessores tinham movimentações financeiras estranhas.
E seu braço direito, o esquecido outrora famosíssimo Queiroz, simplesmente
desapareceu. Fez dancinha “live” no hospital para todo mundo ver, mas
desapareceu. E, agora, Dias Toffoli, num ato de regressão enorme e sem
precedentes para a nação, mandou parar tudo porque dados conseguidos via COAF
não podem ser levados em consideração. Com essa mudança de ponto de vista,
Flavinho está livre, leve e solto, Queiroz segue desaparecido e uma cambada de
criminosos goza do efeito colateral. Para salvar o filho do capitão vale tudo,
até dar liberdade a outros perigosos criminosos que incluem traficantes e
líderes de milícias que, diga-se de passagem, alguns são também bem próximos a
Flavinho.
Dizem que torcida boa é a que apoia mesmo quando se
joga mal e que não vaia nem quando se perde em casa. Portanto há de se dizer de
que a torcida de Bolsonaro é modelo a ser seguido. Bolsonaro vive em sua “Bombonera”
tupiniquim.
Lembro de Bolsonaro vociferando que não era político,
que era contra o tal “toma lá dá cá” característico da política nacional. Eu,
ingenuamente, vibrei. Pois não é que, para aprovar a reforma da previdência
antes condenada pelo mesmo Jair, liberou-se 1,5 bilhão de reais em emendas para
“comprar” os votos favoráveis da classe política tão massacrada pelo
presidente? E isso aconteceu em tempos de enxugamento de gastos, vejam só.
Bolsonaro, bem como outros partidões como PSDB e PT, também tem o seu mensalão,
mas esse na versão 2.0, legalizado, em cima da mesa, para todo mundo ver.
Usou-se aquela velha tática: coloca-se o item que está sendo procurado em cima
da mesa, no lugar menos escondido e este se tornará o menos provável que as
pessoas procurarão.
A polêmica do momento agora é a atuação criminosa de
hackers divulgando, através do site The Intercept Brasil, detalhes de conversas
amigáveis entre Moro, Deltan e companhia. O mesmo Deltan que agora clama por
justiça e prisão dos envolvidos, há alguns meses atrás mostrou o seu famoso
PowerPoint para todo mundo ver. Moro, que agora trabalha assiduamente para
destruir as mensagens que, deve-se dizer, não contêm qualquer coisa que o possa
prejudicar, mas que sim devem ser destruídas, há alguns meses atrás divulgou o
promíscuo áudio de Dilma blindando Lula quando o cerco começou a apertar o
antigo presidente. Moro depois pediu desculpas e tudo esteve bem. Lembro que a
torcida de Bolsonaro celebrou o vazamento do áudio e bateu mais forte do que
nunca em suas panelas agora usadas novamente para o corriqueiro ato de
cozinhar. Os fins justificavam os meios. Não importa como o áudio foi
conseguido, o que importava era o ato inescrupuloso de poderosos membros de um
partido corrupto e desesperado. Agora os meios importam. Hackear telefones é
ilegal. Portando, conclusão lógica, todo o conteúdo deve ser eliminado e
desqualificado.
O próprio outrora herói dos bons costumes e subscritor
do impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior agora diz que Bolsonaro não merece
ser arrancado do cargo como Dilma. O que merece o mito é interdição psicológica.
Será um comunista, um “melancia” segundo as refinadas palavras de Jair, parte
da guerrilha que os médicos cubanos queriam impor no Brasil segundo os
lunáticos seguidores do guru que acredita que a Terra é plana?
Termino com um comentário que define bem a postura da
torcida verde e amarela de Bolsonaro. Ao comentar em meu perfil do Facebook sobre
a indicação de Eduardo ao cargo de embaixador no mesmo dia em que seu irmão
Carlos disse que o Brasil era “o maior cabide de empregos do mundo”, um
comentário foi o seguinte: “é que ele confia no filho para acabar com os
petralhas lá instalados” seguido de bandeira do Brasil. Essa é a mentalidade.
Bolsonaro não defeca; Bolsonaro tem restos dos alimentos por ele consumidos
expelidos de seu corpo em forma cilíndrica causada pelo excesso de petralhas em
seu sistema digestivo, petralhas estes que obtiveram acesso ao seu estômago
pela perfuração praticada por Adélio Bispo que tinha exatamente este objetivo:
permitir a entrada de petralhas às entranhas do Messias. Está na capa do New
York Times. Procurem.