Eu adoro política. Sempre adorei. Muitos me criticam e argumentam que eu nao deveria gostar de política já que é um campo plagado de podridão, sujeira, corrupção e território difícil de se encontrar bons valores e sentimentos. Nao menosprezem minha inteligência. Eu sei que a política é tudo isso e mais um pouco e gostar de política é como desfrutar de filmes de terror. A pessoa sabe que algo brutal acontecerá, mas desfruta esta sensação de medo. Eu desfruto do cheiro podre da política.
A maioria dos candidatos a cargos públicos é tao estúpida, que demoraram bastantes anos para se darem conta de que a maioria das pessoas perdeu a paciência com a política. O nojo dos brasileiros nao cansa de dar amostras de seu alto grau de asquerosidade; americanos e europeus cada vez mais aproveitam o direito de nao exercer seu direito e deixam de comparecer às urnas. As taxas de abstenção crescem indiretamente proporcional ao conceito dos políticos dentro da sociedade.
Pois esses seres de pensamento lento se deram conta disso e, arteiros, estão sabendo jogar o jogo fácil da nao-política. O pleibói Dória ganhou em Sao Paulo se auto-proclamando um "nao-político". A final do campeonato carioca foi entre um músico de qualidade questionável e um padre diabólico. O Rio Grande do Sul, em suas últimas eleições regionais, escolheu o gringo gente boa do interior e esses sao apenas alguns exemplos. Nao ser político é a melhor estratégia para quem quer ser político.
Uma das coisas que mais sinto falta ao nao morar em Porto Alegre é ter acesso aos programas eleitorais gratuitos da televisão. Os políticos "profissionais" de outrora usavam esses espaços para apresentar suas ideias, por mais estapafúrdias que fossem. Hoje é diferente. Os políticos se disfarçam de cordeirinhos e usam esse espaço para vender uma imagem, nao um plano de governo ou uma lista de ideias; vendem uma personagem. É como a publicidade atual: vende conceitos, nao produtos ou serviços.
Sartori jamais prometeu nada em sua campanha. Dizem as más línguas que teve que fazer um plano de governo na madrugada de sua vitória já que nao tinha um, pois apostava em seu próprio fracasso no sufrágio Sartori foi um produto enlatado de um partido sedento de poder regional que sentia saudades doentias e agudas de ocupar o Piratini. Sartori aparecia amassando uvas com seus pés; Sartori aparecia sorrindo e falando com amigos e vizinhos em sua Caxias. José Ivo, que belo nome para um caxiense de raízes italianas gauchão com direito à pilcha e lenço farroupilha no pescoço.
Depoimentos biográficos de familiares, imagens abraçando crianças e idosas, apertos de mãos com homens carcomidos, mas com sorriso fácil no rosto, essa é a nova forma de fazer campanha e, claro, Sartori foi nada inovador, apenas seguiu a receita hipermoderna. Discutir ideias? Políticas? Para quê? O eleitor detesta política, detesta esse tema. Evitar-lo-ei, como diria Temer.
Subindo alguns bons milhares de quilômetros chegamos à terra do xou, a terra onde tudo, qualquer tema, desde relações amorosas entre anões até política pode, e deve, ser transformado em um produto midiático. As campanhas politicas no Estados Unidos sao, nas últimas décadas, marcadas pela total ausência de discussão política. Os americanos já se deram conta a mais tempo que o realmente importante numa campanha é explorar as fraquezas, passados e atos falidos de seus candidatos. Bill Clinton sofreu ao ser acusado de ter fumado maconha quando tinha 16 anos. Perdeu muitos pontos por isso. O mesmo se complicou perante a seu público por ter tido uma relação extra-conjugal com uma estagiária roliça da Casa Branca. Sao apenas alguns exemplos da falta de argumentos ou até mesmo acusações que realmente tenham algum cunho e importância relevante para a defenestrada política.
Na última campanha entre Trump e Hillary o que se viu foi talvez a mais vazia campanha da história americana. Hillary desesperada acusava Trump de se comportar mal com as mulheres; Trump, por sua vez e de forma pouco criativa, ia a comícios com mulheres supostamente mal tratadas pelo marido de Hillary. Jamais vi algo mais bizarro. Era Hillary com sua trupe de abusadas contra Trump e suas quarentonas maquiadas e com caras de pão que padeceram nas mãos do frenético Bill. Essa foi a tônica das eleições, decidir entre o abusador e a mulher do abusador, quem seria melhor? Para completar, os americanos, e também os brasileiros, agora buscam tirar proveito do fenômeno das celebridades e associam as suas imagens às "marcas" mais populares do momento. Na última semana de Hillary a vi num palco acompanhada de Jay-Z e de Beyoncé. O primeiro vociferava fuck isto, fuck aquilo e Hillary sorria com sua cara de bule de porcelana de loja de R$1,99. Ideias? Jamais.
Filtrei quase nada de ideias de Hillary. A maioria de suas declarações eram demasiadamente subjetivas. Um país mais aberto, mais humano, de bom coração entre outras baboseiras. Da boca de Trump algo pôde ser considerado: controle migratório mais rígido, expulsão de ilegais, diminuição de impostos e, o mais importante, fortalecimento da indústria local que vem sendo sucateada pela presença chinesa. Eu, sendo americano, votaria em Trump, mesmo sendo este uma personagem caricata e bizarra. Ao mesmo tempo em que esquerda e direita brasileiras lamentam a vitória do rude bonachão, a direita inclusive me surpreende com sua mudança radical de postura quando o problema é na cozinha do vizinho. Eu apenas me preocupo, e muito, pela questão ambiental tendo em vista que o célebre empresário afirma que as mudanças climáticas sao uma farsa chinesa e defende a exploração de todo e qualquer poço de petróleo pelo país afora. Nao obstante, Trump tem ideias que, se deixamos o politicamente correto de lado, sao mais do que coerentes, sao necessárias.
E o Temer onde entra nessa história? Bem, o nosso presidente é o mais inteligente de todos e prefere nem participar de campanhas, aparecer pouco com seu rosto de mordomo vampiro esculpido em madeira ao lado de sua candidata e, passados alguns anos, dar o seu golpe fatal no pescoço da vítima e assumir o poder sem ter prometido nada, sem ter feito campanha e muito menos sem ser visto como político. O que devemos cobrar de Temer? Devemos chamar Temer de traidor por nao ter avisado que farias suas reformas educacionais, sua PEC de gastos públicos, suas leis de perdão a bandidos sonegadores e ladroes? Claro que nao, Temer jamais apresentou qualquer ideia sobre esses temas.
Então, o que raios cobrar de Temer? O mesmo que devemos cobrar de Sartori ou o que os americanos deveriam cobrar de Hillary: nada.
domingo, 20 de novembro de 2016
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