O fato que mais chamou a atenção no jogo de ontem foi que, MAIS UMA VEZ, em um jogo decisivo entre Argentina e Brasil, viu-se a consagração de um futebol tático, defensivo e traiçoeiro contra um futebol sem resultados que busca ser virtuoso, mas que não funciona.
O confronto de ontem em Rosário foi incrivelmente semelhante à final da Copa América de 2007. A Argentina com uma proposta extremamente ofensiva com uma defesa desprotegida contra um Brasil de futebol tacanho e covarde, que algumas vezes chega a ser constrangedor devido a atitude de time do pequeno do interior gaúcho jogando contra a dupla GRE-nal em Porto Alegre, mas extremamente eficiente.
Em 2007 a Argentina vinha fazendo uma Copa América brilhante, impecável, mostrando um futebol sensacional, ofensivo e fazendo muitos gols. Enfrentou na final um Brasil fechado e que assumiu sua inferioridade técnica e apostou nos contra-ataques e em sua defesa intransponível.
No primeiro contra-ataque, Júlio Baptista abriu o marcador e explicitou um dos principais problemas da selecao argentina: a falta de caráter. Após o gol, mesmo que ainda seguia dominando o jogo, a Argentina jamais ameaçou recuperar-se e acabou colapsando e perdendo por 0-3 mesmo sendo infinitamente superior tecnicamente.
Analisando o jogo de ontem, vale salientar que, após de ainda ser muito superior tecnicamente, a Argentina vem jogando extremamente mal e ontem, por mais incrível que possa parecer, até o gol do Brasil, vinha fazendo o seu melhor jogo. Sofreu o gol em uma bola parada pelo alto e ruiu, jamais conseguiu recuperar-se.
Um fato curioso e emblemático que vale a pena salientar: Crespo, que era o artilheiro argentino na Copa América, se lesionou nas quartas-de-final e esteve ausente até o fim da competição. Essa saída de Crespo foi o fim de uma era de uma Argentina que sempre teve um nove de ofício. Desde então, nunca mais a Argentina entrou em campo com um centroavante de área e ontem pudemos sentir como fazem falta.
Vimos ontem duas propostas de jogo completamente antagônicas: o futebol que visa o virtuosismo da Argentina contra o futebol eficiente de Dunga. A Argentina entrou em campo com uma formação suicidamente ofensiva enquanto que o Brasil entrou em campo com um ferrolho de gigantes e com a intenção de explorar os contra-ataques, tarefa do gênio Kaká. Mais uma vez, infelizmente para o bem do futebol, a proposta de Dunga se mostrou mais eficaz e, em duas bolas paradas (vale salientar que o segundo gol foi originado de uma falta que não foi) fez dois gols e acabou com qualquer chance de reação argentina.
Os erros de Maradona
Como já externei em outras oportunidades, considero o trabalho de Maradona extremamente decepcionante e cito os principais erros:
1. Falta de continuidade. Uma selecao reúne-se, em média, a cada dois meses. Não há, evidentemente, tempo para treinar. Qual é a solução lógica? Manter uma mesma base em todos os jogos assim como faz Dunga. Quem não sabe que o time de Dunga é Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan, André Santos, Gilberto, Elano, Felipe Melo, Kaká, Robinho e Luís Fabiano? Agora alguém se arrisca a dizer o qual é o time titular de Maradona? Não creio, pois nem ele sabe, pior, não sabe nem qual é o esquema tático. Dátolo não havia sido jamais convocado; estreou e foi titular. Seba Dominguez a mesma coisa, entre outros.
2. Defesa. Não creio que todo grande time deva começar por um grande goleiro, mas sim acredito que todo time, no futebol de hoje, deve ter uma grande defesa para pensar em ganhar alguma coisa e a Argentina deve ter a pior defesa entre as grandes seleções do mundo. Não me refiro apenas a jogadores e sim a um sistema que expõe o sistema defensivo a todo o momento. É charmoso apostar nessa ideia argentina de futebol que sempre visa o ataque e aposta em jogadores habilidosos como Messi e Agüero, mas infelizmente a defesa é mais crucial do que isso e nada melhor para corroborar essa ideia do que analisar a defesa de Dunga, talvez a melhor do mundo na atualidade. Um ferrolho! Intransponível. Dunga jogou com dois zagueiros altos e com os laterais fazendo uma função de terceiro e quartos zagueiros. Talvez a característica mais peculiar do futebol brasileiro seja a atuação ofensiva de seus laterais, mas Dunga acabou com isso e plantou Maicon e Santos lá atrás. Além disso, destaco Júlio César, o melhor goleiro do mundo disparado na atualidade. O que fez Maradona? Colocou para jogar em um clássico de vida ou morte uma dupla de zaga verde. Seba Dominguez jamais havia jogado na selecao enquanto que Otamendi, uma das grandes revelações do Vélez campeão, jamais havia iniciado um jogo como titular e ambos tiveram uma atuação ruim. Será que não seria mais adequado escalar zagueiros de experiência internacional como Samuel ou Coloccini?
3. Estatura. Duvido que algum torcedor argentino como eu tinha alguma esperança de gol nos lances de bola parada. Era impossível! Nem os defensores argentinos eram altos, era simplesmente impossível de conseguir qualquer coisa por cima. Será que não é óbvio que, contra um time que joga retrancado como o Brasil, a escalação de um centroavante de ofício, forte e grande, era fundamental? E a Argentina tem, entre outros, Milito, artilheiro do campeonato italiano e López, artilheiro do campeonato português e francês. Era visível que não havia como penetrar em uma defesa tão fechada, com pelo menos seis defensores fixos atrás todo o tempo (Luisão, Lúcio, Maicon, Santos, Gilberto e Melo), por baixo não dava, tanto é que o gol argentino saiu de um chute da intermediária.
4. A escalação de Messi. Atrás, tendo que buscar a bola no meio de campo, Messi tinha que passar por três ou quatro jogadores e, quando chegava perto da área, já estava exausto. Considero a atuação de Messi ontem heróica, não aceito críticas que alegam que Messi não joga o que joga no Barcelona. A diferença é simples: no Barcelona há um homem de área, antes Eto´o e agora Ibra, tem Henry, Iniesta, Toure e principalmente Xavi sempre aproximando, ou seja, Messi, quando atropela dois ou três adversários, já está na cara do gol e sempre guarda! Na Argentina Messi joga com pressão, toda bola que pega, por não ter um time que funcione ao seu lado, tem a obrigação de definir sempre e isso é inviável.
5. A renúncia de Riquelme. É visível a falta de um jogador de criação e que jogue pelo centro no meio de campo. Desde a renúncia de Román, Maradona desistiu dessa vital posição, desse homem que facilita a vida de jogadores como Messi, Tévez e Agüero. Há inúmeros jogadores argentinos excelentes que poderiam fazer essa função, mas Maradona se mostra abalado pela saída de Riquelme e monta um meio de campo com dois volantes e dois meio-campistas que jogam abertos pelos flancos.
6. A falta de caráter. Uma selecao como a argentina não pode desesperar-se e desistir de um jogo por tomar o primeiro gol. Até o gol de Luisão, a Argentina jogava bem, dominava APESAR de não conseguir furar o ferrolho brasileiro. Tomou o gol em um lance bizarro em que o jogador adversário mais alto era o único que estava totalmente desmarcado e todos se desesperaram, exatamente como aconteceu na final de 2007.
Essa sucessão de erros de Maradona coloca a Argentina em uma situação mais do que dramática. Faltam três jogos, sendo que dois extremamente difíceis fora de casa, Paraguai e Uruguai. O Paraguai entrará em campo sabendo que falta apenas uma vitória para garantir sua vaga na copa. Para piorar, na última rodada o clássico do Rio da Prata pode ser uma batalha caso o Uruguai esteja ainda com chances de vaga. Completando, Peru em casa.
A Argentina vive momentos de pavor. Nenhum argentino anda dormindo tranqüilo, pois o risco é imenso, o risco de perdermos uma das melhores seleções do mundo e o melhor jogador do mundo.
Que saudades de um centroavante que faça gols, um Batistuta. Luís Fabiano pode ter aberto os olhos de Maradona, pois mostrou o quão importante é ter um atacante que não perca gols. Apostaria em Milito apesar da sonsa atuação ontem; E que saudades de um Simeone no meio, um homem que sempre mantinha uma faca na boca, que impunha um caráter, mas esse jogador, infelizmente, não há nesse momento.
Mas ainda há vida. Aposto em uma vitória agônica em Assunção o que considero que praticamente garante a vaga, pois depois o próximo jogo é Peru em casa. Tenho certeza que chegaremos de sangue doce em Montevidéu e aí torcerei por uma derrota caso os orientais necessitem três pontos para garantirem sua vaga.
Aguante Argentina!
domingo, 6 de setembro de 2009
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