Além de ter sido uma grande oportunidade para rever alguns familiares e amigos, a minha curta estadia em Porto Alegre gerou outro grande resultado. Desde o dia em que cheguei, 28 de julho, passei a ter uma ideia distinta da cidade.
Até a minha ida à Londres em abril de 2005, tinha grande simpatia por Porto Alegre. Após alguns dias na capital inglesa, passei a considerar Porto Alegre uma cidade exemplo do atraso do Terceiro Mundo. Como afirmou Edgar Morin “as grandes cidades do
Terceiro Mundo passaram diretamente da selvageria ao caos sem passar pelo esplendor”. O sistema americano copiado pelas grandes cidades terceiro-mundistas fez com que essas aglomerações humanas se tornassem desagradáveis, poluídas e dotadas de um crescimento desregrado. São cidades atormentadas pela violência urbana, com pouca ou nada de vida de rua e que segue a receita ianque de xópins aliados a carros, receita essa que aniquila a vida social de rua e padroniza tudo, rouba a alma.
A minha segunda experiência de vida no exterior, agora em Medelín na Colômbia é uma das responsáveis dessa “re-admiracão” pela capital dos gaúchos. É inevitável não comparar a qualidade de vida entre Medelín e Porto Alegre depois de voltar dessa curta experiência gaúcha tendo estado vivendo na Colômbia por mais de meio ano. O caos total e a imbecilizacão dominante aqui nesse rincão do mundo fazem com que Porto Alegre e sua população sejam valorizados por mim.
Já na chegada no aeroporto, o ar frio, a aparência europeia de sua caucasiana população servem como um agradável cartão de visitas. Logo segue o trânsito. Ria sozinho a cada pisca-pisca que via cintilar na minha frente. Coloca-se pisca-pisca para tudo, para trocar de pista, enfim, usa-se como deveria ser usado e isso me fez sentir bem. Sem contar o trânsito tranqüilo, a ausência de buzinas, a menor quantidade de motos, as avenidas longilíneas e bem sinalizadas, enfim, resumindo, o sentimento era parecido de quando cheguei à Londres.
Mas o melhor de tudo é poder conversar. Sinto falta de falar com pessoas que não estarão dispostas a apenas conversar sobre novelas, vidas de celebridades, histórias de bebedeiras deles mesmos ou sobre celulares. Já sinto falta de poder falar de livros e/ou filmes. Sinto falta do futebol de verdade, do frio, de mulheres sem plásticas, de carne boa, de doces incríveis, de cultura de mesa, de poder sair de casa e escutar um acústico do Pink Floyd, de estar livre do lixo musical indígena, de poder me reunir com uma ou mais pessoas e que não seja apenas com o intuito de atingir a inconsciência através do álcool. Faz falta as opções culturais de Porto Alegre, que se não são as de uma grande cidade europeia pelo menos existem, sinto também muita falta da zona sul, do Guaíba espelhado circundado por um céu cinzento e nublado. Sinto falta dos dias de inverno chuvoso, bem como sinto falta de olhar os parques ensolarados em dias de frio intenso.
Sinto falta do senso crítico, sinto falta de conviver com pessoas que sabem pelo menos onde fica a França, Itália e Inglaterra, sinto muita falta do humor, ah, o humor! A ironia! Poder comentar sobre algum fato que não tenha acontecido no perímetro urbano de Porto Alegre e mesmo assim as pessoas com as quais eu estou falando demonstram interesse e conhecimento. Sentia falta de poder ir a qualquer parte sem ter que ficar me preocupando com o que os outros vão comentar sobre como estou vestido.
Enfim, muito bom, saudades cada vez maiores dessa cidade feia por fora, mas ainda com alguma beleza especial por dentro. Aqui estou de volta sob o mesmo regime de calor de mais de 30 graus todos os dias do ano, comida que beira o asqueroso, conversando sobre como a fulaninha bateu o carro depois de encher a cara de cachaça em uma reunião de inauguração de apartamento ou sobre qual o melhor celular, ou então, o fundo do poço, vendo homens comentar sobre o capítulo passado da novela e isso que teve jogo da selecao colombiana...
E, para completar, para acabar com o humor de qualquer pessoa, a música de fundo, a pior e mais nojenta música do planeta...me entristece.
domingo, 6 de setembro de 2009
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