O mês de dezembro remete, inevitavelmente, ao Natal e ás festas de fim de ano. Goste-se ou não dessa época, inevitável associar o mês de dezembro a essas comemorações.
Em Medelín, para quem me acompanha acrescento a palavra “obviamente”, esse mês não é exatamente associado ás festas tradicionais de fim de ano, senão ao fim dos tempos.
Sim, dezembro aqui é uma pequena grande amostra do que seria o apocalipse. Não há necessidade de ir ao cinema suportar aquele cheiro nojento de pipoca para ver o filme 2012 e ter uma ideia de como seria o nosso fim. Venha á Medelín!
Medelín é uma cidade com excessiva violência urbana. O povo insanamente regionalista daqui sempre se defende dizendo que na época do Cartel de Medelín era pior. Bom, dizer isso é comprovar inteligência comparando-se com a Luciana Gimenez. Antes havia bombas diárias e corpos dilacerados pelas calçadas, ou seja, não é um parâmetro válido de comparação.
O fato é que Medelín, em um fim de semana, é terra de ninguém. O motivo? O povo daqui não sabe desfrutar algo sem entorpecer-se até o ponto da inconsciência e, para completar, o entorpecente usado é nada mais nada menos que cachaça, a bebida nacional.
Dezembro aqui é como um mês com 31 fins de semana. Não há aquela ideia de que Natal é uma festa familiar. Natal aqui é sinônimo de autodestruição, de sair para tomar cachaça até atingir inconsciência todos os dias. Dezembro é sinônimo, em poucas palavras, de inferno nessas terras de ninguém.
Para completar o quadro da dor, houve a final do campeonato colombiano entre um time da cidade, o Independiente e o Huila. Nem preciso salientar que futebol, também, é sinônimo de destruição. Não se aprecia o esporte, não se torce por um time, senão que futebol é (mais) um motivo para se destruir.
Juntou-se tudo, tudo em dezembro, final de campeonato e o – agora o considero maldito – Natal. O clima era, como já se podia esperar, de guerra.
O trânsito da cidade que naturalmente já é um caos fica simplesmente impossível. Há índios por todas as partes, um formigueiro e, para agravar ainda mais a situação, o povo é ainda mais selvagem atrás de um volante. O trânsito em Medelín apenas confirma duas ideias que sempre tive:
1. O avanço tecnológico, carros são um exemplo, não funciona quando usufruído por índios e/ou cidadãos inferiores;
2. Os espanhóis deveriam ter matado TODOS os índios ou nunca tê-los sacado das florestas. Homens brancos e índios nao podem conviver no mesmo habitat.
Para piorar ainda mais o maldito trânsito já caótico em situações normais, pior em dezembro, o estado fecha avenidas para que as pessoas possam olhar as malditas luzes de Natal que são colocadas todos os anos na orla do rio que cruza a cidade. Nem preciso dizer o resultado dessa inteligentíssima ação do setor público.
A trilha sonora tampouco poderia ser deixada de lado. Assim como o trânsito que já é caótico todo o ano, a música aqui é deprimente 365 dias ano. No entanto, não poderia faltar a música específica de Natal. Alguns já devem estar pensando: eu também detesto música de Natal. Não, não estou me referindo a jingle - Bells e coisas do gênero, lembrem-se que aqui o Natal não tem aquele espírito familiar chato e muitas vezes cafona que temos aí. A música natalina aqui é uma incitação á cachaça, as letras apenas convidam para o aumento da autodestruição, é, se é que se pode descrever um estilo musical, uma mescla dos dois piores ritmos do mundo, reggaeton e a música sertaneja deles que, vale ressaltar, consegue ser pior que a música sertaneja brasileira.
Mas o caos não se manifesta apenas no trânsito. Em um semáforo, por exemplo, vi dois homens discutindo com facas em punho.
Outra história incrível foi na minha ida (sim, mais uma) á casa de campo da Marcela.
Um trajeto de 80 km que demoramos cerca de três horas. Não há mais, e juro que não estou exagerando, de 100 metros sem que seja curva. Muita gente daqui mesmo fica enjoada do estômago nesse trajeto.
Pois na metade do caminho o trânsito para. Esperamos cerca de 15 minutos até que, no sentido contrário, passa um caminhão com um homem metido pela janela. Sim, o cara aparentemente saltou dentro do caminhão pela janela do passageiro, suas pernas saíam pela janela e ele ameaçava com um objeto metálico, que não consegui identificar, o motorista. Incrível, mais um momento que eu pensei: onde estou?
Depois de um tempo os carros começaram a se mover. Vimos uma moto no chão que provavelmente foi atropelada pelo caminhão o que causou o contra-ataque do motoqueiro. Incrível.
A nossa ceia natalina foi um churrasco estilo americano, de bifes com batatas, já que aqui não se tem a tradição de ceia de Natal, com peru e tal.
Pela tarde antes do churrasco fui ao estádio da cidade ver uns jogos de futebol do torneio local. Muito engraçado, todas as faltas o juiz expulsava os caras. Nas arquibancadas eu era o único homem caucasiano. Todos os interioranos bebiam fervorosamente mesmo sendo 14h e qualquer fêmea que ousava se levantar era assediada sem perdão pelos presentes.
No centrinho do povoado, também vários quadros da dor. As “discotecas” locais são dos ambientes mais deprimentes que já vi. Em plena tarde, 30 graus, solaço, se vê alguma porta de comércio mais escura. Olha-se para dentro e lá estão, os malditos camponeses bebendo. Numa delas tive que rir. Havia um casal dançando algum desses ritmos latinos nojentos que não diferencio, salsa, merengue, um deles. O cara pegando na cintura da guria, dançando...a guria com um gorro de Papai Noel na cabeça...tive que rir sozinho da desgraça para não chorar.
Bom, pelo menos tenho no meu currículo um Natal em Nova Iorque e três na Inglaterra.
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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