domingo, 20 de dezembro de 2009

O Fim

“Se a Humanidade acabar, não se perde nada”.

Essa frase é de Nélson Rodrigues, o famoso poeta ranzinza e, nesse momento de convenção em Copenhagen, é uma frase extremamente propícia.

O ser humano é, antes de tudo, um animal extremamente egoísta. Imagens e dados sobre as mudanças da temperatura no mundo e suas graves conseqüências alarmam muita gente.

No entanto, essas pessoas que se preocupam com essas informações estão preocupadas, antes de qualquer outra coisa, consigo mesmas.

A preocupação não é com a terra, com o planeta Terra, é com os nossos umbigos.

Imaginamos-nos flutuando em um monte de merda, atolados na merda, afogados pelo mar ou assados pelo calor do aquecimento global. É uma preocupação individualista e egoísta.

Se pensarmos de uma maneira não tão egocêntrica, analisando o fim dos tempos, o fim da raça humana não como a nossa própria morte, veremos que o fim da Humanidade seria o maior bem possível, o melhor presente a ser dado para a Terra.

Seria, através de uma tacada só, o fim de problemas vistos como impossíveis de serem resolvidos como fome, doenças, corrupção, exploração infantil, violência, racismo, guerras, cobiça, ignorância, analfabetismo, desigualdades, promiscuidade, maus hábitos, consumismo, desmatamento, poluição, estupros, novelas, Igreja, Paulo Coelho, música sertaneja, livros de auto-ajuda, cafonice, drogas, álcool, desperdícios, injustiças, televisão, prostituição, emissão de gases poluentes, ursos polares morrendo afogados, queimadas, buraco na camada de ozônio, efeito estufa, pragas, vírus, bactérias, aumento dos preços dos alimentos gripes animalescas, lixo etc.

Todas essas coisas acabariam conjuntamente a Humanidade. Em mais ou menos mil anos, segundo o documentário “A Terra Sem Humanos” do History Chanel, a maioria do legado deixado pela Humanidade estaria destruído e aniquilado pela natureza que, por sua vez, voltaria a dominar a Terra assim como fez após cada um dos períodos glaciares.

O mundo estaria livre para começar de novo. Mais uma chance seria dada. Teria a Terra mais uma oportunidade de funcionar, de dar certo.

A grande questão é que ninguém crê que esses problemas sejam mais importantes que as suas próprias e patéticas vidas. Assim sendo, ninguém deseja o fim do mundo. Vale à pena manter essa merda funcionando com todas suas injustiças, desigualdades, promiscuidade, drogas, álcool...

Pois eu acho que o fim seria melhor. Evidentemente é triste saber que não há uma seleção, todos e tudo findariam. Mas esse é o preço. Coisas boas se perderiam. A Charlize Theron morreria. O futebol acabaria. Houellebecq pararia de escrever.No entanto,toda revolução, toda mudança para melhor é feita em cima de sacrifícios e perdas. As imagens da superprodução 2012 são, talvez, agonizantes, terríveis, mas esse drama é um dos preços a serem pagos.

Infelizmente nada acabará assim em 2012. Infelizmente nada concreto sairá de Copenhagen. Não acredito em sacrifícios realizados por donos do poder. Talvez somente com o fim do petróleo algo possa ser feito, mas talvez será tarde.

Se fosse como a bobagem 2012, seria, ao menos, rápido. No entanto, pelo que vemos, será um fim em doses homeopáticas ou, para piorar, sem fim, simplesmente viveríamos em um mundo ainda pior.

Eu queria um 2012 sem Will Smith nem Bruce Willis para nos salvarem.

O mais curioso: os ratos sobreviveriam.

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