Recentemente
escrevi um texto que meus três leitores deverão
associar com este em certo aspecto. Salientava, em dito texto, sobre
o fenômeno do “facilismo” cultural, se podemos chamar assim, em
nossa sociedade. Todo mundo quer imagens, de preferência fáceis,
humor raso, que não seja
necessário pensar e, quando leem alguma coisa, que seja historinha
para boi dormir, vampirinho, mágico com varetinha na mão,
historieta pornô de meia tigela com texto retirado de contos
eróticos de páginas pornográficas baratas, fantasmas, enfim,
fácil.
O que vou
comentar nesse texto não
é exatamente isso, senão
o que eu considero o mito moderno, ou seja, tratar a palavra
“moderno” como sinônimo de “evolução”
o que, na maioria dos casos, não
é verdade.
Começo
com as relações
pessoais. O que seria uma relação
moderna? Um homem que nem sempre é maduro o suficiente para
administrar uma família, pois demora, em média, 45 anos para
amadurecer; uma mulher que não
tem como prioridade cuidar de seus filhos ou fazer da vida de seu
marido uma experiência mais agradável, preocupa-se, mais do que
tudo, com sua vida profissional. Sucesso é a palavra da moda.
Deseja-se, em inúmeras situações,
“dinheiro” e “sucesso”. Dinheiro e sucesso se tornaram os
objetivos de mulheres e homens, os principais. O que é sucesso? Vale
qualquer coisa para obtê-lo? Admira-se qualquer pessoa com sucesso
não importando como o conseguiu? Sim, isso é moderno. Moderno é
fazer uma dança ridícula e publicar nas redes sociais e se tornar
famoso e, consequentemente, ter o tal “sucesso”. Não
se questiona se o ato que tornou determinado cidadão
famoso e exitoso é merecedor de causar reconhecimento público para
tal pessoa. O que vale é aparecer, é ter milhões
de “likes”. Como afirmou o suicida Guy Debord em sua obra maestra
“A Sociedade do Espetáculo”, “o que aparece é bom; é bom o
que aparece”. Esses são
os nossos padrões atuais.
Basta aparecer.
Esse
desespero pelo “aparecer” é extremamente relacionado com o
dinheiro. Ter, e mais do que tudo, demonstrar ter dinheiro, é
mandatório em nossa sociedade espetacular. Não
basta ser, temos que ter, mais e mais. Quem tem, peço perdão
para me meter nos pensamentos do mestre francês, também aparece e,
por lógica, é “bom”. O ser humano normal e medíocre encanta-se
ao tirar fotos na frente de Ferraris estacionadas em South Beach ou
em Rodeo Drive. Demonstra, de certa forma, que estamos pelo menos
perto desse sucesso, somos quase “bons” e antes ser quase que
nada. É, o que insistemente estudou em uma obra que dedicou 18 anos
de sua vida, Georges Bataille chamava de “necessidade do dispêndio”
o que é, em poucas palavras, a obrigação
humana de desperdiçar recursos (excedente, foi a palavra usada pelo
autor) e energia em estupidezes sem qualquer importância como
Ferraris, jogos ou festas, simplesmente para demonstrar poder e obter
prazer. Os romanos já o faziam em seus bacanais antológicos
e construindo monumentos inúteis bem como os indígenas
norte-americanos que queimavam aldeias inteiras matando milhares de
pessoas somente para demonstrar que podiam se dar ao luxo de matar
“mão de obra”. Hoje o nosso
dispêndio é colocado em rodas mais caras que o próprio carro,
fabricar os mesmos carros que podem ir de 0 a 100 em três segundos e
que dispendem bastante energia através do desperdício de
combustível e que não considera que, devido aos congestionamentos
de nossas grandes cidades e aos limites de velocidade, esses carros
andarão a uma velocidade de entre 10 e, no máximo, 60 quilômetros
por hora. São, também, celulares com preços exorbitantes, joias e
etc. Seguimos iguais. Não há evolução.
Todo esse
desespero moderno por sucesso e fama é uma das negativas
características de nossa triste modernidade. Temos, hoje, que
aguentar fotos de adolescentes e de mulheres sem o senso do ridículo,
tirando fotos de si mesmas fazendo caras e bocas e postando no
Facebook. “Olhem para mim, eu sou bonita, apareço, existo, quero
ser amada e admirada, like me, like me”. Essa mensagem é o que
leio nas entrelinhas de comentários estúpidos que costumam aparecer
abaixo de fotos que somente conseguem gerar em mim repulsa e
depressão alheia. O que
não aparece, consequentemente não existe e a série “Kardashians”
é a prova cabal disso. Um programa de televisão
sobre nada com protagonistas que sabem nada sobre tema algum. No
entanto, aparecem, dispendem.
O
resultado dessas relações
pessoais cada vez menos baseadas em bons sentimentos e admiração
é a nossa sociedade de alianças obscuras tanto no cenário
político, por exemplo, já vimos fotos de Lula abraçado a Maluf,
quanto em nossa vida regular. Temos amigos, muitas vezes, por
conveniência. Essas relações
também refletem nos casos “amorosos”. “Uma mulher bonita
jamais estaria com um cara pobre, ele deve ter dinheiro”. É só o
que se escuta hoje; e, para a tristeza geral dos que ainda pensam em
uma época que pensar em público é vergonhoso - o orgulho é ser
idiota - na maioria dos casos se confirma. Temos relações
rasas, pouca solidez familiar no que resulta em crianças e
adolescentes cada vez mais incapazes para tudo. Hoje temos que até
ensinar as crianças a brincar.
Em grupos
específicos de pessoas o fenômeno também pode chamar até mais a
atenção. A vida dos
negros no Estados Unidos na época da segregação
racial era repleta de humilhações
diárias e nenhum ato da época pode ser defendido. No entanto,
deixando o chatíssimo politicamente correto de lado, a família
normal de negros no Estados Unidos nesse período obscuro racialmente
falando desse país, era incomparavelmente melhor. Existia, de fato,
estrutura familiar entre os negros americanos, algo em extrema
decadência nos dias de liberdade de hoje. Hoje 70% das famílias de
negros americanos não tem a presença de um pai ou a criança nem
sequer sabe quem é seu genitor. Há o aumento descomunal do uso de
drogas e, para completar, a degradação
cultural. O moderno é o negro versão
hip hop o que significa uma constante verborragia ressentida onde
devem mostrar todo o tempo que hoje os brancos os têm que engolir
porque já não existe mais a tal segregação
e que agora quem deve ditar as regras são
eles. Essa é a letra de um rap nas poucas que chegam a ter uma
letra. Hoje comemos mulheres brancas; hoje nós temos muito dinheiro;
hoje não nos levantamos mais para branco sentar, hoje dispendemos
excedentes. Não há mais
o esforço que havia dentro das comunidades de afro-descendentes
americanos de provar todos os dias para os demais que eles eram
também pessoas, tão
pessoas quanto qualquer outra raça e que eram, também, bons
cidadãos. Hoje, quem se
importa em passar uma boa imagem? Vestem-se da pior forma possível
tantando ser o mais ameaçador que podem alcançar e todos os têm
que engolir. O resultado dessa “modernidade” das relações
sociais? Os negros representam 13% da população
americana e ao mesmo tempo fornecem 60% de presos para o sistema
prisional ianque e, para completar o dado, 4,7% de todos os negros
são detentos na maior
potência do planeta.
Outro
grande fracasso de nossos tempos é a muito badalada “globalização”.
O que é isso? Na linguagem dos românticos sonhadores e cegos, é a
união de todas as raças,
todas as culturas, todo mundo junto unido por um objetivo comum que é
a paz mundial e uma vida justa para todos. Ok, muito bonito este
pensamento, gera letras bem tocantes como em “Imagine” de John
Lennon. Não obstante,
essa definição não
considera uma coisa fundamental: estamos falando de um mamífero
chamado homo sapien sapien que JAMAIS, em toda sua história, viveu
em paz. Nós, como a maioria dos animais, somos seres que não podem
viver em paz, sempre, desde o ocidente atual até os indígenas
americanos, vivemos em guerra, este é o nosso estado natural e
eterno. Uma criança de dois anos faz cara feia e fica brabo quando
tem que devolver algo que julga ser seu. Os pronomes possessivos
estão entre as palavras
mais repetidas por crianças dessa idade. Mesmo eles, tão
pequenos, marcam seus territórios, possuem, não gostam de
compartilhar; os índios americanos, muitas vezes colocados como
vítimas do homem branco, o que faziam? Viviam em paz fumando
cachimbos da paz? Claro que não, essa é mais uma visão
idealista da extrema esquerda ou dos inocentes europeus atuais. Os
indígenas se matavam em peleias que eram verdadeiras carnificinas,
usavam cabeças de inimigos como troféus, muitos eram antropófagos.
Os incas, coitados, exterminados pelos “inca pazes” espanhóis.
Ninguém questiona quem estava nessas bandas incas antes dos incas?
Pois eu respondo: eram outras etnias indígenas que foram brutalmente
exterminadas pelos mesmos incas. Vale também citar a “amabilidade”
dos astecas. Tinham escravos e os matavam em rituais para demonstrar
seu poder e sim, ADORAVAM o poder e as riquezas e para isso
escravizavam para ter cada vez mais guerreiros para conseguir mais e
mais objetos de ostentação
saqueando outras tribos.
Dito isso,
que não nascemos para viver em paz, digo que a tal globalização
o que faz é acabar com a parte boa de nossas civilizações
que é justamente essa diferença. Por que ter um mundo somente com
incas? Por que ter um mundo somente com espanhóis? Ou com vikings? O
interessante do planeta são
essas diferenças que devem existir para sempre e devem ser
coordenadas cada uma delas pelos representantes dessa cultura. União
Europeia? O maior golpe do capitalismo já proferido contra uma das
poucas sociedades da Terra que funciona, a europeia. O poder
político, marionete do poder econômico, quer um governo apenas para
governar e ditar regras mais facilmente para uma massa consumidora de
mais de 500 milhões de
pessoas. “Somos todos iguais, somos todos europeus”. Será? O que
a Romência tem a ver com a Suécia? O que a Bulgária tem a ver com
a Estônia? Terão estes
países as mesmas necessidades, mesmas carências, mesmos problemas?
História para enganar classe média europeia boca-aberta e ingênua.
A ideia da UE é dominar facilmente todo mundo e, como consequência,
manipular e até chantagear quem não se comportar bem. Quebraram-se
países em nome da manutenção
do tal “estatus” de europeu. Se não acreditam em mim, perguntem
ao Chipre e à Grécia. E, vale-se dizer, fora a Alemanha, os únicos
países da Uniao que conseguiram sobreviver à crise com poucos
arranhões foram o Reino
Unido e os escandinavos que não adotaram a moeda europeia e, assim
sendo, podem mais ou menos se auto-controlar. Coincidência?
O
resultado imediato da União
Europeia é, além do fracasso econômico, o fracasso social. O livre
andar de pessoas, a ausência de fronteiras, faz com que o velho
continente perda sua charmosa característica de apresentar países
tão
próximos, mas tão
distintos. Mas não, imaginemos todas as pessoas vivendo em paz em um
mundo sem fronteiras...ok, John Lennon, ok. Imaginemos um romeno e um
sueco iguais, falando esperanto e escutando música eletrônica em um
galpão
escuro. Todos iguais. Modernos. Endemoniza-se qualquer ideia
nacionalista. Le Pen é chamada de fascista por gostar da
França. Convenceram os alemães,
atá a copa de 2006, que usar a camisa de sua seleção
era sinônimo de ser nazista. Ostentar a bandeira britânica, é ser
nazista.
Para
terminar, vale dizer que até no futebol, a grande paixão
global, a globalização
foi extremamente maléfica. O que temos depois do vigésimo
aniversário da Lei Bosman que, para quem não sabe, foi a que passou
a liberar o número de estrangeiros nos clubes? Pois essa lei
simplesmente fez com que os clubes perdessem sua personalidade, algo
que é um dos objetivos da União
Europeia, todos iguais. Já temos uma Inter Milan jogando com onze
estrangeiros ou um Arsenal e Chelsea com um ou dois ingleses, tudo em
nome do xou, de aparecer, de ter sucesso. Hoje a Premier League gera
capitais impensados antes da Lei Bosman, mas, mesmo assim, não
consegue os resultados que conseguia antes. Nos vinte anos prévios à
Lei Bosman, os ingleses, mesmo com a punição
de não participar da Champions League por CINCO anos, ganharam sete
títulos entre 1975 e 1995, ou seja, 35% dos torneios disputados;
enquanto que levantaram apenas quatro taças entre 1995 e 2015, ou
seja, 20%. Essa capitalização
do futebol também trucidou grandes potências do esporte que, por
não serem potências econômicas esportivas, perderam força, vide
os clubes holandeses e portugueses, por exemplo. E, agora, a nova
movida é tornar até as seleções
um bando de estrangeiros naturalizados sem contar a já forte
presença de imigrantes como na seleção
da França, por exemplo, onde praticamente não
jogam franceses de verdade.
No
entanto, algumas coisas ditas modernas foram sim positivas. Perdeu-se
um pouco o belicismo pessoal, onde o sonho de cada um era morrer por
sua pátria; hoje as pessoas não caem nesse conto e preferem das
suas vidas por suas famílias e entes queridos. Finalmente, resta
esperar que nesse mundo moderno, com conflitos e crises migratórias
em seus estágios mais avançados, possa-se pelo menos abir os olhos
do mundo de que não estamos no caminho certo e usar, todos os
recursos positivos que a modernidade nos trouxe, para compartilhar
conhecimento e não contaminar um número cada vez maior de pessoas,
com a mediocridade. O quarto disco de One Direction está nos
primeiros lugares de 83 de 100 países analisados. Nos anos 60 eram
os Beatles de Lennon.
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