Havia bastante tempo que não alimentava a pouca
fome de meus três ou quatro leitores. Falta de tempo, muitas coisas para fazer,
enfim, desculpas mil que, em tempo de quarentenas pandêmicas esvaem-se e geram
esse sentimento de obrigação de escrever. Arriscaria a dizer que pouco opinei
sobre o atual governo de Jair Bolsonaro e isso vale também para discussões em
redes sociais. Por quê? Não sei, não encontro – ou não encontrava – motivos
realmente atraentes para opinar.
O governo Bolsonaro vem sendo exatamente o que
eu esperava, não poderia acusar o presidente de estelionato eleitoral como
poderia ter feito com os petistas que o antecederam. Bolsonaro é Bolsonaro,
nada mais. Desde a sua campanha eleitoral o atual mandatário demonstrou-se um
homem simples, ou simplório (?), admitiu saber pouco ou nada sobe economia e
afirmava sem sequer ficar vermelho que deixaria as grandes decisões nas mãos ou
nas canetas Bic de seus ministros técnicos. Seria basicamente um técnico de
futebol interino com um elenco galáctico. Pois falando de economia, o PIB
brasileiro que todo o mercado dizia que cresceria lá pelos 2,5%, cresceu apenas
1%. Por outro lado, houve a diminuição considerável na taxa de criminalidade,
um dos cânceres brasileiros. O desemprego pouco foi modificado.
Pois agora apareceu o grande vilão do momento,
o tal vírus que vem colocando de joelhos os sistemas de saúde e a economia de
quase todos os países do mundo. Detesto opinar sobre temas que desconheço, mas
já, depois de tantas horas de “estudo”, sigo com a mesmíssima opinião que tinha
ao princípio que resumo de forma sucinta: é um vírus de fácil contágio que é
perigoso para idosos e pessoas com sistemas imunológicos previamente
fragilizados que causa o colapso no sistema de saúde dos lugares mais afetados
e que gera, devido ao pânico causado, o aniquilamento econômico.
O mundo parou. Uniu-se. Irmãos aprenderam com
os erros dos outros. O péssimo trabalho da Itália, Espanha e França vem
tentando ser evitado em terras mais longínquas como são as repúblicas
sul-americanas. Países como Paraguai, Colômbia e Argentina lutam e esforçam-se
para evitar a repetição do erro europeu e tudo isso com uma única exceção: o
Brasil de Bolsonaro, ou, para ser justo com outras autoridades nacionais, o
Bolsonaro do Brasil.
Bolsonaro orgulha-se de seu simplismo, de sua
forma popular e básica de abordar todos os temas. Não concorda com ele, deve ir
para a Venezuela, é comunista; concorda, é bom. Deixou de concordar, deve ir
para Cuba onde já devem estar morando Joice Hasselman, João Dória, entre
outros. É simples. Dançou conforme o hino nacional, é amigo; não dançou, é
comunista. Preto ou branco. Verde e amarelo ou vermelho.
O Brasil jamais teve um cenário de discussão
política muito rico do ponto de vista massivo. Existiram e existem grandes
debatedores em nível nacional, mas a massa sempre encarou a política como algo
longe de sua realidade. Mas atualmente chegamos ao apogeu da simplificação.
Vivemos a grenalização da política. Quando alguém se declara gremista não é
questionado por que o é; o mesmo vale para os colorados. É-se gremista ou
colorado e ponto final. Assim é o cenário bipolar brasileiro. Não são
necessárias justificativas complexas para embasar seu ponto de vista, isso é
mimimi, blá blá blá, conversa para boi dormir. Vivemos no simplismo de ideias e
temos o presidente que melhor incorpora esse papel.
Houve, pelo mundo afora e no decorrer da
história, bons e maus governos de direita e de esquerda que, sempre é importante
ressaltar em tempos de simplificação xiita, esquerda não é sinônimo de
comunismo. Todos os governos comunistas fracassaram rotundamente, mas não os de
esquerda. Perco noites de descanso pensando com os meus botões sobre que
aspectos de cada lado deveriam ser destacados em prol de ter um estado que
funcionasse como deveria. Não chego em um consenso. Mas exijo bom-senso.
Bolsonaro, em meio ao caos mundial, pensa
primeiramente em sua personagem pública de símbolo do simplismo simplório de
direita e convoca seu séquito a ir às ruas gritar o seu nome e exigir a cabeça
de inimigos (comunistas) e o fechamento do congresso e o enforcamento de
ministros do supremo. Ideologia em primeiro lugar. Enquanto o mundo manda seus
cidadãos para a casa, Bolsonaro, recém chegado de viagem aos Estados Unidos em
cuja comitiva vários já foram confirmados infectados, saiu para abraçar seu
público e os incitou a juntarem-se, bem apertadinhos, fardando suas camisetas
verde e amarelas e seus cartazes a favor da volta da ditadura.
Seu ministro técnico da saúde conclamou as
pessoas a terem cuidado; Bolsonaro o atropelou e foi para o abraço pensando em
2022. Cada vez mais tenho orgulho de meu apelido de “isentão” dado por um
fanático de Jair. Essa posição de isento, que tanto gosto de ter, me faz
afirmar algo que a maioria se revolta: os grandes líderes de direita têm um
comportamento egocêntrico muito parecido aos dos líderes de esquerda. Há poucas
semanas atrás, antes do surto de coronavírus, Maduro, o execrado líder
bolivariano conclamava as mulheres venezuelanas a terem seis filhos. Nem um,
nem dois, nem três: seis. Todo mundo sabe que esse país vive a maior crise de
sua história, economia colapsada e falta de alimentos. Não importa. Seis filhos
por mulher. Ah, o mesmo Maduro também vociferou a favor do fechamento do
congresso local, algo que, com razão, gerou reprimenda do bolsonarismo que o
alcunhou de “ditador”, adjetivo este que, dependendo da ideologia do
homenageado, pode ser um afago ou uma crítica.
Semanas depois, em meio a desesperados pedidos
para que as pessoas ficassem em casa, Bolsonaro manda os cavaleiros dos bons
costumes e patriotas às ruas. Que se abracem, que se beijem. Surreal. Ambos,
Maduro e Bolsonaro, pensam primeiro em seus tronos e em suas cegas ideologias antes
que no bem-estar da população. O primeiro por sua sede tirana de perpetuação no
poder; o segundo por sua simpleza de pensamento, ou seja, por sua tremenda
limitação intelectual e sua dedicação quixotesca à sua ideologia simplista de
mundo que se limita a caçar comunistas.
O mais preocupante é a transformação de eleitores
ou apoiadores em cegos membros de uma seita. Criticou o Messias, é comunista.
Simples. Imagino que todos os membros da seita do Messias veem defeitos em seus
pais, filhos, cônjuges e afins. O público historicamente possui essa relação de
amor e ódio com seus ídolos. Messi já foi vaiado na Argentina; Cristiano no
Bernabéu. Músicos já foram injuriados por públicos indignados. Pois isso não
acontece com Jair Bolsonaro. Bolsonaro não erra. Bolsonaro não se equivoca.
Bolsonaro não pega coronavírus. Bolsonaro defeca trufas com olor de lavanda.
Meus amores são analisados por mim de uma forma
bastante racional. Poderia citar uma lista de defeitos de minha mulher, de meus
irmãos, de meu clube de futebol. No entanto, Bolsonaro é mais forte que todos,
é imaculado e isso é extremamente perigoso e nocivo.
Nas redes sociais, lunáticos defendem a atitude
de Bolsonaro dizendo que o BNDES deu lucro de não sei quanto, que a Petrobras
agora é uma Ferrari e por aí vai. O PT estuprou o BNDES e a Petrobras e,
sinceramente, não sei se esses números que aparecem são reais sobre a
recuperação de tais organizações, espero que sim sejam; mas o que isso tem a
ver com o tema coronavírus? É tão difícil louvar essa incrível recuperação
dessas empresas e no mesmo parágrafo criticar a atitude irresponsável de
Bolsonaro? Estou esperando para ver o clamor de seus súditos quando Bolsonaro,
diretamente de seu escritório dentro do armário, diga que coronavírus é coisa
de viado. Ou de comunista. O presidente não deveria estar dentro do armário e
sim instalar-se em uma mesa de bar e de lá lançar seus decretos. Seria mais
adequado. E simples. E simplório, como assim são as suas ideias e sua comunicação.
Ao mesmo tempo, antes que me acusem de
comunista, darei argumentos para que também me chamem de fascista e poder
confirmar minha posição de em cima do muro de que tanto me orgulho em tempos de
glorificação da irracionalidade. Que a esquerda oportunista composta de lobos
em peles de cordeiro está fazendo a essas alturas?
Já começaram a circular mensagens, sempre
recheadas de emoções, de que a humanidade unida está recebendo uma lição e que,
quando as águas tiverem se acalmado, o mundo será outro, deveremos estar unidos
e sem fronteiras. Lindo. Quase uma poesia. Uma pena que é, como quase todos os
dogmas da esquerda globalista mundial, uma grande mentira.
Mais do que nunca se comprova que os estados federativos
são ainda a melhor forma de manter a segurança e a ordem. Fronteiras abertas causam o
caos. Os países que conseguiram melhor controlar o avanço da epidemia, Japão e
Coreia do Sul, o fizeram, pois são países de população e cultura homogêneas. Países que não se venderam para a mentira da diversidade cultural e que,
portanto, ainda têm o sentimento de comunidade e de trabalho em equipe facilitados.
E, também, possuem uma média de QI entre as mais altas do mundo além de um ser
uma ilha e o outro salvo pelo muro ideológico insano de seu vizinho ao norte. Do outro lado está o fracasso da Europa sem fronteiras.
Infelizmente, o Brasil é um país onde não se
podem despejar as esperanças no QI de sua população muito menos em suas condições
sanitárias e em seu sistema de saúde cuja teoria é que é melhor construir
estádios do que hospitais e aproveito para mandar um abraço a Luís Inácio e ao
gordo Ronaldo. É necessário um líder e que este líder tome as atitudes
necessárias e indicadas aproveitando as experiências exitosas e fracassadas de
países europeus. E, mais do que tudo, é necessário um líder que saiba da
importância do seu cargo, que não encare a presidência da república como mais
um brinquedo, como uma moto, um jet ski, uma vara de pescar ou uma arminha;
este líder também deve estar em sintonia com a realidade e deve dar uma trégua
à guerra ideológica que é resultado de seu trabalho fanático em conjunto com
seus torcedores/seguidores/fãs/admiradores/bajuladores. A Argentina poderia servir
de exemplo. É ao lado. Fernández trabalhando lado a lado com o macrismo para
salvar a nação.
A esperança são os governadores e prefeitos
comunistas espalhados pelo país que, ignorando as sábias recomendações do soldadinho
do passo certo, fecham shoppings, estádios de futebol e igrejas APESAR do que
pensa o Messias. Preferem seguir as recomendações de um grande líder comunista
outrora ídolo e exemplo de Jair, Donald Trump.
Uma pandemia não é momento para guerra
ideológica e a máscara se usa na boca, não pendurada na orelha, tá okay?
Um comentário:
Cinco leitores, meu jovem.
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