É incrível a variedade de espécies de passarinhos que há nessa cidade. Admito que seja uma constatação deveras homossexual, mas realmente chama a atenção pelas cores: há vermelhos, amarelos, azuis, não são apenas aqueles ratões do banhado de Porto Alegre, marrons ou acinzentados, com cara de vira-lata.
Aqui ainda há Kolynos, o mesmo logo e o mesmo sabor, uma agradável sensação de nostalgia quando vi os tubos. Infelizmente não são de metal como antigamente.
Aqui todos os colégios ainda são primitivamente exclusivos por sexo. Há colégios para gurias e para guris, sempre separados. O mais legal é que se tem o hábito de uniformes estilo antigo, as gurias usam aquelas saias xadrez com meias brancas até os joelhos.
Falando em divisão por sexos, há lugares de votação para mulheres e para homens, SEPARADOS. Ainda não descobri o motivo.
Estou farto de ouvir falar sobre FARC, narcotraficantes e seqüestrados se lamentando. Quero que eles vão para o inferno.
Nas estradas aqui há umas placas que avisam sobre a periculosidade do local. Passei por uma, indo para a região cafeteira do país, que dizia estar entre as 100 mais perigosas da nação.
Aqui, como já destaquei em textos anteriores, é uma terra super fértil para a música hedionda. Juro que ouvir “vallenato” me dá mau humor imediato. Para quem não leu os textos anteriores, esse ritmo é igual a sertanejo. Mas não satisfeitos com a vasta variedade de bizarrices deles, eles importam coisas detestáveis de outros lamentáveis países como México, Venezuela, Porto Rico e etc., mas também do Brasil.
Já ouvi “Pensa em mim” e o fantástico clássico “Quisera ser um peixe” em espanhol. Demais de ruim.
Como também já tinha mencionado anteriormente, aqui há muitos termos que eles não usam a palavra em inglês. Uma nova é o “teatro em casa” que seria o “home theater”.
Li hoje que, somente no ano passado, foram mais de 380 mil pessoas expulsas de suas casas devido à guerrilha do campo. Essas pessoas são chamadas de “desplazados” e são responsáveis por um problema gravíssimo do país que é o aumento das mantas de misérias nas grandes cidades e o conseqüente aumento da criminalidade.
Ontem foi preso no Estados Unidos por tráfico de drogas internacional um guerrilheiro de extrema direita, ou seja, contra as FARC e a favor do governo. Resulta que o cidadão declarou em juízo que apoiou financeiramente a campanha eleitoral do atual presidente Uribe.
Essa semana também aconteceu outro fato curioso. Os filhos do presidente compraram uns terrenos a preço de banana. Por extrema COINCIDÊNCIA esses terrenos de uma hora para outra serão necessários para a construção de alguma obra pública ou sei lá o quê, ainda não consegui aclarar exatamente o que aconteceu e, obviamente, se supervalorizaram. Informação privilegiada ou pura coincidência? Esses filhos do presidente são os mesmos que foram flagrados através de grampos telefônicos realizando chamadas provenientes da casa de um mega narcotraficante colombiano há alguns anos.
Esses três últimos parágrafos são interessantes, pois, quando alguém vem aqui, pensa que Uribe é o cara! Ele é idolatrado como um rei pelo povo local, é visto como um homem honesto, incorruptível pelas tontas donas-de-casa leitoras de Paulo Coelho enfim, até agora eu ainda me surpreendo. Claro, há explicações como o apoio incondicional da mídia, a criação de inimigos da nação como o Chávez e Correa e também a luta vingativa estilo Rambo contra as FARC (o pai do presidente foi morto por essa guerrilha). Nessa luta, Uribe tem aliados. Quem são eles? As guerrilhas de direita. Quem financia essas guerrilhas tão criminosas quanto as de esquerda? O governo e o narcotráfico. E quem financia as guerrilhas de esquerda? O narcotráfico.
Ou seja, é Governo/Narcotráfico x Narcotráfico? Sim, assim são as coisas aqui.
E na prática, o que fez Uribe quanto ao combate ao narcotráfico e às guerrilhas? Para o povo miserável do interior do país, nada. O número de “desplazados” de 2008 é 25% maior que o de 2007, ou seja, piorou. Então por que o presidente é tão venerado justamente por realizar teoricamente muito bem a sua principal bandeira, o combate às guerrilhas e ao narcotráfico? Porque ele ataca um lado apenas que são as FARC com o auxílio por baixo do pano de seus aliados ilegais, as guerrilhas de direita, e divulga para uma população sem qualquer poder crítico que está combatendo esse problema de maneira geral e todos estão felizes. Há adesivo com dizeres como “Uribe para sempre” e amplo apoio popular para o TERCEIRO mandato. Detalhe: quando ele assumiu era proibida sequer a primeira reeleição aqui.
Ontem, no Dia da Terra, era proibido sair de carro às ruas de Medelín. Nas sempre congestionadas vias da cidade, ontem só se viam táxis, ônibus, motos, carros públicos e, claro, “busetas”.
Em outro texto citei algumas das paranóias causadas pela violência aqui, como seguranças armados e tal. Ontem estava num caminhão e um policial parou-se ao lado e perguntou todo desconfiado sobre o que levávamos dentro.
É incrível a quebradeira do comércio aqui. Não sei se isso começou conjuntamente com a crise econômica mundial, mas vocês não têm ideia da quantidade de estabelecimentos comerciais que fecharam. Há uma rua que acho que 70% dos estabelecimentos estão vazios com cartazes para alugar.
Outra coisa surpreendente que finalmente me lembrei de citar são os valores pagos a profissionais braçais. Uma mulher que chega na tua casa às 7h e fica até às 17h, limpa toda a casa, passa, cozinha, lava roupa e etc., ganha entre 25 e 30 reais pelo dia. Um jardineiro que trabalha o dia inteiro, ganha entre 5 e 10 reais, incrível.
Não é à toa que é um dos países com maior desigualdade social.
Aqui os cassinos são legais, há por todos os lados, de todos os tamanhos, desde uns vagabundos de esquina no centro da cidade até uns luxuosos nas melhores e mais caras partes de Medelín. Creio que o motivo para a existência das maiores e mais clássicas lavanderias de dinheiro em abundância aqui todos sabem.
Voltando aos ônibus, eu ainda não consegui entender como funcionam. Há muitos que possuem um anúncio de “vende-se” e com telefone para os interessados, dá a impressão que eles pertencem ao motorista e não a uma empresa.
Alguns corredores de ônibus foram instalados aqui. Há muitos carros que circulam por esses corredores destinados, em teoria, a ônibus. Mas o mais engraçado é que jamais vi sequer um ônibus circulando por esses espaços. Dizem por aqui que como foi obra de outra administração, simplesmente é deixado de lado.
Fui algumas vezes nos últimos dias ao que seria a Polícia Federal deles aqui para tramitar alguns documentos. Dirige-me à seção de estrangeiros. Obviamente que havia muito estrangeiros por lá e, acreditem se quiser, NINGUÉM do setor de ESTRANGEIROS da Polícia Federal deles sequer arranha um inglês.
Comentei esse fato enquanto aguardava para ser atendido e um espanhol atrás de mim com um olhar fixo no horizonte e uma voz injuriada começou a despejar a sua cólera pelo país. Após ouvir meu comentário, ele começou: “aqui tudo pode passar, nesse país tudo pode passar: se liberam multas por 20.000 pesos (cerca de 20 reais), há gente dirigindo na contramão, bêbada...” e por aí foi desafogando suas mágoas.
Nada mais por hoje, folks.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
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2 comentários:
Caro amigo Eduardo,
Assim como voce, eu e meus amigos brasileiros que vivem aqui em Bogota, nos identificamos MUITO com seus comentarios.
Mas, por favor, corrija o nome da cidade que h MEDELLIN...
Abracos
Aline
Medellín em espanhol;
Medelín em português.
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