Nesse próximo domingo, dia 30 de maio, haverá eleições presidenciais na Colômbia. É incrível a sensação que reina por esses lados. Quase não há propagandas eleitorais.
Nas ruas, pouco se vê. Alguém mais distraído talvez nem note que as eleições estão chegando. No entanto, vale sempre lembrar que o período eleitoral em um país em guerra como a Colômbia é sempre um momento perigoso e que atrai problemas como atentados terroristas, manifestações violentas, uso da força e etc.
Mas o que mais me surpreende é a ausência do poder da publicidade política. Dizem que no apogeu dos cartéis de drogas, as propagandas políticas eram simplesmente insuportáveis devido ao seu excesso. Havia muito dinheiro proveniente do bilionário mercado da droga que era injetado em partidos e em políticos e essa bonança tornava a vida dos cidadãos colombianos insuportáveis nessas épocas eleitoreiras. Não há mais. Se há de se buscar avanços no combate às drogas nesse país, esse câmbio nas campanhas eleitorais pode ser visto como um sintoma positivo.
Desde que o atual presidente Álvaro Uribe teve sua tentativa de mudança da constituição que possibilitaria uma disputa de um terceiro mandato – vale lembrar que antes de seu primeiro mandato não era legal sequer a busca da reeleição – rechaçada, a dúvida no país era sobre quem seria o candidato governista. O escolhido foi Juan Manuel Santos, ex-ministro da defesa colombiano. Defesa, aliás, segue sendo o principal lema da turma uribista e principal argumento utilizado contra o principal oponente, Antanas Mockus, do Partido Verde.
Todo o argumento político dos uribistas se baseia nos avanços realizados pelo governo colombiano no combate às guerrilhas, sendo que a mais famosa é a FARC. Vale salientar que esse combate às guerrilhas é curioso, tendo em vista que, dentro do território colombiano, existem guerrilhas pró-Uribe, as chamadas guerrilhas de direita, sendo que a mais famosa é o ELN, o Exército de Libertação Nacional. O resumo da rusga é o seguinte: o governo com Uribe e suas guerrilhas aliadas também financiadas pelo narcotráfico e por ajudas de políticos de direita, uribistas e governo contra as guerrilhas ditas de “esquerda”. Para mim, em poucas palavras, tudo farinha do mesmo saco, tudo bando de vagabundos guerrilheiros bancados pelo dinheiro sujo da cocaína.
Antanas Mockus foi prefeito de Bogotá e é conhecido por seu eficiente e ferrenho combate à corrupção. Em um país mutilado pelas chagas da corrupção, corrupção essa que é inerente dentro do povo colombiano, qualquer atitude tomada em contra desse problema é visto com bons olhos pela sociedade, especialmente os estudantes que almejam mudanças.
Mockus é do Partido Verde. Tem aquela pinta de bicho-grilo maconheiro dos anos 70. Chegou a se declarar ateu no passado. Hoje conta com Deus para ganhar as eleições, uma jogada necessária em um país onde o catolicismo ainda é extremamente forte e importante. Mockus outrora declarou que, se um dia fosse presidente, extraditaria Uribe. Hoje nega. Alguma vez Mockus se declarou amiguinho de Hugo Chávez. Hoje não é mais, não toca mais no assunto. Mockus usa a estratégia Lula. Não há ainda o eslogam “Mockus Paz e Amor”, mas a ideia é a mesma e não o recrimino, é necessário.
As elites colombianas o detestam. Dizem que ele não tem o pulso forte do caubói Uribe. Uribe desde o princípio encarou o seu cargo de presidente da república como uma oportunidade de vingar a morte de seu pai pelas mãos das FARC. Uribe é Chuck Norris. Uribe é Rambo. Uribe é John Wayne. Encara a Colômbia como um Velho Oeste e ignora regras e leis em busca de vingança e de “justiça”. O roteiro de seus dois mandatos foi vingança pessoal a custa de muito sangue. As elites colombianas não se diferem muito da elite brasileira quando sentem o medo bater a porta. Inventam histórias, vendem teorias do medo, tentam assustar as massas dizendo que Mockus irá entregar o país ao seu amigo Hugo Chávez e irá convidar as FARC a governar juntos. Falta só a Regina Duarte dizer que tem medo do Mockus.
Outra parte da elite colombiana, a facção menos raivosa, sustenta que Mockus é um cara inteligente, reconhecem seus inúmeros títulos que o fazem um homem indiscutivelmente erudito, mas em seguida o caracterizam como incapaz de governar um país com tanta violência. Dizem que Mockus seria bom para ser presidente da Islândia, não da Colômbia.
O fato é que, em oito anos, pouco foi feito dentro do país além de combater as guerrilhas (as de esquerda, não as de direita). O país sofreu e sofre com uma corrupção endêmica e excesso de violência urbana. Mockus fala em mudança, em mais oportunidades para os jovens; os caubóis de Uribe falam em manutenção do que está sendo feito, ou seja, bala nas FARC.
Em algumas discussões uso o exemplo de George Bush. O senhor W, outro exemplo de político-caubói versão ianque venceu duas eleições com o mesmo argumento que uribistas-santistas usam na Colômbia: tem pulso forte para guerrear contra o terrorismo. Bush venceu primeiro Al Gore, um democrata preocupado com ambiente que hoje dá palestras milionárias sobre mudanças climáticas. Em 2004, em sua busca pela reeleição, bateu o patético John Kerry, outro democrata com cara de árvore, uma espécie de amigão. Qual foi o resultado? Gastos trilionários em armas, guerras por tudo quanto é lado, invasões de territórios, baixa popularidade, ojeriza internacional e, a cereja da sobremesa, a maior crise econômica da história americana desde 1929. Será que o ecologista Al Gore e o pateta Kerry seriam pior simplesmente por não terem esse estilo galo de rinha vingador?
Pois na Colômbia as elites querem isso. Preocupam-se se podem viajar com mais segurança ouvindo reggaeton pelas rodovias do país outrora em mãos das FARC; não fazem uso dos serviços públicos, não se importam com a quebra da agricultura e pecuária do país que foi entregue de lambuja por Uribe ao Estados Unidos em troca de mais afago e mais dólares para sua luta contra as FARC. Resumindo, a elite colombiana se preocupa com seu umbigo em um típico comportamento elitista.
No entanto, Mockus avança nas pesquisas apoiado pelos estudantes colombianos que mantêm um desejo de mudança, mais oportunidades e mais clareza e limpeza em um governo caracterizado pela sujeira que, como em outras tantas partes, é varrida para debaixo do tapete diariamente.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
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