A rotina e a minha própria aceitação do estilo “paisa” (para quem não saiba, “paisa” é o gentílico para pessoas nascidas no departamento de Antioquia cuja capital é Medelín) de viver fizeram com que poucas coisas me chamassem a atenção ultimamente e esse é o motivo da longa ausência de textos sobre essas plagas por aqui. No entanto, finalmente creio que tenho algum material que seria interessante de compartir com meus caros e saudosos amigos-leitores.
Começo essa narrativa descrevendo algo realmente impressionante que pode ser visto também como uma amostra legítima de como as coisas funcionam aqui por esses lados do planeta.
Passados três meses de minha última viagem internacional, já não estava legalmente apto para dirigir em terras colombianas o que me obrigou a buscar informações sobre como proceder para obter uma carteira de motorista colombiana.
Após a conclusão do processo que, aliás, me reservou um inesperado último (será?) capítulo, pude observar mais um motivo pelo qual o trânsito aqui é o pior que já testemunhei juntamente ao de Nápoles. Em cerca de 20 minutos, sem passar por qualquer teste prático, teórico ou médico, já estava apto a dirigir na Colômbia.
Sim, acreditem se quiser. Poderia ser cego, epilético, doente mental, nunca ter dirigido na vida e, mesmo assim, estaria apto a conduzir um veículo por aqui.
Paguei cerca de R$242,00, passei alguns dados e ponto final. Nesse mesmo momento já estava habilitado a conduzir no sistema e, dois dias depois, já poderia ir ao mesmo recinto receber minha carteira de motorista válida ETERNAMENTE, sim, eu posso ter 102anos, ser cego, ter Alzheimer e não lembrar o meu nome e seguirei apto a dirigir.
Para tornar o absurdo ainda mais inacreditável, no momento em que confirmava que estava aplicando por uma habilitação para conduzir carros, a atendente perguntou se eu não queria outra modalidade que me deixaria apto a exercer atividade profissional com o carro, ou seja, ser taxista ou levar crianças à escola! A grande vantagem dessa modalidade era, segundo ela, que tem validade eterna. Não hesitei e aqui estou apto a ser taxista ou motorista de ônibus escolar, ou como eles dizem, de busetas escolares até a minha morte.
Confesso que após deixar o recinto onde fui fazer tais trâmites me sentia desconfiado. Isso não poderia ser verdade. Mesmo sendo Colômbia, era demais! Seria um golpe? Seria mais um caso de índio dando golpe em estrangeiro? O lugar onde fui era horroroso, sem ar condicionado ou qualquer tipo de ventilação. Uma suburbana trabalhava com um computador portátil localizado em cima de um ventilador desligado ao lado de sua mesa, pois o cabo da bateria não alcançava até a sua mesa.
Esqueci de citar, mas tive que retornar um dia depois para marcar minhas impressões digitais e, nesse dia, chegando lá, sentei e a atendente me deu uma espécie de doc bancário. Enquanto eu olhava o documento ela sacou um bolo de dinheiro de uma gaveta e me jogou uma nota de 20 mil pesos, cerca de R$22,00 e disse que eu deveria ir até determinado banco efetuar esse pagamento para poder proceder com o processo. Nesse instante a outra atendente se ofereceu para ir o que ofendeu a primeira que replicou dizendo que se quisesse ela ia. Enquanto isso eu apenas olhava as duas discutindo.
Chegando a casa após ter ido receber a carteira de motorista me dei conta de que o meu nome aparecia como “Acevedo Colonial”. Seguidamente escrevem meu nome com “c” e não com “z” o que é entendível, mas nesse caso a atendente preencheu meus dados no sistema com a minha identidade na mão e assim mesmo conseguiu se equivocar. Enfim, amanhã irei outra vez fazer a reclamação.
Agora segue a sessão de “curtas”:
Após o meu jogo de futebol das terças-feiras à noite, apenas ressaltando que é futebol masculino, ou seja, apenas homens jogam, o assunto pós-jogo não era nem futebol nem mulheres e sim novelas, a paixão nacional. Os homens aqui são tão conhecedores do assunto que discutiam sobre seus diretores de novelas favoritos.
Algum homem aí, heterossexual naturalmente, sabe o nome de pelo menos um diretor de novelas?
Há duas televisões em frente ao bar da cancha, uma passa futebol e a outra novela.
Qual vocês acham que é a mais popular entre os atletas de sexo masculino que lá estão para jogar futebol? Lamentável.
Tem um cara na minha academia que faz bronzeamento artificial. Há dias em que aparece mais laranja que a camisa da Holanda.
Há uma espécie de vendedores ambulantes aqui que é sensacional. Eles se localizam nas paradas de busetas e ficam gritando para os usuários do transporte a rota de cada buseta. Após prestar esse serviço se sentem no direito de andar grátis nas busetinhas e os motoristas aceitam sem hesitar, claro, até porque as busetas não são deles, na buseta dos outros é refresco.
Um cara me perguntou semana passada se na Inglaterra falavam inglês britânico ou americano.
Uma outra desgraçada me perguntou o que significava “Sydney” em inglês.
O embaixador colombiano em Londres não fala inglês.
Uma mulher me pediu confirmação para sua afirmação que era a seguinte: a nacionalidade de quem nasce em Portugal é brasileira?
Com minha mão sobre o livro sagrado juro que todas as informações acima são verídicas, ninguém me contou, eu mesmo, infelizmente, as vivi.
Salve-se quem puder.
domingo, 2 de maio de 2010
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