Dessa vez não vou analisar a atuação individual de cada jogador Tricolor em campo e sim tentar entender os motivos dessa eliminação esdrúxula do Grêmio. Há necessidade de uma mudança de mentalidade.
Depois do gol de falta de Souza no Mineirão, a esperança de classificação do Grêmio ganhou força. O que estava impossível passou a ser algo que poderia ser atingido, não facilmente, mas tampouco seria uma epopéia fazê-lo.
O Grêmio já havia ganhado por dois gols de diferença em outros três confrontos em sua última participação na Libertadores em 2007: 2-0 no Defensor depois de ter perdido pelo mesmo placar no Uruguai; 2-0 no São Paulo após ter perdido de 0-1 na ida e 2-0 no Santos em partida de ida. Na final, após levar 3-0 do Boca, foi criada toda uma expectativa em cima da bobagem da “imortalidade”, ressaltou-se a raça do Grêmio, garra e sei lá mais o quê e deu em nada.
Antes da final contra o Boca lembrou-se muito da Batalha dos Aflitos, da incrível demonstração de hombridade dada no estádio pernambucano, mas um fator foi ignorado pela maioria: o Boca era muito melhor que o Grêmio e, obviamente, não tivemos a mínima chance de reversão do placar adverso da Bombonera.
O Boca não era o Náutico, assim como não era o Caxias, que ganhou de 3-0 do Grêmio na Serra e deixou a vaga escapar após tomar quatro do Grêmio no Olímpico pelo Ruralito. A direção do Grêmio, patética desde então, chegou ao cúmulo de dizer que o Boca era um “Caxias de grife” com o intuito de fazer a adversidade da final contra o maior clube argentino assemelhar-se a encontrada na decisão contra os caxienses. O pior que muita gente acreditou. A massa é burra.
O Boca passeou pelo Olímpico não porque o Grêmio não demonstrou raça, garra e tudo mais e sim porque tinha muito mais time, tinha um gênio, Riquelme, e outros excelentes jogadores como Palacio, Dátolo e companhia. O quê tinha o Grêmio: vontade.
A fantástica temporada do Barcelona que, além de ganhar tudo, mostrou um futebol brilhante com mais de 100 gols somente no Campeonato Espanhol, deixou bem claro que além de dar para ganhar jogando bom futebol, é muito provável que se ganhe QUANDO se joga bom futebol. Além do Barcelona, expoente máximo na atualidade de futebol bem jogado juntamente com a selecao espanhola, campeã europeia, outros times provaram o mesmo e não falo de elencos com estrelas milionárias como o dos catalães.
O Huracán, time que menos investiu entre os 20 times argentinos da primeira divisão, está encantando a todos, pois joga um futebol espetacular, vistoso e seu técnico Angel Cappa cobra isso dos jogadores, reclama quando o time ganha sem jogar bem.
Jogar bem, já logo aclaro, não é frescura, desrespeito ao adversário, e sim buscar o
gol, trocar passes, ter jogadores habilidosos, enfim, jogar futebol. Pois o Huracán pode ser campeão pela primeira vez em sua história. Chega à última rodada precisando de um empate contra o Vélez, o outro clube que cobiça o título. Mesmo que venha a perder, a campanha do menor dos clubes de Boedo será inesquecível.
O Wolfsburg, campeão alemão pela primeira vez em sua história em 2009, é outro exemplo. Um time que meteu 5 no Bayern, 5 no Stuttgart entre outras grandes goleadas. Era um time que jogava todos os jogos para ganhar e não se satisfazia com um mísero gol.
Também aclaro que não sou contra um time com garra e dedicação; sou é contra ao fato de depositar todas as esperanças em cima disso e/ou na força da torcida. O Uruguai em toda a sua história gloriosa sempre teve excelentes jogadores e muita vontade de ganhar. Quando passaram a valorizar unicamente a segunda característica, deixaram de ser uma potência mundial do esporte.
Ao mesmo tempo saliento que também há a necessidade de uma entrega dos jogadores além da técnica. A selecao argentina, por exemplo, tem muita técnica e zero de faca entre os dentes. Desde a saída de Simeone, não há um símbolo de garra e vontade dentro de campo e esse é o motivo principal da seca de vitórias que o selecionado de Maradona vive atualmente.
Voltando ao Grêmio, por que não tivemos chance alguma nesse confronto com o Cruzeiro? Porque faltou time, faltou técnica. O Cruzeiro acabou com as esperanças do Grêmio através de um lance de TÉCNICA de um jogador acima da média, Kléber, o melhor atacante em atuação na América e, no meu entender, jogador de selecao. Em uma fração de segundo, em um drible rápido em cima do defensor, o craque matou o jogo, deu a vaga ao seu clube, valeu o investimento.
Enquanto isso a direção do Grêmio conclamava a torcida e apostava na garra, esquecendo que, sem ter um meio de campo criativo, não se chaga a lugar algum. Sem laterais pelo menos razoáveis, é muito difícil de ganhar e o Grêmio perdeu por isso, pela falta de talento e de qualidade. Pode acontecer de um time inferior ganhar de um superior? Evidente; mas é muito mais provável que o melhor vença.
Por fim, hei de analisar a bizarra condução do espetáculo no Olímpico.
Começo com a hipocrisia dessas campanhas para arrecadar sócios. Tem que ser muito idiota para ser sócio. Se paga uma mensalidade, não se tem direito a nada e ainda há o grande risco de, na hora do filé, ficar de fora. Inúmeros torcedores com carteira de sócio em mãos ficaram de fora da decisão. Lamentável. Quanto a isso, a direção diz que tem que vender mais ingressos que o limite, pois muitos sócios não vão aos jogos, ou seja, eles contam com a não ida das pessoas que eles fazem campanhas para trazê-las ao estádio.
O ingresso é caro se comparamos com outros espetáculos como cinema ou teatro. No entanto, os “clientes” são tratados como animais. Além da total falta de conforto de chiqueiros como o Olímpico, os clientes sofrem com a brutalidade da polícia que até cavalos manda para cima dos clientes. Abusa-se da paixão dos torcedores por seus clubes. Se isso passasse na entrada de uma estreia de filme no cinema, com toda certeza os clientes jamais retornariam a essas salas.
O pior de tudo é que a solução é muito simples. Não são os europeus geniais por fazerem as coisas funcionarem, e sim os brasileiros burros e incompetentes que não conseguem solucionar problemas simples e que, para piorar, são os mesmos há um século.
Começando pela venda de ingressos: por que não se utiliza a tecnologia para acabar com cenas lamentáveis como gente dormindo em frente ao estádio ou brigas e confusões por ingressos? Basta limitar a venda de ingressos à Internet e ao telefone, nunca mais haverá problemas e/ou filas. E se os sócios não vão ao estádio, os lugares ficam vazios? Claro que não, qualquer clube de quinta categoria da Europa consegue manipular isso. Se o jogo é dia 5, os sócios têm até o dia primeiro para manifestar-se via Internet, se vão ou não ao estádio. Caso não o façam, os lugares desses serão colocados à venda imediatamente, tecnologicamente.
Não dá mais. Para completar o quadro da dor, entra a capacidade vândala do povo. Os que não conseguiam entrar quebravam tudo, carros estacionados, vidros do chiqueiro, enfim, tudo que viam ao seu redor e isso gera, obviamente, a reação violenta por parte da despreparada Brigada Militar com seus cavalos.
Futebol é um espetáculo que se mantém por seu ponto passional, ignorando questões como conforto, como banheiros limpos, como boas opções de alimentação dentro dos estádios, como segurança e etc. Os jogos são ruins, senta-se em um concreto frio, toma-se chuva na cabeça, usa-se banheiros podres, come-se lixo e tomam-se cavalos em cima. E querem sediar Copa do Mundo nos chiqueiros, vê seu eu posso.
terça-feira, 7 de julho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário