Quem não viu a “final” do Campeonato Argentino perdeu uma das mais fantásticas decisões de campeonato da história ou, melhor dito, o jogo mais argentino de todos os tempos. Houve de tudo.
Coloquei “final” entre aspas pois não foi uma final de fato. O Campeonato Argentino é por pontos corridos; no entanto, chegaram na última rodada dois times com chances de título e os dois, por coincidência se enfrentavam. O Huracán, time de menor investimento entre os 20 participantes e que nunca ganhou o campeonato chegava, com um time de futebol vistoso e repleto de novos talentos como Defederico, Pastore e Bolatti, com dois pontos de vantagem.
Do outro lado o “europeu” Vélez Sarsfield, clube campeão do mundo e que fez grandes investimentos para o torneio, com destaque para as contratações de Seba Dominguez, ex-Corinthians e Larrivey que veio do Cagliari e que começou sua carreira no Huracán.
De um lado o melhor ataque, o Huracán e do outro a melhor defesa.
O drama começou quando a última rodada teve que esperar uma semana devido às eleições legislativas na Argentina. Durante essa semana de espera, a presença do público na final foi ameaçada devido à gripe suína. No entanto, domingo, às 16h30min hora local, começava, com 20 minutos de atraso, a grande decisão.
O primeiro fato inusitado foi uma tempestade de pedras gigantes que obrigou o árbitro a paralisar o confronto por cerca de 20 minutos. Pedras gigantes caíam do céu, algo que jamais vi em um jogo de futebol. Antes disso, o Huracán marcou um gol legítimo anulado por suposto impedimento. E aí começaram as polêmicas com a arbitragem, tempero fundamental para a dramaticidade tangueira de uma final argenta.
Também não podia faltar o pênalti. Desperdiçado. O Vélez teve a chance de abrir o marcador. Pênalti claro, sem discussões. O artilheiro do time Rodrigo López bate e o goleiro do Globo defende. Cada vez acrescia-se mais tensão ao espetáculo.
Apesar de ser uma final com tanta carga emocional e tão disputada, houve momentos de bom futebol. O Vélez neutralizou os craques do time adversário que não conseguiram desenvolver o seu tradicional futebol de toques, dribles e com muitos gols. Aos 38 minutos do segundo tempo, ou seja, pouco depois da metade do segundo tempo, sim, a segunda etapa teve CINQUENTA E NOVE minutos, bola na área do Huracán, Larrivey, ex-Huracán, entra de carrinho no GOLEIRO adversário, o juiz nada apita, o goleiro fica se retorcendo no chão, a bola sobra para Maxi Moralez e gol. O título acabava de passar de mãos. Na comemoração Maxi tirou a camisa e foi expulso, claro, não poderia faltar um expulso.
Com a confusão pelo gol supostamente irregular, foram lançadas pedras (de gelo?) pela torcida do Huracán. Jorrava sangue do supercílio de Seba Dominguez. Até um gandula teve que ser atendido pois também levou uma pedrada. Aliás, depois do gol, desapareceram as bolas. Não é que estavam demorando para devolvê-las, elas desapareceram, todas. O jogou ficou paralisado por vários minutos por falta de bola.
Daí focavam aqueles velhos demoníacos do Vélez e eles, sem nem ruborizar, diziam que
não sabiam, que não havia bolas.
Minutos depois o jogo voltou. O juiz levantou uma placa dizendo que se jogariam 8 minutos a partir daquele momento, ou seja, o jogo iria a 58. Evidentemente que o Huracán se atirou para cima em busca do gol do título e...num contra ataque, bola para a cria da casa, Larrivey, que havia começado no banco, ele recebe cara a cara com o goleiro e erra, chuta em cima do arqueiro do Globo. Imediatamente uma cena incrível. Todo o time do Huracán vai para cima do atacante do Vélez, muitos metem a mão na cara, outros empurram e o motivo: ele queria matar o clube que o projetou.
Sim, acreditem se quiser isso aconteceu. O pobre Larrivey não sabia o que fazer, estava apavorado com a raiva descomunal por parte dos jogadores adversários.
Eis que o jogo se acaba e a confusão não parou por aí. Os jogadores do Huracán foram todos chorando ao vestiário rapidamente, nada de discussões com o árbitro e muito disso porque sentiram medo. A invasão ao campo foi algo jamais visto. Havia mais gente dentro que fora. A polícia apontava mangueiras de bombeiro em direção aos torcedores que trepavam nas grades antes de saltar para o gramado. Todos os jogadores foram pelados pelos torcedores, todos ficaram apenas de cuecas em campo, uma digna demonstração da insanidade argentina pelo futebol, do quão desordeiro um argentino pode se tornar devido ao futebol. Na hora da taça, premiação e tudo mais, quase não era possível distinguir os jogadores no meio da multidão, só era possível quando víamos os que estavam de cuecas.
Para completar ainda mais a polêmica, o árbitro do jogo assumiu que errou em dois lances: no gol do Huracán anulado no primeiro tempo e por não ter marcado falta no goleiro no lance do gol decisivo.
Quem não viu, vale a pena ver a repetição quando passe. O jogo mostrou os motivos que o futebol é uma coisa tão impressionante, o esporte mais fantástico da Terra.
No entanto, esse esporte, quando jogado na Argentina...no hay nada ni parecido.
Minha selecao do campeonato (4-4-2)
Andújar (Estudiantes)
Araujo (Huracán)
Otamendi (Vélez)
Domínguez (Vélez)
Papa (Vélez)
Bolatti (Huracán)
Zucullini (Racing)
Pastore (Huracán)
Montenegro (Independiente)
Defederico (Huracán)
Sand (Lanús)
terça-feira, 7 de julho de 2009
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