Alemanha 4x0 Argentina: o futebol moderno chegou a um nível de profissionalismo em que erros e pensamentos ultrapassados não escapam de uma punição. E não há maior punição do que sair eliminado de uma Copa do Mundo levando uma goleada.
O Brasil resolveu mudar sua filosofia após algumas derrotas. Deram-se conta de que não bastava colocar onze jogadores talentosos em campo. Basta vermos que, os dois últimos sucessos brasileiros em copas do mundo, 94 e 2002, foram com times que priorizavam um sistema defensivo forte e, claro, com jogadores de qualidade.
A Argentina apostou em um técnico que não é técnico. Maradona foi, sem dúvidas, o maior personagem da Copa até hoje; no entanto, simples, não é técnico e tem uma filosofia de manejo de grupo totalmente ultrapassada.
Maradona apostou todas as suas fichas no talento individual de uma geração brilhante de jogadores. Os treinos da Argentina, não sei se eram transmitidos aí no Rio
Grande, mas eram verdadeiras comédias. Diverti-me bastante com os pelotões de fuzilamento, com as piadas de Diego com os jogadores, mas, ao mesmo tempo, me desesperava ver que nada era feito, nada era treinado. Eram sucessões de peladas em campo reduzido de seis contra seis com goleiro jogando de atacante e com atacante jogando de goleiro.
A Argentina conseguiu superar os dois primeiros adversários que eram fracos, Nigéria e Coreia do Sul e, mesmo assim, se analisarmos os jogos com cuidado, não foram boas atuações. A Argentina sofreu muito em alguns ataques nigerianos bem como foi dominada em boa parte do jogo contra a Coreia do Sul. Só quem se deixou ser enganado pelos resultados foram pessoas que entendem nada de futebol como Zagallo e Pelé, por exemplo.
Contra a Grécia, até o gol de Demichelis fruto de um escanteio mal cobrado, o time não encontrava espaços e chegou ao cúmulo de sofrer em alguns poucos e pobres contra-ataques do time helênico com apenas um jogador.
Contra o México ficou evidente a falta de esquema tático, o mau posicionamento e a falta de respostas do time para determinadas imposições do adversário que tampouco era a oitava maravilha do mundo.
A Argentina foi dominada pelo México que não ganhou, pois sofreu o primeiro gol em lance irregular e depois seu zagueiro entregou o segundo. O resultado foi o desmoronamento dos astecas e a consequente vitória tranquila argentina.
Hoje ficou evidente a total falta de ideias de plano tático do time de Diego. Contra um adversário de primeiro nível, um timaço, diga-se de passagem, a Argentina não viu a cor da bola.
Antes de jogo Maradona deu mais uma prova de que não é técnico e sim um excelente motivador. No entanto, motivação ajuda, mas não ganha jogo. Maradona colocou em dúvida a qualidade do time alemão que vinha de dar uma surra regada com quatro gols contra a Inglaterra, uma das favoritas a ganhar a Copa.
Maradona mostrou, mais uma vez, desconhecimento do adversário e dificuldade de ler o jogo, basta ver o tempo interminável que leva para fazer substituições.
A Alemanha joga apenas com Khedira como volante defensivo no meio de campo, ou seja, explorar esse meio, chave para ganhar jogos, seria óbvio caso se conhecesse o rival.
Nada foi feito. Maradona entrou apenas com Mascherano de volante defensivo e
completou o meio com Maxi e Di María.
Como Maradona não levou laterais ao Mundial, algo inexplicável, Maxi era obrigado a fazer uma função de lateral; Di María saía para o jogo como um quarto (!) atacante. Ficava Mascherano e tinha que suportar máquinas chamadas Schweinsteiger, Khedira, Özil Simpson e Podolski sozinho.
Do lado esquerdo um zagueiro veterano fazia, ou pelo menos tentava, cobrir a lateral. Obviamente lhe faltam técnica e juventude para tal função. O resultado foi um Messi tendo que ir até o seu campo buscar bola e tendo pela frente seis alemães, ou seja, era impossível de jogar fazendo o que gosta. Daí ficava Tévez correndo por tudo quanto é lado comportando-se como um peladeiro e Higuaín isolado, também tendo que recuar para tocar a bola e, fora da área, não é um jogador brilhante como o é dentro da área.
Como a Alemanha começou ganhando cedo, pôde esperar mais a Argentina que, após a primeira metade do primeiro tempo, passou a ter mais controle de bola e dar ainda mais espaços. Cada ataque frustrado argentino era um contra-ataque pior do que um pesadelo. Vinham 30 alemães assustadoramente vestidos de preto e, após correr 15 metros, davam de frente com os três zagueiros argentinos.
A única chance clara de gol para a Argentina foi quando Messi, lá atrás, deu um belo passe longo para Higuaín que ia sozinho em direção ao gol de Neuer, mas foi marcado impedimento que não era. Além dessa, nada além de tentativas individuais.
O segundo tempo apresentou a mesma situação e Maradona não mexeu no time. Esperava não sei o quê, pensava que era campeonato com 38 rodadas, não sei. Com tantas opções no banco, Maradona esperou até os 70, SETENTA! minutos para por Pastore.
A próxima substituição foi o retrato dos erros de Maradona. Agüero se preparava para entrar quando Friedrich definiu o jogo marcando o terceiro gol.
Alguns jogadores podem funcionar em suas primeiras experiências como técnicos, como foram os casos de Van Basten, Klinsmann e Dunga. No entanto, esses jogadores foram treinados por grandes técnicos e eram jogadores que tinham visões táticas do esporte. Maradona, em toda a sua carreira, apenas entrava em campo e decidia, fazia o que queria porque era um gênio; no entanto, não se pode adotar essa filosofia com um grupo de jogadores por mais fantástico que seja, não se pode escalar cinco jogadores ofensivos e dizer: façam o que queiram e decidam os jogos para mim. Não funciona.
Deu muita tristeza ver o time sendo eliminado dessa forma, seria melhor uma derrota de 1x0 para o México e livrar esse elenco brilhante dessa humilhação.
Ao mesmo tempo, fica a lição do erro e espero que comece um projeto sério para a Copa de 2014 com um técnico experiente que conheça o futebol internacional e tenha uma ideia de jogo fixa. Uma dica: eu.
Sobre a Alemanha, um time fantástico. A defesa não é o seu forte, mas a contundência de seu meio de campo aliado a uma superior qualidade técnica de seus jogadores, rapidez, inteligência e a cadência de Özil, um volante espetacular que é Khedira, um grande centroavante e Müller, uma das melhores revelações da Copa resultam em um time quase perfeito taticamente que atropelou mais um adversário e vai embalado rumo ao quarto título mundial.
Melhor em campo: Schweinsteiger (Alemanha).
Análise individual dos jogadores argentinos:
Romero: não teve culpa nos gols, foi bem em algumas poucas bolas lançadas na área, mas talvez pudesse ter evitado o primeiro gol. 5
Otamendi: o pior em campo comprovou minha teoria de que Argentina e Brasil não devem levar jogadores que nunca atuaram na Europa. Totalmente perdido, falhou em todas as jogadas individuais, perdeu todas e foi o culpado do primeiro gol alemão. ZERO
Demichelis: falhou no segundo gol, mas teve uma atuação razoável. Difícil condenar defensores de um time que se porta dessa maneira dentro de campo. 5
Burdisso: o melhor da defesa, foi bem nos confrontos individuais, mas pouco poderia fazer devido à situação em que estava metido. 5,5
Heinze: pelo seu lado Lahm chegava sempre e não tem as mínimas condições de apoiar quando o adversário é do nível de uma Alemanha. ZERO
Mascherano: sofrendo como sempre para tentar manter certa ordem no meio de campo abandonado da Argentina, acabou chegando tarde a algumas disputas e merecia ter levado o amarelo antes. 6
Maxi Rodríguez: visivelmente desconfortável nessa posição, não sabia se assumia a posição de lateral direito por sobre Otamendi ou se apoiava o ataque. Cumpriu nenhuma das tarefas. 3
Di María: sua melhor atuação na Copa, mas ainda assim não foi brilhante. Foi o único argentino que conseguiu chegar através de jogadas individuais e arriscou alguns chutes que não levaram perigo ao gol de Neuer. 5,5
Messi: sua pior atuação na Copa, quase não participou do jogo e jamais encontrou sua posição. Foi extremamente prejudicado pelo esquema utilizado que não lhe cobriu as costas e que não lhe deu oportunidades de jogadas de aproximação. Sem jogadores como Verón ou Pastore em campo que fariam as funções de Xavi e Iniesta no Barcelona, não conseguiu jogar. Vai-se do Mundial sem ter feito gols assim como Milito e Rooney. O único dos quatro maiores artilheiros do futebol europeu que se salvou foi Higuaín. 4,5
Tévez: correu e se esforçou muito como sempre, mas parecia estar jogando no seu querido Fuerte Apache. Isolado, estava visivelmente desesperado e, principalmente após o segundo gol, foi como um suicida para o ataque tentando jogadas individuais em meio a um exército alemão. 3
Higuaín: teve que recuar tanto em busca de oxigênio que, no lance do terceiro gol, estava na pequena área argentina. Deixou claro que a ausência de meio de campo e laterais prejudica, além da defesa, o ataque, que fica totalmente órfão. 3,5
Espanha 1x0 Paraguai: excelente a postura tática dos paraguaios que conseguiram o que parecia impossível que era manter a Espanha afastada de sua defesa. O time de Del Bosque encontrou muitas dificuldades para avançar posições no campo e em muitos momentos se viu completamente impossibilitado de chegar perto do gol de Villar.
Além da forte marcação no meio de campo, os atacantes paraguaios pressionavam a saída de bola da defesa espanhola que acabava se vendo obrigada a dar chutões para frente.
Torres mais uma vez não conseguiu jogar e o nome do jogo foi, mais uma vez, Villa. A Espanha, depois de um momento de cinema do jogo com dois pênaltis seguidos, um para cada lado, conseguiu o seu gol depois de excelente jogada individual de Pedro e gol
de Villa no rebote.
Casillas também acabou sendo um dos grandes nomes em campo ao defender um pênalti mal cobrado por Cardozo e depois salvando o time no final do jogo no que poderia ter sido o gol de empate do time sul-americano.
Melhor em campo: Villa (Espanha).
segunda-feira, 5 de julho de 2010
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