Espanha 1x0 Holanda: quem torcia por uma final entre sul-americanos a teve. Em um jogo com cara e clima de Libertadores, Holanda e Espanha brindaram o mundo com um excelente e apaixonante espetáculo.
Um grandíssimo jogo, com emoções até o final, inúmeras chances de gols, entradas ríspidas, enfim, uma final com todos os elementos de final sul-americana.
O início do jogo deu a impressão de que uma das minhas previsões poderia acontecer que era uma vitória com certa facilidade por parte da Espanha. A Holanda praticamente não tocou na bola durante os primeiros minutos do jogo e via a Espanha se aproximar de seu primeiro gol.
Stekelenburg, o melhor goleiro da Copa, salvou de maneira impressionante uma cabeçada fantástica de Sergio Ramos. Este, diga-se de passagem, foi o melhor jogador do primeiro tempo jogando como quase um ponteiro direito e criando várias oportunidades de gol. Uma delas faltou o cacoete de atacante quando entrou a dribles pela direita e tentou um busca-pé que acabou sendo rechaçado por Heitinga em lance que pedia a sua conclusão ao gol.
O meio de campo espanhol asfixiava Sneijder e a Holanda se via em uma situação de completa impotência. Robben não tinha contato com a bola e Kuyt era obrigado a jogar quase de volante para tentar conter pelo menos em parte o poderio do meio ibérico.
O gol parecia ser questão de tempo. Em um dos tantos lances ríspidos do jogo Capdevilla deve ser atendido pelos médicos, o jogo para por alguns minutos e parece que esfriou o time de Del Bosque. Quando o jogo recomeça, há uma nova situação em campo com uma Holanda que avança sua marcação, povoa o meio de campo, adianta sua defesa que deixa Villa quatro vezes em impedimento e, com essa pressão, equilibra o jogo. Xavi e Iniesta, os motores e cérebros da Espanha sentem dificuldades em encontrar espaços e o jogo ganha a cara que a Holanda queria. Meio de campo congestionado e espaços para os contra-ataques com a velocidade impressionante de Robben.
Há equilíbrio em campo, mas as chances mais claras passam a ser da Holanda, mesmo tendo menos posse de bola. A Holanda também passa a fazer uso de uma arma que Dunga usou com a seleção brasileira que é a sucessão de faltas “técnicas”. Sem violência, rodízio de faltas sempre evitando os cartões amarelos que acabam enervando e de certa forma parando um pouco a constância ofensiva do adversário. Uma das faltas deveria ter sido punida com cartão vermelho direto que foi a voadora de De Jong em Xabi Alonso. Um lance de artes marciais que não foi punido como deveria.
No segundo tempo começou a aparecer a estrela de Casillas, o melhor em campo. Casillas começou o Mundial demonstrando certa desconfiança, mas, no jogo contra o Paraguai e especialmente hoje, mostrou que segue sendo um dos melhores em sua posição no mundo. E apareceu pela primeira vez de forma magnífica em um mano a mano com nada mais nada menos do que Robben que recebeu passe brilhante de Sneijder e acabou não conseguindo concluir com sucesso. Tinha duas opções: driblar Casillas para a direita ou chutar por cima. Tentou por baixo e o goleiro do Real Madrid defendeu com a perna.
Do outro lado a Espanha também criava algumas chances principalmente provenientes de bolas paradas. Villa quase marcou em rebote da defesa e que acabou sendo salvo por Van der Wiel de forma espetacular.
Também aos 70 minutos, em outra cabeçada livre de marcação depois de uma cobrança de escanteio, Sergio Ramos colocou por sobre o arco holandês no que foi uma das mais claras chances de gol do jogo.
Outro lance desperdiçado pela Espanha foi devido ao preciosismo de Iniesta, algo que prejudicou todo o time espanhol durante essa Copa. Após excelente manobra e giro em cima de Heitinga, demorou em concluir e foi desarmado por Sneijder que estava marcando na pequena área e que representa um pouco o espírito de luta e de coletividade desse time holandês.
Já no final do jogo, após passe brilhante de Iniesta para Fabregas, esse recebeu livre frente a uma defesa extasiada e acabou tendo seu gol impedido por excelente saída mais uma vez de Stekelenburg.
A prorrogação começou dando uma ideia clara de que a Holanda queria os pênaltis, pois já não aguentava mais enquanto que a Espanha, fazendo jus ao seu estilo, buscava o gol de todas as formas. No entanto a primeira chance clara foi de Mathijsen para a Holanda após outra cobrança de escanteio. A zaga falhou e o zagueiro holandês, um dos melhores da competição, cabeceou para fora.
Aos 98 minutos Iniesta mais uma vez demorou muito para concluir a jogada e deu tempo para que a marcação de Van Bronckhorst chegasse.
A ideia era que havia espaços na defesa laranja, mas faltava esse jogador com a rapidez e o poder de conclusão para matar o jogo ainda mais se consideramos que Villa havia sido substituído por Navas que é jogador de flanco. Talvez Torres, mesmo considerando sua lesão e seu consequente fraco desempenho, poderia ser uma opção, mas entrou tarde e pouca chance teve.
O jogo foi tão bom que jamais deu a impressão de que a decisão por pênaltis era algo seguro. Sempre houve clima e cheiro de gol, nunca as possibilidades de o jogo ser decidido com bola rolando foram aniquiladas e aí apareceu o gênio Iniesta, com sua aparência de analista de sistemas ou como disse Menotti, cara de caixa de banco. O fato é que, após excelente passe de Fabregas recebeu no bico da pequena área, esperou o pique da bola e definiu com brilhantismo sem chances para o gigante goleiro holandês. Golaço.
O gol de Iniesta e o título da Espanha abriram um leque para inúmeras questões de discussão. Para mim foi antes de tudo, a vitória do favorito, do melhor, e do time que melhor joga futebol no mundo. Um time que jamais renuncia ao seu estilo clássico de jogo, que gosta da bola, que troca passes que tem paciência, que tem técnica que ama o jogo em si. Faltou apenas uma coisa para a Espanha nessa Copa que foi o poder de definição e muito disso é culpa da lesão de Torres, seu matador. Mas ganhou o melhor.
Também essa vitória pode ser vista como uma vingança do Barcelona contra um anti-futebol. O Barcelona perdeu a final da Champions League para uma Inter Milan que jogou com 11 jogadores defendendo; depois a Espanha começa sua participação na Copa perdendo para a Suíça que jogava com seus 11 jogadores dentro da pequena área. Assim sendo, foi a redenção e a confirmação de que o melhor futebol também pode ser competitivo e ganhar títulos.
Evidentemente que a Holanda não é um time defensivo como foi a Inter Milan no segundo jogo da final da Champions. No entanto apresenta aspectos de anti-jogo como o excesso de faltas, provocações, catimba, tentativas de dissuadir a arbitragem e, soma-se a isso, um louvável controle emocional que evita que seus jogadores, quase todos tinham amarelo, fossem expulsos.
Não sou contra o uso dessas artimanhas, mas é bonito ver ganhar um time que joga
futebol dessa forma.
Em qualquer jogo que há essa carga emocional e esse clima de guerra dentro das quatro linhas, a imprensa sempre critica a arbitragem. Isso acontece no Brasil e acontece aqui também. A arbitragem de Webb foi impecável. Seu único equívoco foi a não expulsão de De Jong, no mais, não cometeu erros que poderiam ter influenciado o resultado do jogo. Deu cartões quando deveria dar e, para mim, administrou o jogo com excelência, sem muito papo, com seriedade e bom trato para com os jogadores.
Minha única dúvida é justamente no lance crucial do jogo. Acho que os holandeses protestaram por impedimento quando Iniesta recebeu o passe e o mesmo pensam todos os jornalistas aqui e, claro, ficou evidente que não estava adiantado. No entanto, quando a bola é lançada pela primeira vez na área e o zagueiro tira de voleio, aí acho que alguém está adiantado e se foi Iniesta poder ser considerado que usufruiu de sua posição previamente irregular. Não sei. Ainda não consegui ver o vídeo de novo.
Terminando, critico a todos aqueles que facilmente foram manipulados a pensar que a Espanha seria um fracasso após perder de maneira injusta para a Suíça na estreia. Apenas eu e o um guri de 13 anos daqui sempre acreditamos na Espanha rumo ao título apesar desse tropeço.
Antes de começar a análise individual dos jogadores, excelente o comentário do narrador do jogo do canal colombiano. Disse ele que essa poderia ser a segunda final decidida nos pênaltis da história depois de Estados Unidos 1994. O incompetente esqueceu-se de outra, que não foi nos anos 30 senão a última edição na Alemanha em 2006. Meu Deus.
Análise individual:
ESPANHA
Casillas: brilhante. Duas defesas fantásticas e segurança durante os 120 minutos. 10
Sergio Ramos: o melhor homem em campo depois de Casillas, foi o nome do primeiro tempo como atacante, mas também foi impecável defensivamente. 10
Piqué: algumas desatenções em bolas aéreas, mas nada que arriscasse a manutenção do zero no placar. 7
Puyol: perdeu uma bola na velocidade para Robben que acabou nas mãos de Casillas. Quase marcou outro gol de cabeça. 7
Capdevilla: com sua sobriedade de sempre, sobe ao ataque quando pode, sem pressa e exerce de maneira impecável seu trabalho defensivo. 7
Xabi Alonso: um leão no meio de campo, é quem faz a cobertura dos gênios. 7
Xavi: devido ao combate imposto pelos holandeses em seu território não jogou como gostaria. Mesmo assim, foi o jogador importante de sempre. 6,5
Busquets: junto com Alonso é quem faz o trabalho menos límpido no meio de campo espanhol. Em alguns momentos do primeiro tempo parecia desatendo, mas foi preciso como o foi em todo a campanha. 7
Iniesta: demasiado preciosismo em jogadas que poderiam ter definido o jogo mais cedo. Sofreu com o excesso de faltas e com a forte marcação holandesa, mas encerrou o torneio com um golaço em uma bela definição. 7,5
Pedro: participou muito pouco do jogo e sentiu a pressão exercida pela defesa adversária e pelos volantes de contenção da Holanda. 5
Villa: totalmente sumido do jogo, teve apenas uma boa chance de concluir. Devido ao modo em que a defesa holandesa jogou, se viu muitas vezes em posição irregular e sem saber por onde se meter. 5
Fabregas: entrou e foi um dos jogadores mais importantes em campo, não somente devido ao passe para o gol de Iniesta, mas também em outras inúmeras participações. 8,5
HOLANDA
Stekelenburg: a única bola em que não poderia fazer nada foi o gol de Iniesta. Pelo menos três excelentes defesas durante o jogo. 9
Van der Wiel: quase não aportou ofensivamente, mas foi simplesmente impecável na defesa, principalmente na marcação à Villa. 8
Heitinga: atuação perfeita do zagueiro do Everton que infelizmente acabou com sua expulsão. 8
Mathijsen: sem dúvidas foi um dos melhores zagueiros da competição. Quase marcou um gol e foi decisivo na manutenção do zero no placar holandês. 8,5
Van Bronckhorst: assim como Wiel quase não subiu ao ataque. Desempenhou uma função mais defensiva e o fez com correção. 7
Van Bommel: volante de muita qualidade técnica, mas que também pode ser um volante de Bagé dos anos 50. Provoca, bate, catimba, enfim, tem o temperamento de um jogador sul-americano, um volante uruguaio. 8,5
Sneijder: mais se dedicou ao esquema tático do que brindou o time com sua reconhecida qualidade técnica. Deu um passe virtuoso para Robben. 7
Kuyt: jamais encontrou seu lugar no campo, sempre se via metido entre mais de um jogador adversário e não conseguiu sucesso em suas empreitadas. 4
Robben: durante os 120 minutos foi o jogador mais perigoso em campo. Perdeu dois gols que se repetirão em sua cabeça durante muitos anos, mas deve ser louvada sua função tática e sua facilidade de desorganizar e abrir espaços nas defesas adversárias. 8,5
Van Persie: uma das grandes decepções da Copa. Faltou-lhe atitude para encarar uma final de Copa do Mundo. 3
domingo, 11 de julho de 2010
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