Um dos países que mais tem atraído a atenção da população em geral atualmente é a China. Seu incrível crescimento econômico, suas transformações, sua cultura, sua história, sua imensa população, seus conflitos étnicos, enfim, muitos são os fatores que fazem a China ser um dos países mais comentados nos dias de hoje e visto por muitos especialistas econômicos como a futura maior economia do mundo.
Para entender como esse país chegou até esse momento é difícil devido à longa história chinesa. No entanto, o livro “Cisnes Selvagens” da escritora chinesa radicada na Inglaterra Jung Chang nos apresenta uma história pessoal, não somente a da escritora senão a de seus pais, avós e outros familiares, mas também resume toda a história mais recente desse imenso país cheio de contradições. Basicamente o livro mostra como era o país sob o domínio do Kuomintang, a revolução comunista e como as coisas andaram até os anos 80. Uma obra simplesmente fantástica.
A autora nasceu quando o país já estava nas mãos do Partido Comunista. No entanto, há uma fantástica compilação de memórias de familiares e uma excelente pesquisa que contextualiza o leitor de maneira formidável com a época pré-revolução.
A população chinesa vivia em intensa miséria e ignorância durante o governo do Kuomintang. Após a revolução, há uma grande euforia devido às melhoras que chegaram até o sofrido povo. Alimentação, moradia e combate a corrupção foram talvez as três principais vertentes do início da revolução juntamente ao intenso sentimento de patriotismo e culto aos líderes.
Esse sentimento de euforia com as novas benesses da nova doutrina não demoraram muito em serem questionados por sua população, principalmente entre pessoas com mais instrução e conhecimento do mundo exterior. Vale lembrar que era proibido qualquer contato com o mundo estrangeiro.
Apesar da tentativa do Partido Comunista Chinês (PCC) em prover igualdade de vantagens a toda a sua população, o povo era alertado das dificuldades que seriam enfrentadas no início dessa nova grande mudança. O partido usava o artifício de vender uma ideia mentirosa sobre as condições sociais vividas no ocidente, especialmente em países como Estados Unidos e Inglaterra. Em suas campanhas massivas de manipulação de sua população, o PCC sempre destacava o sofrimento enfrentado por pobres crianças ocidentais que não tinham o que comer nem o que vestir diferentemente das crianças chinesas que já começavam a gozar dos câmbios trazidos pela grande revolução.
Outros métodos interessantes que merecem destaque utilizados pelo PCC para manipular o povo chinês era mantê-los na ignorância. O partido valorizava a vida dos camponeses e dizia que esse era o estilo de vida modelo a ser seguido. Pouco estudo, a grande maioria dos cidadãos do campo era analfabeta e dedicação total à causa comunista.
Livros eram queimados a exemplo do que era feito pela Igreja Católica na época da Inquisição. Universidades eram controladas. O governo via a educação como uma ameaça à conquista de seu objetivo.
Mas nem tudo era negativo. Em um país que era mazelado pelas chagas da corrupção, o PCC dava um excelente exemplo de conduta ao princípio. O pai da autora, um dos idealizadores da revolução e então funcionário do partido, dava exemplos inacreditáveis de conduta. Mesmo com sua esposa grávida ele não deixava que ela usufruísse de benefícios dados aos funcionários do partido como utilizar transportes. A mãe da autora deveria então caminhar como qualquer outro cidadão chinês, mesmo quando se tratava de situações extremamente adversas como temperaturas abaixo de zero ou acima de 40 graus e por distâncias que excediam os 50 quilômetros.
A ideia de combate a corrupção era tão grande e tão respeitada dentro do partido que funcionários, quando queriam escrever uma carta pessoal ou nota a alguém, sacavam sua própria caneta e seu próprio pedaço de papel com o intuito de não utilizar materiais do Estado.
Como já havia comentado na introdução do texto, esse começo de sonhos não durou muito. O líder Mao utilizava a ideia do conflito interno para manter o país sempre sob tensão. Organizava campanhas de investigações na busca de ditos “defensores do capitalismo” e “anti-revolucionários” que faziam com que vizinhos se tornassem inimigos. Existia uma caça às bruxas constante. Em departamentos do Estado, os funcionários tinham cotas com números de colegas que deveriam ser presos por serem anti-revolucionários. Por mais que houvesse nenhum dito “anti-revolucionário” em determinada repartição, essas pessoas se sentiam pressionadas a cumprir com suas metas e acabavam denunciando pessoas inocentes escolhidas através de simples preferências pessoais. Caso não cumprissem com suas metas, eram, então, acusados de serem defensores do capitalismo.
O Estado constantemente tentava aniquilar os sentimentos de sua sociedade. Atos como chorar ou mostrar qualquer tipo de sentimento eram vistos como atos burgueses. As crianças eram tiradas de suas casas a idades precoces e mandadas a escolas do Estado justamente para não criar laços afetivos com seus genitores. Inúmeros monumentos e obras de arte foram destruídos. Cores também eram elementos burgueses. As roupas deveriam ser militares em tons acinzentados. Até as flores eram arrancadas por serem vistas como objetos de ostentação de uma beleza burguesa.
Mao e o Partido Comunista não permitiam que a sociedade se acalmasse. Sempre havia novas campanhas baseadas no ódio que afloravam o pior do ser humano, colocando a população em constante conflito.
No meu entender o livro tem como principal objetivo por parte da autora denunciar a farsa do comunismo chinês, mostrar que o sonho comunista era uma grande mentira. A autora não esconde seu rancor contra cidadãos ocidentais com pensamentos esquerdistas que, à época, vangloriavam o governo de Mao sem jamais ter chegado perto da China. É interessante notar quando, ao início dos anos 80, começa a ser permitido a visita de turistas ocidentais ao país. A autora já em sua adolescência sentia grande ódio dos turistas que comentavam sobre o quão maravilhoso era a vida em um país que dava iguais condições a todos sem darem-se conta do sofrimento e da repressão sofridos pelos chineses.
Trazendo para o lado da vida pessoal da autora contada no livro, é fascinante a história dessas três gerações de heroínas: a autora, sua mãe e a avó. A sucessão de dramas, barreiras, conflitos e dificuldades enfrentadas, com uma bravura impressionante por essas três mulheres é algo que faz pensar que isso não é possível, que não é verdade.
Enfim, trata-se de uma obra que oferece ao leitor uma biografia brilhante que está conectada, devido aos cargos importantes exercidos pelos pais da autora, ao governo comunista chinês desde suas origens até os últimos momentos da vida de seu líder psicopata, Mao Tse Tung.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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