Hoje se realizou o segundo turno das eleições colombianas que elegeram o novo presidente do país. Ganhou, com um resultado esmagador, o candidato do governo, Juan Manuel Santos que será uma espécie de braço biônico do atual presidente Álvaro Uribe.
Com mais de 60% dos votos, Santos é a escolha pela continuidade do projeto que vem sendo feito há oito anos por Uribe. E o projeto é simples: perpetuar-se no poder, nada mais, nada menos.
Através da análise de algumas pesquisas realizadas no país podemos ter uma ideia de como essa vitória foi construída e, principalmente, onde. Mockus contou apenas com o apoio de estudantes e da elite cultural do país, em resumo, da comunidade científica colombiana que anseia por alguma mudança na doente estrutura de um país onde 46% de sua população vivem abaixo da linha de pobreza, número esse que pouco foi alterado nos últimos dois mandatos presidenciais.
O resto da população que é dominada pela ignorância, foi de Santos. Se analisarmos somente os números dos votos do interior do país, Santos teria quase 90% dos votos.
O interior ignorante e extremamente atrasado colombiano elegeu Santos.
Em algumas oportunidades visitei cidades do interior do estado onde moro, Antioquia.
É impressionante a sensação que passa de como se estivéssemos viajando no tempo. É uma estagnação que dá uma extremada angústia. Vêem-se nos rostos de seus cidadãos a ignorância, o atraso, a falta de perspectivas e o domínio do alcoolismo. Fui por terra de Medelín até as redondezas de Manizales em uma viagem catastrófica e interminável de cerca de sete horas. Em todo o caminho, mesmo sendo esse o trajeto situado entre duas das mais importantes cidades do país, se vê absolutamente nada.
Não há uma fábrica, uma indústria, enfim, nada. Entra-se nos chamados “pueblos” e o que se vê é nada. Pequenos comércios, empregos informais, um verdadeiro atraso. O meu sonho de um dia morar no interior do Rio Grande do Sul em cidades ricas, industrializadas e prósperas como Bento Gonçalves, Gramado ou qualquer pequena cidade da serra gaúcha se acabou. Na Colômbia morar no interior é conviver com a tristeza do abandono.
Pois aí que está o eleitorado de Uribe e companhia. Nesse antro de não-saber, há a total manipulação da população através dos meios de comunicação sensacionalistas e oportunistas do país que não se cansam de mostrar imagens emocionantes de conquistas do governo que salvou das mãos das FARC sequestrados políticos. O choro dos parentes, as imagens impactantes como homens acorrentados subindo a helicópteros militares, tudo isso ajuda a construir a imagem de governo salvador. O último episódio desses xous midiáticos foi a liberação de quatro soldados sequestrados pelas FARC há 12 anos. Por pura coincidência essa operação se realizou uma semana antes das eleições.
Enfim, dá mais votos matar guerrilheiro do que educar o povo, é mais midiático. No entanto sou adepto da teoria de Pitágoras: "eduquem os guris e e não será preciso castigar os homens".
Vale à pena salientar também que muitos desses pueblos são ou foram dominados pelas guerrilhas e o governo de Uribe utiliza as ditas “guerrilhas de esquerda” (as de direita são suas aliadas) e Hugo Chávez como uma espécie de bicho-papão do povo.
Assim como pais ameaçam crianças dizendo que se não obedecerem, o bicho-papão aparecerá, Uribe e companhia fazem a mesma coisa: se deixarem outro ganhar, os bandidos tomarão conta e esses bandidos são as FARC e Chávez.
As FARC são o maior argumento político de Uribe. Não há nada mais conveniente que a existência desse inimigo. Melhor que as FARC somente o bobo da corte Chávez, outra ferramenta do continuísmo colombiano.
As FARC e Chávez são o que era a “ameaça comunista” na América do Sul na época das ditaduras. Assassinos ditadores em países como Argentina, Uruguai, Chile e Brasil utilizam essa suposta ameaça para justificar seus atos totalitários e criminosos. Os Estados Unidos também tiveram seu bicho-papão, aliás, na política americana SEMPRE há um. Também argumentando sobre uma suposta ameaça comunista eles justificaram guerras como a da Coreia e a do Vietnã. Utilizando os comunistas implantaram o lucrativo Plano Marshall. Hoje não é o comunismo senão o islã, o Talibã, Saddam Hussein, Ahmadinejad e afins. Citando esses compadres, o governo americano faz e acontece, desrespeita direitos humanos e ignora soberanias nacionais.
Falando em Estados Unidos, esse é o principal aliado de Uribe e turma. A política externa do governo Uribe se resume em uma linha: ficar de quatro para os Estados Unidos e ignorar o resto do mundo. Uribe acredita que, dormindo com o mais rico pode ignorar o resto. Está enganado. O mais rico também entra em crise, ou melhor, causa uma. Por que o Brasil não sentiu a crise? Política externa. Acordo com mercados emergentes, amigo de um, amigo de outro, abraça o Ahmadinejad, almoça com os judeus, joga golfe com Obama, visita as estepes russas com Putin e Medvedev, come chicken curry na Índia, fala de futebol e do Corinthians com o Hu Jintao, enfim, Lula joga para todos os lados, é amigo de todos e o país ganha com isso.
Na Colômbia são fieis! Estados Unidos e seus bilhões de dólares para combater o narcotráfico e deu. A Colômbia esquece que os Estados Unidos jamais foram amigos de alguém além da família real saudita e dos judeus com suas indenizações bilionárias em bancos americanos. Se o povo colombiano está bem ou mal, não importa. Eles querem apenas resultados, menos cocaína nas narinas de seus atores de Hollywood, roqueiros e adolescentes depressivos. O governo colombiano acha que é amado. Assina um tratado de livre comércio com o poderoso vizinho do norte e quebra praticamente toda a sua agricultura familiar, pequenos e médios produtores. O pouco que se produzia no empobrecido campo colombiano se acaba. Ou esses pobres trabalhadores migram para a produção do produto de maior sucesso no exterior da Colômbia, a cocaína, ou entram no nefasto êxodo rural e entopem as cidades de lavadores de para-brisas e de malabaristas de sinaleiras, isso sem contar no aumento da criminalidade urbana.
Mas não se poderia dizer não a um chamado do patrocinador do norte. Perder os bilhões de dólares do Plano Colômbia não pode. O puxa-saquismo é tão grande que a Colômbia foi o único país sul-americano a reconhecer o governo ilegal e golpista de Honduras. O fizeram porque a América mandou. Chegaram ao cúmulo de extraditar Shakira e suas maravilhosas cadeiras rebolando waka waka para Miami! Basta!
Terminando o (curto) tema da política externa colombiana, vale lembrar algumas participações de Santos durante o mandato de Uribe, o caubói. Santos comandou a invasão de um país vizinho, o Equador, para supostamente matar um líder das FARC.
Assim como seu patrão do norte, o governo colombiano parece ignorar temas como soberanias territoriais. Também durante o trabalho de Santos, houve o escândalo das pessoas mortas em troca de dinheiro, algo que já expliquei em texto anterior, os chamados “falsos positivos”. O sanguinário Santos oferece dinheiro a quem caçar inimigos do estado. O que muitos fazem? Matam inocentes e dizem que eram inimigos para lucrar alguns pesitos.
E o Mockus? Antanas (!) Mockus é aquele professor inesquecível da universidade devido ao seu passado transloucado e sua inteligência que o faz parecer em alguns momentos um demente. Mockus deve ter se enlouquecido durante os anos 70, tem pinta de ativista do Greenpeace e parece não se importar em mudar. Em um país em que se põem problemas para receber crianças de casais não-casados em escolas, jamais irá ganhar um cara que tem essa filosofia. Mockus é formado em filosofia. Pensa 45 segundos antes de responder uma pergunta transcendental como “tudo bem?”. É daqueles caras que pode responder “depende” para uma pergunta dessa classe e o povo colombiano não aceita isso, não está acostumado a ver um intelectual no comando, preferem os rudes, os homens de chapéus de caubói, os homens do Velho Oeste, os combatentes. O colombiano médio ignora a retórica, quer sempre a prática. Irritam-se com sabedoria. Querem coisas simples, querem suas novelas com roteiros sempre idênticos, não querem pensar, se cansam em ouvir alguém que fala sem dedo em riste.
Mockus deveria fazer um estágio com o Lula que demorou duas décadas para se tornar um cara “aceitável”, “elegível”. Jamais o Brasil elegeria um cara que não falava, rosnava. Já o Lulinha Paz e Amor é legal, ou, como diz o Obama, é o cara. Mockus parece que não acreditava em seu sucesso, não se preparou devidamente, parece ter trabalhado sem uma equipe de organização de campanha, não tem carisma, não tem discurso que todo mundo quer ouvir, não faz piadas nas horas certas, pensa muito nas horas erradas, não conhece o povo colombiano, é demasiado complexo para seus seguidores e pouco profissional na prática da politicagem o que, pelo menos para mim, é bom sinal, mas não torna viável uma vitória eleitoral. A massa sul-americana é preguiçosa, quer um líder, um messias, um salvador, alguém que a dome, que pense por ela que goze por ela.
Mockus poderia ser o cara, talvez seja o cara, alguém que tenha algum interesse em mudar o que parece imutável, mas o povo colombiano não está preparado para ele. Por aqui, ainda são tempos de balas, cocaína, miséria e resgates cinematográficos. Quem será o ministro de defesa colombiano agora? Vou de John Rambo.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
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