Sempre
escrevo um texto final quando uma copa do mundo se termina e dessa vez não será
diferente. Ainda amargado pela copa que dessa vez escapou por pouco das mãos do
verdadeiro país do futebol, decidi terminar com qualquer tema relacionado à
melhor copa do mundo que já vi hoje mesmo e, naturalmente, começo pelo fim,
pela grande final protagonizada pelo justo campeão Alemanha e pela Argentina,
bravo vice-campeão que, apesar de ser um time inferior à Alemanha, teve as
chances mais claras e, se jogadores como Higuaín, Messi e Palacio estivessem em
uma tarde mais inspirada, a história poderia ter sido outra.
Começo
jogando confetes sobre minha calva cabeça. Desde as quartas-de-final acertei
todos os classificados incluindo o campeão. Meu retrospecto nessa copa foi
invejável: acertei 10 dos 16 classificados para as oitavas, seis dos oito
classificados para as quartas e, a partir desse derradeiro momento, acertei
tudo, incluindo o campeão.
Vale destacar
que, pela segunda vez consecutiva o melhor time ganhou a copa. A Espanha era o
melhor time na África do Sul e agora a Alemanha na terra da choradeira.
Ainda
crivando meu crâneo de confete, eu defendi, antes do jogo, que seria uma final
muito parelha, com uma Alemanha trabalhando mais com a bola e com uma Argentina
esperando e saindo em contra-ataques rápidos aproveitando-se da última linha
alemã que, perdão pela redundância, joga em linha e muito adiantada. Dito e
feito. E, vendo pelo meu lado de torcedor fanático da albiceleste, deu certo, o
que faltou foi a definição, o último toque. Primeiro Higuaín, após receber um
presentão de Kroos, se equivocou e depois, falando apenas dos lances mais
evidentes, Messi e, a melhor de todas, Palacio que, diga-se de passagem, já
havia perdido uma chance claríssima contra a Holanda. Uma pena.
A Argentina
conseguiu controlar muito bem a Alemanha e em poucos momentos realmente sofreu
no jogo.
Vale também destacar o curioso fenômeno que aconteceu com a seleção
argentina que antes do mundial era acusada de ter um ataque letal, o melhor da
competição, mas ao mesmo tempo ter um goleiro que nunca jogava e uma defesa
vulnerável. Tudo pelo contrário. A defesa, desde a saída de Fernández e da
entrada de Demichelis (que falhou hoje no gol alemão) foi impecável enquanto
que o ataque deixou a desejar. Agüero não foi ao mundial e Higuaín não esteve
preciso nas finalizações assim como não estiveram os demais atacantes
argentinos que participaram. Falando nisso, Sabella hoje errou ao tirar Lavezzi
que vinho sendo um dos melhores do time e colocando Agüero que não tinha feito
uma jogada sequer em todas as suas participações. Copa do mundo é momento,
regra básica; não há tempo para recuperar má fase de jogador.
A entrada
de Biglia também foi fundamental para fortalecer o sistema defensivo argentino
que teve em Mascherano seu principal nome. Enzo Pérez entrou muito bem no lugar
de Di María que vinha fazendo uma excelente copa e tudo funcionou melhor do que
a maioria esperava.
Do outro
lado o melhor time, algo que já dizia desde que se começou a falar em copa do
mundo assim como o fiz com a Espanha anos antes da copa anterior. A Alemanha
tem um goleiro excelente, um Lahm que, quando joga na lateral, é fenomenal,
três zagueiros de alto nível, daí vem um meio de campo que é difícil de encontrar
qualidade parecida em qualquer outra seleção mundial e um ataque diferente,
moderno, criativo, eficiente, uma criação de Löw que sabe, como ninguém, jogar
com as suas armas. Joga com Klose na área, joga sem o Klose, coloca o Müller
avançado, coloca o Müller mais atrás, manda o Götze entrar, adianta o
Khedira...emfim, Löw é genial, um verdadeiro técnico.
Para os
críticos oportunistas da Espanha, vale destacar que esse futebol tão criticado
(agora) pelos oportunistas, influenciou e muito no funcionamento do time
alemão. Posse de bola, muito toque, aproximação, todos atacam todos defendem,
ausência de atacantes natos. Dedo de Löw, evidentemente, mas também dedo de
Guardiola que influenciou muita gente e que atualmente influencia grande parte
desses jogadores no Bayern Münich. Venceu o melhor time, apesar de que a Argentina
teve as melhores chances.
Sobre a
competição num modo geral, o que mais me agradou foi a mudança radical de
proposta por parte das seleções grandes e pequenas, passando pelas médias. Atacar.
Na primeira fase da copa passada, gol era raridade, todos os times pareciam ter
medo de perder e se esqueciam de querer ganhar; quatro anos passaram e tudo
mudou: a Itália queria jogar e jogou bem, a Inglaterra também, a Austrália, a
Espanha, a Bósnia, a Croácia...eliminados na primeira fase? Sim, mas jogaram
bom futebol, queriam jogar bom futebol e perderam por motivos diferentes, mas
respeitaram o jogo. Apenas três seleções me enojaram em todas as suas
participações na competição: Honduras, que apenas batia e jogava absolutamente
nada, Camarões, um grupo de mal caráteres sem nenhum respeito à competição que
lá estavam somente por dinheiro e o Brasil, a maior potência mundial em nível
de seleções que EM NENHUM MOMENTO, quis jogar futebol. Ligação direta através
de balões de seus técnicos zagueiros diretas para um ataque inoperante com
jogadores de baixo nível como Hulk e Fred. Surpreendeu-me os 1x7? Claro que
sim, mas acho que chegaram longe demais tendo em vista o que (não) jogavam.
A maioria
da população vai na onda da asquerosamente nojenta imprensa brasileira. Foi
minha primeira copa em território nacional desde 2002 e fiquei surpreso. Desde
os programas não relacionados a futebol até os ditos especialistas (sempre
excetuando a ESPN Brasil) todos vendiam uma mentira com fins lucrativos a uma
massa que “compra” qualquer ideia, começando por chamar esse grupo de jogadores
de “nossos craques”. O único craque é Neymar e mesmo assim jogou bem apenas
contra a Croácia comprovando o que disse após sua primeira temporada na Europa,
ou seja, jogando entre os melhores: não rende, falta muitíssimo para estar no
grupo seleto dos craques mundiais, mas sim, é um craque. O resto, tirando a
dupla de zagueiros de primeiro nível, é um goleiro de hóquei do Canadá chorão,
um lateral direito reserva na Roma e acima do peso, um lateral esquerdo reserva
do Real Madrid, um volante reserva no Tottenham há três temporadas que, mesmo
com a saída de Modric, não consegue lugar num tique pequeno, um Fernandinho
reserva no Manchester City, um Oscar reserva no Chelsea, um Hulk que joga numa
liga russa e um Fred rebaixado no horroroso Campeonato Brasileiro, esses eram
os “nossos craques”. No banco de reservas, sem comentários.
Soma-se a
isso um técnico ultrapassado que não passa de um motivador e que entende nada
de futebol.
Todas as “mudanças” de Scolari durante a competição foram de
jogador por jogador, da mesma posição, algo que me parece o maior exemplo do
fracasso e da falta de conhecimento tático, vide o que eu falei de Löw e que
também pode ser dito de Sabella que construiu um sistema defensivo em 30 dias. Scolari
chegou ao cúmulo de ignorar o peso de Neymar no time e simplesmente colocou um
jogador esdrúxulo sem nenhuma condição de disputar uma competição de alto nível
em sem legar, já, feito, nada mais, jogador por jogador e a consequência foi o
maior vexame da história das copas.
Soma-se aos
motivos do fracasso também essa pantomima RIDÍCULA, ESTAPAFÚRDIA que se criou
começando pela entrada dos jogadores em campo, passando pelo hino até os
momentos de entrevistas chorosas que mais pareciam discursos de novelas sem sal
da Rede Globo. Mão no ombro como escoteiro, choro compulsivo durante o hino, um
hino que significa absolutamente nada e remete a coisa nenhuma devido à
nulidade de feitos históricos do país, o canto aos brados em capela, a
choradeira antes, durante e depois dos jogos, todo esse teatro foi uma das
coisas mais sem sentido que já vi na minha vida em relação ao esporte. Para
que? Para ilustrar essa bizarrice, na última coletiva de imprensa do Brasil
antes do enterro, o assessor de imprensa pegou o microfone e disse que ia
colocar tal vídeo que o Neymar fez para “motivar” o resto do grupo...e dê-lhe
emoção barata e choro. Criou-se um ambiente que vendia a falsa ideia de que isso
faria a diferença dentro de campo, ignorando que ganha quem faz melhor as
coisas DENTRO de campo. Vi uma mídia desesperada em aproximar um elenco fraco
do público e como não podia fazer através do talento dos jogadores, fazia
através de uma espécie de “humanização” de estrelas, com seguidas historinhas
de doenças e de pobreza em uma época longínqua na vida dos jogadores e sim,
todo mundo se emocionou e ai de quem achasse essa obra de teatro cafona uma
encenação que beirava ou ultrapassava o limite do bizarro/ridículo que era
escorraçado.
Guardei
também balas para o comportamento da torcida brasileira na competição. Apesar
do governo negar, todos sabemos que quem estavam nos estádios era a famosa “elite
branca” com seus pobres cânticos de gincana de apoio à paupérrima seleção brasileira
e sua tradicional ignorância e falta de educação demonstrada em atos de ódio
raivoso como na vaia ao hino de outros países e à presidente da república.
No
mais, um público que ia ao estádio pela primeira vez e que se preocupava mais
em fazer palhaçadas para aparecer nos telões do que em ver o futebol.
Infelizmente a FIFA transformou a copa do mundo em um xou teatral onde tudo é
de laboratório, desde o comportamento da torcida até a celebração de título dos
jogadores.
A imprensa
também bateu nessa tecla de que esta era a copa dos sul-americanos, mas
ignoraram, como sempre, os números. Nesta edição foram cinco os classificados,
mesmo número da edição passada e, entre os quatro finalistas, apenas os dois
maiores do continente, Brasil e Argentina.
Tenho que
defender mais uma vez a proposta de jogo da Inglaterra, um time extremamente
técnico, mas muito jovem que aposto que, se um bom trabalho for feito, pode
brigar pelo título europeu em 2016, pois é era um dos times mais talentosos da
competição. Sobre os sul-americanos, destaco o Chile e a Colômbia que não
conseguiram ganhar do Brasil mesmo sendo times superiores. O primeiro teve
muito azar e o segundo pagou o preço de ter se apavorado no primeiro tempo.
Os
asiáticos foram horrorosos e o mesmo valeu aos africanos. Apesar de que Gana e
Costa do Marfim tinham bons times, não conseguiram vencer a fase de grupos; a
Argélia o fez e o fez muito bem protagonizando um dos melhores jogos das oitavas
quando deu um sufoco ao futuro campeão em Porto Alegre.
A pior
Holanda desde 1994 acabou como um time muito sólido atrás e contou com um
Robben que, aos seus 31 anos de idade, joga de uma forma impressionante aliando
habilidade com uma velocidade a uma capacidade física de impressionar e foi,
para mim, o melhor jogador do torneio.
Tenho que
destacar também a França que perdeu no detalhe para a Alemanha e que já tinha alertado
antes da copa que chegava comendo por fora e que poderia ir longe, bem como a
Bélgica que é o segundo time mais completo da copa depois da Alemanha, mas que
tem um elenco juvenil o que é negativo nesse momento, mas positivo pensando-se
a futuro.
Dito isso,
aqui divulgo minha seleção da competição em um esquema 4-4-2:
1. Neuer (Alemanha);
2. Debuchy (França);
3. Hummels (Alemanha);
4. Garay (Argentina);
6. Blind (Holanda);
5. Mascherano (Argentina);
8. Matuidi (França);
10. Kroos (Alemanha);
11. James (Colômbia);
7. Robben (Holanda);
9. Müller (Alemanha).
Bola de
ouro: Robben (Holanda);
Luva de
ouro: Neuer (Alemanha);
Melhor
jovem: Pobga (França);
Gols mais
bonito: James Rodríguez (Colômbia) contra o Uruguai.