domingo, 22 de março de 2020

Simples, simplório ou simplista?

Havia bastante tempo que não alimentava a pouca fome de meus três ou quatro leitores. Falta de tempo, muitas coisas para fazer, enfim, desculpas mil que, em tempo de quarentenas pandêmicas esvaem-se e geram esse sentimento de obrigação de escrever. Arriscaria a dizer que pouco opinei sobre o atual governo de Jair Bolsonaro e isso vale também para discussões em redes sociais. Por quê? Não sei, não encontro – ou não encontrava – motivos realmente atraentes para opinar.

O governo Bolsonaro vem sendo exatamente o que eu esperava, não poderia acusar o presidente de estelionato eleitoral como poderia ter feito com os petistas que o antecederam. Bolsonaro é Bolsonaro, nada mais. Desde a sua campanha eleitoral o atual mandatário demonstrou-se um homem simples, ou simplório (?), admitiu saber pouco ou nada sobe economia e afirmava sem sequer ficar vermelho que deixaria as grandes decisões nas mãos ou nas canetas Bic de seus ministros técnicos. Seria basicamente um técnico de futebol interino com um elenco galáctico. Pois falando de economia, o PIB brasileiro que todo o mercado dizia que cresceria lá pelos 2,5%, cresceu apenas 1%. Por outro lado, houve a diminuição considerável na taxa de criminalidade, um dos cânceres brasileiros. O desemprego pouco foi modificado.

Pois agora apareceu o grande vilão do momento, o tal vírus que vem colocando de joelhos os sistemas de saúde e a economia de quase todos os países do mundo. Detesto opinar sobre temas que desconheço, mas já, depois de tantas horas de “estudo”, sigo com a mesmíssima opinião que tinha ao princípio que resumo de forma sucinta: é um vírus de fácil contágio que é perigoso para idosos e pessoas com sistemas imunológicos previamente fragilizados que causa o colapso no sistema de saúde dos lugares mais afetados e que gera, devido ao pânico causado, o aniquilamento econômico.

O mundo parou. Uniu-se. Irmãos aprenderam com os erros dos outros. O péssimo trabalho da Itália, Espanha e França vem tentando ser evitado em terras mais longínquas como são as repúblicas sul-americanas. Países como Paraguai, Colômbia e Argentina lutam e esforçam-se para evitar a repetição do erro europeu e tudo isso com uma única exceção: o Brasil de Bolsonaro, ou, para ser justo com outras autoridades nacionais, o Bolsonaro do Brasil.

Bolsonaro orgulha-se de seu simplismo, de sua forma popular e básica de abordar todos os temas. Não concorda com ele, deve ir para a Venezuela, é comunista; concorda, é bom. Deixou de concordar, deve ir para Cuba onde já devem estar morando Joice Hasselman, João Dória, entre outros. É simples. Dançou conforme o hino nacional, é amigo; não dançou, é comunista. Preto ou branco. Verde e amarelo ou vermelho.

O Brasil jamais teve um cenário de discussão política muito rico do ponto de vista massivo. Existiram e existem grandes debatedores em nível nacional, mas a massa sempre encarou a política como algo longe de sua realidade. Mas atualmente chegamos ao apogeu da simplificação. Vivemos a grenalização da política. Quando alguém se declara gremista não é questionado por que o é; o mesmo vale para os colorados. É-se gremista ou colorado e ponto final. Assim é o cenário bipolar brasileiro. Não são necessárias justificativas complexas para embasar seu ponto de vista, isso é mimimi, blá blá blá, conversa para boi dormir. Vivemos no simplismo de ideias e temos o presidente que melhor incorpora esse papel.

Houve, pelo mundo afora e no decorrer da história, bons e maus governos de direita e de esquerda que, sempre é importante ressaltar em tempos de simplificação xiita, esquerda não é sinônimo de comunismo. Todos os governos comunistas fracassaram rotundamente, mas não os de esquerda. Perco noites de descanso pensando com os meus botões sobre que aspectos de cada lado deveriam ser destacados em prol de ter um estado que funcionasse como deveria. Não chego em um consenso. Mas exijo bom-senso.

Bolsonaro, em meio ao caos mundial, pensa primeiramente em sua personagem pública de símbolo do simplismo simplório de direita e convoca seu séquito a ir às ruas gritar o seu nome e exigir a cabeça de inimigos (comunistas) e o fechamento do congresso e o enforcamento de ministros do supremo. Ideologia em primeiro lugar. Enquanto o mundo manda seus cidadãos para a casa, Bolsonaro, recém chegado de viagem aos Estados Unidos em cuja comitiva vários já foram confirmados infectados, saiu para abraçar seu público e os incitou a juntarem-se, bem apertadinhos, fardando suas camisetas verde e amarelas e seus cartazes a favor da volta da ditadura.

Seu ministro técnico da saúde conclamou as pessoas a terem cuidado; Bolsonaro o atropelou e foi para o abraço pensando em 2022. Cada vez mais tenho orgulho de meu apelido de “isentão” dado por um fanático de Jair. Essa posição de isento, que tanto gosto de ter, me faz afirmar algo que a maioria se revolta: os grandes líderes de direita têm um comportamento egocêntrico muito parecido aos dos líderes de esquerda. Há poucas semanas atrás, antes do surto de coronavírus, Maduro, o execrado líder bolivariano conclamava as mulheres venezuelanas a terem seis filhos. Nem um, nem dois, nem três: seis. Todo mundo sabe que esse país vive a maior crise de sua história, economia colapsada e falta de alimentos. Não importa. Seis filhos por mulher. Ah, o mesmo Maduro também vociferou a favor do fechamento do congresso local, algo que, com razão, gerou reprimenda do bolsonarismo que o alcunhou de “ditador”, adjetivo este que, dependendo da ideologia do homenageado, pode ser um afago ou uma crítica.

Semanas depois, em meio a desesperados pedidos para que as pessoas ficassem em casa, Bolsonaro manda os cavaleiros dos bons costumes e patriotas às ruas. Que se abracem, que se beijem. Surreal. Ambos, Maduro e Bolsonaro, pensam primeiro em seus tronos e em suas cegas ideologias antes que no bem-estar da população. O primeiro por sua sede tirana de perpetuação no poder; o segundo por sua simpleza de pensamento, ou seja, por sua tremenda limitação intelectual e sua dedicação quixotesca à sua ideologia simplista de mundo que se limita a caçar comunistas.

O mais preocupante é a transformação de eleitores ou apoiadores em cegos membros de uma seita. Criticou o Messias, é comunista. Simples. Imagino que todos os membros da seita do Messias veem defeitos em seus pais, filhos, cônjuges e afins. O público historicamente possui essa relação de amor e ódio com seus ídolos. Messi já foi vaiado na Argentina; Cristiano no Bernabéu. Músicos já foram injuriados por públicos indignados. Pois isso não acontece com Jair Bolsonaro. Bolsonaro não erra. Bolsonaro não se equivoca. Bolsonaro não pega coronavírus. Bolsonaro defeca trufas com olor de lavanda.

Meus amores são analisados por mim de uma forma bastante racional. Poderia citar uma lista de defeitos de minha mulher, de meus irmãos, de meu clube de futebol. No entanto, Bolsonaro é mais forte que todos, é imaculado e isso é extremamente perigoso e nocivo.

Nas redes sociais, lunáticos defendem a atitude de Bolsonaro dizendo que o BNDES deu lucro de não sei quanto, que a Petrobras agora é uma Ferrari e por aí vai. O PT estuprou o BNDES e a Petrobras e, sinceramente, não sei se esses números que aparecem são reais sobre a recuperação de tais organizações, espero que sim sejam; mas o que isso tem a ver com o tema coronavírus? É tão difícil louvar essa incrível recuperação dessas empresas e no mesmo parágrafo criticar a atitude irresponsável de Bolsonaro? Estou esperando para ver o clamor de seus súditos quando Bolsonaro, diretamente de seu escritório dentro do armário, diga que coronavírus é coisa de viado. Ou de comunista. O presidente não deveria estar dentro do armário e sim instalar-se em uma mesa de bar e de lá lançar seus decretos. Seria mais adequado. E simples. E simplório, como assim são as suas ideias e sua comunicação.

Ao mesmo tempo, antes que me acusem de comunista, darei argumentos para que também me chamem de fascista e poder confirmar minha posição de em cima do muro de que tanto me orgulho em tempos de glorificação da irracionalidade. Que a esquerda oportunista composta de lobos em peles de cordeiro está fazendo a essas alturas?

Já começaram a circular mensagens, sempre recheadas de emoções, de que a humanidade unida está recebendo uma lição e que, quando as águas tiverem se acalmado, o mundo será outro, deveremos estar unidos e sem fronteiras. Lindo. Quase uma poesia. Uma pena que é, como quase todos os dogmas da esquerda globalista mundial, uma grande mentira.

Mais do que nunca se comprova que os estados federativos são ainda a melhor forma de manter a segurança e a ordem. Fronteiras abertas causam o caos. Os países que conseguiram melhor controlar o avanço da epidemia, Japão e Coreia do Sul, o fizeram, pois são países de população e cultura homogêneas. Países que não se venderam para a mentira da diversidade cultural e que, portanto, ainda têm o sentimento de comunidade e de trabalho em equipe facilitados. E, também, possuem uma média de QI entre as mais altas do mundo além de um ser uma ilha e o outro salvo pelo muro ideológico insano de seu vizinho ao norte. Do outro lado está o fracasso da Europa sem fronteiras.

Infelizmente, o Brasil é um país onde não se podem despejar as esperanças no QI de sua população muito menos em suas condições sanitárias e em seu sistema de saúde cuja teoria é que é melhor construir estádios do que hospitais e aproveito para mandar um abraço a Luís Inácio e ao gordo Ronaldo. É necessário um líder e que este líder tome as atitudes necessárias e indicadas aproveitando as experiências exitosas e fracassadas de países europeus. E, mais do que tudo, é necessário um líder que saiba da importância do seu cargo, que não encare a presidência da república como mais um brinquedo, como uma moto, um jet ski, uma vara de pescar ou uma arminha; este líder também deve estar em sintonia com a realidade e deve dar uma trégua à guerra ideológica que é resultado de seu trabalho fanático em conjunto com seus torcedores/seguidores/fãs/admiradores/bajuladores. A Argentina poderia servir de exemplo. É ao lado. Fernández trabalhando lado a lado com o macrismo para salvar a nação.

A esperança são os governadores e prefeitos comunistas espalhados pelo país que, ignorando as sábias recomendações do soldadinho do passo certo, fecham shoppings, estádios de futebol e igrejas APESAR do que pensa o Messias. Preferem seguir as recomendações de um grande líder comunista outrora ídolo e exemplo de Jair, Donald Trump.


Uma pandemia não é momento para guerra ideológica e a máscara se usa na boca, não pendurada na orelha, tá okay?