sexta-feira, 26 de abril de 2019

Os Cento E Poucos Primeiros Dias do Governo Bolsonaro

o existe nas postagens que vão ao encontro de seus ideais. Diminuiu o número de assassinatos no Brasil: mérito de Jair; aumentou o desemprego: fake News da mídia comunista. Assim está a coisa.

A grande mídia, agora deixada de ser acusada de golpista, manipuladora, tendenciosa entre outros adjetivos mais ou menos gloriosos, nesse momento é atacada pela direita fanática que inunda de esterco as redes sociais. Segundo eles, a grande mídia é comunista e mente em prol dessa doutrina representada no país pelo PT, partido que, em quase quatro mandatos no poder, jamais cobrou impostos sobre grandes fortunas, sobre dividendos ou heranças. E, diga-se de passagem, nesse período jamais incomodou os desempenhos pornográficos dos bancos que se empanturraram de dinheiro em plena crise, haja contradição. Mas sim, o PT queria instalar o comunismo no Brasil, não há dúvida. 

Se alguma crítica ao séquito Bolsonaro aparece, uma enxurrada de críticas à grande mídia inunda as redes sociais. Memes surgem como mosca ao redor de fezes. Concordo em parte com a nova-direita-cega-conservadora-nacional. A grande mídia mentiu, mente e sempre mentirá. O que gostaria de entender é como acreditar piamente em notícias que surgem do nada sem questionar se também não podem ser mentiras. Esta mesma semana recebi uma capa do The Economist que tinha como manchete Lula ser “o mais corrupto do mundo”. Falsificação grosseira, tanto quanto a capa da Forbes que dizia que Lula era um dos homens mais ricos do mundo. Questionam a veracidade quando a opinião apresentada é diferente da sua.

O mais grave em meio a tanta ignorância de todos os lados é a preguiça intelectual. Nas últimas semanas li três livros sobre o (fracasso do) comunismo. Extremamente crus e fidedignos ao que qualquer cidadão mais atento pode notar quanto às experiências comunistas já existentes que, diga-se de passagem, jamais chegaram nem perto de existir no Brasil. Terminei de ler na semana passada um livro de Noam Chomsky, um dos maiores pensadores da extrema esquerda americana, chamado por essas terras de "liberal", algo bem diferente de nossos liberais tupiniquins. Confesso que, apesar de concordar com algumas coisas do discurso de Chomsky e de crer na veracidade da maioria dos fatos apresentados para sustentar seus argumentos, considero este uma pessoa que deveria ser mantida com poderes limitados já que sua vertente de pensamento quebraria qualquer país em um abrir e fechar de mandatos. A maioria não lê. Vomita virtualmente concepções baseadas em nada e não se importam de sequer discutir. Memes, emojis e kkk´s. Essa é a complexidade dos argumentos da direita debilóide que tem como símbolo fazer gesto de arma na mão e babam quando o mito tira fotos empunhando metralhadoras depois de dizer alguma asneira pelo mundo afora. Ah, mas seu partido quer proibir videogames violentos e quer vestir meninos de azul e meninas de rosa. Senhores, é necessário ler textos com mais de 140 caracteres para poder entender as complexidades do mundo.

Esses dias vi um jornalista esportivo argentino dizendo que não consegue se colocar num lado que seja Guardiola ou Simeone. Ele diz que admira fatores de ambos e fica em cima do muro. Para meus poucos leitores, já manifestei minha admiração pelo meu apelido de "isentão". Para aqueles que já veem críticas ao confuso e circense governo Bolsonaro se aproximando e já estão procurando seus memes para me mandar para a triste Cuba ou para a caótica Venezuela, alto lá! Digo-lhes que, como isentão que sou, teria votado em Trump nos Estados Unidos ao invés de Hillary Clinton; teria votado em Marine Le Pen na França no lugar de Macron e apoio o UKIP na Grã-Bretanha. Todos esses são passíveis de críticas. Sou contra a ignorante postura de Trump em relação aos cuidados ambientais, sou contra Macron e o uso da forca da Revolução Francesa nos pescoços de velhos e da classe média francesa. Em resumo, não há candidato perfeito. Deve-se ter, sempre, uma visão neutra e cobrar, exigir e criticar quando devido. Chega de celebrações pelo aniversário de cadeia de Lula. Por que não gastar esse tempo exigindo o mesmo destino para o filho de Bolsonaro e seu amigo doente Queiroz? Ou Aécio. E o ministro do turismo? Sou muito amargo, o que queremos é comemorar e quem sou eu para criticar. Comemoremos então os aniversários de prisão de Sérgio Cabral e Eduardo Cunha. Analisando apenas os crimes que foram condenados, roubaram infinitamente mais que o Lula. Usem essas energias para outros fins. Lula é um imaginário; Sérgio Cabral e Cunha não.

O governo de Bolsonaro é a consagração da ignorância. É a celebração ao bruto, ao ativista troll que se esconde atrás da tela de um computador. É a consagração e o orgulho de ser vazio, raso, irônico. Bolsonaro diz que o nazismo era de esquerda e todos saem a defender. Menos, claro, algumas partes com menos envolvimento no tema, como judeus e alemães que o condenaram. O argumento do guru de Bolsonaro, um obscuro "filósofo" desenterrado de uma penumbra (quase) eterna por Bolsonaro diz que o nome do partido nazista tinha a alcunha de "nacional socialista" no nome. Todos saem a defender. Jamais se dão ao trabalho de analisar, de ler, de se aprofundar. A concepção de um partido se baseia no nome, nada mais, na simples presença de uma palavra. Para que se aprofundar mais em algo tão complexo? A Coreia do Norte se chama "República Popular Democrática da Coreia do Norte" e a Alemanha Oriental (e comunista) não era comunista no seu nome e sim "democrática". Conclusão: a Coreia do Norte e a Alemanha Oriental eram democráticas. Lógica de pensamento de seres complexos como uma ameba.

A afirmação em relação ao nazismo ser de esquerda veio junto com a celebração goela abaixo da ditadura militar brasileira que, claro, não foi ditadura. O mundo inteiro estava errado, apenas Olavo de Carvalho sabe a realidade. Tanques nas ruas, mandatos cassados, condenações sem processos legais, tortura, mortes, fim do pluripartidarismo, congresso fechado, censura, eliminação de eleições e estadia de 21 anos no poder...mas não, não é ditadura. Ditadura é em Cuba e na Venezuela. Reformulam-se fatos históricos para satisfazer necessidades de um poder que tem como sua bíblia memes, redes sociais e emojis. Mas ok, demos uma trégua a Olavo de Carvalho. Ele diz que a Terra não orbita em volta do sol e isso é verdade. Copérnico era comunista e petista.

Além disso temos os seguidos vai e vens no Ministério da Educação que preza pela tal "escola sem partido (do outro)", mas queria suas crianças cantando slogan de governo, fora as constantes declarações bizarras da bizarra ministra dos bons costumes e fora as saias curtas causadas pelos filhos de Bolsonaro, o que se pode tirar desses primeiros cem dias? Ideias de privatizações e a reforma da previdência que sim era necessária, mas não essa. Sou tão pragmático em relação à política que penso que se devem copiar programas que funcionaram em países e não copiar programas fracassados. A previdência capitalizada que é o que o governo quer, é colocar no cassino a aposentadoria (e o futuro) de todos (exceto o dos militares). O Chile fez isso e tem um dos maiores índices de suicídios entre membros da terceira idade. O comunista Estados Unidos não fez isso, bem como as outras grandes potências comunistas europeias: Reino Unido, França ou Alemanha.

Os países de maior qualidade de vida no mudo são como eu, isentões. A Noruega com o seu estado de bem-estar social é o país de mais qualidade de vida no mundo já há algum tempo. E não é comunista. Aliás, os ideais propagandeados pelos comunistas só conseguiram ser atingidos mais ou menos justamente nesses países onde o capitalismo é livre para existir, mas que tem o olho do estado em cima não permitindo abusos, não colocando a raposa para cuidar do galinheiro que é o que se quer implementar no novo Brasil. Ah, e esses países garantem liberdades civis e não se metem na vida privada de seus cidadãos, isso é coisa de Arábia Saudita e sua polícia de costumes. E do Brasil.

Seguirei esperando críticas de Bolsoneias (nome dado por eles mesmos orgulhosos de serem tietes do mito) a algum ato do governo, talvez a liberação do desmatamento em terras privadas, algo que imagino que é fundamental para o Brasil. No entanto acho mais plausível que os membros da seita comemorem as intriguinhas dos Bolsonaro júniores com ambientalistas comunistas, no melhor estilo fã adolescente de Justin Bieber, gritando e kakaziando atrás de suas telas de computador.