sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Palpites Oitavas-de-final Champions League

Depois de ter acertado 15 dos 16 classificados as oitavas de final da Champions League sendo traído apenas pela classificação surpreendente dos dinamarqueses do Copenhague (apostei no Rubin Kazan) eis aqui meus palpites para essa fase decisiva da maior competição de clubes do mundo.

Roma vs Shakhtar Donetsk: aposto na recuperação do time capitalino que, após um início de temporada lamentável, encontrou o seu rumo e vem jogando bem.

AC Milan vs Tottenham: o time de Redknap faz uma campanha brilhante nessa temporada tanto na liga inglesa enquanto na Champions League onde venceu um grupo que contava com o atual campeão Inter Milan. Um excelente nível coletivo aliado a grandes destaques individuais como a revelação Bale faz com que o time londrino seja o meu favorito no confronto com o gigante italiano.

Valencia vs Schalke: apesar dos reforços de nome o time alemão não conseguiu ainda demonstrar bom futebol e chegou a ocupar por muitas rodadas a zona de rebaixamento do campeonato alemão. Conseguiu a classificação e terá pela frente um time que, apesar de ter perdido seus principais jogadores, conseguiu manter uma estrutura competitiva e é meu favorito para conseguir a classificação.

Inter Milan vs Bayern Münich: no confronto mais atrativo das oitavas, o atual campeão mundial enfrenta o atual vice-campeão europeu em uma espécie de revanche da final da temporada passada. A equipe italiana vem muito mal na temporada o que me faz apostar no gigante bávaro que tampouco vem bem, mas que é meu candidato devido à qualidade individual de seus jogadores.

Lyon vs Real Madrid: dessa vez aposto que a touca francesa será jogada no lixo. O time de Mourinho, excetuando-se o massacre do Camp Nou vem demonstrando excelente nível nessa temporada e não deverá encontrar maiores dificuldades para eliminar os franceses.

Arsenal vs Barcelona: pobre do Wenger e companhia, mais uma vez caíram nas garras catalãs. Dá Barça brincando.

Marseille vs Manchester U: o time de Ferguson parece ter encontrado o seu futebol e deve passar com certa tranquilidade pelo maior clube do país rival.

Copenhague vs Chelsea: o clube dinamarquês foi a surpresa maior entre os classificados e o responsável por evitar meus 100% de aproveitamento nos palpites dos classificados da primeira fase. Chegou longe demais. Por mais que o Chelsea esteja em uma fase hedionda, deve garantir a classificação com facilidade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Regulamento

Muitos amigos leitores manifestaram inquietude com os critérios do meu ranquim mais uma vez divulgado com suas devidas atualizações. Como são ou esquecidos e/ou preguiçosos, não lembram ou/nem procuraram divulgações anteriores com todos os critérios devidamente explicados. Pela segunda e última vez o farei. Guardem bem o mês dessa publicação: dezembro 2010. Para que não esqueçam, tentei associar a data como o mês em que, pela primeira vez um time africano disputou uma final de Mundial Interclubes. Falando nisso, os colorados que tanto gostam de adicionar a palavra “FIFA” ao final do seu título de 2006, será que não seria melhor que o Mundial seguisse sendo disputado como era antes? Caso assim fosse o glorioso Campeão de Tudo teria sim jogado o jogo tão sonhado contra a Inter Milan fazendo valer o investimento de milhares de torcedores e ainda por cima, em caso de derrota, estaria livre de gozações devido à importância do adversário e de seu poderio. Mas não foi.

Hoje em dia é FIFA e um time pode ser campeão do mundo jogando apenas contra o campeão sul-coreano e o Mazembe.

Bom, vamos ao que de verdade importa: os meus critérios, mais justos impossível.

As pontuações distribuídas são as seguintes:

Mundial Interclubes: 25 pontos;

Libertadores e Champions League: 20 pontos;

Campeonatos Brasileiro, Argentino, Italiano, Alemão e Inglês: 15 pontos;

Campeonato Espanhol: 11 pontos;

Copa dos Campeões da África, da Ásia, da CONCACAF e da Oceania: 9 pontos;

Campeonatos Francês, Holandês, Uruguaio e Português: 8 pontos;

Campeonatos de outros países europeus e sul-americanos: 4 pontos;

Campeonatos de outros países da África, Ásia, Oceania e CONCACAF: 3 pontos.

Os países que têm dois campeonatos independentes por ano como Argentina e Chile têm sua pontuação dividida. O campeão do Apertura e do Clausura argentinos por exemplo ganham, cada um, 7,5 pontos e a mesma lógica vale para títulos divididos entre dois ou mais clubes.

Bom, a escolha da pontuação é o único momento de meu ranquim que pode ser questionado, o resto é impecável.

Há algum fator que não seja taça no armário? Não, o ranquim é organizado por um gremista a quem somente interessa título e que ignora fatores abstratos como posição em ranquins obscuros, tamanho de estádio, maior torcida, títulos invictos, marketing ou etc. Muitos estranham a posição do Barcelona, mas se analisarmos friamente, apesar de toda a onda, é um clube que conquistou a Europa “apenas” três vezes.

Quem participa do processo de ranqueamento? Todos os clubes de todos os países cujas seleções nacionais já tenham participado de pelo menos 50% das edições das copas do mundo. São eles: Brasil, Itália, Alemanha, Argentina, México, França, Inglaterra, Espanha, Iugoslávia, Bélgica, Suécia, Uruguai, União Soviética e Tchecoslováquia.

A Alemanha já foi dois países e Iugoslávia, União Soviética e Tchecoslováquia não existem mais! Ok, mas os países que foram formados a partir desses dois países são incluídos como suas ex-nações porque de outra maneira, devido a sua “juventude” estariam em desvantagem em relação aos demais. Mas e se em uma copa dois ex-soviéticos classificam? Conta apenas como uma copa a mais no currículo de nossa fictícia União Soviética. Esse ano Eslovênia e Sérvia, ambos os países da extinta Tchecoslováquia disputaram a copa, mas apenas uma participação foi contabilizada na conta tcheca.

Essa medida é tomada com o intuito maior do ranquim: evitar distorções. Exemplo: O Linfield da Irlanda do Norte já foi campeão norte-irlandês mil vezes. Estaria, assim, muito bem posicionado no ranquim, mas é fato conhecido por todos que o futebol nesse país é pobre e com essa medida essas distorções são evitadas.

A Holanda tem nove participações em copas do mundo, por que Ajax, PSV e Feyenoord aparecem na lista?

Para evitar a impossibilidade de um clube forte de um país mais fraco entrar no ranquim, qualquer clube de qualquer país europeu ou sul-americano que venha a conquistar a Champions League ou a Libertadores entra no ranquim, apenas os clubes, não o país e é por isso que temos esse tridente holandês bem como Porto e Benfica entre outros.

E o brilhante Mazembe, é campeão continental, mas não aparece no ranquim! O continente do Mazembe é a África, um continente que jamais ganhou uma Copa e por isso não dá direito aos seus clubes de, no momento da conquista continental entrar por essa via no ranquim.

O Real Madrid tem nove Champions Leagues, por que aparece o AC Milan como o maior vencedor? Resposta: evitar, mais uma vez, injustiças.
Como a Libertadores começou a ser disputada em 1960, contamos somente os campeões europeus a partir desse ano. O mesmo vale para os campeonatos nacionais. O Brasil foi o último país ranqueado a ter um torneio nacional organizado em 1967. Assim sendo, contamos todos os torneios nacionais a partir de 1967. O quê evito com isso?

Uma imparidade dos países mais antigos como a Inglaterra, que possui seu campeonato estruturado desde o fim do século XIX.

Por que as copas não estão incluídas? Em primeiro lugar porque não há essa competição em alguns países, na América do Sul, por exemplo, somente o Brasil tem e é ainda muito recente e agora a Colômbia. Além disso, são competições que causariam distorções porque são, em sua maioria, disputadas com desprezo pelos maiores clubes e causaria um crescimento enganoso de clubes com menos expressão.

Por que não são considerados títulos secundários como Europa League, Sul-Americana, Recopa e etc? Porque seria premiar o fracasso. Um time que disputa a Europa League ou a Sul-Americana fracassou na temporada anterior e não conseguiu sequer uma vaga para a principal competição do continente. O Bayern Münich, por exemplo, perdeu a final da Champions League com a Inter Milan, ficou com zero ponto por isso e daí o Atl Madrid, que não conseguiu nem ficar entre os quatro melhores da Espanha ganhou a Europa League e ganha pontos? Negativo. São torneios caça-níqueis que premiam o fracasso.

A Recopa a mesma coisa, pois dá a chance de o campeão da “segunda divisão” continental ser premiado. Em poucas palavras, seria o mesmo que dar pontos para os campeões das séries B, C, D...

Esclarecido. Quem quiser o ranquim completo com os 290 clubes ou quaisquer outros dados como número de clubes por países, número de clubes por países entre os 50 maiores, maiores clubes de cada país, ranquins nacionais, ranquins continentais ou ranquins das ligas, é só pedir que chega de graça e sem custo de frete.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Meu Ranquim Atualizado

Duas vezes por ano eu divulgo a atualização do melhor ranquim de clubes do mundo, o meu. A cada final de temporada europeia que é representada com a final da Champions League e cada final de Mundial Interclubes, novos números são divulgados. Geralmente não há grandes alterações, mas é importante a escalada da Inter Milan e a entrada da LDU no grupo dos maiores clubes do futebol mundial.

Abaixo o ranquim dos 50 maiores clubes do futebol mundial e devidas pontuações: são 17 representantes da CONMEBOL, 31 clubes filiados à UEFA e dois clubes da CONCACAF.

1. Bayern Münich (Alemanha) – 445
2. Real Madrid (Espanha) – 395
3. AC Milan (Itália) – 390
4. Peñarol (Uruguai) – 327
5. Juventus (Itália) – 315
6. Boca Juniors (Argentina) – 300
7. Manchester U (Inglaterra) – 290
8. Ajax (Holanda) – 274
9. Inter Milan (Itália) – 270
10. Liverpool (Inglaterra) e Independiente (Argentina) – 265
12. Nacional (Uruguai) – 263
13. Porto (Portugal) – 242
14. River Plate (Argentina) – 230
15. São Paulo (Brasil) – 225
16. Barcelona (Espanha) – 217
17. Benfica (Portugal) – 184
18. PSV (Holanda) – 156
19. Olimpia (Paraguai) – 147
20. Santos (Brasil) e Estudiantes (Argentina) – 135
22. Estrela Vermelha (Sérvia) – 121
23. Flamengo (Brasil) – 120
24. Palmeiras (Brasil) e Internacional (Brasil) – 110
26. Vélez Sarsfield (Argentina) e Dynamo Dresden (Alemanha) – 105
28. Dinamo Kiev (Ucrânia) – 96
29. Grêmio (Rio Grande do Sul) – 95
30. Celtic (Escócia) – 94
31. Feyenoord (Holanda) – 93
32. Arsenal (Inglaterra) e Dortmund (Alemanha) – 90
34. Steua Bucarest (Romênia) – 88
35. Colo-Colo (Chile) – 84
36. Vasco (Brasil) e Sparta Praga (República Tcheca) – 80
38. Marseille (França) – 76
39. Borussia MG (Alemanha) – 75
40. SC Anderlecht (Bélgica) – 72
41. Atl Madrid (Espanha) – 69
42. Partizan Belgrado (Sérvia) – 68
43. América (México) – 67,5
44. Hamburg (Alemanha) – 65
45. Cruz Azul (México) – 64,5
46. Saint-Etienne (França) – 64
47. Corinthians (Brasil) e Rosario Central (Argentina) – 60
49. LDU (Equador) – 58
50. Lyon (França) – 56

Rosario Central e Dynamo Dresden são os únicos clubes posicionados entre os 50 maiores que não disputam as divisões especiais de seus países atualmente. O Rosario Central foi rebaixado na temporada passada enquanto que os alemães disputam a terceira divisão germânica.

O clube com mais títulos mundiais é o AC Milan com quatro conquistas; os maiores campeões continentais são AC Milan e Independiente, cada um com sete taças europeias e sul-americanas respectivamente. O maior campeão nacional é o maior clube do mundo, o Bayern Münich, 21 vezes campeão alemão.

Em toda a lista estão ranqueados 290 clubes de 39 países.

O país que mais clubes possui no ranquim é a Lituânia com 20 clubes. Brasil e México ocupam a segunda colocação com 17 clubes entre os 290 ranqueados cada. No entanto, entre os 50 maiores clubes do mundo, o país com mais representantes é o Brasil com oito seguido por Argentina com seis e Alemanha com cinco.

No ranquim brasileiro, o líder é o São Paulo seguido por Santos e Flamengo.

Analisando as ligas, a mais competitiva é a argentina seguida pelas ligas brasileiras e italianas empatadas na segunda posição.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Porto Alegre x Medelín

Fazia muito tempo em que não passava um período tão grande sem vir a Porto Alegre desde que me mudei para Medelín. Quase um ano se passou sem eu tocar o solo gaúcho.

Esse período mais longo longe da cidade conforma uma melhor posição para uma análise das diferenças notadas na cidade e torna fértil o campo de uma análise que farei mais uma vez: as diferenças de viver em Porto Alegre e Medelín, o que é melhor ou pior em cada uma dessas cidades tão drasticamente diferentes.

Minha relação com Porto Alegre é conturbada, instável, de amor e ódio. Sempre gostei muito de Porto Alegre e, influenciado pelo sentimento bairrista local, poderia dizer que amava Porto Alegre. O fim desse amor, ou melhor dizendo, a primeira desilusão amorosa foi quando fui para Londres em 2005 para lá ficar por um período de dois anos. É inevitável a comparação do estilo e modo de vida das duas cidades.

Evidentemente já havia saído do país antes disso inclusive tendo ido como turista à Londres, mas viver em uma cidade é diferente de fazer turismo; o dia a dia torna possível a comparação enquanto que o turismo apenas oferece análises rasas de realidades diferentes.

Voltei de Londres e passei a odiar Porto Alegre. Sentia falta da segurança, do sistema de transporte excelente, mas, antes de tudo, sentia falta da beleza presente em todos os lugares e do fator rua. Em Londres eu expendia meu tempo livre na rua; em Porto Alegre, devido a nossa cópia errônea de um estilo de vida americano, não temos na rua um lugar agradável de lazer guardado alguns pontos de exceção na cidade.

Agora tenho um endereço em uma terceira cidade e, em todas as minhas visitas a Porto Alegre que havia feito, todas muito rápidas, quando chegava aqui sentia aquele amor adolescente voltando aos poucos já que comparava Porto Alegre com Medelín, uma cidade que aprendi a não gostar.

Agora a visão e análise é outra. Farei uma comparação da qualidade de vida nessas duas cidades dividida de maneira não tão organizada em três partes: análise das duas cidades, análise dos hábitos e do povo local, algo que para mim é fundamental na qualidade de vida de qualquer região e depois uma análise mais complexa que abrange o meu ambiente em cada lugar, essa “microrregião”, ou melhor dito, esse “microcosmo” que eu faço parte. Ao final uma conclusão que nada conclui.

Tanto Porto Alegre quanto Medelín são cidades feias. No entanto, na região mais rica da cidade em Medelín onde vivo, é um ambiente extremamente agradável. Ainda há pedaços de bosques nativos e pode-se dizer que é uma cidade à parte onde tudo é bonito e agradável. Fora dessa região, uma cidade simplesmente monótona e igual, mas sempre com a intensa presença do verde. Porto Alegre tem uma organização social distinta e curiosa. A maioria pode se impressionar, mas a organização social da capital gaúcha é muito semelhante a do Rio de Janeiro. Ambas são cidades em que pobres e ricos vivem muito perto. Onde termina um bairro de classe média alta em Porto Alegre inicia um bairro pobre. Essa organização faz com que não existam regiões como a que eu vivo em Medellín, pois em Porto Alegre a mistura é sempre notória.

Medelín é uma cidade sectária. Da classe média para baixo todos vivem ou no centro da cidade ou nas montanhas que rodeiam a cidade. É uma organização urbana semelhante à de São Paulo com suas periferias bárbaras. Em Medelín não há pobres em bairros ricos e vice-versa. Em Medelín não há espaços públicos de lazer como há em Porto Alegre. Não há parques nem um lago com uma orla como a do Guaíba que torna um bairro como Ipanema uma atração turística para as camadas populares que não podem pagar por lazer. No meu bairro em Medelín, o mais caro e bonito da cidade, não há parques nem um lago. Em muitas partes do bairro não há nem calçada o que torna essa área apenas propícia para os carros, mais ou menos no estilo Los Angeles ou Miami. As classes mais abastadas vão, nos seus carros, aos incontáveis xópins e centros comerciais que se espalham pelo bairro e consomem, gastam dinheiro. As classes populares, sem tanto poder aquisitivo, são obrigadas a ficarem em seus bairros onde podem consumir em estabelecimentos adequados aos seus orçamentos. Soma-se a ausência de um verdadeiro sistema de transporte que torna a ida de essas populações aos bairros mais ricos mais difíceis.

Essa situação faz com que esse meu bairro esteja sempre agradável: limpo e sem vandalismos enquanto que bairros porto-alegrenses como Ipanema sejam devastados pela marginalia que baixa nos fins de semana e pelos próprios moradores vândalos que vivem muito perto e de forma muito acessível dos bairros mais nobres.

Muito mais diferente do que as cidades em si, as populações dessas duas localidades se diferem em gênero, número e grau. Um cambojano é mais semelhante a um gaúcho do que um cara de Medelín. Exageros à parte, há inúmeros fatores que fazem com que os porto-alegrenses sejam tão distintos aos cidadãos de Medelín. Para começo de análise o fator mais antagônico entre esses dois grupos é o humor e a educação, ou melhor dito, o que significa “educação” em cada um desses rincões. O povo da capital de Antioquia entende que é educado cumprimentar a todos e com um jogo de palavras que seria visto como um excesso para os gaúchos e que era excessivo para mim quando lá cheguei. Tive que adaptar minha forma de interagir para não ser taxado de mal educado. Depois de um ano longe de Porto Alegre, confesso que me sinto insultado quando me vejo envolvido em uma interação banal entre duas pessoas ou mais desconhecidas. Não há “bons dias” nem “boas tardes” e é difícil de encontrar simpatia. Os gaúchos atuam de forma brusca e direta enquanto que os colombianos atuam sempre de uma forma que ao princípio pode parecer falsa, mas depois se revela ser extremamente natural.

No entanto toda essa formalidade também tem seu lado negativo. É raro encontrar nas relações humanas colombianas um grau de intimidade que esteja acima de qualquer regra de convívio social. Não há a extremada intimidade nem entre amigos nem entre familiares o que me causa certo desconforto.

Deixando as formalidades de lado, vamos aos hábitos e a primeira grande divergência entre os dois grupos analisados é a diversidade de personalidades dos gaúchos e a uniformidade colombiana. Na Colômbia as pessoas são tão iguais, gostam tanto das mesmas coisas que arriscaria a dizer que ricos e pobres gostam e desfrutam das mesmas coisas. No Rio Grande do Sul é exatamente o contrário. Os gaúchos são sectários em relação a hábitos dependendo da classe social. Isso é bom ou ruim? Depende. Eu preferiria que todos fossem iguais como na Colômbia, mas com os meus gostos o que é impossível. Se fosse então obrigado a escolher uma forma social melhor, ficaria com a gaúcha, pois dá a chance de se ter grupos de pessoas diferentes que usufruem e consomem coisas distintas. Vou tentar colocar na prática através de exemplos.

Em Medelín todos os cidadãos gostam apenas de músicas típicas locais. Esse comportamento demonstra algo mais do que o óbvio. Em Medelín não há o interesse em buscar, procurar, questionar. Tudo é aceito. Ouve-se o que o rádio oferece. Em Medelín todos acham que o ápice da diversão de um ser humano é reunir-se com amigos ou parentes em uma casa no meio das montanhas, ouvir música sertaneja e beber cachaça até a inconsciência. Aliás, a cachaça tem que estar presente sempre. Não há confraternização interpessoal em que a cachaça não esteja presente. Outra vez: esse dado tem mais significância do que o que transparece num primeiro momento. A limitação intelectual do povo que resulta em um senso de humor deplorável faz com que a reunião de pessoas se torne insuportável sem a presença de um elemento que altere suas percepções e aí que entra a cachaça.

O quê o pobre e o rico fazem em um fim de semana em Medelín? Vão para uma casa de campo embriagar-se ouvindo sertanejo e fazendo sopão no pátio.
Em Porto Alegre o sectarismo de classes é gritante. Quem ouve sertanejo em Porto Alegre? Os pobres. Quem bebe cachaça? Os pobres. As classes mais abastadas têm hábitos completamente diferentes e soma-se a esse comportamento o fator cosmopolita dos cidadãos de classes médias e superiores em Porto Alegre. Todos se interessam por artistas de outros países. Todos têm interesse em viajar, buscar novos destinos enquanto que os pobres seguirão sempre na sua mesmice consumindo o que o rádio os oferece, o que a grande mídia quer que eles consumam, exatamente como acontece em Medelín com a diferença de que lá isso funciona com todo mundo.
Mas nem tudo são flores em Porto Alegre. É difícil de encontrar em Medelín seres tão repugnantes como vemos em cada esquina por aqui. Os homens de Medelín são, como já citei em muitos textos anteriores, muito semelhantes em hábitos aos habitantes do interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás: gordinhos esturricados em roupas pseudo-féxions e adoradores de música sertaneja e que vêem o Estados Unidos como o lugar mais bacana do planeta, com destaque para Miami e Las Vegas. No entanto, é difícil de encontrar em Medelín os nossos babacas de plantão, aqueles caras que acham que o tamanho de seus músculos é a coisa mais importante do mundo, que praticam jiu-jítsu e que vão à praia de sunga arder em uma fogueira de vaidades e de preferência encontrar alguém para brigar como um pitbull. Em Medelín são menos. Os que se interessam pelo corpo são os homossexuais enquanto os gordinhos sertanejos exibem suas barrigas inchadas de cachaça com certo orgulho.

E o meu microcosmo, a última parte da análise, o quê é isso? Simples, é o mundo à parte em que eu vivia em Porto Alegre e que é composto por pessoas que me acompanham há mais de 10 anos no mínimo. Caras que ficam de mau humor caso a música seja ruim. Caras que desfrutam uma noite de sexta-feira ou de sábado na frente de uma churrasqueira sem necessidade alguma de consumir álcool e que tem em seu ponto mais forte e apreciável a capacidade de falar besteiras ou abordar um assunto mais sério com o mesmo humor inteligente que torna qualquer tema agradável. É bom passar uma noite de quinta ou sexta jogando um jogo de tabuleiro ou vendo um filme na casa de um amigo na paz, sem necessidade de excessos, apenas desfrutando da companhia de cada amigo eterno. Esse microcosmo construído ao longo da vida e composto por integrantes selecionados a dedo é impossível de ser recriado.

Prometi uma conclusão, mas alertei que essa poderia concluir nada ou muito pouco. Qual cidade é melhor? Difícil de dizer. Eu não gosto de nenhuma das duas, e não sei se posso considerar alguma delas superior. Uma ganha em determinados quesitos, mas perde em outros. Medelín é mais bonita em sua área fora das montanhas, mas Porto Alegre é mais rock and roll, é mais rica culturalmente, mais diversa, multicultural, ainda repleta de personagens; em Medelín não há tantas figuras extremamente babacas, mas todos são simplórios, comuns, sem senso de humor e obsessivos com a aparência. O quê é melhor: um time com 7 jogadores terríveis e 4 craques ou um time com 11 jogadores medianos?

Em Medelín não há espaço para a diferença, em Porto Alegre somos obrigados a viver juntos com a diferença o que é extremamente desagradável. Em Medelín o trânsito é caótico e os motoristas se comportam como verdadeiros bárbaros enquanto que na capital gaúcha pode-se dizer que o trânsito é civilizado. Em Medelín rostos e corpos femininos são destruídos por hediondas e numerosas cirurgias plásticas; em Porto Alegre há nossas “belezas naturais” que, no entanto, são mal humoradas. Em Medelín, apesar de haver obviamente as mulheres da pá virada, há grande quantidade de boas mulheres enquanto que em Porto Alegre venera-se a promiscuidade. Em Medelín ninguém fuma enquanto que em Porto Alegre muita gente ainda fuma, especialmente as mulheres e até algumas de nossas belezas naturais fumam e perdem a sua aura de imediato.

A solução então seria morar em Paris ou Londres, com os preços de Quito e com as mulheres suecas, comida brasileira, amabilidade de Medelín, ironia, clima e rock and roll britânicos, filosofia francesa, caráter alemão, fibra polaca, chocolates belgas e suíços, honestidade escandinava, demência e futebol argentinos, tranquilidade uruguaia meus irmãos e amigos ao lado e com minha pequena grande mulher me vendo envelhecer.

PS: para quem leu o texto “Quito”, descobri o número de colombianos que vivem no Equador: 500 mil. Explicado porque eu vi tantos cafeteiros por lá.