segunda-feira, 30 de julho de 2007

"Você" um caralh...!

Alguém sabe o motivo pelo qual esses gaúchos abobados estão usando "você" ao invés de "tu"? Em tudo quanto é relação formal, de trabalho ou televisão, ouço esse chato "você" seguido de seus primos "seu", "sua" e afins.

Por que isso? Depois de ter que ouvir "ninguém merece", "fala sério" e outros vômitos globais agora eles me vêm com essa? Se a televisão manda todos serem brasileiros ultranacionalistas fãs de esgrima e hipismo, todo mundo aceita; todos repetem como crianças as gírias novelísticas; e agora é essa?

Antes de eu me auto-exilar na amada, idolatrada e saudosa Inglaterra, eram poucos os bombachudos globais. Hoje são todos! É "você" pra cá, "você" pra lá, "seu" isso, "sua aquilo". Vão todos para o inferno, seu cafonas, enquanto eu trato de sobreviver nele. Que calor!

Acabou

Finalmente o Pan chegou ao final. Passou da hora. Qualquer pessoa normal já estava farta de tanto Pan. Esses jogos Panamericanos do Rio de Janeiro mostraram algumas coisas que merecem atenção: não tivemos violência urbana grotesca na Cidade Maravilhosa como vínhamos vendo nos últimos dias pré-Pan, mas o que mais me estarreceu foi a xenofobia demonstrada pelo povo brasileiro.

Poucas vezes vi tamanha demonstração de nacionalismo irracional em uma competição meramente esportiva. Isso me assusta. O nacionalismo é bélico e violento, em qualquer situação, mas esse tema já foi abordado anteriormente.

O que merece meus sinceros elogios é a cerimônia de encerramento dos jogos. Nada mais puro e tradicional. A cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio foi genuína, nacionalista como foi o público presente nos estádios. Mostrou-se a realidade. Faltaram somente disparos provenientes de morros tomados por sub-habitações ou aviões caindo no Maracanã, mas isso já iria pegar mal. Tivemos fanque e prostitutas, nada mais carioca e brasileiro!

Já estava de saco cheio de cerimônias metidas a intelectuais, com apresentações de povos primitivos, arte pré-colombiana ou coisas do gênero. O Rio mostrou a cara e nos brindou com a paixão nacional: mulheres sem vergonha dançando.

Viva o Rio e viva o Pan, sucesso do nosso neo-nacionalismo ignóbil, xenófobo e escapista. O meu único porém fica por conta da ausência do nosso herói nacional, Zeca Pagodinho, o Zé Carioca de carne e osso, o protótipo do brasileiro, feliz e idiota com um copo de cerveja na mão. Bom, fica como dica para o próximo mega-evento do César Maia, os Jogos de Inverno talvez, ou Olimpíadas, Copa do Mundo, sei lá, o que vier será bem recebido e contará com o apoio incondicional dos babacas de plantão que estarão chorando na vitória ou na derrota, nos jogos de futebol ou de arremesso de martelo, inclusive estarão torcendo pelos cavaleiros com passaporte europeu, habitantes da rica e esnobe Bélgica e casados com princesas e não com atrizes da Globo.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Romildo

Recomendo a compilação de contos "Romildo" do escritor italiano Alberto Moravia. Muitos dos contos que podem ser vistos no livro nunca foram publicados devido à morte do escritor. Após uma paralisia, seus últimos contos foram escritos de uma maneira muito peculiar e apaixonada. O velho Moravia, com um pincel atômico na mão, colocava seus garranchos em folhas de papel e as guardava em sua gaveta.

O resultado dessa seleção de contos publicados desde a década de 30 até a década de 80, além dos inéditos, é um livro muito interessante. Contos polêmicos, bizarrices, gente estranha, aristocracia européia, crítica social, tudo isso fluía da mente singular de Moravia, um admirador de Proust, Eliot e Edgaer Alan Poe.

O texto que abre o livro, uma história de um pai de família que recebe um homossexual em sua casa de praia, é contado em duas versões. O caso de uma enfermeira peruana que é convidada a imitar um animal dentro de uma jaula para dois homens de relação enigmática, um homem de negócios que pede a uma prostituta urinar em sua cabeça, são apenas alguns exemplos do que podemos encontrar na escrita de Moravia.

No entanto, estas histórias mais estranhas não têm um final tão bizarro quanto é esperado pelo leitor que pode frustrar-se. O escritor mantém o clima de que algo hediondo está para acontecer, mas sempre o final é a volta à cordial realidade. Os leitores acostumados com os finais retumbantes de filmes de Hollywood podem não gostar da atitude das personagens de Moravia que, no último minuto, acabam sendo salvas por ordinários comportamentos conservadores.

Obra rica, vale também pelas dicas literárias dadas pelo escitor ao longo dos contos e gera uma admiração pela pessoa de Moravia, um foragido da Itália de Mussolini que passou por inúmeros pontos, alguns inóspitos, do planeta e colocou, com máquina de escrever ou com pincel atômico, o testemunho de suas mais sinceras percepções.

Nazistas II

Mais uma atitude hostil e intolerante da torcida brasileira nos Jogos Panamericanos. Na final do Pólo Aquático Masculino, na derrota por 9-2 contra o Estados Unidos, juízes e adversários foram mais uma vez agredidos pela ultranacionalista de ocasião torcida brasileira.

Hino cantado do início ao fim com lágrimas e aos brados...vaias ao hino adversário, agressões físicas e verbais...nada de novo, somente mais um capítulo de irracionalidade.

terça-feira, 24 de julho de 2007

O Pan De Hitler

Mais que qualquer ouro, jogo de vôlei de praia, briga de espadas ou choro olímpico, o que mais me chamou atenção foram as manifestações de intolerância, selvageria, boçalidade e nacionalismo burro demonstrados nos últimos dias de jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.

Começou com a derrota do vôlei feminino e as acusações baixas e levianas do treinador contra a república representada por um time de seis mulheres que o derrotou, NO ESPORTE, dentro de quadra. Foi esquecido que essa é uma competição esportiva - de quinta categoria - diga-se de passagem, e não uma guerra.

Depois vimos uma platéia hostil, violenta, mal-educada, desrespeitosa que provocou a delegação argentina de Rendibol, esporte este que conta com nenhum apoio e popularidade nesse país, mas que, no entanto, contou com estádio lotado e platéia furiosa em um jogo envolvendo Argentina e Brasil. Um fato marcante e que pode ser usado como resumo dessa fúria nacionalista estúpida brasileira, é a imagem do ex-jogador chorão e rei de despedidas lacrimoginosas Oscar. Absurdamente alterado, ele esbravejava palavras de ordem e de intimidação contra a delegação visitante, contra o pelotão adversário, e teve que ser contido pela segurança local. O mesmo Oscar foi convidado a se retirar das dependências do estádio de ginástica. Motivo: xingamentos contra as guriazinhas adversárias da Pátria, crianças bonitas, simpáticas e sorridentes entre 12 e 18 anos, pelo menos aparentemente.

O comportamento nazista ultra-nacionalista da mestiça população brazuca foi mais uma vez aterrorizador nas disputas FEMININAS de judô, com a delegação cubana sendo agredida nas arquibancadas e mais uma vez contando com a participação de um ex-atleta local, dessa vez Aurélio Miguel.

Além de atletas (não soldados) adversários, juízes são coagidos ao final de cada atividade esportiva. Por não ser um país esportivo, o público brasileiro entende nada de esportes e suas regras. Para essa população esportivamente leiga, esportes como ginástica, judô, esgrima, hipismo entre outros, são sempre empate. Não têm a capacidade de ver a diferença entre apresentações e, portanto, crêem que o vencedor deve sempre ser a sua pátria amada deitada eternamente em berço esplêndido. O problema é que os juízes vêem as diferenças técnicas e, infelizmente para os nazistas tupiniquins, eles têm que dar o título ao melhor, e qualquer derrota brasileira é vista como atentado ao pudor, como um erro absurdo, como roubalheira.

Roubalheira é esse país, onde se rouba até selos de assembléias por aí. A única explicação aceitável para esse comportamento criminoso do público é o escapismo, sair do inferno astral que é a vida desse povo, que se vê obrigado a amar uma pátria que lhe bate na cara e ri de sua desgraça todos os dias, amor platônico no melhor estilo novela mexicana.

O brasileiro defende a sua pátria com unhas e dentes, extravasa a sua cólera, defende a sua puta, aquela que apenas quer os seu dinheiro e lhe vira a cara na hora da doença, aquela mesma em que ele fala mal todo o tempo. Vaia Estados Unidos, nação poderosa que ousa ter mais ouros no Pan que o governo brasileiro tem no cofre. Vaia-se Cuba, o pobretão que ousa ganhar sempre do país do futuro e vaia-se o vizinho por ser vizinho e com fama de bonitão.

Espero que o Comitê Olímpico Internacional veja isso, anote, e jamais dê a chance de uma nação intolerante e perturbada receber os Jogos Olímpicos que jamais deveriam ser encarados como uma guerra étnica e sim como uma grande festa de nenhuma importância.

Em Berlim, Hitler foi saudado pelo povo que por sua vez respeitou as outras delegações. Aqui, o líder foi vaiado e os adversários são agredidos. No Rio, todos somos Hitler e todos os atletas não-brasileiros são Jesse Owens. Demência.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Governabilidade Burra

A minha hora do almoço é o momento mais esperado do meu dia comercial. É a hora em que "eles" nos abastecem para que voltemos a produzir. É como levar o carro ao posto de gasolina. Ninguém morre de amores pela tarefa de abastecer o tanque do carro, além de sem graça é caro, mas é uma obrigação.

Pois a minha hora de almoço está panamerizada. Se não é Pan é acidente aéreo. Prefiro o primeiro. A minha diversão hoje foi ver a entrevista coletiva do técnico da seleção feminina de vôlei do Brasil, um tal de Guimarães. Mal educado, arrogante, típico brasileiro, ou seja, come merda e arrota escargô. Já notaram como brasileiro gosta de tribudiar a miséria africana? Pois é, isso porque nunca ninguém jamais saiu do condomínio e foi passear no interior do Ceará, Acre ou Alagoas.

Visivelmente irritado, o treinador respondia com hilariante irritação e, em alguns momentos, tentou falar em espanhol para que os jornalistas cubanos, detentores da medalha de ouro, entendessem melhor as agressões do tal Guimarães. Bem feito que perderam.

Mas coletiva é um negócio interessante. Unindo os dois assuntos, acidente e Pan, pensei: qual seria a pergunta que eu faria ao Lula, caso pudesse somente fazer uma mísera pergunta? Tenho ela na ponta da língua apesar de não ter muitas esperanças de um dia poder fazê-la.

Quando assumiu o governo, o principal objetivo do governo Lula era a busca da "governabilidade", ou seja, unir esfoços, juntar antigos desafetos, todos em torno do Lulinha paz e amor e, assim, colocar o país para a frente, com oposição mínima.

Lula conseguiu. Jamais um governo conseguiu agregar tantas correntes e idéias políticas em um mesmo time. Duvido de que água e azeite não se misturem nas mãos do Lula. Nada é impossível depois de vê-lo abraçado a patifes do porte de ACM (que o diabo o carregue), Jáder, Renan e cia.

Governabilidade. A minha pergunta seria: Lula, será que uma atitude mais dura contra Renan Calheiros, uma posição mais firme e não essa conivência criminosa do governo não formularia uma imagem melhor do senhor e de seu governo perante a sociedade? Será que a "governabilidade" não seria mais azeitada caso a imagem do governo fosse a de um governo punitivo, atento, não conivente com a patifaria? Ou será que passar a mão na cabecinha do Renan, mantendo ele e seus parceiros em romance com o governo, em busca, de novo, da "governabilidade" é mais importante?

Resumindo: é mais vital para a "governabilidade" o apoio popular, a opinião pública ou o apoio de Renan e seus miquinhos amestrados?

Agora faço um linque com a crise aérea: o nosso ministro da Defesa, que já deu motivos para demissão mais de 100 vezes, foi mantido no cargo após o auge da crise aérea em busca de quê? Manter esses aliados. Em busca de quê? Da "governabilidade".

O acidente da TAM escancarou as feridas, colocou, de novo, a apática sociedade em cima do governo e isso é ruim para quê? Para a "governabilidade".

Assim sendo, quem é mais importante para a "governabilidade", a sociedade ou apoios de políticos de atitudes condenáveis?

Jamais perguntarei isso ao Lula e ele jamais me responderá. Então, o que me resta é eu mesmo responder a minha pergunta: Sim, o Lula está certo. Ele aposta na sociedade brasileira, ele sabe, olhando para o histórico recente, que após algumas medalhas de ouro no Pan ou após mais alguma tragédia, tudo é esquecido, zeram-se os cartões amarelos, tudo limpo e fértil para a manutenção da governabilidade de nosso país do futuro e rico por natureza. Ruim é na África.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Live Earth

Até quando os meios de comunicação nos vão oferecer esses megaeventos disfarçados de salvadores da humanidade, defensores de causas impossíveis? Até quando nossos "ídolos" farão discursos piegas sobre criancinhas e paz no mundo?

O "Live Earth" e o discurso do Dunga ao final do jogo contra a Argentina foram mais dois exemplos dessa mania de passar a responsabilidade pelo fracasso da humanidade para a população pós-moderna. Ninguém pode fazer alguma coisa para salvar o mundo do derretimento global e tampouco podemos, nós, meros telespectadores da Globo, salvar as criancinhas de Ruanda. Pelé dedicou o seu milésimo gol a elas e agora Dunga conclamou a América a salvar os pequenos ruandeses e palestinos.

Festivais de música podem ser bons eventos, o "Live Earth" teve boas apresentações como a volta do "The Police" aos palcos ou a simples presença da beleza e graça de Joss Stone com seus pés nus, mas que fique por aí. Que as pretensões dos organizadores limitem-se a cifras recordes de faturamento e que os métodos para conseguirem tais cifras não sejam a tentativa de ser algo salvador da humanidade.

Após tantos filmes, tenho certeza que o Estados Unidos nos salvará de qualquer catástrofe e/ou invasão extraterrestre, estou muito tranqüilo e seguro quanto a isso. Os efeitos especiais dos filmes são tão bons, impossível que isso seja inviável de ser realizado. É um alívio não ter mais esse peso nas costas de ter que salvar a Terra em um caso extremo.

Madonna pediu ao público de Londres: "if you want to save the planet, put your hands up". Ora, que diferença faz nossas maõs erguidas ou apalpando o indivíduo mais próximo? O mundo continuará se destruindo, gases e poluição continuarão sendo emitidos.

Dunga disse: "é um título para criancinhas de Ruanda". Ora, o que esse maldito e injusto título mudará nas pobres vidas dos desnutridos infantes de Ruanda? Ou mesmo do Brasil? Nada, como já diria Guy Debord. O único efeito, se é que será realizado, será negativo. O título pode inspirar a emergente seleção de Ruanda a jogar inspirada no tacanho time do Dunga e não no genial time da Argentina.

É muita pretensão. A nossa sociedade está tão espetacularizada que todo mundo se crê importante, crêem que são semi-deuses pelo simples fato de serem "famosos". Somos números! Qual o problema de admitir que somos meras engrenagens de uma máquina claudicante, somos nada, somos mais um. Uns.

Madonna ou Dunga são números. Os seus feitos são tão relevantes como a publicação de um texto meu, que sou tão desimportante quanto eles, em um Blog. Por que não aceitar isso?

Chega de manifestações pela paz no Rio de Janeiro! Assim os jornalistas da Globo não precisarão ir atrás de pauta nunca mais. Todos os dias alguém coloca alguma coisa nas areias de Copacabana para escancarar para o mundo quantos números morrem a cada dia.

Não podemos salvar o mundo. Se o "Live Earth" e o Dunga querem fazer algo realmente útil para "salvar o mundo" que façam esse xou e esse jogo de futebol, duas coisas de uma desimportância invejável, no rancho de George Bush no Texas ou na reunião da cúpula do G8 ou em Davos. A parcela apta e dotada de mecanismos para salvar o mundo e as nossas criancinhas são poucos, são 8.

E eu não faço parte desses 8, tampouco sou amigo deles. Sou um número. E sou feliz, consciente de minha desimportância para a maioria da humanidade e para a sociedade.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Argentina

Cada vez tenho mais certeza - se é que "certeza" tem grau de intensidade - de que não há escola de futebol no mundo mais virtuosa que a argentina e isso não são olhos de "hincha". Não gosto e falo bem do futebol argentino por ser um torcedor e sim sou torcedor por admirar o futebol jogado nesse país.

Que o Brasil tem mais Copas do Mundo, é fato, assim como Alemanha e Itália, mas futebol é muito grande para ser resumido em Copas do Mundo. Deixemos o pragmatismo de lado e vejamos o futebol jogado dentro de campo.

A minha primeira Copa do Mundo como ser humano apto para tecer comentários coerentes foi a de 94. Nenhum time jogou metade do que jogou a Argentina até a fatídica e dramática exclusão do maior de todos os tempos por dópim. Do meio para a frente a Argentina contava com nada mais nada menos que Redondo, Caniggia, Balbo, Batistuta e Ele. O futebol apresentado era do mais alto nível, enchia os olhos, gols com trocas de passes intermináveis, individualidades, a Argentina apresentava um futebol maravilhoso em uma Copa de excelente nível técnico vencida por um time regular, apenas trabalhador e competente.

Em 98 um time de novo - como sempre - com muita qualidade. Seguia Batistuta, Ortega no seu apogeu, Gallardo aparecendo, Claudio López, Verón, mais um grande elenco, no entanto, menos que na Copa anterior. A primeira Copa sem Ele acabou com um gol genial de um gênio, Denis Bergkamp e uma arbitragem falha que não anotou um pênalti claro em cima de Ortega.

Grandes elencos e grandes times são a tônica do futebol argentino. O time campeão mundial sub-20 com Saviola, D´Alessandro, Maxi Rodriguez, Romagnoli e companhia foi um dos times que mais me encheu os olhos. Futebol agressivo, ofensivo, muita técnica, muita falta de respeito pelo adversário, soberba, isso tudo só poderia acabar com um título com direito a 4-0 na final.

A Copa de 2002 trouxe alguns desses craques do ano anterior, o favoritismo e outro elenco excelente, favorito ao título. O que se viu em campo na estréia foi uma atuação digna desse favoritismo, uma belíssima atuação de futebol total do Bielsa que culminou com a única vitória argentina nesse torneio de final trágico. Nos jogos seguintes contra Inglaterra e Suécia, vimos um time nervoso, acanhado, uma atitude semelhante ao que se viu em 94 após a despedida forçada Dele. Cada um vê um motivo para tal atitude. Eu acredito que 11 seres humanos não foram capazes de levar nas costas a responsabilidade de fazer uma população de quase 40 milhões de pessoas sorrirem em meio ao maior caos social de sua história. A seleção e seu bom futebol apresentado em amistosos anteriores e nas Eliminatórias e a isso se inclui o baile dado no Brasil em Núñez não foi capaz de encarar esse desafio amargo e isso é entendível. O jogador argentino é diferente do jogador brasileiro em caráter. Todos sentiam a responsabilidade que tinham, eles não se cansavam de comentar sobre a calamitosa situação política que vivia a nação e nos semblantes podíamos notar a preocupação. O jogador brasileiro é adepto do "vamos fazer o nosso papel e deixar cada um resolver seus problemas", ou seja, é mais pós-moderno, individualista e isso é positivo nesse sentido. Não há efervescência social que altere os ânimos de boleiros brasileiro. Alegria, alegria.

Nas Olimpíadas de Atenas em 2004, mais um time avassalador, lembrando muito, pela jovialidade e qualidade o sub 20 de 2001. Espetáculo de Tevez e companhia. Goleadas, golaçõs, massacres e uma surra na Itália na final.

Copa América 2005, derrota dramática nos pênaltis para um frouxo Brasil depois de exclentes apresentações dos abusados Tevez, D´Alessandro e cia.

Copa de 2006, golaços - os dois mais bonitos da competição eleitos pela FIFA - atuação inesquecível contra a Sériva & Montenegro, grande futebol e mais uma crua derrota nos pênaltis dessa vez para a Alemanha.

A seleção argentina de futebol é o único time do mundo que ataca o tempo inteiro como se estivesse precisando de um resultado a todo o momento, vide o time atual na disputa da Copa América e o seu sub 20 avassalador com Agüero, Zarate, Banega e cia. Conta com 2 dos 4 maiores jogadores do mundo no momento: Riquelme e Messi (os outros são Kaká e Cristiano Ronaldo), por que não ganha um título com a seleção principal? Não sei. A Argentina é uma terra muito dramática, as crises e lágrimas são intensas, vive-se e respira-se futebol a cada segundo. Talvez se fosse levado menos a sério, seriam imbatíveis.

No entanto, o futebol argentino não pára de ganhar títulos. É o maior campeão de Copas América, tem o dobro de títulos do Brasil e, de 9 finais disputadas entre os dois, ganhou 8 e perdeu uma - 2005 - nos pênaltis; tem mais Mundiais Interclubes que qualquer outro país, o dobro de Libertadores que o segundo colocado, pentacampeão mundial sub 20 e, o maior título de todos, a qualidade interminável, as trocas de passes, o maior de todos os tempos, o jogar futebol como ninguém, ganhando ou perdendo, enchendo os olhos de quem vê e exibindo jogadores da mais alta técnica.

A cada jogo da Argentina eu encontro respostas que esclarecem o porque que eu gosto tanto desse esporte. Domingo, espero que o placar seja um espelho das diferenças técnicas dos dois times, ou seja, 15-0.

Copa América 2007

Vamos, vamos, Argentina...
Vamos, vamos, a ganar...
Que tu barra...quilombera...
No te deja, no te deja, de alentar!

Paliza en los macaquitos en el domingo!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Cotas Raciais

Finalmente temos uma definição quanto às cotas para afro-descendentes na UFRGS. Resumo da ópera: mais uma coisa que é empurrada com a barriga pelo Estado. Mais um paliativo, segue-se tratando de câncer a base de aspirinas.

Inicio comparando o estabelecimento de cotas para negros com a questão dos pedágios. Máfia inserida no Rio Grande do Sul através de Britto. Máfia esta que está em pauta esta semana na Assembléia Legislativa desse estado passando por uma CPI que é contrária a proposta de nossa governadora socialaite de renovar os contratos das licitações para as empresas de pedágios, os "muros de Berlim" gaúchos que partem municípios e regiões pela metade e estancam a produção e a indústria gaúcha além de separar famílias.

Pois as cotas para negros e a instalação de pedágios são dois absurdos do subdesenvolvimento que se alicerçam no mesmo erro latino-americano que é a aceitação humilhante e vergonhosa por parte do Estado de que não é capaz, não é competente o suficiente para resolver problemas, é incompetente e covarde.

Os contribuintes, entre inúmeros outros impostos, pagam o IPVA, imposto este que deveria ser usado na administração de estradas e rodovias. O Estado fracassa ao não conseguir realizar tal função com êxito e apela para a saída mais simples: inventar outro "imposto". Agora o contribuinte paga o IPVA, ele não foi abolido, continua vigente e caro, e ainda paga o pedágio.

Pagamos impostos para termos educação de qualidade. O Estado fracassa ao não conseguir sequer que os seus alunos do ensino médio passem nos vestibulares de universidades públicas e, então, enquanto a burguesia paga o "pedágio", ou seja, paga o ensino fundamental, médio e superior privado, o Estado é obrigado a reservar cotas para que esses seus alunos, que gozam de uma educação ineficaz, consigam, pelo menos assim, e somente é possível assim, entrar em uma universidade. Em suma, o Estado admite que não é competente para oferecer um direito dos cidadãos e busca uma alternativa baseada na raça, ou seja, racismo. "Racismo" não no sentido de ser contra alguma raça, mas em dividir pessoas, cidadãos, que, idepentemente de cor, pagam os mesmos impostos, em castas.

Ser negro deixa de ser um ponto negativo e passa a ser visto como a saída, a válvula de escape.

Admito que não esperava outra coisa de um Estado sem caráter como são os estados do continente latino-americano e levanto a questão: mesmo com IPVA e pedágios, as estradas continuam horríveis. A sociedade aceitaria a criação de um novo imposto? Uma nova aspirina para curar nosso câncer terminal no cérebro e na alma?

Com o fracasso do sistema de cotas na universidade pública, o Estado lançaria um medidor de nível de melanina no corpo para que os mais negros entrassem?

Duvido de mais nada.