segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Os Pontos de Vista do VAR



A Copa do Mundo da Rússia teve como sua principal estrela o uso do VAR pela primeira vez na mais importante competição esportiva do mundo. Gerou eternas discussões entre os conservadores resistentes à tecnologia e os modernos de plantão. Eu, apesar de muitas vezes estar no time da resistência a modernismos que quase sempre são fatos passados requentados, dessa vez estou no lado da modernidade. Torna o jogo mais claro; há menos espaço para a corrupção.

O VAR é perfeito? Obviamente que não, quase nada o é. Eu considero o VAR perfeito somente em um sentido que é quando define a existência de um impedimento ou não. Traça-se uma linha digital e depois a única discussão que pode surgir é sobre impedimento passivo, mas acontece em bem menos casos. O uso do VAR para definir se foi pênalti ou não ou se a dita falta merecia uma punição mais severa, bom, aí é bem diferente. As câmeras apenas dão uma segunda ou terceira chance para o árbitro ver a jogada e decidir segundo seu ponto de vista. Em resumo, impedimento não se discute (exceto os casos passivos já mencionados), faltas sim.

E eu diria que o mundo em sociedade deveria ser assim, mas, cada vez mais, está longe de assim ser, especialmente no agora dividido Brasil, o país dos desastres diários.
Qualquer sociedade que tenha a mínima intenção de evoluir, deveria ter uma constituição que é cumprida à risca, sem importar que partes estão envolvidas em qualquer caso. A lei deveria ser clara, assim como diz o medíocre comentarista esportivo global. E as leis são, sim, claras, assim como é a regra do impedimento. No entanto, a justiça brasileira tem a sua própria hermenêutica. Sempre depende do julgado. Os recentes "julgamentos" públicos que tivemos como o do impeachment de Dilma e o da prisão de Lula, são exemplos dessa interpretação excessiva da lei. Pode-se ver que o modus operandi de cada um não depende do que está escrito e que deveria ser respeitado, mas sim depende de sua interpretação sempre com o viés ideológico intrínseco.

O Lula deveria estar solto? Para mim sim. Sou um petista acampado na frente da delegacia em Curitiba? Não. Apenas acho que a constituição deveria ser cumprida e este deveria ser enclausurado após esgotadas todas as suas chances de apelação. Concordo com essa lei? Não vem ao caso. Sou uma das pessoas menos importantes já nascidas, mas acho que o que está escrito deveria ser cumprido, pois temo que, a longo prazo, essa abertura a pontos de vista não isentos pode gerar o caos e a anarquia. Antes que os trolls de Bolsonaro comecem a me atacar, sim, eu acho que o Lula deveria ser, não estar nesse momento, preso, pois, ao que tudo indica, cometeu crimes passíveis desse tipo de punição segundo a constituição. No entanto, vale salientar, não é necessário falsificar capa da Forbes com manchetes que Lula é um dos homens mais ricos do mundo.

Um amigo me acusou diversas vezes de "isentão", sempre seguido de emojis de risos e muita ironia virtual, marca registrada dos bolsominions (novamente, livre de ironias, assim eles mesmos se autodenominam). Eu confesso (livre de ironias mais uma vez) que adoro o tal adjetivo. Preferiria ser chamado de "isento" apenas, mas igual não posso reclamar. Poderia ter sido chamado de esquerdopata. Ser isento, para os mais radicais que me escutam, não é ser um indivíduo livre de ideais, ideias e ideologia. Nada disso. Para mim ser isento é algo bem simples: desejar que a regra seja cumprida de igual maneira para todos. Que Lula e Aécio estejam juntos, lado a lado em uma cama de casal em alguma Papuda da vida, depois de esgotadas suas oportunidades de chorar. E que de repente, se os velhos lobos não se importarem, que um colchãozinho camuflado possa ser posicionado aos pés de tal cama para o filho do atual presidente que é tão não dono dos imóveis usados para lavar dinheiro como Lula é não dono de seu sítio em Atibaia. Bebianno, caso sinta muita falta do seu desafeto, também poderia estar junto apesar de que, dizem as más línguas, é proibido comer laranja na prisão. Só se for de umbigo.

Eu divido as opiniões políticas de direitistas (ou direitopatas), esquerdistas (ou esquerdopatas) e isentões (ou isentos) em duas categorias seguindo a norma VAR: há regras e há interpretações, leia-se opiniões e, claro, todas devem ser respeitadas. Fulano, que manda todo mundo que discorda dele para Cuba ou Venezuela, pode afirmar que o liberalismo econômico é a solução de todos os problemas do planeta enquanto que Beltrano, que insiste que Cuba é o modelo a seguir (sem nunca ter ido e visto a realidade), jura de pés juntos que um Estado inchado e pai de todos é o que todos precisamos, aquela tão ansiada vitória final comunista planejada pela União Soviética. Aceito ambas opiniões. Acho que o primeiro cenário seria o menos ruim, mas, por isentão, não acho que é perfeito e fico em cima do muro como bom isentão. No entanto, saindo dos extremos, prefiro o capitalismo europeu com sua selvageria mais ou menos domada pelo estado.

Um amigo que admiro muito ironizava, há algumas semanas atrás, que a tal "resistência" anunciada por Jean Wyllys quando da vitória do capitão, tinha durado apenas 25 dias. E ele, claro, não foi o único. Nunca votaria em Jean Wyllys, no entanto considero qualquer ataque a essa reação dele, como absurda, fria e ignorante. Ele é um ser humano que foi ameaçado. Qualquer outra pessoa em sua situação teria todo o direito de fazer o mesmo sem acarretar críticas. Eu não nasci para ser mártir. Caso estivesse no lugar dele, faria exatamente a mesma coisa. Admiro os que sacrificam suas vidas por seus ideais, sejam esses quais forem, mas não faço parte desse grupo. Parece que Jean Wyllys também. Normal.

Esse é outro exemplo. Analisar as ideias de Jean Wyllys como político, bom, respeito todas, é como analisar se foi falta ou não usando o VAR, ou seja, outra vez, é aberto a interpretações; agora, condenar, burlar, ironizar um político ter que abandonar seu país por sofrer ameaças, isso é como impedimento, ou é ou não é, e nesse caso não estou aberto a interpretações, pois é algo lamentável e não somente pela acuação em si contra um cidadão senão por pôr, uma vez mais, a democracia numa corda bamba.

O irmão mais velho de Lula morreu e este, que pôde sair de sua cela para ir ao enterro de sua mãe durante a ditadura militar, não foi agraciado com esse direito. É regra. É lei. Um presidiário na condição de Lula tem o direito de sair de seu confinamento e ir ao enterro de um familiar direto. Não há "interpretação". Houve, sim, como não podia ser diferente, atuação macabra dos trolls de redes sociais que chegaram ao absurdo de comparar o ocorrido com outras duas mortes de meios-irmãos de Lula. O pai de Lula teve 20 filhos. Com a maioria este não tinha relação próxima o que era diferente com o recente defunto. Igualmente, mesmo que este tivesse 200 irmãos e jamais tivesse dado bola a esses, tem o direito de ir ao enterro de qualquer um. É regra. Não cabe à justiça julgar força de laços familiares.

Flávio Bolsonaro também deveria ter o direito de sair da cadeia para visitar um familiar morto. Caso algum dia seja julgado. E preso.

Alguém já me mandou para Cuba ou Venezuela? Podem me mandar à vontade, mas não vou. Para Cuba iria de férias; para Venezuela já fui, mas atualmente nem de férias. Por quê? Porque são uma merda.

Privatizar é bom ou ruim? Essa é uma discussão como se tal jogador merecia cartão vermelho ou não. Eu, isentão como sempre, fico no muro. Um estado dono de tudo onde empresas privadas são estatizadas por decreto como acontece na Venezuela, está fadado a fracassar. Mas também o neoliberalismo descarado sem controle também tende a fracassar. Outra vez, se tenho apenas essas duas opções, vou com a segunda. É menos pior. Agora voltemos para o VAR impedimento. Os desastres da Vale ocorreram com a Vale pública ou multinacional moderna privada? Não há discussão. Uma empresa privada tem mais sede de lucro e zero apego ao território onde está. Destrói, polui e mata em busca de um lucro maior. É normal, é assim em qualquer lugar. O PT teve culpa também? Claro que sim. Fernando Pimentel, o corrupto ex-prefeito de Belo Horizonte e ministro de Dilma ajudou bastante a Vale a aumentar sua capacidade exploratória e destrutiva. Tudo pelo capital. Tudo pelo desenvolvimento. Tudo pelo "moderno". Agora, as catástrofes aconteceram com a Vale privada, não com a Vale estatal. Podem usar o VAR.

Falando nisso, gostei da declaração recente de Bolsonaro: se a GM tiver que fechar fábricas, que fechem. Gostei. Mais ao sul da esquizofrênica Brasília, o governador gaúcho Eduardo Leite, O Moderno, foi acariciar as rosadas nádegas de pobres ricos e dizer que vai fazer o possível para ajudar as montadoras que tanto sofrem. Paulo Guedes, o presidente de fato do país, também deu uma declaração boa: isenções fiscais e ajudas do Estado a grandes empresas quebraram o Brasil. Chega de ajudar quem não precisa, vale o comentário contra a Lei Rounet e seus beneficiados ricos.

Meu último uso do VAR será em relação ao novo comportamento dos filósofos de direita de redes sociais que, depois do fenômeno Bolsonaro, colocaram as asinhas de fora e passaram a não mais esconder o que sempre esconderam: defendem a ditadura brasileira e agora dizem que não era ditadura. Outra vez: isso é como VAR para impedimento. Se não existem eleições, se o poder legislativo é aniquilado, se a mídia é censurada e pensamentos contrários são considerados ilegais e clandestinos, bom, é ditadura, a não ser que haja outra definição que, do baixo de minha mediocridade intelectual, desconheço. Corrupção, tortura, prisões sem julgamentos, prisioneiros políticos, exílios? Ditadura. Agora, se querem defender que ditadura é bom, tudo bem, é VAR para decidir se foi falta ou não, já que depende da forma de pensar de cada um, só não vale negar que era ditadura.

E aí? É texto de fascista, esquerdopata ou isentão? Achar que o Lula não é mais rico que o Jeff Bezos e que ele não derrubou o avião do Teori Zavascki é ser esquerdopata? Dizer que o Lula deveria ser preso e que não foi o Temer que derrubou o mesmo avião é ser fascistão? Ir à Cuba de férias é ser comunista de iphone?

Comentários em privado. Sejam, meus três leitores, criativos com suas alcunhas e emojis. Isentão eu gosto, então vou exigir um pouco mais de todos vocês.