sábado, 27 de janeiro de 2018

Tão Parecidos E Tão Diferentes

O Brasil vive um de seus piores momentos desde e redemocratização. Essa é, talvez, uma das opiniões que compartilham os representantes cegos dos dois lados da sociedade brasileira, direitistas e esquerdistas. No entanto, essa não é a única ideia que essas duas hordas de guerreiros sanguinários têm em comum.

Sim, mais do que nunca, existe direita e esquerda. Não só no Brasil, no mundo inteiro. A semelhança de seus vazios argumentos pode, em alguns casos, expor a ideia que defendem alguns de que isso é coisa do passado, não existe mais. A direita afirma que a esquerda, também chamados de "comunistas", fracassou onde existiu. Pedem, ameaçadoramente, que se cite algum exemplo de país comunista que deu certo. Eles têm razão. Nenhum deu certo. O comunismo é um cadáver empalhado que insiste em ser ressuscitado por grupos de pessoas decepcionados com o capitalismo, ou seres que jamais conseguiram aceitar as premissas da doutrina dos vencedores. O comunismo, para começar, jamais conseguiu existir em harmonia com a liberdade, algo que o capitalismo, com seus problemas, consegue na maior parte do mundo. É comum quando manifesto algumas ideias minhas alcunhadas de "comunistas" por alguns, eu ser mandado pra Cuba. Pra Venezuela. Já estive em ambos países e não, não gostaria de morar em nenhum dos dois. Gostaria, por exemplo, de morar na capitalista Noruega. A esquerda acusa o capitalismo de ser excludente e gerador de miséria e desigualdade. Em mais ou menos 12 mil anos de, chamemos, "civilização", sempre existiu a desigualdade dentro da grande maioria de todas as formas de organização social, desde povos mais "primitivos" até nossas sociedades atuais. É parte de nossa história e considero que, deveríamos ser mais práticos, e não lutar contra algo inerente ao ser humano que é o apego ao ter, a possuir, o clamor pelo poder disfarçado em bens materiais. Pode-se suavizar essa situação? Claro que sim. A capitalista Noruega o faz e a maioria dos poucos países que contam com boas situações sociais o fazem. Controlar a desigualdade é, entre tantas, uma ideia que defendo. Sou comunista? Não. Um Estado gigante que a tudo domina ter o poder de dividir a riqueza produzida e que doma a sua sociedade para ir contra um instinto humano funciona? Não. Sou coxinha? Não.

Àqueles que me mandam para Cuba, lhes devolvo a pergunta? Deveria eu ir para o capitalista Haiti? Ou para os capitalistas países africanos? O capitalismo é sinônimo de sucesso? Não. Há um "outro mundo possível"? Não sei, mas em alguns lugares se vive melhor que em outros. Não há somente UM capitalismo.

O governo do PT, entre Lula e Dilma, foi tão diferente dos governos anteriores? Não muito. Qual foi o pecado capital de Dilma e Lula? As pedaladas? O tríplex? O sítio em Atibaia? Não. O principal pecado de Lula e Dilma foi ter vendido uma ilusão. A ilusão de que a esquerda jamais deixaria o poder. O franco favoritismo de Lula de substituir Dilma e, depois, mudados os planos, de entrar na cadeira de Temer, foram o maior pecado da esquerda brasileira.

O PT deu sim migalhas aos pobres. Não ousou, apesar de ter tido tempo, em mudar o status quo de um país desigual e estruturado para o aprofundamento da desigualdade o que é diferente à aceitação de que as diferenças sociais sempre existirão. O PT fez bons programas? Sim, alguns ótimos. Aumentou o investimento em pesquisa, reestruturou as sucateadas universidades públicas, criou programas sociais que, com seus defeitos, inseriu na sociedade cidadãos outrora impróprios de assim serem chamados, enfim, mexeu em algo. No quê? Numa colmeia crivada de abelhas, todas rainhas e com sentimentos feridos. Abelhas traídas.

A direita brasileira, ideologicamente, não tem como criticar tanto assim os governos do PT. Os grandes banqueiros seguiram cada vez mais aquinhoados; as grandes empresas seguiram com seus pornográficos benefícios fiscais, as construtoras, pivôs da queda de Lula, tinham estreita relação com o poder inclusive tendo um presidente lobista de seus interesses mundo afora, em lugares de idoneidades escusas como reinos africanos. Tudo parecia andar bem. Caviar não faltava e, lá embaixo, a sopa deixava de ser de papelão para ser de arroz e batata. O que deu errado? O que acabou com essa sintonia que parecia dar estabilidade a um país que jamais esteve em um melhor momento? Ego. Devoção ao poder. Avarícia. Ideologia. Os caciques que durante 500 anos deram as cartas na grande fazenda, não estavam já assim tão tranquilos com seus papéis secundários, coadjuvantes. O medo do comunismo e da perda de sua estabilidade de cinco séculos sempre existiu. O grande empresariado, a maioria dele andava de mãos dadas com Lula, talvez jamais tenha dormido realmente bem com Lula sentado na cadeira mais desejada pelos ratos e vampiros. Algum dia Lula deixaria de ser "paz e amor" e instauraria o seu comunismo soviético e começaria a tão temida caça aos burgueses por parte dos bolcheviques ultrajados por tantos anos de sofrimento. Algum dia Lula e companhia justificariam a tendência de usar camisas vermelhas.

Como acabar com o PT? Como tirar do poder um grupo que não se cansa de ganhar? Eleições? Seria possível? A direita brasileira, desde Fernando Henrique, tem nem sequer UM nome que poderia fazer frente a Lula. Não havia forma de eleger figuras atoladas em corrupção e sem carisma algum como Alckmin ou Serra. A única solução seria a força? A direita brasileira jamais disfarçou sua simpatia pela força e sua desconfiança para com a democracia. A democracia é boa até que o outro lado ganhe. Assim como o comunismo jamais conseguiu conviver com a liberdade, a direita jamais deixou de sonhar com a dominação completa e a aniquilação de adversários. Poderosos militares se manifestaram. Uns a favor da democracia. Outros lançando dúvidas quanto à estabilidade do estado de direito tupiniquim. Nesse ponto, direita e esquerda são iguais. A esquerda esperneia quando escuta falar em golpe militar, mas idealiza Cuba e não se importa com as agressões contra a sua própria população de Maduro na caótica Venezuela. A direita não fica atrás. Em sua frenética busca por motivos para criticar Lula, põe seu sujo dedo indicador em riste contra os afagos de Lula a ditadores africanos.

Esse comportamento questionável também vale para seus ladrões de estimação. A direita na verdade é menos pitoresca, menos emocional e menos passional na hora de escolher seus ladrõezinhos de estimação. Juntam-se a qualquer um que pregue os bons costumes, seja anti-PT, branco, rico e, de preferência, bonitão. A esquerda ama de verdade. Tem seus ídolos. Vestem-se suas camisas. A direita não tem camisa. Veste apenas as cores nacionais. Abraça-se a Aécio quando este é a representação do anti-lulismo; depois, o esquece. Cunha foi amado. Fugazmente. Depois de condenar Dilma, o mandaram ao esquecimento do calabouço. Hoje afaga-se Bolsonaro, mas amanhã o deixarão ir. A direita é moderna, fugaz, efêmera, considera piegas os amorios e paixao da esquerda. A direita “fica”. Transa sem amor. Não tem o ardor da esquerda. Luciano Huck e Doria, os retratos do coxismo, esturricados em suas roupinhas coloridas descoladas, que contam com a presença constante de holofotes em seus rostos lustrosos e desprovidos de realidade serão amados também. Usados. A direita usa e depois ri. A esquerda chora. É fiel a seus ídolos. Faz de conta que não vê, que não ouve. Fidel segue vivo nos seus corações enquanto que os ditadores brasileiros só voltam a ser citados quando se luta para manter seus nomes em avenidas. Mente para si mesma. Quer e consegue acreditar que seus ícones de suas frustrações juvenis não são meros seres pueris, não podem ser. O ídolo do esquerdista é mais do um representante de uma visão de mundo, de uma vertente política, é, acima de tudo, o último elo entre seus seguidores e um sonho, uma época, uma ilusão.

Lula tem culpa no cartório? Recebeu o tríplex e o sítio de presentes por serviços prestados à OAS? Eu acho que sim. Lula deveria ter sido condenado à prisão? Não sei. Houve provas? Sim. Foram essas provas convincentes? Não. Teria eu condenado Lula? Não.

Após tirar Dilma do poder e associar os vários escândalos de seu governo à figura de Lula, a direita brasileira achou que a missão estava cumprida. O que a direita não previu foi que, para se manter no poder, deveria ter algum candidato. A cada dia mais e mais expoentes da direita mergulhavam nas profundezas dos esgotos da política nacional. Enquanto isso, nos bastidores, Lula, de caravana em caravana, mantinha o apoio de suas criaturas. A cada pesquisa feita, aparecia cada vez mais líder. A direita, sorrateiramente, desenterrou um ex-soldado rebelde e o alçou à condição de salvador. Não colou. Lula seguia e seguia seu caminho aparentemente sem obstáculos em direção a mais oito anos de governo. O que fazer? A única solução seria derrubar o mito e enclausurar o homem. Mas não havia tempo para ser perdido.

A justiça brasileira agiu rapidamente, quebrou todos os recordes de eficiência e julgou Lula. Eduardo Azeredo aguarda ansiosamente a prescrição das acusações (também em segunda instância) contra ele. Maluf teve que esperar apenas 86 anos para pagar pelos seus crimes. Sarney curte sua aposentadoria livre de reformas. Collor é pré-candidato à presidência. Rocha Loures, pego correndo com a mala de dinheiro para o patrão Temer caiu no esquecimento. Geddel, com 50 milhões em dinheiro no seu apartamento com suas digitais impressas em cada nota, foi acusado em 1984 de ter desviado dinheiro do Baneb. Dez anos depois foi um dos anões do orçamento. Foi gravado em ligações mafiosas. Aécio também foi gravado em suas negociatas que incluíram ameaça de matar o próprio primo. Temer também teve sua vampiresca voz gravada pelo ex-rei do Brasil Joesley. Temer foi gravado dando ordens para seguir com as propinas. Todo mundo ouviu. Mas é melhor esperar para ver o que fazer com Temer. Alguém tem que tomar conta do palácio e aprovar as reformas primeiro. Tudo no seu tempo. Geddel aguarda o momento de sair da cadeia; Aécio está solto lépido e faceiro desfrutando de suas fazendas com aeroportos "estaduais" privados e Temer é o digníssimo presidente da nação dando palestras na Suíça afirmando que o Brasil é a Suíça. Nenhuma prova contra Lula chega sequer próximo às provas anteriormente citadas. Mas Lula caiu. Hoje, é um morto vivo em seus últimos suspiros. A direita arrogante e debochada afirma que Lula ganhou com os votos dos analfabetos nordestinos, os mesmos que toda a vida elegeram Sarney, Jucá, a família Magalhaes, Collor, Calheiros, Eunício Oliveira, Jader Barbalho e por aí vai. São ignorantes de ignorância seletiva.


Como serão as eleições desse ano? Uma incógnita. Terá, sem Lula, Bolsonaro alguma chance? Aparecerá uma celebridade, Luciano Huck, Sílvio Santos, Faustão, Alexandre Frota? Kim Kataguiri? Conseguirá a esquerda fazer uso da figura de espartano preso injustamente de Lula e conseguir, desde as penumbras da Papuda, criar um Frankestein a tempo de ganhar as eleições? Teremos surpresa? Animar-se-á com os afagos do capital Henrique Meirelles? Estará a esquerda brasileira morta por falta de planos B? Esperarei. Ansioso. Assim como sigo esperando o clamor popular contra a "corrupção". Ou a morte do PT levou a corrupção consigo à cova? Ou a corrupção de direita não ofende? Tantas perguntas.