segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Pode ou não pode?


Pela primeira vez o Brasil tem um presidente que não foi democraticamente eleito por meros eleitores, senão por torcedores. A maioria das pessoas que votou em Bolsonaro, o tem como um ídolo. Não o apoiam: torcem para ele. Essa fidelidade extremista é saudável para uma democracia?

Não considero que saciar todas as vontades de filhos seja uma boa forma de educá-los. A crítica os faz entender um pouco mais da realidade. Quando chegarão críticas a Bolsonaro provenientes de seus eleitores? Os torcedores mais fanáticos dizem não haver motivos para tais. Será?

Bolsonaro foi eleito não por suas ideias profundas em relação à economia do Brasil. Ele mesmo dizia e segue dizendo que entende pouco e nada desse tema que, em meio aos meus devaneios de sempre buscar a lógica, julgo ser uma barbaridade, mas enfim, Paulo Guedes está lá para isso. Bolsonaro se preocupa mais com os bons costumes. Bolsonaro foi eleito por defender os costumes que são os ideais em sua forma de pensar e se pôs na posição de cavaleiro da ética, da moral e do combate à corrupção. No poder, Bolsonaro colocou sobrinho no governo e, como presente de 35 anos a um filho, lhe ofereceu o cargo mais importante da diplomacia nacional. Mas isso não é nepotismo. O próprio Eduardo Bolsonaro explicitou para quem quiser ver que em seu currículo tem o domínio do idioma inglês, do espanhol e experiência fritando hambúrgueres. Mas não, não há qualquer resquício de nepotismo. Ah, vale salientar que a nova esposa de Eduardo já tem seu passaporte diplomático em mãos, mas não, não há favorecimento, é questão da mais pura meritocracia tão defendida pelo clã Bolsonaro.

A torcida Bolsonaro se cala. Alguns, sorrateiramente, dizem que sim, não pega bem. Mas não há comoção. Eduardo é bonitão e não é petralha, então tudo bem.

Lulinha andava lépido e faceiro pelos camarotes da política e do poder nacional. A cada semana alguém se dava ao trabalho de inventar alguma capa de revista internacional grosseiramente falsificada para explicitar a vida glamorosa consequência da intermediação do poderoso pai que dava acesso ao rebento à alta roda. Lulinha chegou a ter uma empresa de marketing esportivo e, se não me falha a memória, até uma de jogos eletrônicos com obesos contratos junto ao estado. Gozava de sua posição. Era o “filho do homem”. Era massacrado pela ala anti-PT e com razão.

Qual a diferença entre Lulinha e Eduardo? O primeiro enriqueceu com o seu cargo de filho do presidente; o segundo ganhou um belo cargo de presente que o fará ganhar cerca de 66 mil reais por mês. Mas pelo menos não roubou, dizem os torcedores de Bolsonaro que têm energia suficiente para dedicar também aos familiares do Messias. Então, estrategicamente abordo os temas escusos de outro filho do capitão, o pitoresco Flávio.

Flávio, como toda a dinastia Bolsonaro, jamais trabalhou. Desde jovem em um cargo público. Foi honestamente eleito, não contradigo isso, mas nunca trabalhou, crítica bastante comum feita à classe política. Pois Flavinho, com seu cargo de vereador no Rio de Janeiro, fez e aconteceu. Seus variados assessores tinham movimentações financeiras estranhas. E seu braço direito, o esquecido outrora famosíssimo Queiroz, simplesmente desapareceu. Fez dancinha “live” no hospital para todo mundo ver, mas desapareceu. E, agora, Dias Toffoli, num ato de regressão enorme e sem precedentes para a nação, mandou parar tudo porque dados conseguidos via COAF não podem ser levados em consideração. Com essa mudança de ponto de vista, Flavinho está livre, leve e solto, Queiroz segue desaparecido e uma cambada de criminosos goza do efeito colateral. Para salvar o filho do capitão vale tudo, até dar liberdade a outros perigosos criminosos que incluem traficantes e líderes de milícias que, diga-se de passagem, alguns são também bem próximos a Flavinho.

Dizem que torcida boa é a que apoia mesmo quando se joga mal e que não vaia nem quando se perde em casa. Portanto há de se dizer de que a torcida de Bolsonaro é modelo a ser seguido. Bolsonaro vive em sua “Bombonera” tupiniquim.

Lembro de Bolsonaro vociferando que não era político, que era contra o tal “toma lá dá cá” característico da política nacional. Eu, ingenuamente, vibrei. Pois não é que, para aprovar a reforma da previdência antes condenada pelo mesmo Jair, liberou-se 1,5 bilhão de reais em emendas para “comprar” os votos favoráveis da classe política tão massacrada pelo presidente? E isso aconteceu em tempos de enxugamento de gastos, vejam só. Bolsonaro, bem como outros partidões como PSDB e PT, também tem o seu mensalão, mas esse na versão 2.0, legalizado, em cima da mesa, para todo mundo ver. Usou-se aquela velha tática: coloca-se o item que está sendo procurado em cima da mesa, no lugar menos escondido e este se tornará o menos provável que as pessoas procurarão.

A polêmica do momento agora é a atuação criminosa de hackers divulgando, através do site The Intercept Brasil, detalhes de conversas amigáveis entre Moro, Deltan e companhia. O mesmo Deltan que agora clama por justiça e prisão dos envolvidos, há alguns meses atrás mostrou o seu famoso PowerPoint para todo mundo ver. Moro, que agora trabalha assiduamente para destruir as mensagens que, deve-se dizer, não contêm qualquer coisa que o possa prejudicar, mas que sim devem ser destruídas, há alguns meses atrás divulgou o promíscuo áudio de Dilma blindando Lula quando o cerco começou a apertar o antigo presidente. Moro depois pediu desculpas e tudo esteve bem. Lembro que a torcida de Bolsonaro celebrou o vazamento do áudio e bateu mais forte do que nunca em suas panelas agora usadas novamente para o corriqueiro ato de cozinhar. Os fins justificavam os meios. Não importa como o áudio foi conseguido, o que importava era o ato inescrupuloso de poderosos membros de um partido corrupto e desesperado. Agora os meios importam. Hackear telefones é ilegal. Portando, conclusão lógica, todo o conteúdo deve ser eliminado e desqualificado.

O próprio outrora herói dos bons costumes e subscritor do impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior agora diz que Bolsonaro não merece ser arrancado do cargo como Dilma. O que merece o mito é interdição psicológica. Será um comunista, um “melancia” segundo as refinadas palavras de Jair, parte da guerrilha que os médicos cubanos queriam impor no Brasil segundo os lunáticos seguidores do guru que acredita que a Terra é plana?

Termino com um comentário que define bem a postura da torcida verde e amarela de Bolsonaro. Ao comentar em meu perfil do Facebook sobre a indicação de Eduardo ao cargo de embaixador no mesmo dia em que seu irmão Carlos disse que o Brasil era “o maior cabide de empregos do mundo”, um comentário foi o seguinte: “é que ele confia no filho para acabar com os petralhas lá instalados” seguido de bandeira do Brasil. Essa é a mentalidade. Bolsonaro não defeca; Bolsonaro tem restos dos alimentos por ele consumidos expelidos de seu corpo em forma cilíndrica causada pelo excesso de petralhas em seu sistema digestivo, petralhas estes que obtiveram acesso ao seu estômago pela perfuração praticada por Adélio Bispo que tinha exatamente este objetivo: permitir a entrada de petralhas às entranhas do Messias. Está na capa do New York Times. Procurem.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Temporada 2018-2019


Ao final de mais uma Champions League, atualizo o melhor ranking de futebol já feito, o único baseado somente em argumentos sólidos, ou seja, o meu.

Segue a lista dos 50 gigantes do futebol mundial:

  1. Real Madrid (Espanha);
  2. Bayern (Alemanha);
  3. Barcelona (Espanha);
  4. Juventus (Itália);
  5. Milan (Itália);
  6. Peñarol (Uruguai);
  7. Boca Juniors (Argentina);
  8. Manchester Utd (Inglaterra);
  9. Ajax (Holanda);
  10. Liverpool (Inglaterra);
  11. Porto (Portugal);
  12. Inter (Itália);
  13. Nacional (Uruguai);
  14. River Plate (Argentina);
  15. Independiente (Argentina);
  16. Benfica (Portugal);
  17. São Paulo (Brasil);
  18. Olimpia (Paraguai);
  19. PSV (Holanda);
  20. Celtic (Escócia);
  21. Santos (Brasil);
  22. Corinthians (Brasil);
  23. Olympiakos (Grécia);
  24. Palmeiras (Brasil);
  25. Estudiantes (Argentina);
  26. Dortmund (Alemanha);
  27. Vélez Sarsfield (Argentina);
  28. Flamengo (Brasil);
  29. Atl Madrid (Espanha);
  30. Grêmio (Rio Grande do Sul);
  31. Internacional (Brasil);
  32. Estrela Vermelha (Sérvia);
  33. Feyenoord (Holanda);
  34. Colo Colo (Chile);
  35. Chelsea (Inglaterra);
  36. Dinamo Kiev (Ucrânia);
  37. SC Anderlecht (Bélgica);
  38. Dynamo Dresden (Alemanha);
  39. Nacional (Colômbia);
  40. Arsenal (Inglaterra);
  41. Rangers (Escócia);
  42. Steua Bucarest (Romênia);
  43. Galatasaray (Turquia);
  44. OM (França);
  45. Cerro Porteño (Paraguai);
  46. Cruzeiro (Brasil);
  47. Manchester City (Inglaterra);
  48. San Lorenzo (Argentina);
  49. Racing (Argentina);
  50. Vasco (Brasil).

11 maiores seleções da história:

1.     Brasil;
2.     Alemanha;
3.     Itália;
4.     Argentina;
5.     França;
6.     Espanha;
7.     Uruguai;
8.     Inglaterra;
9.     Holanda;
10. Croácia;
11. Rússia.

10 melhores ligas nacionais historicamente:

1.     Espanha;
2.     Itália;
3.     Inglaterra;
4.     Argentina;
5.     Brasil;
6.     Alemanha;
7.     França;
8.     Portugal;
9.     Holanda;
10. Uruguai.

Seleção da temporada no esquema 4-3-3 sem importar as posições específicas:

Ter Stegen (Barcelona – Alemanha);

Alexander-Arnold (Liverpool – Inglaterra);
Van Dyke (Liverpool – Holanda);
Robertson (Liverpool – Escócia);
Jordi Alba (Barcelona – Espanha);

Busquets (Barcelona - Espanha);
De Jong (Ajax – Holanda);
Messi (Barcelona – Argentina);

Hazard (Chelsea – Bélgica);
Sterling (Manchester City – Inglaterra);
Agüero (Manchester City – Argentina).

Bola de ouro: Messi.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Os Cento E Poucos Primeiros Dias do Governo Bolsonaro

o existe nas postagens que vão ao encontro de seus ideais. Diminuiu o número de assassinatos no Brasil: mérito de Jair; aumentou o desemprego: fake News da mídia comunista. Assim está a coisa.

A grande mídia, agora deixada de ser acusada de golpista, manipuladora, tendenciosa entre outros adjetivos mais ou menos gloriosos, nesse momento é atacada pela direita fanática que inunda de esterco as redes sociais. Segundo eles, a grande mídia é comunista e mente em prol dessa doutrina representada no país pelo PT, partido que, em quase quatro mandatos no poder, jamais cobrou impostos sobre grandes fortunas, sobre dividendos ou heranças. E, diga-se de passagem, nesse período jamais incomodou os desempenhos pornográficos dos bancos que se empanturraram de dinheiro em plena crise, haja contradição. Mas sim, o PT queria instalar o comunismo no Brasil, não há dúvida. 

Se alguma crítica ao séquito Bolsonaro aparece, uma enxurrada de críticas à grande mídia inunda as redes sociais. Memes surgem como mosca ao redor de fezes. Concordo em parte com a nova-direita-cega-conservadora-nacional. A grande mídia mentiu, mente e sempre mentirá. O que gostaria de entender é como acreditar piamente em notícias que surgem do nada sem questionar se também não podem ser mentiras. Esta mesma semana recebi uma capa do The Economist que tinha como manchete Lula ser “o mais corrupto do mundo”. Falsificação grosseira, tanto quanto a capa da Forbes que dizia que Lula era um dos homens mais ricos do mundo. Questionam a veracidade quando a opinião apresentada é diferente da sua.

O mais grave em meio a tanta ignorância de todos os lados é a preguiça intelectual. Nas últimas semanas li três livros sobre o (fracasso do) comunismo. Extremamente crus e fidedignos ao que qualquer cidadão mais atento pode notar quanto às experiências comunistas já existentes que, diga-se de passagem, jamais chegaram nem perto de existir no Brasil. Terminei de ler na semana passada um livro de Noam Chomsky, um dos maiores pensadores da extrema esquerda americana, chamado por essas terras de "liberal", algo bem diferente de nossos liberais tupiniquins. Confesso que, apesar de concordar com algumas coisas do discurso de Chomsky e de crer na veracidade da maioria dos fatos apresentados para sustentar seus argumentos, considero este uma pessoa que deveria ser mantida com poderes limitados já que sua vertente de pensamento quebraria qualquer país em um abrir e fechar de mandatos. A maioria não lê. Vomita virtualmente concepções baseadas em nada e não se importam de sequer discutir. Memes, emojis e kkk´s. Essa é a complexidade dos argumentos da direita debilóide que tem como símbolo fazer gesto de arma na mão e babam quando o mito tira fotos empunhando metralhadoras depois de dizer alguma asneira pelo mundo afora. Ah, mas seu partido quer proibir videogames violentos e quer vestir meninos de azul e meninas de rosa. Senhores, é necessário ler textos com mais de 140 caracteres para poder entender as complexidades do mundo.

Esses dias vi um jornalista esportivo argentino dizendo que não consegue se colocar num lado que seja Guardiola ou Simeone. Ele diz que admira fatores de ambos e fica em cima do muro. Para meus poucos leitores, já manifestei minha admiração pelo meu apelido de "isentão". Para aqueles que já veem críticas ao confuso e circense governo Bolsonaro se aproximando e já estão procurando seus memes para me mandar para a triste Cuba ou para a caótica Venezuela, alto lá! Digo-lhes que, como isentão que sou, teria votado em Trump nos Estados Unidos ao invés de Hillary Clinton; teria votado em Marine Le Pen na França no lugar de Macron e apoio o UKIP na Grã-Bretanha. Todos esses são passíveis de críticas. Sou contra a ignorante postura de Trump em relação aos cuidados ambientais, sou contra Macron e o uso da forca da Revolução Francesa nos pescoços de velhos e da classe média francesa. Em resumo, não há candidato perfeito. Deve-se ter, sempre, uma visão neutra e cobrar, exigir e criticar quando devido. Chega de celebrações pelo aniversário de cadeia de Lula. Por que não gastar esse tempo exigindo o mesmo destino para o filho de Bolsonaro e seu amigo doente Queiroz? Ou Aécio. E o ministro do turismo? Sou muito amargo, o que queremos é comemorar e quem sou eu para criticar. Comemoremos então os aniversários de prisão de Sérgio Cabral e Eduardo Cunha. Analisando apenas os crimes que foram condenados, roubaram infinitamente mais que o Lula. Usem essas energias para outros fins. Lula é um imaginário; Sérgio Cabral e Cunha não.

O governo de Bolsonaro é a consagração da ignorância. É a celebração ao bruto, ao ativista troll que se esconde atrás da tela de um computador. É a consagração e o orgulho de ser vazio, raso, irônico. Bolsonaro diz que o nazismo era de esquerda e todos saem a defender. Menos, claro, algumas partes com menos envolvimento no tema, como judeus e alemães que o condenaram. O argumento do guru de Bolsonaro, um obscuro "filósofo" desenterrado de uma penumbra (quase) eterna por Bolsonaro diz que o nome do partido nazista tinha a alcunha de "nacional socialista" no nome. Todos saem a defender. Jamais se dão ao trabalho de analisar, de ler, de se aprofundar. A concepção de um partido se baseia no nome, nada mais, na simples presença de uma palavra. Para que se aprofundar mais em algo tão complexo? A Coreia do Norte se chama "República Popular Democrática da Coreia do Norte" e a Alemanha Oriental (e comunista) não era comunista no seu nome e sim "democrática". Conclusão: a Coreia do Norte e a Alemanha Oriental eram democráticas. Lógica de pensamento de seres complexos como uma ameba.

A afirmação em relação ao nazismo ser de esquerda veio junto com a celebração goela abaixo da ditadura militar brasileira que, claro, não foi ditadura. O mundo inteiro estava errado, apenas Olavo de Carvalho sabe a realidade. Tanques nas ruas, mandatos cassados, condenações sem processos legais, tortura, mortes, fim do pluripartidarismo, congresso fechado, censura, eliminação de eleições e estadia de 21 anos no poder...mas não, não é ditadura. Ditadura é em Cuba e na Venezuela. Reformulam-se fatos históricos para satisfazer necessidades de um poder que tem como sua bíblia memes, redes sociais e emojis. Mas ok, demos uma trégua a Olavo de Carvalho. Ele diz que a Terra não orbita em volta do sol e isso é verdade. Copérnico era comunista e petista.

Além disso temos os seguidos vai e vens no Ministério da Educação que preza pela tal "escola sem partido (do outro)", mas queria suas crianças cantando slogan de governo, fora as constantes declarações bizarras da bizarra ministra dos bons costumes e fora as saias curtas causadas pelos filhos de Bolsonaro, o que se pode tirar desses primeiros cem dias? Ideias de privatizações e a reforma da previdência que sim era necessária, mas não essa. Sou tão pragmático em relação à política que penso que se devem copiar programas que funcionaram em países e não copiar programas fracassados. A previdência capitalizada que é o que o governo quer, é colocar no cassino a aposentadoria (e o futuro) de todos (exceto o dos militares). O Chile fez isso e tem um dos maiores índices de suicídios entre membros da terceira idade. O comunista Estados Unidos não fez isso, bem como as outras grandes potências comunistas europeias: Reino Unido, França ou Alemanha.

Os países de maior qualidade de vida no mudo são como eu, isentões. A Noruega com o seu estado de bem-estar social é o país de mais qualidade de vida no mundo já há algum tempo. E não é comunista. Aliás, os ideais propagandeados pelos comunistas só conseguiram ser atingidos mais ou menos justamente nesses países onde o capitalismo é livre para existir, mas que tem o olho do estado em cima não permitindo abusos, não colocando a raposa para cuidar do galinheiro que é o que se quer implementar no novo Brasil. Ah, e esses países garantem liberdades civis e não se metem na vida privada de seus cidadãos, isso é coisa de Arábia Saudita e sua polícia de costumes. E do Brasil.

Seguirei esperando críticas de Bolsoneias (nome dado por eles mesmos orgulhosos de serem tietes do mito) a algum ato do governo, talvez a liberação do desmatamento em terras privadas, algo que imagino que é fundamental para o Brasil. No entanto acho mais plausível que os membros da seita comemorem as intriguinhas dos Bolsonaro júniores com ambientalistas comunistas, no melhor estilo fã adolescente de Justin Bieber, gritando e kakaziando atrás de suas telas de computador.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Os Pontos de Vista do VAR



A Copa do Mundo da Rússia teve como sua principal estrela o uso do VAR pela primeira vez na mais importante competição esportiva do mundo. Gerou eternas discussões entre os conservadores resistentes à tecnologia e os modernos de plantão. Eu, apesar de muitas vezes estar no time da resistência a modernismos que quase sempre são fatos passados requentados, dessa vez estou no lado da modernidade. Torna o jogo mais claro; há menos espaço para a corrupção.

O VAR é perfeito? Obviamente que não, quase nada o é. Eu considero o VAR perfeito somente em um sentido que é quando define a existência de um impedimento ou não. Traça-se uma linha digital e depois a única discussão que pode surgir é sobre impedimento passivo, mas acontece em bem menos casos. O uso do VAR para definir se foi pênalti ou não ou se a dita falta merecia uma punição mais severa, bom, aí é bem diferente. As câmeras apenas dão uma segunda ou terceira chance para o árbitro ver a jogada e decidir segundo seu ponto de vista. Em resumo, impedimento não se discute (exceto os casos passivos já mencionados), faltas sim.

E eu diria que o mundo em sociedade deveria ser assim, mas, cada vez mais, está longe de assim ser, especialmente no agora dividido Brasil, o país dos desastres diários.
Qualquer sociedade que tenha a mínima intenção de evoluir, deveria ter uma constituição que é cumprida à risca, sem importar que partes estão envolvidas em qualquer caso. A lei deveria ser clara, assim como diz o medíocre comentarista esportivo global. E as leis são, sim, claras, assim como é a regra do impedimento. No entanto, a justiça brasileira tem a sua própria hermenêutica. Sempre depende do julgado. Os recentes "julgamentos" públicos que tivemos como o do impeachment de Dilma e o da prisão de Lula, são exemplos dessa interpretação excessiva da lei. Pode-se ver que o modus operandi de cada um não depende do que está escrito e que deveria ser respeitado, mas sim depende de sua interpretação sempre com o viés ideológico intrínseco.

O Lula deveria estar solto? Para mim sim. Sou um petista acampado na frente da delegacia em Curitiba? Não. Apenas acho que a constituição deveria ser cumprida e este deveria ser enclausurado após esgotadas todas as suas chances de apelação. Concordo com essa lei? Não vem ao caso. Sou uma das pessoas menos importantes já nascidas, mas acho que o que está escrito deveria ser cumprido, pois temo que, a longo prazo, essa abertura a pontos de vista não isentos pode gerar o caos e a anarquia. Antes que os trolls de Bolsonaro comecem a me atacar, sim, eu acho que o Lula deveria ser, não estar nesse momento, preso, pois, ao que tudo indica, cometeu crimes passíveis desse tipo de punição segundo a constituição. No entanto, vale salientar, não é necessário falsificar capa da Forbes com manchetes que Lula é um dos homens mais ricos do mundo.

Um amigo me acusou diversas vezes de "isentão", sempre seguido de emojis de risos e muita ironia virtual, marca registrada dos bolsominions (novamente, livre de ironias, assim eles mesmos se autodenominam). Eu confesso (livre de ironias mais uma vez) que adoro o tal adjetivo. Preferiria ser chamado de "isento" apenas, mas igual não posso reclamar. Poderia ter sido chamado de esquerdopata. Ser isento, para os mais radicais que me escutam, não é ser um indivíduo livre de ideais, ideias e ideologia. Nada disso. Para mim ser isento é algo bem simples: desejar que a regra seja cumprida de igual maneira para todos. Que Lula e Aécio estejam juntos, lado a lado em uma cama de casal em alguma Papuda da vida, depois de esgotadas suas oportunidades de chorar. E que de repente, se os velhos lobos não se importarem, que um colchãozinho camuflado possa ser posicionado aos pés de tal cama para o filho do atual presidente que é tão não dono dos imóveis usados para lavar dinheiro como Lula é não dono de seu sítio em Atibaia. Bebianno, caso sinta muita falta do seu desafeto, também poderia estar junto apesar de que, dizem as más línguas, é proibido comer laranja na prisão. Só se for de umbigo.

Eu divido as opiniões políticas de direitistas (ou direitopatas), esquerdistas (ou esquerdopatas) e isentões (ou isentos) em duas categorias seguindo a norma VAR: há regras e há interpretações, leia-se opiniões e, claro, todas devem ser respeitadas. Fulano, que manda todo mundo que discorda dele para Cuba ou Venezuela, pode afirmar que o liberalismo econômico é a solução de todos os problemas do planeta enquanto que Beltrano, que insiste que Cuba é o modelo a seguir (sem nunca ter ido e visto a realidade), jura de pés juntos que um Estado inchado e pai de todos é o que todos precisamos, aquela tão ansiada vitória final comunista planejada pela União Soviética. Aceito ambas opiniões. Acho que o primeiro cenário seria o menos ruim, mas, por isentão, não acho que é perfeito e fico em cima do muro como bom isentão. No entanto, saindo dos extremos, prefiro o capitalismo europeu com sua selvageria mais ou menos domada pelo estado.

Um amigo que admiro muito ironizava, há algumas semanas atrás, que a tal "resistência" anunciada por Jean Wyllys quando da vitória do capitão, tinha durado apenas 25 dias. E ele, claro, não foi o único. Nunca votaria em Jean Wyllys, no entanto considero qualquer ataque a essa reação dele, como absurda, fria e ignorante. Ele é um ser humano que foi ameaçado. Qualquer outra pessoa em sua situação teria todo o direito de fazer o mesmo sem acarretar críticas. Eu não nasci para ser mártir. Caso estivesse no lugar dele, faria exatamente a mesma coisa. Admiro os que sacrificam suas vidas por seus ideais, sejam esses quais forem, mas não faço parte desse grupo. Parece que Jean Wyllys também. Normal.

Esse é outro exemplo. Analisar as ideias de Jean Wyllys como político, bom, respeito todas, é como analisar se foi falta ou não usando o VAR, ou seja, outra vez, é aberto a interpretações; agora, condenar, burlar, ironizar um político ter que abandonar seu país por sofrer ameaças, isso é como impedimento, ou é ou não é, e nesse caso não estou aberto a interpretações, pois é algo lamentável e não somente pela acuação em si contra um cidadão senão por pôr, uma vez mais, a democracia numa corda bamba.

O irmão mais velho de Lula morreu e este, que pôde sair de sua cela para ir ao enterro de sua mãe durante a ditadura militar, não foi agraciado com esse direito. É regra. É lei. Um presidiário na condição de Lula tem o direito de sair de seu confinamento e ir ao enterro de um familiar direto. Não há "interpretação". Houve, sim, como não podia ser diferente, atuação macabra dos trolls de redes sociais que chegaram ao absurdo de comparar o ocorrido com outras duas mortes de meios-irmãos de Lula. O pai de Lula teve 20 filhos. Com a maioria este não tinha relação próxima o que era diferente com o recente defunto. Igualmente, mesmo que este tivesse 200 irmãos e jamais tivesse dado bola a esses, tem o direito de ir ao enterro de qualquer um. É regra. Não cabe à justiça julgar força de laços familiares.

Flávio Bolsonaro também deveria ter o direito de sair da cadeia para visitar um familiar morto. Caso algum dia seja julgado. E preso.

Alguém já me mandou para Cuba ou Venezuela? Podem me mandar à vontade, mas não vou. Para Cuba iria de férias; para Venezuela já fui, mas atualmente nem de férias. Por quê? Porque são uma merda.

Privatizar é bom ou ruim? Essa é uma discussão como se tal jogador merecia cartão vermelho ou não. Eu, isentão como sempre, fico no muro. Um estado dono de tudo onde empresas privadas são estatizadas por decreto como acontece na Venezuela, está fadado a fracassar. Mas também o neoliberalismo descarado sem controle também tende a fracassar. Outra vez, se tenho apenas essas duas opções, vou com a segunda. É menos pior. Agora voltemos para o VAR impedimento. Os desastres da Vale ocorreram com a Vale pública ou multinacional moderna privada? Não há discussão. Uma empresa privada tem mais sede de lucro e zero apego ao território onde está. Destrói, polui e mata em busca de um lucro maior. É normal, é assim em qualquer lugar. O PT teve culpa também? Claro que sim. Fernando Pimentel, o corrupto ex-prefeito de Belo Horizonte e ministro de Dilma ajudou bastante a Vale a aumentar sua capacidade exploratória e destrutiva. Tudo pelo capital. Tudo pelo desenvolvimento. Tudo pelo "moderno". Agora, as catástrofes aconteceram com a Vale privada, não com a Vale estatal. Podem usar o VAR.

Falando nisso, gostei da declaração recente de Bolsonaro: se a GM tiver que fechar fábricas, que fechem. Gostei. Mais ao sul da esquizofrênica Brasília, o governador gaúcho Eduardo Leite, O Moderno, foi acariciar as rosadas nádegas de pobres ricos e dizer que vai fazer o possível para ajudar as montadoras que tanto sofrem. Paulo Guedes, o presidente de fato do país, também deu uma declaração boa: isenções fiscais e ajudas do Estado a grandes empresas quebraram o Brasil. Chega de ajudar quem não precisa, vale o comentário contra a Lei Rounet e seus beneficiados ricos.

Meu último uso do VAR será em relação ao novo comportamento dos filósofos de direita de redes sociais que, depois do fenômeno Bolsonaro, colocaram as asinhas de fora e passaram a não mais esconder o que sempre esconderam: defendem a ditadura brasileira e agora dizem que não era ditadura. Outra vez: isso é como VAR para impedimento. Se não existem eleições, se o poder legislativo é aniquilado, se a mídia é censurada e pensamentos contrários são considerados ilegais e clandestinos, bom, é ditadura, a não ser que haja outra definição que, do baixo de minha mediocridade intelectual, desconheço. Corrupção, tortura, prisões sem julgamentos, prisioneiros políticos, exílios? Ditadura. Agora, se querem defender que ditadura é bom, tudo bem, é VAR para decidir se foi falta ou não, já que depende da forma de pensar de cada um, só não vale negar que era ditadura.

E aí? É texto de fascista, esquerdopata ou isentão? Achar que o Lula não é mais rico que o Jeff Bezos e que ele não derrubou o avião do Teori Zavascki é ser esquerdopata? Dizer que o Lula deveria ser preso e que não foi o Temer que derrubou o mesmo avião é ser fascistão? Ir à Cuba de férias é ser comunista de iphone?

Comentários em privado. Sejam, meus três leitores, criativos com suas alcunhas e emojis. Isentão eu gosto, então vou exigir um pouco mais de todos vocês.