sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O Poste

Na minha casa tem um poste no jardim, ou melhor, tinha. Era um lampião que lá estava desde que a casa foi construída pelo meu bisavô no século passado. Sempre gostei muito do tal poste, me passava uma sensação de passado. O poste tinha pouco mais de um metro, um lampião com uma lâmpada em cima e uma plaquinha com o número da casa e o nome do meu bisavô.

Quando cheguei de meus dois anos fora dessa cidade, duas notícias me chamaram muito a atenção: a morte de uma criança arrastada pelo asfalto presa ao cinto de segurança numa tentativa de roubo de veículo no Rio de Janeiro e a busca pela Polícia de uma corja que roubava tampas de bueiro em São Paulo. Uma notícia reflete a imensurável maldade da raça humana e a segunda explicita a falência do estado brasileiro.

Mês passado, cheguei em casa e a minha NET estava fora do ar. Liguei para a empresa e fui informado que os serviços seriam restabelecidos à meia-noite. Algum tempo depois recebi uma mensagem no meu celular da própria NET informando que devido ao vandalismo, cabos da NET foram roubados. Cabos do Trensurb também foram roubados esse ano, paralisando o serviço. E tampas de bueiro.

Pois o meu poste foi roubado.

Minha vó tem 74 anos e, ao estranhar que a luz não acendia lá fora, saiu no pátio para ver se a lâmpada tinha queimado. Eis que o poste não estava mais. Levaram o poste inteiro. O mesmo poste estava jogando na calçada e apenas levaram a plaquinha com o nome do meu bisavô que era de bronze.

Não dá mais.

Está na hora de parar com essa história de culpar o governo a todo instante e assumir que o povo brasileiro é ruim e mau caráter em sua essência. Além da inaptidão ao esporte, algo também negado e encoberto por explicações como falta de incentivos do GOVERNO, sempre ele, insistimos em nos ver como um povo que não merece o seu governo, sofrido, coitadinho. Pois não passamos de um povo vadio deitado eternamente em um berço que de esplêndido tem nada.

Fui ao Banco do Brasil do Moinhos de Vento depositar dinheiro. Quando fui preencher o envelope de depósito no caixa automático, notei que não haviam canetas para tal. Estava na ante-sala da agência, entrei e pedi uma caneta a um funcionário do banco. Ele me deu a caneta e me disse que já era a sexta caneta que ela botava lá e que desaparecia isso sem contar os 3 extintores de incendio.

Roubam-se canetas. Bic. Um povo assim não pode ser respeitado.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Kill Bill

Não tinha informação alguma a respeito do que se tratava Kill Bill. Sabia apenas que era filme de Tarantino e que sua principal protagonista era Uma Thurman.

Sendo assim, não sei porquê esperava uma trama bem complexa, mas me surpreendi com a simplicidade do primeiro filme. Uma mulher que teve seu noivo e amigos mortos na igreja no dia do seu casamento e que sobreviveu incrivelmente a um tiro na cabeça que a deixou em coma por um longo período, acordou e saiu em busca de vingança contra os responsáveis por tal barbaridade.

O que segue é uma sucessão de brigas, mortes bizarras e personagens que oscilam entre o enfadonho e o teatral, o circense. O grande mérito do filme é o dedo do diretor, a maneira com que Tarantino vê as cenas, os jogos de câmera, os efeitos sonoros, as tomadas que parecem muitas vezes videogueimes ou cartoons.

Não posso deixar de destacar a cena da luta de Uma Thurman com os intermináveis orientais onde vemos apenas as sombras dos gladiadores. Falando em cenas de luta, carro-chefe da produção, impossível não deslumbrar-se com tantos movimentos bizarros e violentos que formam cenas de lutas impecáveis desde a primeira em que Uma mata sua oponente em frente a filha de 4 anos desta.

O segundo filme explica melhor a história e é menos focado na violência pura e crua do primeiro. Diálogos, mortes e cenas fantásticas não faltam, com destaque para Uma pisando no olho de Daryl Hannah e a morte de Michael Madsen pela picada da Mamba Negra.

Além de explicar melhor a trama, temos o primeiro contato direto com o tão comentado Bill que se apresenta como uma figura normal e mortal e não um ser tão abominável como a primeira parte da trama dá a entender.

Kill Bill é uma comédia e uma obra de teatro ao mesmo tempo, muito bem manipulada por um diretor doente e o resultado é uma obra excelente.