terça-feira, 16 de agosto de 2016

A Importância das Olimpíadas

Muita gente, que há alguns anos comemorou a escolha do Brasil como país sede das olimpíadas, hoje critica os investimentos massivos que foram feitos para colocar em prática o evento. Ou eram bastante desinformados ao pensar que todos os quase trinta esportes seriam realizados no Maracanã ou na praia ou simplesmente gostaram da nova moda de protesto fashion.

Acho que o tema dos Jogos Olímpicos é um dos poucos que não divide a população  brasileira entre coxinhas e comunistas de iphone. Todos, pelo menos agora, parecem ser contra. Eu sempre fui contra. Fui contra a Copa do Mundo e Olimpíadas. Considero um dos tantos sangramentos de cofres públicos pornográficos que acontecem nesse país. Hoje li que o governo federal gasta meio milhão de reais por ano pagando contas de telefone de políticos, uma (mais uma) grande vergonha de nossas tetas gastas e secas estatais. Pois o último repasse "emergencial" do estado pro comitê organizador dos jogos foi de 270 milhões de reais, o equivalente a 540 anos de telefonemas de políticos, algo como ter pago todas as contas de políticos desde o descobrimento do Brasil.

Não vou nem entrar na polêmica de velho sonhador minha de que os esportes não deveriam ser tratados com tanto glamour. Por mim uma Copa do Mundo deveria ser nos estádios que já existem sem exigências mirabolantes de um bando de corruptos de gravata que jamais chutaram uma bola. Boa relva, estádios seguros, vestiários limpos com água quente e pronto, o resto é para mimar adolescentes tontos que, por terem melhor coordenação com uma bola no pé, se acham deuses. Mas não vou entrar nessa polêmica. Considerando todas as benesses que estes mimados necessitam e toda a parafernália que exigem os mafiosos da FIFA, quem deveria organizar estes grandes eventos de futebol ou Jogos Olímpicos deveriam ser países que já têm quase toda a infra-estrutura pronta. O que escapa desse "quase" deveria ser bancado pela iniciativa privada que é quem lucra com esses manjares. O Estado só deveria gastar dinheiro do contribuinte em transporte público ou obras que já deveriam ter sido feitas antes, ou seja, já havia a necessidade, mas faltava vontade política de colocá-las em prática. E mais: como bom defensor da democracia mesmo tendo nascido num país em que parte da população sai às ruas no melhor estilo comunista de iphone para pedir indiretas já! sou ainda a favor de um referendo para esse tipo de decisões. Se a maioria for contra, que a FIFA e o COI vão procurar outro quintal para fazer suas festinhas exclusivas.

Disse o óbvio. A minha segunda questão é debater aquele constante tema que aparece a cada quatro anos: o Brasil (e aqui poderia usar o exemplo de outros países sem sucesso massivo nos jogos) deveria investir mais no esporte, deveria apoiar mais seus atletas e oferecer melhores instalações para o esporte de "alto rendimento"?

Acho uma bobagem. Uma modinha de indignação momentânea manipulada pelos gritos esquizofrênicos de uma mídia que é, fora o próprio atleta, a única parte que se vê beneficiada por heróis efêmeros carentes de verdadeiros atos heroicos. São simplesmente pessoas que correm mais rápido, nadam com mais velocidade, saltam mais longe - ou mais alto - conseguem dar mais piruetas agarrados numas argolas, entre outras qualidades de tão pouca ou menos importância para a sociedade.

Ter grandes campeões olímpicos para quê? O que melhora na vida da sociedade uma medalha de ouro? Absolutamente nada se ignorarmos a velha prática do "circo" romano. Uma distração, nada além disso. Sou demasiado racional? Pode ser, mas eu diria que sou lógico e tenho uma visão de Estado em que seus atos devem causar algum benefício à maioria de sua população. Digo isso porque não gosto de esportes? Negativo. Amo futebol e penso o mesmo sobre uma Copa do Mundo, a diferença é que o futebol é profissional e não coloca inteiramente nas mãos do Estado a tarefa de bancá-lo. A Noruega, país de melhor IDH há anos tem nenhum ouro conseguido e jamais foi sede de Copa do Mundo ou Olimpíadas. Não acho que noruegueses perdem o sono por isso.

Quando o tema é esporte eu sou a favor da construção de centros esportivos de...BAIXO rendimento, ou seja, distração, entretenimento para crianças sem condições  de pagar por isso. No lugar de um estádio profissional e moderno de badminton, por exemplo, poderíamos fazer um centro esportivo com quadras de esportes que saibamos como jogar, piscinas e instrutores para guiarem tardes de diversão para crianças carentes. Obras sociais, a isso me refiro. Se daí sai um campeão olímpico como aconteceu com a judoca da Cidade de Deus, excelente, seria uma cereja no topo do bolo, mas não o objetivo final senão um agradável efeito colateral.

E os atletas olímpicos? Eu sei que muito não têm as melhores condições financeiras, mas estão, de qualquer forma, melhor que a maioria de nossa população. Para esses, infelizmente lhes proponho que procurem ajuda na iniciativa privada. O Estado não deveria ter algo que ver com isso. Usar o esporte como propaganda política é mais velho do que andar pra frente, mas, para mim, sempre deve ser condenado. É circo barato.

Uma mesa de ping pong profissional deve custar o equivalente a dez mesas Xalingo. Que o Estado compre as dez Xalingo e proporcione diversão para quem precisa; as profissionais devem ser pagas por quem lucra com tanto holofote.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Por que a França?

Depois dos atentados cinematográficos do World Trade Center, das embaixadas americanas na África e dos metrôs de Madri e Londres, para não citar outros exemplos nefastos, o mundo sempre ficou à espera de outro caso com pelo menos um modos operandi semelhante, algo grandioso, inesperado, chocante. O novo terrorismo já não é mais assim. Um amigo, grande entusiasta das teorias conspiratórias dizia: esses atentados são praticados pelos governos dos países vistos como atacados; seria muito mais fácil para os terroristas "de verdade" simplesmente subirem numa calçada e matarem uma dúzia de inocentes trabalhadores que esperavam seu ônibus chegar. Pois o novo terrorismo é isso. Menos mortes, menos preparo, pouco estardalhaço, menos espetáculo. Mais frequência. São atiradores disparando contra jornalistas, um tunisiano atropelando uma multidão com um caminhão, um ataque a facadas em um trem ou ônibus, esta parece ser a nova tônica do terrorismo moderno mundial.

Um dos vazios motivos dos defensores da permanência do Reino Unido na União Europeia era a tal "segurança". Bélgica, Alemanha e França, três países entusiastas do bloco econômico, seguem sendo os mais atacados pelos novos caudilhos da jihad. A França mais do que todos. Por quê?

A primeira resposta mais dotada de racionalidade e baseada no simplismo da crueldade humana vingativa é dizer que a França é a mais visada, pois ataca diariamente, junto com a Rússia, cidades dominadas pelo Estado Islâmico na Síria e Iraque, sem contar que também bombardeou militantes de diferentes organizações islâmicas em suas ex-colônias na África. É a lógica da vingança simples e seca. A França mata homens, mulheres e crianças sírias e iraquianas; o EI toma as dores e, já que não pode invadir e metralhar o inimigo como este o faz, usa o terrorismo como sua resposta bélica o que, pelo menos para mim, é entendível. Mas por que não temos ataques na Rússia? Por que o alvo sempre é a França? Porque as repletas de islâmicos Dinamarca e Suécia não são atacadas?  Será simplesmente uma clássica e banal vingança ou existem mais motivos por trás desse ódio imenso contra a nação que matou seus reis?

A Revolução Francesa impôs à França uma nova era. Degolaram-se e enforcaram-se membros da aristocracia parasita e pornográfica do país e inseriram-se os valores do iluminismo. Era a "luz" apagando a época das trevas francesas. Essa "luz" de certa forma afastou ou enxugou o poder macabro da sempre odiosa Igreja Católica. Estabeleceu-se uma república que valorizava o saber e o humanismo e que punha a religião numa posição paralela, sem holofotes. Nascia uma república laica.

Os fanáticos do EI defendem a sharia, ou seja, um sistema legal religioso que deveria ditar as regras para manter a sua sociedade em ordem. Ou seja, o contrário do laicismo francês. A sharia é a antinomia de liberdade, igualdade e fraternidade. Soma-se a isso o fato de que, recentemente, o governo francês desafiou o medo de represálias e proibiu a burca em prédios públicos o que é uma afronta radical contra o seu "inimigo interno".

A França, dentro de sua população de cerca de 66 milhões de pessoas tem quase 10% de o que são chamados "maghrebis". Maghrebis são as pessoas naturais da Argélia, Tunísia e Marrocos. Em Paris, por exemplo, essa comunidade representa mais de 18% da população total. Esses imigrantes têm uma história interessante que nos ajuda a entender bastante alguns dos motivos do fracasso desse sistema massivo de imigração em terras francesas. Após o fim do domínio francês e da independência desses países, foi permitida a chegada massiva dessas pessoas para morar na França por um determinado período. Era um singelo pedido de desculpas. Vencido esse prazo, estes deveriam ser mandados de volta aos seus países de origens, o que não aconteceu. A maioria foi e voltou trazendo familiares, a maioria esposas e mulheres da família que não sabiam sequer falar o idioma. Aí começou o grande boom de crescimento dos maghrebis que sempre foram vistos como cidadãos de segunda linha, olhados por cima do ombro pelos franceses o que ajudou a gerar um sentimento de rivalidade entre os dois grandes grupos que formavam a população total. Preconceito, menos oportunidades, divisão geográfica, dificuldade de adaptação à sociedade, choque cultural, principalmente religioso, estes foram os principais fatores quando analisamos a criação desse exército interno rebelde, esse inimigo que dorme ao lado dos liberais franceses brancos.

Os terroristas atuais do EI podem ser divididos em dois grandes grupos. Um é conformado por aqueles que nunca saíram de seus países de origem na África e na Ásia. A versão moderna dos terroristas são os "europeus". Estes inimigos internos são indivíduos que nasceram na Europa, mas que jamais se sentiram integrados e aceitos e que, muitas vezes se deixaram levar pela vida "pecadora" do ocidente. Muitos dos assassinos que atuaram em território francês e belga são pessoas que fumam, bebem e têm hábitos que seriam condenados até pelos muçulmanos mais moderados. Eles vivem com esse sentimento de guerra contraditória interna típico de pessoas que jamais conseguiram a tranquilidade consigo mesmo dentro de uma sociedade, nesse caso de um país. Os mais velhos de suas famílias jamais aprovaram seus atos "ocidentais" e os locais, que compartilham seus vícios, pecados e gostos, os condenam e os olham do alto de seu sentimento de superioridade contra o invasor. "A multiculturalidade (na Alemanha) fracassou". Essa frase de Angela Merkel, a principal defensora da imigração massiva, define bem o momento atual e poderia também ser usada em terras francesas.

O terrorista do caminhão que matou mais de 80 pessoas na comemoração justamente da Revolução Francesa em Nice tinha um caso amoroso com outro homem, este francês, de 73 anos. Conclui-se, então, que era homossexual. Até o mais desavisado sabe como o homossexualismo é visto dentro do mundo islâmico. Além disso, o tunisiano fumava e bebia e teve registro de uso de drogas no passado. Para completar, não era um religioso muito ativo, características parecidas às dos adolescentes que degolaram um padre católico no interior da Normandia. Se eles não eram fanáticos, por que fizeram o que fizeram?

Vivemos em uma sociedade em que ser famoso, não importa como e por que, é visto como algo tão importante como existir. As redes sociais provam isso. Todos querem aparecer, querer que seus atos banais e patéticos sejam vistos pelos demais. Todos querem ser um pouco celebridades mesmo sendo pouco célebres. O que aparece é bom; é bom o que aparece. Aqui faço uma analogia com os assassinos de escolas americanos. Quase todos eram excluídos da vida social acadêmica, sofriam bullying e, por isso, guardavam dentro de si um rancor enorme. Em Columbine, por exemplo, os dois assassinos procuraram, em primeiro lugar, os "populares" atletas do colégio. Também a grande maioria desses lobos solitários tem como objetivo em seus massacres o simples fato de serem vistos, reconhecidos, respeitados, mesmo quando já estejam mortos. É aparecer. Os "europeus" recrutados pelo EI são jovens de vidas vazias, socialmente humilhados, com poucas oportunidades, sofrem de mania de perseguição, não têm qualquer identificação com a sociedade em que vivem, estabelecem inter-nações onde vivem, consideram seus "carcereiros" um bando de opressores e não têm identidade. Para completar, vivem sob a ameaça da recriminação familiar por seus atos ocidentalizados. São volúveis e fáceis de serem manipulados. Querem, mais do que tudo, ser parte de algo, já que não têm sociedade ou nação. Desfrutam das benesses e da liberté do ocidente, mas no fundo lutam contra esse gosto "macabro" e querem se vingar pela tentação da "boa-vida" oferecida pelo ocidente pecador. São, quando convidados a fazer parte de algo "espetacular", facilmente dissuadidos. A violência também seduz. Ser temido e respeitado. Vingar-se do tentador/opressor e poder olhar para o seu "mundo" que ficou para atrás sem ter que abaixar a cabeça.

Há esperança de tempos melhores? É essa a terceira guerra mundial e apenas não a alcunhamos da forma correta? As medidas de simplesmente abrir as fronteiras é a solução ideal para a Europa outrora invasora hoje mãe com tetas fartas e numerosas? A população britânica já respondeu essa pergunta e aposto que outros países da fracassada e oportunista União Europeia também o farão. O único argumento "econômico" dos defensores do bloco não é mais do que um apelo do capital ganancioso e a vida humana em sociedade é muito mais complexa do que isso. O mito da "modernidade", ou seja, considerar "moderno" sinônimo de "melhor" de vez em quando perde. Insisto que a única saída é cada povo no seu país com seus hábitos e tradições sem interferências em territórios estrangeiros. Uma saída óbvia para um mundo banal e doente.