Dias antes de um dos clássicos de
maior rivalidade do futebol mundial, Lucas Pratto, centroavante do River disse
que seu time tem mais carácter que o seu rival, o Boca Juniors. Eu vi a
entrevista e o jogador fez o seu comentário da forma mais educada e inofensiva
possível. Quem conhece um pouco da loucura que rege o futebol argentino pode
imaginar o "quilombo" que se armou. Meteram-se na discussão outros
jogadores, ambos técnicos e os programas esportivos gastaram horas a fio
falando da tal provocação.
Teve Pratto a intenção de botar fogo no já fogoso por natureza clássico
porteño? Não, em absoluto. Assim sendo, nada gerou tal declaração? Pelo
contrário, gerou um incêndio de proporções estratosféricas. Era evitável o
comentário tendo em vista a experiência de um jogador com passagens por outros
grandes clubes como Vélez Sarsfield, São Paulo e o próprio Boca Juniors? Sim,
era.
Onde entra o Bolsonaro no meu texto sobre um jogo de futebol?
O boçal vice do boçal Bolsonaro, general Mourão que acabou de afirmar
que não descarta um golpe autofágico contra si mesmo em caso de
"anarquia" disse, há alguns meses atrás, levantando polêmica, que o
Brasil herdou a indolência indígena, a malandragem do negro e a cultura de
privilégios dos ibéricos. Mourão foi bombardeado pela esquerda mais cega
brasileira e por parte dos moderados. A esquerda, com a faca entre os dentes
saiu disparada a manifestar sua perplexidade contra a ofensa aos negros e
indígenas, ainda mais considerando que Mourão, como ele mesmo disse, é descendente
próximo de nossos primeiros habitantes.
Aí eu me pergunto: por que ninguém saiu para defender os também
ofendidos ibéricos? Será porque esses são brancos e representam o outro lado da
disputa? Hipocrisia? Mouraço poderia ter ficado calado.
Falando em hipocrisia, na semana passada, durante a final do US Open
entre Serena Williams e Naomi Osaka, final esta vencida pela japonesa negra
filha de um haitiano, a derrotada cometeu duas falhas consideradas graves.
Muitos (hipócritas?) usaram o futebol, o mesmo esporte que usei na minha
primeira analogia e que tantas vezes comento como um exemplo da barbaridade
cometida supostamente contra Williams. No futebol os jogadores xingam o árbitro
e rasgam camisetas e nada acontece. Pois é, mas o tênis é outro esporte. A
torcida é calada pelo juiz. Os jogadores têm servos que os secam e os apalpam.
É outro esporte. É outra realidade. Pois nesse esporte, qualquer ato
considerado de desrespeito, é punido. A regra vale para todos. E todas. Kyrgios
deixa boa parte de suas premiações na conta da Associação Internacional de
Tênis, pois tem o hobby de quebrar raquetes. Durante os jogos. Pois eis que
Serena quebrou uma raquete. E, no mesmo jogo, chamou o repartidor de justiça de
"ladrão". Este a puniu com a perda de pontos e, posteriormente, a federação
puniu a americana com uma multa de módicos 17 mil dólares. Digo
"módicos" considerando que o prêmio para a perdedora de dita final
foi de 1,8 milhão da mesma moeda.
A irmã de Venus chorou em quadra. Em seguida disse ter sofrido um ato de
racismo e sexismo. Disse ela que, se fosse um homem, este não seria punido. Um
jornal australiano publicou uma charge cômica de Serena representada
fidedignamente por uma caricatura dela mesma, ou seja, mulher e negra,
destruindo uma raquete. O jornal foi bombardeado por críticas de uma esquerda
enfadonha. No mesmo jornal havia charges de Trump. Homem e branco representado
como um homem e branco.
A direita raivosa brasileira não perdoa o tríplex do Lula. A mesma
direita acredita piamente que a capa da Forbes que dizia ser Lula um dos homens
mais ricos do mundo é verdadeira. Não perdem a chance de sorrir sorrateiramente
a cada nova negação de liberdade da pessoa Lula ou do candidato Lula. Também
fazem vistas grossas às declarações da ONU de que Lula deveria estar solto até
a finalização de seus recursos e, como consequência, poderia ser candidato. Não.
Lula deve apodrecer na cadeia, pois é ladrão. De esquerda. Ou pelo menos
autointitulado de esquerda. A mesma indignação não aparece quando o criminoso é
de direita. Por quê? Não estamos todos juntos na luta contra a corrupção? A
mesma direita afirma sem titubear que o PT mandou esfaquear Bolsonaro. No
entanto, defende a sua grande amante, a ditadura dos ustras da vida que também
esfaqueavam prisioneiros. E, pelo lado de Bolsonaro, já dizem que, em caso de
derrota, esta será causada por fraudes nas urnas eletrônicas. Será essa “fraude”
considerada “anarquia” por Mourão?
Não sou contra Bolsonaro por ele ser racista e machista, pouco este consegueria fazer contra essas minorias. Sou contra
Bolsonaro por este ser o mais vazio de todos os candidatos. Bolsonaro existe
por mexer com o imaginário de boa parte da população que jamais aceitou a
mudança de costumes de nossa sociedade. Já não se pode mais bater em mulher ou
chamar de vagabunda, humilhar negros ou índios, gozar dos afeminados. Isso é “mimimi”
pós-moderno. Agora não se pode mais. Há leis que proíbem. Esse público não se
interessa pelo primordial que um candidato ao cargo mais importante do país
deve apresentar que são projetos econômicos, ideias de como melhorar a
sociedade, a vida de todos. Isso pouco importa até porque, acompanhando as declarações
públicas do mito, nota-se que ele mais parece um adolescente mimado querendo
chamar a atenção e ganhar mais presentes. Bolsonaro não se preparou e sabe que isso
pouco importa. Não tem um plano, não tem ideias. As que tem, são todas intromissões
nas vidas pessoais de cidadãos, mas nada relativo ao funcionamento da nação. É
um Tiririca com grife. Sua cara ao ser perguntado pelos juros definiu bem sua
banalidade. Não tinha a menor ideia do que dizer. Ciro Gomes defende a retirada
dos nomes sujos do SPC enquanto que a candidata do PSTU diz que vai estatizar
as grandes empresas do país. Ambas ideias absurdas, eleitoreiras ou devaneios
de uma esquerda parada no tempo como os eleitores de Bolsonaro, mas pelo menos
eles têm ideias. Bolsonaro não tem. Quer ser presidente via eleições
democráticas, mas sente saudades da não existência dessa mesma democracia. É
contra o aborto, é contra os direitos de homossexuais, legalização das drogas
(mas sim das armas) e isso o torna um "mito". O mito das obviedades. Aposta
num demônio que habita o interior de muitos daqueles que jamais aceitaram as mudanças
de comportamentos que vêm acontecendo com o passar dos anos e que abominam o
comunismo (programas sociais que estimulam a vagabundagem). E, quando abre uma exceção
e aborda algo mais relevante aos rumos da nação, são apenas ideias retrógradas,
como a tal nova constituição de Mourão elaborada por “ilustres”, algo que nem a
famigerada Venezuela fez.
Mesmo sabendo que isso "é o de menos" e que não deve
interessar aos seus seguidores, recomendo que estes revisem os votos de
Bolsonaro ao longo de seus anos de vida pública em temas realmente relevantes,
temas econômicos. Os desavisados vão se surpreender, mas o mito votou quase
sempre em sintonia com o...PT, o partido de Lula, o partido do maior criminoso
da histórias da Via Láctea que, entre outros crimes, mandou o pedreiro matar o
mito e tirá-lo da vida e entrá-lo na história.
Definição de "anarquia" segundo o Google: "ausência total
de estrutura governamental em um estado".
Será esse o "golpe" do triunvirato mito, Mourão e Alexandre
Frota? Ganhar as eleições, declarar que não têm qualquer ideia do que fazer a
partir do dia primeiro de janeiro e cumprir a promessa do índio anti-índios,
negros e ibéricos? Faço sinal de armas com as duas mãos e deixo meus três
leitores a pensar com a definição de "mito": seres sobrenaturais e
extraordinários que realizam atos prodigiosos, tais como deuses, heróis,
monstros ou personagens fantásticos.
Uma pessoa que sempre viveu como político pulando de partido em partido
e tem como sua maior conquista a justificação do não estupro de uma colega é um
mito? Eu tenho certeza que sim.