A Copa do Mundo da Rússia teve como sua principal estrela o uso do VAR pela primeira vez na mais importante competição esportiva do mundo. Gerou eternas discussões entre os conservadores resistentes à tecnologia e os modernos de plantão. Eu, apesar de muitas vezes estar no time da resistência a modernismos que quase sempre são fatos passados requentados, dessa vez estou no lado da modernidade. Torna o jogo mais claro; há menos espaço para a corrupção.
O VAR é perfeito? Obviamente que
não, quase nada o é. Eu considero o VAR perfeito somente em um sentido que é
quando define a existência de um impedimento ou não. Traça-se uma linha digital
e depois a única discussão que pode surgir é sobre impedimento passivo, mas
acontece em bem menos casos. O uso do VAR para definir se foi pênalti ou não ou
se a dita falta merecia uma punição mais severa, bom, aí é bem diferente. As
câmeras apenas dão uma segunda ou terceira chance para o árbitro ver a jogada e
decidir segundo seu ponto de vista. Em resumo, impedimento não se discute
(exceto os casos passivos já mencionados), faltas sim.
E eu diria que o mundo em sociedade
deveria ser assim, mas, cada vez mais, está longe de assim ser, especialmente
no agora dividido Brasil, o país dos desastres diários.
Qualquer sociedade que tenha a
mínima intenção de evoluir, deveria ter uma constituição que é cumprida à
risca, sem importar que partes estão envolvidas em qualquer caso. A lei deveria
ser clara, assim como diz o medíocre comentarista esportivo global. E as leis
são, sim, claras, assim como é a regra do impedimento. No entanto, a justiça
brasileira tem a sua própria hermenêutica. Sempre depende do julgado. Os
recentes "julgamentos" públicos que tivemos como o do impeachment de
Dilma e o da prisão de Lula, são exemplos dessa interpretação excessiva da lei.
Pode-se ver que o modus operandi de
cada um não depende do que está escrito e que deveria ser respeitado, mas sim
depende de sua interpretação sempre com o viés ideológico intrínseco.
O Lula deveria estar solto? Para
mim sim. Sou um petista acampado na frente da delegacia em Curitiba? Não.
Apenas acho que a constituição deveria ser cumprida e este deveria ser
enclausurado após esgotadas todas as suas chances de apelação. Concordo com
essa lei? Não vem ao caso. Sou uma das pessoas menos importantes já nascidas,
mas acho que o que está escrito deveria ser cumprido, pois temo que, a longo
prazo, essa abertura a pontos de vista não isentos pode gerar o caos e a
anarquia. Antes que os trolls de Bolsonaro comecem a me atacar, sim, eu acho
que o Lula deveria ser, não estar nesse momento, preso, pois, ao que tudo
indica, cometeu crimes passíveis desse tipo de punição segundo a constituição.
No entanto, vale salientar, não é necessário falsificar capa da Forbes com
manchetes que Lula é um dos homens mais ricos do mundo.
Um amigo me acusou diversas vezes
de "isentão", sempre seguido de emojis de risos e muita ironia
virtual, marca registrada dos bolsominions (novamente, livre de ironias, assim
eles mesmos se autodenominam). Eu confesso (livre de ironias mais uma vez) que
adoro o tal adjetivo. Preferiria ser chamado de "isento" apenas, mas
igual não posso reclamar. Poderia ter sido chamado de esquerdopata. Ser isento,
para os mais radicais que me escutam, não é ser um indivíduo livre de ideais,
ideias e ideologia. Nada disso. Para mim ser isento é algo bem simples: desejar
que a regra seja cumprida de igual maneira para todos. Que Lula e Aécio estejam
juntos, lado a lado em uma cama de casal em alguma Papuda da vida, depois de
esgotadas suas oportunidades de chorar. E que de repente, se os velhos lobos
não se importarem, que um colchãozinho camuflado possa ser posicionado aos pés
de tal cama para o filho do atual presidente que é tão não dono dos imóveis
usados para lavar dinheiro como Lula é não dono de seu sítio em Atibaia.
Bebianno, caso sinta muita falta do seu desafeto, também poderia estar junto
apesar de que, dizem as más línguas, é proibido comer laranja na prisão. Só se for de umbigo.
Eu divido as opiniões políticas de
direitistas (ou direitopatas), esquerdistas (ou esquerdopatas) e isentões (ou
isentos) em duas categorias seguindo a norma VAR: há regras e há
interpretações, leia-se opiniões e, claro, todas devem ser respeitadas. Fulano,
que manda todo mundo que discorda dele para Cuba ou Venezuela, pode afirmar que
o liberalismo econômico é a solução de todos os problemas do planeta enquanto
que Beltrano, que insiste que Cuba é o modelo a seguir (sem nunca ter ido e
visto a realidade), jura de pés juntos que um Estado inchado e pai de todos é o
que todos precisamos, aquela tão ansiada vitória final comunista planejada pela
União Soviética. Aceito ambas opiniões. Acho que o primeiro cenário seria o
menos ruim, mas, por isentão, não acho que é perfeito e fico em cima do muro
como bom isentão. No entanto, saindo dos extremos, prefiro o capitalismo
europeu com sua selvageria mais ou menos domada pelo estado.
Um amigo que admiro muito
ironizava, há algumas semanas atrás, que a tal "resistência"
anunciada por Jean Wyllys quando da vitória do capitão, tinha durado apenas 25
dias. E ele, claro, não foi o único. Nunca votaria em Jean Wyllys, no entanto
considero qualquer ataque a essa reação dele, como absurda, fria e ignorante.
Ele é um ser humano que foi ameaçado. Qualquer outra pessoa em sua situação
teria todo o direito de fazer o mesmo sem acarretar críticas. Eu não nasci para
ser mártir. Caso estivesse no lugar dele, faria exatamente a mesma coisa.
Admiro os que sacrificam suas vidas por seus ideais, sejam esses quais forem,
mas não faço parte desse grupo.
Parece que Jean Wyllys também. Normal.
Esse é outro exemplo. Analisar as
ideias de Jean Wyllys como político, bom, respeito todas, é como analisar se
foi falta ou não usando o VAR, ou seja, outra vez, é aberto a interpretações;
agora, condenar, burlar, ironizar um político ter que abandonar seu país por
sofrer ameaças, isso é como impedimento, ou é ou não é, e nesse caso não estou
aberto a interpretações, pois é algo lamentável e não somente pela acuação
em si contra um cidadão senão por pôr, uma vez mais, a democracia numa corda
bamba.
O irmão mais velho de Lula morreu e
este, que pôde sair de sua cela para ir ao enterro de sua mãe durante a
ditadura militar, não foi agraciado com esse direito. É regra. É lei. Um
presidiário na condição de Lula tem o direito de sair de seu confinamento e ir
ao enterro de um familiar direto. Não há "interpretação". Houve, sim,
como não podia ser diferente, atuação macabra dos trolls de redes sociais que
chegaram ao absurdo de comparar o ocorrido com outras duas mortes de meios-irmãos
de Lula. O pai de Lula teve 20 filhos. Com a maioria este não tinha relação
próxima o que era diferente com o recente defunto. Igualmente, mesmo que este
tivesse 200 irmãos e jamais tivesse dado bola a esses, tem o direito de ir ao
enterro de qualquer um. É regra.
Não cabe à justiça julgar força de laços familiares.
Flávio Bolsonaro também deveria ter
o direito de sair da cadeia para visitar um familiar morto.
Caso algum dia seja julgado. E preso.
Alguém já me mandou para Cuba ou
Venezuela? Podem me mandar à vontade, mas não vou. Para Cuba iria de férias;
para Venezuela já fui, mas atualmente nem de férias. Por quê? Porque são uma
merda.
Privatizar é bom ou ruim? Essa é
uma discussão como se tal jogador merecia cartão vermelho ou não. Eu, isentão
como sempre, fico no muro. Um estado dono de tudo onde empresas privadas são
estatizadas por decreto como acontece na Venezuela, está fadado a fracassar.
Mas também o neoliberalismo descarado sem controle também tende a fracassar.
Outra vez, se tenho apenas essas duas opções, vou com a segunda. É menos pior.
Agora voltemos para o VAR impedimento. Os desastres da Vale ocorreram com a
Vale pública ou multinacional moderna privada? Não há discussão. Uma empresa
privada tem mais sede de lucro e zero apego ao território onde está. Destrói,
polui e mata em busca de um lucro maior. É normal, é assim em qualquer lugar. O
PT teve culpa também? Claro que sim. Fernando Pimentel, o corrupto ex-prefeito
de Belo Horizonte e ministro de Dilma ajudou bastante a Vale a aumentar sua
capacidade exploratória e destrutiva. Tudo pelo capital. Tudo pelo
desenvolvimento. Tudo pelo "moderno". Agora, as catástrofes
aconteceram com a Vale privada, não com a Vale estatal. Podem usar o VAR.
Falando nisso, gostei da declaração
recente de Bolsonaro: se a GM tiver que fechar fábricas, que fechem. Gostei.
Mais ao sul da esquizofrênica Brasília, o governador gaúcho Eduardo Leite, O
Moderno, foi acariciar as rosadas nádegas de pobres ricos e dizer que vai fazer
o possível para ajudar as montadoras que tanto sofrem. Paulo Guedes, o
presidente de fato do país, também deu uma declaração boa: isenções fiscais e
ajudas do Estado a grandes empresas quebraram o Brasil.
Chega de ajudar quem não precisa, vale o comentário contra a Lei Rounet e seus
beneficiados ricos.
Meu último uso do VAR será em
relação ao novo comportamento dos filósofos de direita de redes sociais que,
depois do fenômeno Bolsonaro, colocaram as asinhas de fora e passaram a não
mais esconder o que sempre esconderam: defendem a ditadura brasileira e agora
dizem que não era ditadura. Outra vez: isso é como VAR para impedimento. Se não
existem eleições, se o poder legislativo é aniquilado, se a mídia é censurada e
pensamentos contrários são considerados ilegais e clandestinos, bom, é
ditadura, a não ser que haja outra definição que, do baixo de minha
mediocridade intelectual, desconheço. Corrupção, tortura, prisões sem
julgamentos, prisioneiros políticos, exílios? Ditadura. Agora, se querem
defender que ditadura é bom, tudo bem, é VAR para decidir se foi falta ou não,
já que depende da forma de pensar de cada um, só não vale negar que era
ditadura.
E aí? É texto de fascista,
esquerdopata ou isentão? Achar que o Lula não é mais rico que o Jeff Bezos e
que ele não derrubou o avião do Teori Zavascki é ser esquerdopata? Dizer que o
Lula deveria ser preso e que não foi o Temer que derrubou o mesmo avião é ser
fascistão? Ir à Cuba de férias é ser comunista de iphone?
Comentários em privado. Sejam, meus
três leitores, criativos com suas alcunhas e emojis. Isentão eu gosto, então
vou exigir um pouco mais de todos vocês.