“A história é cíclica”. Esta é uma dessas frases que não sabemos a autoria, mas que de certa forma gera a concordância da grande maioria das pessoas. Na Idade Média, por exemplo, em uma era de muito mais sacrifício que de busca pelo prazer, era comum o orgulho de morrer por algo, por alguma coisa. As Cruzadas levavam legiões de combatentes a terras exóticas para lutar e, talvez, morrer, com o objetivo de espraiar o cristianismo em regiões pagãs.
Na Idade Antiga os grandes navegadores
colocavam-se em projetos expedicionários que enfrentavam as águas mais
desconhecidas e/ou agressivas de um planeta que nem se conhecia ainda tão bem
em nome da glória de desbravar novos territórios.
De uns anos para cá, morrer pela pátria ou por
uma causa, seja ela qual for, tornou-se fora de moda, visto como algo forçado ou até mesmo brega. No entanto, o renascimento do
nacionalismo em alguns rincões do planeta trouxe de volta esse chavão
desgastado de sacrificar-se por algo abstrato como por exemplo a pátria. Junto
a esse exagero de devoção por nações, após décadas de uma desenfreada busca
esquizofrênica pelo prazer, outros movimentos surgiram, movimentos estes de
pouca ou nenhuma representatividade em períodos anteriores da história humana.
Há aqueles que dizem darem suas vidas pela causa ambiental; há outros
que se sacrificariam pela defesa de minorias e, entre todos estes exemplos, há
a defesa pelo direito da mulher ao aborto. “Nada na minha vida é mais
importante que essa causa”, disse uma manifestante pró-aborto em manifestação
em Washington após o fim da lei Roe vs Wade. Esta declaração inflamada
por parte de uma mulher, mãe de uma menina de 16 anos e que viajou 4 mil
quilômetros para estar presente em tal evento me fez parar um pouco e dedicar a
escrever algo a respeito.
A falta de tempo me impede de escrever. Ultimamente, somente quando o
nível de barbárie passa do limite sou obrigado a reservar uma madrugada para
dar uma opinião. E esse é um caso. Estamos falando de uma pessoa, ou melhor
dito, milhares de pessoas que consideram que impedir bebês de nascerem é a
causa que mais merece seu tempo, energia e dedicação. Há aqueles que dedicam
suas vidas à causa animal. Juram que gatos, cachorros e peixes betas são seus
filhos e consideram estes mais importantes que seres humanos, incluindo
crianças. São, obviamente, públicos que, de certa forma se conectam.
Raivosamente esbravejam sua fúria contra a castração de animais de rua ou até
mesmo o sacrifício desses. São seres vivos e merecem viver até porque não podem
escolher viver ou morrer, não se comunicam.
Agora, quando o tema são bebês humanos que tampouco podem escolher viver
ou morrer e tampouco podem se comunicar, aqui esse mesmo público (em sua
maioria, não todos obviamente) junto a outros tantos defensores da tal autonomia
das mulheres em relação aos seus próprios corpos, não cansa de se manifestar a
favor do sacrifício de inocentes bebês que jamais poderão nascer.
Ter o direito ao aborto somente em caso de
estupro ou de risco de vida da mãe não é suficiente. As mulheres, donas de seus
corpos, deveriam poder abortar quando lhes pareça pertinente. Isso seria, na
visão de tais militantes, o mais responsável e adequado. As justificativas para
a defesa do aborto, além da vazia propriedade de seu próprio corpo, oscilam
entre poder escolher, não ter o desejo de ser mãe, falta de tempo, falta de
recursos e por aí vai. Ora, do alto de minha ignorância/ingenuidade me pergunto
e pergunto a todas essas raivosas defensoras do aborto: não seria mais fácil
simplesmente não engravidar? Foram todas estas mulheres que lutam pelo direito
a abortar vítimas de estupros? Há alguém, com mais de 14 anos que ainda não
saiba quais são os métodos para evitar uma gravidez não desejada?
A sociedade funciona através de direitos e
deveres. Nenhuma mulher é obrigada a procriar e nenhuma é proibida de ter uma
vida sexual ativa. No entanto, também existem deveres. Há o direito ao sexo
livre, mas também existe o dever de dar a oportunidade de uma vida viver.
Seguindo esse ciclo, também existe o direito de não ser mãe de seu próprio
filho. Há alternativas. Nos Estados Unidos, por exemplo, existem cerca de 36
famílias que querem adotar por cada criança dada em adoção. A flexibilização de
nossos deveres como cidadãos é tamanha que apenas seria o dever de uma mulher irresponsável
carregar um bebê por nove meses em seu ventre, nada mais. Depois, se não
quiser, o estado toma conta da nova vida e, consequentemente, faz com que um
casal frustrado por não poder ter filhos, seja feliz.
Sempre me chamou a atenção a intensidade dessas
manifestações pró-aborto. Nunca uma ideia parece ser suficiente. Dá a impressão
de que, caso o aborto fosse permitido até o nono mês de gestação, essas
iludidas, enganadas ou doentes que tanta energia dedicam a interrupções de
gestações seguiriam amargas e pedindo mais, talvez, por que não, o aborto até o
sexto ano de vida de uma criança. Ou até os 18. O bebê nasce, começa-se a criar
e, depois de tantas dificuldades com a lida diária de ser mãe decide-se que
não, não era o tipo de vida que queriam e pedem autorização para eliminar a
pobre criatura da face da Terra.
Os slogans que aparecem são sempre bastante
contraditórios. O movimento feminista argentino “Pañuelos Verdes” conta
com o slogan “Mi cuerpo, mi decisión”. Não poderia estar mais de acordo.
Não querem ter filhos, usem métodos anticoncepcionais. São direitos garantidos
a todas as mulheres argentinas há décadas. O que torna minha análise simplista
de uma problemática bastante simples de solucionar (repito, há inúmeros métodos
anticoncepcionais distribuídos gratuitamente em quase todos os países) em algo
não tão óbvio, é a sensação pós-moderna de apenas buscar o prazer e desfrutar
de seus direitos ignorando a existência de deveres. Todas querem gozar de
conquistas femininas como a liberdade sexual. Excelente. No entanto, há o
“dever” de se cuidar. Sendo assim, refaço a causa desses movimentos. Não se
luta pelo aborto. Luta-se pelo direito de gozar de uma vida sexual livre sem o
uso de métodos concepcionais que tornariam a prática sexual quase 100% segura e
que, se alguma gravidez indesejada ocorrer também deveria existir o direito de
abortar. Deveres? Nenhum. Em bom português é uma causa de uma geração frágil e
mimada.
O autor do texto é um homem, não pode entender
realmente o que passa nas cabeças das mulheres. Estas dizem que quem realmente
criam os filhos são as mulheres, pois muitos homens simplesmente são pais
ausentes, fogem ou, em casos extremos, nem sequer reconhecem a paternidade.
Tudo verdade. Não há argumento melhor contra a psicose coletiva reinante de que
somos todos iguais, que os gêneros são uma imposição social. Isso pode e
realmente acontece. O problema dessa ocorrência é que nada mais pode ser feito
para evitar que aconteça. O estado já criou leis que visam proteger as mulheres
vítimas de pais descarados. No Brasil, por exemplo, um dos poucos crimes inafiançáveis
é o não pagamento de pensão alimentar. Um assassino pode ter sua pele salva
através de uma fiança enquanto um pai desnaturado não deveria ter saída. O
problema é que toda lei tem suas limitações. É proibido matar na grande maioria
dos casos. A existência dessa lei impede a existência de assassinatos?
Obviamente não. Mesma coisa com a proteção às mães. Há leis que as resguardam,
mas sempre existirá a chance de que terminem mães solteiras. Há nada mais que
se possa fazer. Apesar de que vivemos em uma era em que se relativiza fatos
biológicos como a existência de apenas dois gêneros, ainda acho que a grande
maioria das pessoas pensa que homens não engravidam e, sendo assim, resta exigir
que o estado faça a sua parte e puna aqueles pais que, como muitas feministas,
pensem somente nos seus direitos e não nos seus deveres ainda mais em uma situação
em que o dever nasce de um direito.
Nunca vi homens protestando por ser o único gênero que sofre de câncer de próstata e esperaria, em uma sociedade minimamente normal que eu não viva para ver mulheres protestando por ser o único gênero que engravida. Aceitemos a natureza ou, para aqueles que protestar é um hobbie, protestem contra Deus, contra o Big Bang ou contra a evolução das espéci