O novo goleiro titular do Manchester United, Onana, falhou em uma saída de jogo no confronto por fase de grupos contra o Bayern. Como de costume, o Bayern não perdoou o erro do goleiro camaronês e fez o gol que abriu caminho para a vitória alemã. Onana assumiu publicamente sua culpa e se responsabilizou pela derrota.
Esta semana, depois de conseguir um gol suado contra
o Copenhagen no Old Trafford, o United concedeu um pênalti que foi o
último lance do jogo já que o árbitro avisou, antes da cobrança,
que o jogo terminaria ali. Onana defendeu e foi o herói. Nas redes
sociais, seu colega de time, Garnacho, lhe parabenizou e colocou dois
emojis de gorilas. Onana respondeu e agradeceu as palavras do colega.
Fim da história.
No dia seguinte, a federação inglesa de
futebol abriu um expediente para investigar o ato racista de
Garnacho. Onana rapidamente saiu a público dizendo que o gorila é
um símbolo de forca e que essa foi a comparação que seu amigo fez,
assim como frequentemente comparamos humanos a animais como touro,
cavalo, porco, leão, tigre, etc. Onana terminou sua manifestação
pública dizendo estas sábias palavras: ?as pessoas não podem
escolher quando eu tenho que me sentir ofendido e muito menos se
ofender por mim sem me consultar?.
Vivemos em um mundo tao
distorcido e distante da normalidade que já coisas como essas passam
batido. O ?normal? foi demonizado e busca-se a consolidação de um
novo normal, sendo que apenas um setor da sociedade tem voz para
decidir e definir a tal normalidade hiper-moderna. Há alguns anos
atrás um grupo de feministas conseguiu a façanha de terminar com as
?grid girls?, aquelas mulheres que ficam de pé sorrindo ao lado dos
carros de Fórmula 1. Segundo a líder do grupo, o trabalho denegria
a figura da mulher que era, e aí vem o clichê de sempre,
transformada em um produto. Rapidamente a representante de tais
mulheres saiu a público ? sem muito espaço, é verdade ? dizer as
mesmas palavras que anos mais tarde Onana repetiria em Manchester:
?não se ofendam por nós?. Segundo ela, todas as modelos adoravam
seu trabalho eram bem remuneradas, viajavam por todo o mundo vivendo
experiências que dificilmente conseguiriam viver com outro trabalho.
Além disso, todas eram maiores de idade e estavam ali por
opção.
Vivemos em uma era em que parece que existe um grupo
de desocupados que passa todo o dia friccionando sua zona inguinal
vendo vídeos sem parar e procurando motivos para se ofender, mesmo
que a as partes envolvidas, nenhuma delas tenha se sentido ofendida.
É o que chamo de VAR da ofensa. São verdadeiros profissionais que
ganham a vida se ofendendo por terceiros. Onde parece haver nada de
irregular, nem uma mao dentro da área, nem um ato racista ou
homofóbico, lá está o VAR procurando pelo em ovo.
Há três
grupos que são os mais populares quando o tema é se ofender por
outros: minorias raciais, mulheres e homossexuais. Há poucos meses
vivemos uma situação que ganhou notoriedade e espaço midiático
jamais conseguido pelo esporte em questão que, depois de alguns
vídeos e verdades terem circulado mundo afora, perdeu forca e se
escondeu na penumbra. Ao comemorar o título de campeão do mundo de
futebol feminino, Hermoso, jogadora espanhola, recebeu um beijo
inesperado do presidente da federação. Não demorou muito para
grupos feministas pedirem a caveira de Rubiales e se ofenderem pela
jogadora que, dias depois, apareceu dando declarações públicas
corroborando toda a ofensa já manifestada anteriormente pelos
ofendidos profissionais de plantão. Hermoso aproveitou para
manifestar seu sofrimento e inclusive afirmou estar sofrendo
consequências psicológicas devido ao ocorrido. Totalmente
entendível e é aceitável o quão fácil Hermoso se traumatiza,
ironias à parte.
Semanas depois alguns vídeos produzidos
pelas próprias jogadores vieram a público. Gravações de celulares
mostravam a reação das jogadoras e de Hermoso falando sobre a
alegria do título, mas também não deixando de abordar o famoso
beijo de uma forma muito...divertida. No ônibus que transportou as
jogadoras ao hotel, Hermoso mostrava imagens do beijo orgulhosa e de
certa forma repreendendo algumas por terem perdido tal cena em meio
às comemorações. Algumas, ainda no vestiário, falavam de um
suposto casamento. Hermoso, ainda não ofendida e traumatizada, dizia
que todas estavam convidadas para o matrimônio em Ibiza e, em
seguida, todas gritavam em coro o nome de tal destino espanhol. Toda
essa alegria pelo suposto romance e futuro casamento ruiu de um dia
para o outro. O que um dia antes era motivo de brincadeiras, no outro
dia se transformou em caras chorosas e reclamações de abuso.
Entendo que Hermoso poderia ter se sentido ofendida pelo beijo, mas
por que houve esse atraso em se ofender? Por que não evitou o beijo?
Estava cercada por milhares de pessoas e ao vivo para toda a
meia-dúzia de pessoas que assistiu a final. Por que fez brincadeiras
com as amigas sobre o ósculo, algo tao repudiável e ofensivo? Por
que mostrava orgulhosa o vídeo para àquelas que tinham perdido algo
que certamente causou mais interesse midiático que o próprio
torneio de futebol feminino? Não sei. Talvez Hermoso se deu conta,
depois de ouvir as profissionais em se ofender, que deveria ela, como
protagonista, também se ofender. Diferentemente de Onana, Hermoso
aceitou que escolhessem com que ela deveria se ofender.
Por
que os grupos feministas e ofendidistas não escolhem temas mais
relevantes para ajudar, se ofender ou abrir os olhos daqueles que
deveriam estar ofendidos, mas não estão? Realmente merece tanta
dedicação protestar por pagamentos iguais a jogadores de futebol
homens e mulheres passando por cima de uma lógica óbvia do livre
mercado de oferta e demanda? O futebol masculino paga valores
pornográficos a seus atletas pelo simples motivo de que produz tal
capital que permite pagar tais salários. É o esporte mais visto e
consumido do planeta. Ninguém vê futebol feminino exceto se for por
obrigação para evitar mal estar social. No entanto, devem receber
os mesmos valores. Embora não gerem nem 1% do que geram os varões.
Mas deve ser assim porque sim. Clubes privados devem ser obrigados
pelo estado a pagarem o mesmo que pagam a Messi para a melhor
jogadora de futebol feminino, alguém que ninguém tem a mínima
ideia de quem é. Nunca escutei de um jogador da segunda divisão do
Congo pedir o mesmo salário do Messi. Certamente ele entende as
regras do jogo/mercado. Por que não exigir que médicos e
enfermeiros ganhem o mesmo? Políticos e professores? Insisto que se
escolhem mal os temas para protestar.
E não é somente o tema
e sim o público em questão. Por que ao invés de chorar por receber
o mesmo que os homens, as atletas femininas não protestam pelo
direito de mulheres iranianas irem a um estádio de futebol? Não
digo nem que protestem para que joguem, simplesmente para que possam
ir e ver um espetáculo sem serem condenadas a apedrejamento. Por que
não protestar contra os mal tratos às mulheres no mundo islâmico?
Por que não protestar pelo mutilação genital, ato comum na maioria
das sociedades islâmicas? Por que não escolher os ?assassinatos por
honra? em que os próprios familiares matam uma mulher que feriu a
honra da família como motivo ? justo ? para protestar? Protestar por
um beijo à senhorita Hermoso? Por favor, deem-me um
tempo.
Escolhem-se caras. São dois pesos e duas medidas.
Vende-se a ideia de que todo o mundo ocidental é racista e ignora-se
que essa zona do mundo é a que melhor trata suas minorias raciais e
homossexuais. Em Uganda, homossexualismo é crime. No mundo árabe,
sao condenados à morte. Enquanto isso se proíbe alguém de
apresentar um evento nos Estados Unidos porque, décadas atrás, este
fez um comentário homofóbico. Não, ele não matou um homossexual,
não apedrejou nem privou da liberdade: foi um comentário, uma piada
de mal gosto ou de bom gosto, nada mais. O VAR da ofensa escolhe as
caras. A dedo. É covarde. É como um bully numa escola. Nenhum bully
vai atazanar a vida de um aluno mais velho ou mais forte. Sempre é
alguém menor e mais frágil. Os bullies, assim como os membros da
guarda imperial do VAR, sabem com que podem e não podem se meter.
Que tal um protesto no centro de Riad a favor das mulheres sauditas?
Ou uma marcha por Kabul? Melhor usar estas energias protestando por
Hermoso, condenando o facínora Rubiales, deixando a família saudita
ou Bashar Al Assad de lado e lutando pelos direitos de Alexia
Putellas de, em vez de ter 5 milhões de dólares na sua conta, ter
600 milhões como Messi.
Ah, para quem não sabe, Putellas é
a melhor jogadora do mundo feminino na atualidade. Obrigado Google
porque acho tu és o único que sabia isso.