terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Viva Costa Crociere!

Fazer um cruzeiro é a forma de turismo mais indicada para quem quer simplesmente descansar, fugir do inferno de viver e trabalhar em uma cidade. Essa foi a conclusão mais óbvia que cheguei após minha primeira experiência em um cruzeiro. Evidentemente que há inúmeros estilos de cruzeiros. O crescimento econômico brasileiro e o aumento da renda da classe média, associado aos preços mais acessíveis desta forma de turismo fizeram com que os cruzeiros se tornassem uma das preferências da nova classe média brasileira e também dos novos ricos. Os cruzeiros são a Miami de outrora. Com a intenção de conquistar novos mercados, as empresas deste setor diversificaram seus produtos e oferecem, principalmente ao público brasileiro que é um dos maiores consumidores deste setor, propostas que se adequam mais ao seu estilo: são propostas cafonas e que consideram a pobreza intelectual e de espírito deste nicho de mercado. Mesmo considerando que adorei o meu cruzeiro, jamais pagaria para fazer um em território brasileiro. A minha experiência foi distinta. Estava em um barco que passava longe da costa brasileira, saía do porto de Miami e era de bandeira italiana, com seu público conformado por uma maioria esmagadora de alemães e italianos, seguidos por franceses, americanos e argentinos. Havia brasileiros, mas em louvada minoria. Quando esse típico brasileiro de cruzeiro, paulista acima do peso esturricado em roupas de marcas que não fazem a mínima questão de esconder pelo menos um pouco os logotipos de suas grifes reconhecidas e endeusadas pelo público vazio nacional, acompanhados por crianças obesas e consumistas e regidos por mulheres ainda mais sem graça, enfim, quando esse típico brasileiro caricato está em minoria, sua presença é tolerável. Eles se sentem em tanta desvantagem que não aparecem e tornam a experiência em um cruzeiro “europeu” algo quase perfeito. Não vou falar das belezas naturais de praias caribenhas e muito menos da abundância e fartura de boa comida no barco. Nem da amabilidade impressionante de seus funcionários, especialmente filipinos, porque seria falar o que todo mundo já imagina. Farei uma rasa análise dos subgrupos que compunham essa micro sociedade em alto-mar e de como essa comunidade funciona. Antes de tudo, o público deste cruzeiro era um público de pessoas velhas, europeus velhos em sua grande maioria. Além dos velhos, casais com filhos. O resultado era uma paz total e ausência de qualquer tipo de alteração do fluxo das coisas. O motivo principal que fazem essas pessoas embarcarem em cruzeiros deste tipo é a intenção de fugir um pouco do frio que assola o hemisfério norte e gozar das belezas tropicais. Também, considerando principalmente os alemães, é um momento de sair um pouco da rigidez social de seu país e passar dez dias sem pensar em muita coisa. No entanto, para mim, o que mais me fez adorar essa experiência e querer repeti-la o mais rápido possível foi a experiência de viver em uma sociedade perfeita. Essa sensação é mais forte frente a sul-americanos atentos como eu do que frente aos europeus que, em sua grande maioria vivem em cidades europeias onde a comunidade funciona a perfeição com algumas exceções. Não obstante, para mim, foi como viver em um território alternativo imerso em uma sociedade perfeita. Por que chamo essa “comunidade” ou “sociedade” de perfeita? Um barco dessa envergadura é um território flutuante, mas é um território. “Vivem” neste território entre três mil e sete mil pessoas em média o que forma a população de muitas pequenas cidades europeias. Nessa sociedade tudo funciona. Não há malandragem, não há preocupação, se tem que preocupar com praticamente nada. Ninguém vai tentar tirar vantagem de alguém. As pessoas cruzam o olhar e sorriem. Já no segundo dia a psicose de jamais deixar um objeto abandonado em cima de uma cadeira se acaba. Não há que planejar nada, não há trânsito, estamos sempre a no máximo cinco minutos de nossos objetivos. O restaurante está sempre reservado para a mesma hora na mesma mesa. O próprio barco organiza passeios onde os hóspedes se preocupam com absolutamente nada. Tudo funciona a perfeição e cumprindo horários e as pessoas convivem em perfeita harmonia em uma espécie de comunismo internacional oceânico. Se preocupar com nada é o diferencial dos cruzeiros que sustentam a minha ideia apresentada inicialmente de que é a melhor forma de turismo quando a ideia é simplesmente relaxar. Não há preocupação com onde comer, em que hotel ficar, para quem pedir informações, simplesmente tudo está pronto e definido. Dito isto, vale a pena, antes de terminar, analisar rapidamente os subgrupos que compõem os cruzeiros Costa pelo Caribe. Já comentei da faixa etária e agora falo um pouco das nacionalidades. Os italianos davam a notória impressão de ser a maioria; no entanto, em uma palestra sobre a empresa e o nosso barco, descobri que não, que a maioria era de alemães. Os italianos, no entanto, são mais barulhentos e parecem ser 90% da população do barco. Apesar de que sua animação pode cansar a alguns de vez em quando, seu carisma é inegável. Os alemães, pelo seu lado, parecem que sabem que são uma raça superior e olham tudo “de cima”. Não participam muito das atividades, a exceção de suas crianças, mas admiram e observam com um esboço de sorriso no rosto. Eles gostam de ver, mas não gostam de participar no que parece ser um sentimento de que isto não é pra nós que somos superiores. Os franceses têm uma diferente forma de discrição. Eram em bom número, mas falam extremamente baixo, seu idioma que dá a impressão de que sempre estão tentando ser sensuais tem um tom que não chega aos ouvidos dos outros grupos, mas, diferentemente dos alemães, participam das atividades coletivas. Ambos, italianos e franceses, demonstram um amor incontido por seus países e assim manifestam a cada “confronto” racial. Os americanos não conseguem disfarçar um certo desconforto de estar em minoria. Acostumados a serem sempre os donos do mundo e a ditar as regras sociais ou pelo menos estarem presentes em todos os cantos do planeta, eles não se sentem muito confortáveis e reclamam em grande parte do tempo. São impacientes e acostumados a essa funcionalidade americana que é difícil de se ver refletida em outro rincão. Reclamam da comida e de qualquer coisa que não funciona exatamente como eles ESPERVAM que funcionasse. Sigo com os argentinos que são dotados de um carisma incomparável e único. Os jovens mantêm aquele ar superior típico dos argentinos e os velhos são simplesmente PERSONAGENS. A Argentina também salvou um pouco a pátria e surtiu o barco, pobre em beleza e juventude, com algumas mulheres. Os escandinavos simplesmente não se misturam com as raças inferiores já que até alemães são lixo para eles. Por fim, o brasileiro, felizmente em minoria, mas com os velhos problemas de sempre. Falam alto, insistem na breguice de carregar acessórios que demonstrem que são brasileiros como se isso fosse um sinal de superioridade, tentam a todo o momento passar uma ideia de sofisticação até que desistem quando se dão conta de que o público europeu se importa com nada e com ninguém e a eles pouco importa se os transeuntes estão fardando roupas de marca, roupas baratas ou estão nus. Não faltou a representante da mulher de meia idade brasileira que não aceita o fim de sua era e insiste em parecer gostosa o que acaba resultando na tradicional e acentuada vulgaridade clássica da mulher brasileira. E, claro, não pode faltar a tentativa de burlar o sistema dos brasileiros pseudo-malandros que, mesmo depois de quebrar a cara, com arrogância, forte volume e inglês medíocre protestam contra o seu fracasso. Sobre os destinos, passamos por Bahamas, Turks & Caicos, Jamaica, Ilhas Caimã, Honduras e México. Todas as praias são espetaculares, se tivesse que dizer alguma acho que a ilha de Turks é a mais bonita, mas a Jamaica e Honduras têm montanhas com florestas em frente ao mar o que fazem a paisagem ainda mais fenomenal. As praias virgens da ilha de Cozumel também são impressionantes. Como maior destaque, mergulhar e ver os corais e também destaco como inesquecível a praia das arraias.

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