Jamais
tratei animais domésticos como pessoas. Para mim um ser humano é um
ser humano enquanto que um cachorro é um cachorro e por isso nao
deve entrar em casa ou usar roupas. Esta consideraçao não significa
que tenha o ser humano como um ser melhor que qualquer outro, pelo
contrário, somos das poucas espécies que planeja o mal e somos os
que menos sabem viver em sociedade. Temos tantos defeitos que não
cabe nem começar a citar e fazemos um péssimo uso da inteligência
superior que nos foi dada. Ao mesmo tempo em que criamos máquinas
incríveis, criamos, por exemplo, uma arma que pode matar a maioria
dos seres viventes do planeta, o que pode ser, talvez, é o maior
exemplo de nossa ilimitada estupidez.
Infelizmente
não sou tao velho como gostaria, mas já vivi o suficiente para
poder notar a degradaçao do comportamento humano em açoes do seu
dia-a-dia. Nao vou abordar aqui temas mais profundos como a indústria
bélica, mas atos corriqueiros de nossa vida moderna atual que
comprovam que estamos cada vez mais estúpidos e, um dos avanços que
demonstra nosso brilhantismo, a Internet, torna pública toda a
estupidez internacional de nossa pobre raça.
Poderia
começar falando de música. Na década de 60, entre as bandas que
apareciam nos primeiros lugares dos charts, estavam os Beatles, os
Rolling Stones, Bob Dylan e Led Zeppelin, entre outros. Nos anos 70,
estrelavam os mesmos Beatles e Led Zeppelin, acompanhados por nomes
como Queen e Sex Pistols; durante os 80, década que chegou a ser
chamada no Brasil de “a década perdida” davam as caras nomes
como The Cure e Michael Jackson, Queen ainda permanecia, mas já a
decadência começava a demonstrar que vinha para ficar; nos 90,
Nirvana e Metallica ilustravam os charts, mas já apareciam nomes
nefastos como Dr. Dre; nos anos 2000, já temos Lady Gaga, Destiny´s
Child, Mariah Carey, entre outros, com poucas bandas que atenuam o
desastre. The Beatles era a banda das adolescentes gritonas dos anos
60; hoje temos um patético e degenerado projeto de futuro desastre
chamado Justin Bieber causando gritarias por onde passa. Letras
geniais foram deixadas de lado e substituídas por ritmos pobres,
banais e simplórios como o hip hop americano e suas crias não menos
miseráveis que assolam o resto do mundo como o reggaeton nos países
hispânicos, por exemplo. O Brasil não ficou atrás e trocou décadas
de domínio de gênios musicais da Bossa Nova e roqueiros
endemoniados por duplinhas sem sal de almofadinhas com gel no cabelo
e com o maior número de quinquilharias penduradas por seus
esturricados corpos em suas roupas vergonhosamente justas. Nos anos
60 Jimi Hendrix aparecia entre os artistas com mais álbuns vendidos;
nos anos 70, Neil Young; nos 80, quando começa a decadência, ainda
temos Pink Floyd e Michael Jackson, mas já a partir dos anos 90
entramos na aguda desaceleraçao de nossa capacidade massiva de
pensar. Temos Spice Girls e Backstreet Boys, seguidos por NSYNC,
Eminem, 50 Cent e Usher nos anos 2000 e Eminem de novo e Justin
Timberlake nos anos 2010.
Se
passamos para a literatura, é a mesma desgraça. Hoje o que mais
vende é Dan Brown, Harry Potter, 50 Shades of Gray enquanto que nos
anos 60, por exemplo, o mundo consumia Salinger, Henry Miller, Philip
Roth ou Mario Puzo.
Por que
hoje a humanidade posta vídeos na Internet jogando-se um balde de
água fria na cabeça e isso se torna uma tendência mundial? Por que
agora a moda é escrever no máximo 140 letras para dizer nada? Por
que agora o “cool” é publicar fotos nus? Por que agora um pais
como o Brasil para e paga pay-per-view para ver uma dúzia de
retardados trancados por livre e espontânea vontade em uma casa e
que ainda por cima são chamados de “heróis” por outro débil
mental?
E não
paramos por aí. Quais foram os filmes que mais arrecadaram nas
últimas décadas no Estados Unidos? Nos anos 60, The Sound of Music,
The Graduate, entre outros; nos anos 70 tivemos Jaws, The Godfather,
entre outros; nos anos 80 ET, Back to the future Indiana Jones,
enquanto que nos 90 já nos deparamos com idiotices como Titanic, Toy
Story, Jurassic Park, Independence Day e Men In Black; nos 2000,
Shrek, The Pirates of The Caribbean, Spiderman e Transformers e nos
anos 2010 Avengers, Iron Man, Harry Potter e de novo continuaçoes
absurdas como Transformers e Velozes E Furiosos. Vale salientar que
já temos OITO sessoes de Velozes E Furiosos que é um filme sobre
nada, onde nada acontece e sem qualquer tentativa de contar uma
história.
Hoje não
queremos pensar. Lemos pouco e o que lemos, quando têm mais de 140
caracteres, é fácil, é bobagem, é auto-ajuda; queremos filmes
onde podemos deixar nossos cérebros em casa, queremos monstrinhos,
pouca história, muita imagem e pouco conteúdo porque depois temos
que chegar em casa e jogar água fria na cabeça ou ver as fotos de
alguma celebridade no Instagram onde podemos passar horas lendo
reflexoes medíocres de medíocres.
Para nos
sentir parte de uma tribo, nós, cidadaos normais, transformamos
nossas apariçoes em redes sociais em acontecimentos pobres de uma
realidade triste. Avisamos que vamos ao banheiro, publicamos fotos do
que comemos, manifestamos estados de espíritos em um grito
desesperado por ser visto e comentado por alguém. Somos a geraçao
mais triste de todos os tempos, mais altamente capaz de se comunicar,
mas mais carente e isolada. Temos medo de tudo e nos escondemos num
mundinho vazio pseudovirtual para poder tentar ser quem não podemos,
mas que gostaríamos de ser. Queremos, como uma criança rebelde, ser
vistos e notados, senao não existimos.
Soma-se a
isso o fator atual de que tudo gira em torno do dinheiro. Tiramos
fotos em hoteis bregas de Miami para que todos saibam que podemos
pagar uma hospedagem em tal estabelecimento e que, assim sendo,
seremos “melhores” vistos em nossa pobreza social. Tiramos já
fotos de nós mesmos, nem sempre nus, demonstrando que já não
necessitamos de outros para tirarem nossas fotos, mas também
esternando o quao tristes e solitários somos. Uma foto com alguma
cara com alguma espécie de olhar vencedor para passar uma ideia de
inútil poder. Nos endividamos para comprar um carro um pouco
superior ao carro mais popular e nos sentimos mais poderosos, nos
sentimos velozes e glamorosos e isso irá ditar a opiniao que os
demais têm de nós. Eu como num restaurante mais caro, tenho um
carro melhor, viajo para o éden da breguice e mediocridade de uma
classe média frustrada, tudo isso para que minha personagem, meu
avatar em uma sociedade doente seja o que mais pontos consegue. Nao
se almeja mais ter o talento de alguém, mas sim a sua conta
bancária. Tudo é dinheiro e um jogo sem regras claras de aparência.
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