A Grande Mentira
Não sou a pessoa que mais se deixa levar por teorias
conspiratórias. Seguidamente me autoquestiono quando recordo casos em que o que
outrora fora visto como algo sem qualquer possibilidade de ser real, surge como
sendo, de fato, depois de muitos anos, uma mentira. Pearl Harbor é um exemplo.
Sabiam os americanos do ataque japonês? Hoje vem ganhando a teoria de que sim.
O ataque às torres gêmeas foi outro boi de piranha americano? Usaram a mesma
tática vitoriosa de Pearl Harbor para, dessa vez, “justificar” a sua invasão a
terras longínquas em nome da liberdade? Acho que não, mas não ponho minha mão
no fogo.
Guardando as proporções e reconhecendo a diferença de tônica,
afirmo, dessa vez sem titubear, que a grande mentira de nossa era é a
globalização. Tem se vendido, desde o princípio do uso do termo, como sendo
sinônimo de “modernidade” e, ao mesmo tempo, transformando o termo “moderno” em
sinônimo de avanço.
A popularização do automóvel nos anos 50 foi algo moderno.
Parou-se de se investir em linhas ferroviárias e deu-se prioridade à
modernidade. Melhorou? Os carros poluem e contrariam a mais lógica das lógicas
físicas: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço - a matéria é
impenetrável. O que temos hoje é um caos na mobilidade em todas as médias e
grandes cidades do planeta, sem contar toda a carga ambiental que isso
acarretou.
O moderno nem sempre é melhor. A arte moderna é vergonhosa em
quase sua totalidade; o cinema moderno é deprimente; a música moderna é um
deserto de ideias, dinossauros como os Rolling Stones seguem lotando estádios
em todo o planeta no que é um grito de ajuda dado por parte da humanidade que
se sente órfã de qualidade. A globalização representa o maior golpe social e
econômico já dado à população da maioria dos países do planeta e o apego a
artistas que representam épocas mais frutíferas é, em uma analogia de fácil
entendimento, o fenômeno que vemos agora com Trump, Brexit, Marine Le Pen,
Geert Wilders, Norbert Hofer entre outros, o querer voltar a outro momento
histórico.
A globalização e a ideia de “aldeia global” é a maior farsa já
inventada em nível global. A invenção das bombas de destruição de massa criadas
por Bush para justificar sua invasão ao Iraque é nada quando comparada à
mentira maior. Desde o final do século passado, com o desenvolvimento de
inovadoras técnicas de comunicação, o mundo foi diminuindo e começou-se a
vender a ideia de que poderíamos ser uma “aldeia” sem fronteiras e unificada.
Pois desde a consolidação dessa ideia o resultado em nível global é aumento da
miséria e redução da qualidade de vida das classes médias, mais fortemente
sentida nos países industrializados.
É curioso ver como atualmente os discursos de Trump, Le Pen e dos
defensores do Brexit são parecidos aos da extrema esquerda e isso é uma
realidade que demonstra que, não importando a ideologia, muitos estão abrindo
os olhos para essa trama maquiavélica.
A extrema esquerda em qualquer lugar do mundo sempre bateu de
frente com banqueiros e grandes empresas multinacionais. Do outro lado, a
direita sempre pregou a extinção do Estado que somente deveria aparecer em
momentos estratégicos como nas crises para salvar a essência do Estado ideal:
os bancos. Em 2008, na última grande crise do capitalismo mundial, devido às
orgias financeiras dos grandes bancos americanos, milhões de pessoas perderam
seus trabalhos e casas pelo mundo afora. Quem salvou a pátria? O tão agredido
Estado. Através dos chamados “bail outs” o governo da maior potência do mundo
passou a mão na cabeça de criminosos e “premiou” os culpados pela tragédia com
alguns bilhões de dólares dos contribuintes. Reações isoladas a essa
barbaridade existiram. Na Islândia, que tinha sua economia baseada basicamente
na pesca e no seu sistema financeiro, os banqueiros do país foram colocados na
cadeia. Mas a Islândia é um país de 300 mil habitantes. O mundo perdoou seus
vilões de colarinho branco e as elites e classe média aceitaram.
Pois agora a direita também os ataca. Trump esbraveja contra a
prática de instalação de setores produtivos em países periféricos para assim
evitar a alta carga laboral e os impostos dos grandes países, nesse caso os
Estados Unidos; Le Pen e os defensores do Brexit batem de frente nos banqueiros
da União Europeia, pois estes apenas se preocupam com seus bolsos, sangrando as
economias das nações do bloco. O discurso dos dois extremos empata e apenas se
diferencia pela polêmica questão da imigração. Vale ressaltar que Le Pen,
diferentemente do Jo ão
Doria francês, defende a manutenção da jornada de 35 horas semanais e a
diminuição da idade para a aposentadoria. Só a burra esquerda francesa não
percebe o tiro no pé que estão dando ao apoiar o Doria local.
A ideia econômica principal da globalização é o fim das
fronteiras. Comerciais. As grandes multinacionais se instalam em um território.
Para isso, usando seu poder de negociação conseguido pelos supostos empregos e
renda que gerará, consegue colocar de joelhos governos locais que sabem que, se
dizem um ai, podem perder o novo inquilino. Dado o menor sinal de mal
entendimento, essas multinacionais partem sem olhar para trás com destino a um
lugar onde o ambiente político não os incomode.
Vejamos o caso dos Estados Unidos. As grandes empresas de
tecnologia americanas, como a Apple e a Microsoft, têm suas modernas sedes com
parquinhos de diversão e Playstations para todos no riquíssimo Vale do Silício.
No entanto, sua grande massa produtiva se encontra bem longe, na maioria dos
casos na China. Em outras localidades, o chamado “custo país” é menor e,
portando justifica a transferência de suas forças para estes lugares. Se a
China incomodar, no outro dia a Apple estará no Vietnã, ou na Índia. Sempre
haverá um governo ajoelhado implorando para ser estuprado. E, não custa
lembrar, o estado da Califórnia se encontra em grandes apuros econômicos mesmo
sendo sede das maiores empresas planetárias de tecnologia. Não seria uma bela
ajuda os impostos dessas gigantes que são tão liberais em alguns temas como a
imigração, mas tão espertas ao mandar chineses fabricarem seus brinquedos?
As montadoras americanas seguem o mesmo exemplo. Cruzam a
fronteira a se instalam no México onde tudo é mais colorido para o capital.
Governos facilmente corruptíveis, salários mais baixos, incentivos ou isenções
tributárias e, para completar, fácil acesso ao principal mercado: os Estados
Unidos. Os produtos voltam sem nem ficarem vermelhos pela mesma fronteira e,
apoiados em algum acordo comercial, entram com preço competitivo.
A União Europeia é o exemplo menos disfarçado. Criou-se a ideia de
que não há mais individualidades no continente, colocou-se goela abaixo de
todos que a Romênia é igual à Noruega ou Alemanha, e a elite do continente
vibrou transferindo suas produções para romênias e polônias e tendo livre
acesso aos mercados mais graúdos sem pagar impostos de importação. Genial. E se
alguma crise apertar sua classe média, se vendem em outro lugar. Não importa,
Vivemos uma espécie de "uberizacao" da economia mundial.
Tudo é global com cara de moderno. Usa-se os serviços de empresas como o Uber
por dois motivos: mais barato e moderno. Por que o Uber é mais barato? Porque
todas as despesas da companhia são arcadas pelo pobre motorista pejotizado que
paga impostos veiculares, multas, combustível, manutenção e, para completar o
cenário ideal, não tem direitos trabalhistas nem vínculos. É uma ferramenta. É
um trabalhador de uma fábrica de roupas da Zara em Bangladesh versão fashion. E
são felizes, pois aceitam que são "seus próprios patrões". Soma-se a
esse exemplo o projeto maquiavélico do governo não-eleito de Temer que impôs a
terceirização de tudo, até da atividade principal da empresa, tudo isso para
"proteger o emprego". Ora, sempre temos que garantir, antes de tudo,
as benesses da turma do camarote. Completando a equação irrefutável, os consumidores
modernos compram, pois, o resultado é um preço mais acessível e, muito
modernos, pouco se importam pelos meios, pelos escravos das empresas de
vestuário ou pelos motoristas sem direitos do Uber, vivemos numa sociedade
capitalista onde a competição deve ser livre, não há armas proibidas.
Os Estados Unidos deram um basta. Sua elite perdeu uma queda de
braço contra uma classe média que cansou de perder empregos e poder de consumo;
a classe média inglesa também cansou; os franceses, holandeses e austríacos
também dão sinais, assim como outros países, de que não aguentam mais os
enganos do que lhes foi oferecido como “ponte para a modernidade”, aqui citando
o embrião do golpe tupiniquim. São alcunhados de nazistas, mais um golpe baixo
da elite e da esquerda burra e radical europeia.
A imigração, que parecia passar desapercebida em meu texto, aqui
joga um papel fundamental. A elite mundial não esqueceu de resultados
inesperados no curso da história. A monarquia francesa guilhotinada, o czar
soviético morto, as greves inglesas dos produtores de carvão entre outros
exemplos, são casos que de certa forma representam empecilhos no curso natural
da dominação por parte das elites mundiais. Como evitar isso, ou pelo menos
enfraquecer essa reação plebeia? A resposta para isso é a destruição do sentimento
de comunidade das nações.
A pornográfica liberação da imigração que vem ocorrendo desde os
anos 80 mais ou menos nos Estados Unidos e Europa sempre teve um objetivo
final: acabar com as comunidades. O moderno hoje são as uniões europeias da
vida. Não existem mais países, isso é retrógrado. Existem blocos econômicos que
são a modernidade, o futuro, o Uber. Como Macron diz, não existe uma cultura
francesa. A Europa é o maior exemplo. Em todas suas cidades de médio e
grande porte, o número de imigrantes já chega próximo ou excede à metade de
suas populações. Para completar, em algumas cidades pequenas, o domínio dos
estrangeiros já é uma realidade. Disfarçados de “multiculturalidade”, vende-se
a ideia de que não se devem negar oportunidades a outros seres humanos. O
capital nunca deu bola para o "humano" e nunca dará. O resultado é o
enfraquecimento do sentimento de comunidade, base para qualquer ameaça de
resistência a abusos do poder econômico por parte de qualquer sociedade. Em
cidades como Londres, Berlim, Paris, Bruxelas, entre outros, perdeu-se quase
que completamente o sentimento de pertencer a algo, a uma sociedade. Os
milhares de pessoas que chegam querem apenas fazer a sua parte, ganhar o seu
dinheiro, viver em suas sub-comunidades e pouco se importam com os meandros
políticos do território. Individualismo tribal selvagem. No entanto, a
população nativa perde seus trabalhos para outros que cobram menos, veem seu
custo de vida aumentar vertiginosamente e por osmose são consumidos pela ideia
de que não existe mais sua nação e sim um território semelhante a uma savana
africana onde animais vão todos os dias buscar seu alimento e, depois, voltam
para suas proles.
A lavagem cerebral deu resultados perceptíveis. Até a Copa de 2006
na Alemanha, ver um alemão usando uma simples camiseta de futebol de sua
seleção era considerado algo condenável, um sinal de que este era um
"neonazista". O mesmo acontece no Reino Unido. Qualquer símbolo
contendo a famosa e bela Union Jack, se estiver sendo usado por um inglês é
sinal de que este é um skinhead. Criou-se, através de atos violentos do passado
recentes destas nações, base de nossa civilização ocidental, um sentimento de
culpa em sua população inocente que os fez acreditar que eram seres condenados
a pagar uma pena. Rancor ou indiferença contra seu próprio país e aceitação da
destruição de suas bases culturais e sociais. O que temos agora é uma situação
quase irreversível.
A esquerda europeia e norte-americana bate de frente contra quem
defende uma reação pacífica a este problema. Do alto de seus castelos bregas e
excêntricos, os esquizofrênicos artistas de Hollywood esperneiam contra Trump e
sua política de controle à imigração ilegal. Volta e meia aparecem com seus
discursos pouco originais. Talvez lhes falte viver um pouco da realidade de
quem realmente sofre com a imigração massiva e predatória, ou seja, lhes falta
viver como a maioria de seus conterrâneos e isso não acontecerá em suas
festinhas cheias de bajuladores deslizando por seus tapetes vermelhos. Em Beverlly
Hills talvez a imigração não seja um problema. Alguns até ameaçam
abandonar o pais, mas curiosamente não apareceu ainda o primeiro a cumprir sua
promessa. Para onde iriam? No entanto, na maioria do país sim o é, e gravíssimo.
Precarização dos sistemas públicos de educação e saúde, aumento estratosférico
da violência em todas as suas facetas e, para completar, perda cultural,
homogeneização social. Evidentemente que nas mansões do Vale do Silício
tampouco se sente isso na pele. Em suas casas de cristal executivos das grandes
empresas de tecnologia vomitam impropérios, pois lhes fará falta estes
consumidores de seus produtos manufaturados na China livre de impostos. Também
lhes poderá fazer falta seus trabalhadores internacionais que entram no país
com a farsa do visto de "trabalhador qualificado" (ponto para
Turnbull) ganhando 30% do que se pagaria a estes profissionais há algumas
décadas atrás. Os aquinhoados de Manhatan também choram, já que desde sua ilha
com 35 mil oficiais de polícia e tão cara que manda pobres e classe média para
zonas periféricas, tampouco se sente qualquer ameaça ao seu bem-estar. É fácil
assim. Enquanto a violência aumenta significativamente no país e os serviços
públicos se diluem, tudo segue igual nos feudos dos donos do sistema.
Não sou ignorante ao ponto de acusar os imigrantes de serem
bandidos ou "bad hombres" como diz Trump e muito menos irei apontar o
dedo aos árabes e chamá-los de terroristas. A minoria dos imigrantes é
criminosa enquanto que a minoria dos árabes são terroristas. No entanto,
barateiam a mão de obra, destroem (sem intenção de fazê-lo na maioria dos
casos) a classe média local e vão disseminando qualquer sentimento de
comunidade. Deixa-se de existir um sentimento coeso de sociedade e passa-se a
ter células dispersas que são facilmente manipuladas e essa tática é nada
original. Os colonizadores europeus usaram métodos idênticos para dominar o
continente africano. Belgas e holandeses eram craques nisso. Colocavam tribos
iguais umas contra as outras, estas se matavam e o domínio era facilitado. A
história, assim como a moda, é cíclica. O que o poder quer evitar? Uma época em
que se lutava pelo seu território, algo que há séculos já passou de moda, mas o
poder quer enterrar qualquer resquício. É inoportuno. As cidades-estados
helênicas, os feudos, as grandes guerras mundiais, morria-se pela defesa da
nação e hoje esse comportamento e a simples existência de nações são empecilhos
a serem destruídos, não através de aniquilações violentas, mas através de
imigração massiva e entretenimento vazio. Somos entretidos pela mídia e
corremos atrás da cenourinha da publicidade que mantém a classe média aceitando
sua degradação.
A mídia ajuda nesse processo com seus enlatados e com sua lavagem
cerebral de idiotização massiva. Ser idiota é a tendência. Enquanto cada
vez mais se acumula o capital nas avarentas mãos dos grandes conglomerados,
mais estupidez consumimos. Adoramos o "bucket challenge", adoramos
demonstrações de idiotices no Snapchat, programas da MTV ou fotos das Kardashians
no Instagram. Pensar cansa. Questionar jamais.
Falando em modernidade, o Brasil finalmente tem um presidente
moderno. Temer copiou o modelo da União Europeia. Na enganosa UE, uma massa de
500 milhões de pessoas está sendo convencida de que o ideal é não escolher seus
representantes. Seguem votando, o que os faz pensar que têm algum poder de
decisão. No entanto, os seus votos têm pouco valor. Amputou-se o livre arbítrio
dos países já que, em teoria, é apenas um país. Os políticos locais tornaram-se
rainhas da Inglaterra, são figuras representativas. Quando um país europeu
decide pintar as paredes de seus prédios de outra cor, não pode, deve pedir
autorização a um ente maior que não é escolhido por sua população. São
"têmeres". Foram colocados lá de forma misteriosa e têm todo o poder.
Representam os interesses do poder e tomam decisões que, em sua maioria, são
nocivas à maioria.
Considero a situação irreversível. Pode-se apenas tornar nossa
sociedade ocidental menos pior ou, melhor dito, interromper a degradação. O
feudalismo voltará.
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