terça-feira, 25 de abril de 2017

A Grande Mentira

A Grande Mentira

Não sou a pessoa que mais se deixa levar por teorias conspiratórias. Seguidamente me autoquestiono quando recordo casos em que o que outrora fora visto como algo sem qualquer possibilidade de ser real, surge como sendo, de fato, depois de muitos anos, uma mentira. Pearl Harbor é um exemplo. Sabiam os americanos do ataque japonês? Hoje vem ganhando a teoria de que sim. O ataque às torres gêmeas foi outro boi de piranha americano? Usaram a mesma tática vitoriosa de Pearl Harbor para, dessa vez, “justificar” a sua invasão a terras longínquas em nome da liberdade? Acho que não, mas não ponho minha mão no fogo.

Guardando as proporções e reconhecendo a diferença de tônica, afirmo, dessa vez sem titubear, que a grande mentira de nossa era é a globalização. Tem se vendido, desde o princípio do uso do termo, como sendo sinônimo de “modernidade” e, ao mesmo tempo, transformando o termo “moderno” em sinônimo de avanço.

A popularização do automóvel nos anos 50 foi algo moderno. Parou-se de se investir em linhas ferroviárias e deu-se prioridade à modernidade. Melhorou? Os carros poluem e contrariam a mais lógica das lógicas físicas: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço - a matéria é impenetrável. O que temos hoje é um caos na mobilidade em todas as médias e grandes cidades do planeta, sem contar toda a carga ambiental que isso acarretou.

O moderno nem sempre é melhor. A arte moderna é vergonhosa em quase sua totalidade; o cinema moderno é deprimente; a música moderna é um deserto de ideias, dinossauros como os Rolling Stones seguem lotando estádios em todo o planeta no que é um grito de ajuda dado por parte da humanidade que se sente órfã de qualidade. A globalização representa o maior golpe social e econômico já dado à população da maioria dos países do planeta e o apego a artistas que representam épocas mais frutíferas é, em uma analogia de fácil entendimento, o fenômeno que vemos agora com Trump, Brexit, Marine Le Pen, Geert Wilders, Norbert Hofer entre outros, o querer voltar a outro momento histórico.

A globalização e a ideia de “aldeia global” é a maior farsa já inventada em nível global. A invenção das bombas de destruição de massa criadas por Bush para justificar sua invasão ao Iraque é nada quando comparada à mentira maior. Desde o final do século passado, com o desenvolvimento de inovadoras técnicas de comunicação, o mundo foi diminuindo e começou-se a vender a ideia de que poderíamos ser uma “aldeia” sem fronteiras e unificada. Pois desde a consolidação dessa ideia o resultado em nível global é aumento da miséria e redução da qualidade de vida das classes médias, mais fortemente sentida nos países industrializados.

É curioso ver como atualmente os discursos de Trump, Le Pen e dos defensores do Brexit são parecidos aos da extrema esquerda e isso é uma realidade que demonstra que, não importando a ideologia, muitos estão abrindo os olhos para essa trama maquiavélica.

A extrema esquerda em qualquer lugar do mundo sempre bateu de frente com banqueiros e grandes empresas multinacionais. Do outro lado, a direita sempre pregou a extinção do Estado que somente deveria aparecer em momentos estratégicos como nas crises para salvar a essência do Estado ideal: os bancos. Em 2008, na última grande crise do capitalismo mundial, devido às orgias financeiras dos grandes bancos americanos, milhões de pessoas perderam seus trabalhos e casas pelo mundo afora. Quem salvou a pátria? O tão agredido Estado. Através dos chamados “bail outs” o governo da maior potência do mundo passou a mão na cabeça de criminosos e “premiou” os culpados pela tragédia com alguns bilhões de dólares dos contribuintes. Reações isoladas a essa barbaridade existiram. Na Islândia, que tinha sua economia baseada basicamente na pesca e no seu sistema financeiro, os banqueiros do país foram colocados na cadeia. Mas a Islândia é um país de 300 mil habitantes. O mundo perdoou seus vilões de colarinho branco e as elites e classe média aceitaram.

Pois agora a direita também os ataca. Trump esbraveja contra a prática de instalação de setores produtivos em países periféricos para assim evitar a alta carga laboral e os impostos dos grandes países, nesse caso os Estados Unidos; Le Pen e os defensores do Brexit batem de frente nos banqueiros da União Europeia, pois estes apenas se preocupam com seus bolsos, sangrando as economias das nações do bloco. O discurso dos dois extremos empata e apenas se diferencia pela polêmica questão da imigração. Vale ressaltar que Le Pen, diferentemente do João Doria francês, defende a manutenção da jornada de 35 horas semanais e a diminuição da idade para a aposentadoria. Só a burra esquerda francesa não percebe o tiro no pé que estão dando ao apoiar o Doria local.

A ideia econômica principal da globalização é o fim das fronteiras. Comerciais. As grandes multinacionais se instalam em um território. Para isso, usando seu poder de negociação conseguido pelos supostos empregos e renda que gerará, consegue colocar de joelhos governos locais que sabem que, se dizem um ai, podem perder o novo inquilino. Dado o menor sinal de mal entendimento, essas multinacionais partem sem olhar para trás com destino a um lugar onde o ambiente político não os incomode.

Vejamos o caso dos Estados Unidos. As grandes empresas de tecnologia americanas, como a Apple e a Microsoft, têm suas modernas sedes com parquinhos de diversão e Playstations para todos no riquíssimo Vale do Silício. No entanto, sua grande massa produtiva se encontra bem longe, na maioria dos casos na China. Em outras localidades, o chamado “custo país” é menor e, portando justifica a transferência de suas forças para estes lugares. Se a China incomodar, no outro dia a Apple estará no Vietnã, ou na Índia. Sempre haverá um governo ajoelhado implorando para ser estuprado. E, não custa lembrar, o estado da Califórnia se encontra em grandes apuros econômicos mesmo sendo sede das maiores empresas planetárias de tecnologia. Não seria uma bela ajuda os impostos dessas gigantes que são tão liberais em alguns temas como a imigração, mas tão espertas ao mandar chineses fabricarem seus brinquedos?

As montadoras americanas seguem o mesmo exemplo. Cruzam a fronteira a se instalam no México onde tudo é mais colorido para o capital. Governos facilmente corruptíveis, salários mais baixos, incentivos ou isenções tributárias e, para completar, fácil acesso ao principal mercado: os Estados Unidos. Os produtos voltam sem nem ficarem vermelhos pela mesma fronteira e, apoiados em algum acordo comercial, entram com preço competitivo.

A União Europeia é o exemplo menos disfarçado. Criou-se a ideia de que não há mais individualidades no continente, colocou-se goela abaixo de todos que a Romênia é igual à Noruega ou Alemanha, e a elite do continente vibrou transferindo suas produções para romênias e polônias e tendo livre acesso aos mercados mais graúdos sem pagar impostos de importação. Genial. E se alguma crise apertar sua classe média, se vendem em outro lugar. Não importa,

Vivemos uma espécie de "uberizacao" da economia mundial. Tudo é global com cara de moderno. Usa-se os serviços de empresas como o Uber por dois motivos: mais barato e moderno. Por que o Uber é mais barato? Porque todas as despesas da companhia são arcadas pelo pobre motorista pejotizado que paga impostos veiculares, multas, combustível, manutenção e, para completar o cenário ideal, não tem direitos trabalhistas nem vínculos. É uma ferramenta. É um trabalhador de uma fábrica de roupas da Zara em Bangladesh versão fashion. E são felizes, pois aceitam que são "seus próprios patrões". Soma-se a esse exemplo o projeto maquiavélico do governo não-eleito de Temer que impôs a terceirização de tudo, até da atividade principal da empresa, tudo isso para "proteger o emprego". Ora, sempre temos que garantir, antes de tudo, as benesses da turma do camarote. Completando a equação irrefutável, os consumidores modernos compram, pois, o resultado é um preço mais acessível e, muito modernos, pouco se importam pelos meios, pelos escravos das empresas de vestuário ou pelos motoristas sem direitos do Uber, vivemos numa sociedade capitalista onde a competição deve ser livre, não há armas proibidas.

Os Estados Unidos deram um basta. Sua elite perdeu uma queda de braço contra uma classe média que cansou de perder empregos e poder de consumo; a classe média inglesa também cansou; os franceses, holandeses e austríacos também dão sinais, assim como outros países, de que não aguentam mais os enganos do que lhes foi oferecido como “ponte para a modernidade”, aqui citando o embrião do golpe tupiniquim. São alcunhados de nazistas, mais um golpe baixo da elite e da esquerda burra e radical europeia.

A imigração, que parecia passar desapercebida em meu texto, aqui joga um papel fundamental. A elite mundial não esqueceu de resultados inesperados no curso da história. A monarquia francesa guilhotinada, o czar soviético morto, as greves inglesas dos produtores de carvão entre outros exemplos, são casos que de certa forma representam empecilhos no curso natural da dominação por parte das elites mundiais. Como evitar isso, ou pelo menos enfraquecer essa reação plebeia? A resposta para isso é a destruição do sentimento de comunidade das nações.

A pornográfica liberação da imigração que vem ocorrendo desde os anos 80 mais ou menos nos Estados Unidos e Europa sempre teve um objetivo final: acabar com as comunidades. O moderno hoje são as uniões europeias da vida. Não existem mais países, isso é retrógrado. Existem blocos econômicos que são a modernidade, o futuro, o Uber. Como Macron diz, não existe uma cultura francesa. A Europa é o maior exemplo. Em todas suas cidades de médio e grande porte, o número de imigrantes já chega próximo ou excede à metade de suas populações. Para completar, em algumas cidades pequenas, o domínio dos estrangeiros já é uma realidade. Disfarçados de “multiculturalidade”, vende-se a ideia de que não se devem negar oportunidades a outros seres humanos. O capital nunca deu bola para o "humano" e nunca dará. O resultado é o enfraquecimento do sentimento de comunidade, base para qualquer ameaça de resistência a abusos do poder econômico por parte de qualquer sociedade. Em cidades como Londres, Berlim, Paris, Bruxelas, entre outros, perdeu-se quase que completamente o sentimento de pertencer a algo, a uma sociedade. Os milhares de pessoas que chegam querem apenas fazer a sua parte, ganhar o seu dinheiro, viver em suas sub-comunidades e pouco se importam com os meandros políticos do território. Individualismo tribal selvagem. No entanto, a população nativa perde seus trabalhos para outros que cobram menos, veem seu custo de vida aumentar vertiginosamente e por osmose são consumidos pela ideia de que não existe mais sua nação e sim um território semelhante a uma savana africana onde animais vão todos os dias buscar seu alimento e, depois, voltam para suas proles.

A lavagem cerebral deu resultados perceptíveis. Até a Copa de 2006 na Alemanha, ver um alemão usando uma simples camiseta de futebol de sua seleção era considerado algo condenável, um sinal de que este era um "neonazista". O mesmo acontece no Reino Unido. Qualquer símbolo contendo a famosa e bela Union Jack, se estiver sendo usado por um inglês é sinal de que este é um skinhead. Criou-se, através de atos violentos do passado recentes destas nações, base de nossa civilização ocidental, um sentimento de culpa em sua população inocente que os fez acreditar que eram seres condenados a pagar uma pena. Rancor ou indiferença contra seu próprio país e aceitação da destruição de suas bases culturais e sociais. O que temos agora é uma situação quase irreversível.

A esquerda europeia e norte-americana bate de frente contra quem defende uma reação pacífica a este problema. Do alto de seus castelos bregas e excêntricos, os esquizofrênicos artistas de Hollywood esperneiam contra Trump e sua política de controle à imigração ilegal. Volta e meia aparecem com seus discursos pouco originais. Talvez lhes falte viver um pouco da realidade de quem realmente sofre com a imigração massiva e predatória, ou seja, lhes falta viver como a maioria de seus conterrâneos e isso não acontecerá em suas festinhas cheias de bajuladores deslizando por seus tapetes vermelhos. Em Beverlly Hills talvez a imigração não seja um problema. Alguns até ameaçam abandonar o pais, mas curiosamente não apareceu ainda o primeiro a cumprir sua promessa. Para onde iriam? No entanto, na maioria do país sim o é, e gravíssimo. Precarização dos sistemas públicos de educação e saúde, aumento estratosférico da violência em todas as suas facetas e, para completar, perda cultural, homogeneização social. Evidentemente que nas mansões do Vale do Silício tampouco se sente isso na pele. Em suas casas de cristal executivos das grandes empresas de tecnologia vomitam impropérios, pois lhes fará falta estes consumidores de seus produtos manufaturados na China livre de impostos. Também lhes poderá fazer falta seus trabalhadores internacionais que entram no país com a farsa do visto de "trabalhador qualificado" (ponto para Turnbull) ganhando 30% do que se pagaria a estes profissionais há algumas décadas atrás. Os aquinhoados de Manhatan também choram, já que desde sua ilha com 35 mil oficiais de polícia e tão cara que manda pobres e classe média para zonas periféricas, tampouco se sente qualquer ameaça ao seu bem-estar. É fácil assim. Enquanto a violência aumenta significativamente no país e os serviços públicos se diluem, tudo segue igual nos feudos dos donos do sistema.

Não sou ignorante ao ponto de acusar os imigrantes de serem bandidos ou "bad hombres" como diz Trump e muito menos irei apontar o dedo aos árabes e chamá-los de terroristas. A minoria dos imigrantes é criminosa enquanto que a minoria dos árabes são terroristas. No entanto, barateiam a mão de obra, destroem (sem intenção de fazê-lo na maioria dos casos) a classe média local e vão disseminando qualquer sentimento de comunidade. Deixa-se de existir um sentimento coeso de sociedade e passa-se a ter células dispersas que são facilmente manipuladas e essa tática é nada original. Os colonizadores europeus usaram métodos idênticos para dominar o continente africano. Belgas e holandeses eram craques nisso. Colocavam tribos iguais umas contra as outras, estas se matavam e o domínio era facilitado. A história, assim como a moda, é cíclica. O que o poder quer evitar? Uma época em que se lutava pelo seu território, algo que há séculos já passou de moda, mas o poder quer enterrar qualquer resquício. É inoportuno. As cidades-estados helênicas, os feudos, as grandes guerras mundiais, morria-se pela defesa da nação e hoje esse comportamento e a simples existência de nações são empecilhos a serem destruídos, não através de aniquilações violentas, mas através de imigração massiva e entretenimento vazio. Somos entretidos pela mídia e corremos atrás da cenourinha da publicidade que mantém a classe média aceitando sua degradação.

A mídia ajuda nesse processo com seus enlatados e com sua lavagem cerebral de idiotização massiva. Ser idiota é a tendência. Enquanto cada vez mais se acumula o capital nas avarentas mãos dos grandes conglomerados, mais estupidez consumimos. Adoramos o "bucket challenge", adoramos demonstrações de idiotices no Snapchat, programas da MTV ou fotos das Kardashians no Instagram. Pensar cansa. Questionar jamais.

Falando em modernidade, o Brasil finalmente tem um presidente moderno. Temer copiou o modelo da União Europeia. Na enganosa UE, uma massa de 500 milhões de pessoas está sendo convencida de que o ideal é não escolher seus representantes. Seguem votando, o que os faz pensar que têm algum poder de decisão. No entanto, os seus votos têm pouco valor. Amputou-se o livre arbítrio dos países já que, em teoria, é apenas um país. Os políticos locais tornaram-se rainhas da Inglaterra, são figuras representativas. Quando um país europeu decide pintar as paredes de seus prédios de outra cor, não pode, deve pedir autorização a um ente maior que não é escolhido por sua população. São "têmeres". Foram colocados lá de forma misteriosa e têm todo o poder. Representam os interesses do poder e tomam decisões que, em sua maioria, são nocivas à maioria.

Considero a situação irreversível. Pode-se apenas tornar nossa sociedade ocidental menos pior ou, melhor dito, interromper a degradação. O feudalismo voltará.





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