quarta-feira, 8 de abril de 2009

Medelín VI

Caros amigos, segue mais um relato da vida na cidade da eterna primavera.

Durante as novelas há uns letreiros que passam ao pé da tela. Uns dizem que é determinada hora e que a emissora convida as crianças a dormirem; outros dizem que é tal hora e que começou o horário para adultos; Não lembro dos outros avisos, mas há vários.

Muito são curiosos quanto à violência nessa cidade. Realmente, apesar de a cidade ser rodeada de montanhas crivadas de favelas, não há um sentimento de insegurança muito pesado no ar, pelo menos para alguém que vem de fora como eu. No entanto, há fatos alarmantes e ao mesmo tempo curiosos que, se considerados, acarretam um pouco de medo em um forasteiro como eu. Por exemplo:

Aqui, devido ao excesso de crimes cometidos por pessoas em motos, é proibida a presença de caronas do sexo masculino em motos;

Há seguidas ameaças feitas através da distribuição de panfletos a determinados grupos sociais, por exemplo, ameaças de morte a moradores de ruas. No entanto, houve um que chamou minha atenção e esta ameaça foi dirigida às prostitutas. Essas não poderiam, durante determinado período de tempo, “trabalhar”. Um conhecido meu que ia a uma despedida de solteiro disse que as strippers contratadas se negaram a ir devido ao medo de possíveis represálias;

Todos os seguranças, desde os de supermercados até os de qualquer estabelecimento minúsculo, possuem armas;

Vocês não têm ideia da dificuldade que é para se ingressar no campus de uma universidade aqui. Na minha primeira tentativa não me deixaram entrar, apenas alunos. Por outra entrada, dizendo que iria visitar o centro de idiomas e ainda acompanhado de uma ex-aluna, aí sim me deixaram, mas sem direito a estacionar dentro da universidade e tive que mostrar meu passaporte. Segundo essa ex-aluna que estava comigo, minha cunhada, diga-se de passagem, nessa universidade já houve inúmeros assassinatos principalmente de pessoas ligadas ao curso de Direito que teriam algumas influências no cenário político local. Também, outro fato que alarmou os campi da cidade, foi o assassinato de uma pessoa nessa semana em questão;

Fui revistado como um criminoso pela primeira vez na minha vida. Ao ser abordado por policiais, parei o carro, mostrei os documentos e me fizeram sair do veículo, encostar-me neste e, com as mãos ao alto, fui revistado.

Há um apresentador de telejornal homossexual aqui. Aliás, falando em homossexuais, vi a primeira discoteca destinada a esse público da minha vida; e não é que o recinto tenha fama de ser freqüentado por gueis como por exemplo a Heaven, em Londres ou uma que outra de Porto Alegre. Essa é diferente; há uma bandeira gigante multicolorida na fachada deixando bem claro o que se encontra nesse covil.

Falando em gueis, lendo a Veja deles daqui que se chama “Semana”, fiquei sabendo que a Colômbia é o país mais avançado da América Latina com relação aos direitos gueis.

Aqui já se pode deixar herança para cônjuge do mesmo sexo, vejam só!

Um fato incrível que comprova o fator “open minded” dos colombianos: heterossexuais têm amigos homossexuais. Uma noite dessas saí para jantar com um grupo de mais de 10 pessoas amigos da Marcela e chegou um ponto, após um normal (pero no mucho, uma espécie de metrossexual que não deixa de ser uma ramificação do homossexualismo) ir embora, que havia mais gueis que homens à mesa, 2-3 foi o placar. Pois nessa mesma reportagem, dizem que há cerca de 300 mil casais de gueis no país, soma-se a esses os que não são casais, ou seja, bixinhas loucas em busca de carne, considera-se que a população do país gira em torno de 40 milhões e temos um número alarmante.

Numa visita minha a uma casa em um bairro popular que já foi citada em textos anteriores, esqueci de comentar que conheci um homem velho que disse ter sido seqüestrado pelas FARC. Foi o primeiro e único seqüestrado das FARC que conheci.

Essa é fantástica. Na entrada de outra universidade em que estive, como sempre o sistema de segurança foi rigoroso. Dessa vez me tiraram foto de dentro do carro antes de ingressar no campus e, como de costume, me pediram documentos. Dei meu passaporte e a vigia abriu na página do meu visto de estudante antigo do Reino Unido e me fez a seguinte pergunta, juro que é verdade: usted se llama “Student”? O esforço que eu fiz para conter o acesso de risos que me deu foi descomunal.

Em uma outra blitz policial, após ficar 5 minutos divertindo-se com meu passaporte, o militar me perguntou se eu era brasileiro. A Marcela disse que sim, ele perguntou se a gente iria casar e ela disse que já éramos casados. O cidadão começou a rir e disse que, se eu tinha roubado uma colombiana, eu deveria pagar mandando duas brasileiras dançarinas de samba para ele. Que fama desse país do demônio...

Há umas duas semanas mais ou menos foi realizada uma assembleia do BID aqui em Medelín. A sensação que dava era daquela tia pobre que vai receber o sobrinho rico em casa: manda os filhos se comportarem, pede um vestido emprestado, usa copos que não são de requeijão, enfim, se deslumbra com a importante presença extraordinária.

Aqui foi mais ou menos isso que aconteceu. Apesar da falta de relevância do evento, os colombianos tiveram uma excelente oportunidade de fazer algo que eles adoram: fingir que são um país em franco progresso e normal, que o café é o seu produto mais famoso, que suas mulheres são as mais lindas, que o seu povo é o mais educado, que não há mais violência no país, que as FARC já estão perto do fim e etc.

Algumas ações tomadas pelo poder público: mendigos, pedintes e vendedores de sinaleiras, todos recolhidos a abrigos durante todo o tempo que durou a assembleia; revistas e mais revistas, só eu, como vocês puderam perceber ao longo do texto, fui parado duas vezes em 3 dias e por aí vai.

Aqui todas as empresas são obrigadas a pagar, entre os demais benefícios trabalhistas, um fundo que proporciona atividades de lazer para os trabalhadores e seus familiares. Todos os meses os beneficiados têm direito a inúmeras atrações gratuitas ou a preços baixíssimos. Interessante. É uma espécie de “bolsa-diversão”.

Aqui há aulas nas universidades que começam às 6h.
Sobre futebol, sigo disputando um campeonato de futebol 8 em grama sintética. É incrível a diferença de mentalidade para se jogar futebol. Aqui os goleiros acham que estão em campo e dão balão em todas as bolas que pegam. Eles chutam de tudo quanto é lugar, é só balão para cima. Eu, em três jogos, devo ter tocado na bola em umas 15 ocasiões, não se joga, não tenho condições de dizer se joguei bem ou mal, é simplesmente “sem nota”. Passa-se a bola e nunca mais se volta a vê-la. Entristece.

Agora entendo e reconheço quando jogadores dizem ainda não terem se adaptado ao estilo de jogo de outro país.

Falando em futebol, os caras aqui têm uma certa rixa com a Argentina pois esses entregaram um jogo para o Uruguai na última rodada das eliminatórias, classificando os orientais e eliminando os colombianos. Ainda falando do esporte bretão, a admiração ao Messi aqui é impressionante.

Um tema já citado em textos anteriores é o das inúmeras características femininas dos homens daqui. É normal ver homens comentando sobre novelas. Quando se analisa a grade de programação da televisão aberta local e vê-se que há novelas desde a manhã até a madrugada, é possível de se entender um pouco esse fenômeno de homens noveleiros. Mas, mesmo assim, me entristece.

Para ilustrar esse comportamento horrendo dos homens daqui, ouçam essa. Um amigo de minha cunhada que mora em Cúcuta virá à Medelín COM MAIS TRÊS AMIGOS para fazer, TODOS JUNTOS, uma LI-PO-AS-PI-RA-CAO! Imaginem só, eu, Ângelo e mais um combinando de ir à São Paulo fazer uma “lipo” juntos...SENHOR! Aliás, falando em cirurgias plásticas, aqui há algo que nunca tinha ouvido falar que é silicone na bunda. O resultado é a coisa mais hedionda que alguém possa imaginar.

Aqui se um inquilino não vai à reunião do condomínio, é multado.

O povo aqui almoça em casa. O trânsito entre 12h e 14h é mais intenso que o normal.
Isso era tudo o que eu sempre quis, mas, morando em Ipanema, impossível.

Mais uma manifestação religiosa curiosa: o dia das ramas. É um dia que todo mundo sai carregando uma folhagem nas ruas. Simplesmente patético aos olhos de um forasteiro como eu. Falando em religião, a Semana Santa aqui é literalmente uma semana: não há aula em toda a semana!

Não há chocolate em pó aqui, ou seja, difícil mesmo de comer alguma sobremesa boa.

Espero que tenham se divertido. Beijos a todos.

3 comentários:

Rodrigo Boro disse...

Nao achas o povo colombiano parecido com o Nordeste brasileiro? Essa historia da Lipo me lembra o Tio Eri contando que amigos dele faziam isso a toda hora (e o Eri e Maicon soh falavam de novela tambem).

maylla disse...

oii
vc mora em medellin??
eu achei seu blog por acaso
estou buscando informaçoes sobre a cidade. penso em intercambio..
^^
te add
tem problema?
:**

Aline Duarte Pereira Guerrero disse...

Vamos la...pra te ajudar...
Os homens fazem as unhas, com a mesma frequencia que as mulheres.
Aqui em Bogota conseguimos encontrar 2 lugares em que se pode pedir uma sobremesa boa: Jacques e Harry Sasson, isso porque eles utilizam chocolate importado (no Harry sei que eh Belga).
O silicone na bunda eh horroroso!!!! hahaha....