sábado, 16 de fevereiro de 2013

50 Tons de Cinza

No clássico de Edgar Allan Poe, a carta roubada que pertencia ao rei foi escondida em cima da lareira, na frente dos olhos de todos que a procuravam desesperadamente. Onde estava a carta? Em um lugar óbvio, na frente de todo mundo para quem quisesse ver. Por que “50 Tons de Cinza” faz tanto sucesso é o que muita gente com muito tempo livre e pessoas que querem entender a banalidade ou o sentido da vida se perguntam. A resposta está ali, em cima da lareira, na frente de todo mundo. Fui OBRIGADO a ler “50 Tons de Cinza”, o Harry Potter para mulheres adultas em sua grande maioria sexualmente frustradas. Digo que fui OBRIGADO porque, como antropólogo sem diploma no meu tempo livre e tempo ocupado, tive que ler o que milhões de mulheres de todo o mundo leem e se regozijam. Respondendo a pergunta, por que essa obra faz tanto sucesso? A resposta, repito, é mais clara do que água de poço: porque é ruim, mal escrito, banal, raso e, agora sim para tocar nas feridas das feministas bigodudas, porque mostra claramente que as mulheres, apesar de tantos sutiãs queimados e de toda essa onda de feminismo e igualdade de sexos, seguem atraídas enormemente pelo homem dominador e, não menos, são atraídas pelo poder. Antes de começar a comentar sobre a obra, me parece curioso que escritores ingleses têm roubado a cena ultimamente no mundo do entretenimento simplório literário. Os americanos são os produtores da grande maioria do lixo cultural eletrônico, mas, pelo menos ultimamente, não conseguem superar os ingleses em termos de lixo escrito, vide o sucesso de Rowland com seu bruxinho sem sal e agora a misteriosa inglesa de Grey (é brilhante a analogia da cor com o sobrenome do autor, algo digno de historinhas vampirescas). O epicentro da história de Grey e sua amante submissa e virgem é o erotismo. O livro vende e atrai milhões de mulheres, pois preenche um nicho de mercado que não havia sido jamais explorado com esse vigor. Rowland encheu seus bolsos fazendo livros para crianças e adolescentes e agora temos o mercado de donas de casa com desejos guardados e imensa vontade subliminar e contida de voltar aos tempos pré-maio de 1968. O erotismo de “50 Tons de Cinza” é de uma pobreza técnica e literária que fez com que eu me constrangesse enquanto lia. É pobre, a linguagem é vazia, infantil, medíocre. O excesso de diálogos que nada dizem, expressões como “tu és muita areia para o meu caminhãozinho” são de uma miséria textual banal. Todo esse público pobre de Grey explica seu fascínio ao dizer que nunca o erotismo havia sido tão bem posto em papel o que é de uma ignorância histórica revoltante. D.H. Lawrence, no início do século XX já escrevia obras recheadas de sexualidade e com um rigor estético louvável. Charles Bukowski, à sua forma, expressava toda a sua devassidão com um simplismo literário que atingia níveis de erotismo e vulgaridade altos, mas com riqueza literária, apesar da simplicidade de suas palavras. Até no desértico mundo literário brasileiro tem um personagem que foi genial quando expressava o sensualismo da mulher brasileira, das morenas das plantações de cacau baianas. Falo de Jorge Amado, um verdadeiro gênio da literatura erótica, com classe. O que prova o lamentável best-seller do momento? O que já havia anunciado anteriormente, comprova que o movimento feminista é coisa de machorra de bigode. As mulheres de fato, que trabalham, vestem terno, têm cachorros no lugar de filhos e que reclamam da falta de tempo mesmo tendo empregada e infindável quantidade de eletrodomésticos, sem contar que agora possuem a ajuda do homem até em tarefas domésticas, estas mulheres, desde as épocas das cavernas, procuram e almejam o macho dominador, o macho alfa, aquele que mija em volta da caverna para deixar bem claro que macho nenhum deve aproximar-se de sua fêmea, aquele que arrasta sua mulher pelos cabelos quando esta se comporta mal. Esse, segue sendo, apesar de toda a hipocrisia do feminismo, o homem desejado pela maioria das mulheres, pelo menos as femininas, um comportamento normal e ordinário no meio de qualquer comunidade de mamíferos. Outra comprovação que pode enfurecer o público feminino é que o conteúdo do livro e sua história de quinta categoria demonstram que estas mulheres, por mais que alguma, em meio a ataques de autoestima e orgulho falsos, negue, são atraídas ENORMEMENTE pelo poder. A estética masculina obviamente que atrai as mulheres, mas é um livro, nenhuma leitora sabe como é a aparência de Grey, se obcecam na personagem simplesmente pelos seus hábitos já citados de macho dominador e, mais do que tudo, pelo seu poder que é expressado através de suas extensões fálicas como seu carro de alta gama, seu helicóptero, sua mansão e etc. Isto atrai. Isto é o que a maioria das mulheres quer de um homem. Jamais pensei que seria capaz de ler tal obra, mas o meu dever de observador pessimista da sociedade atual é mais forte do que qualquer coisa. E, para completar, confesso que também li o livro em poucos dias como afirma a maioria das leitoras e o fiz porque a linguagem é tão pobre e escassa (consegue ser pior que Paulo Coelho!), que, enxugando a obra, deveríamos tê-la impressa em apenas 50 páginas o que já seria um desperdício de celulose.

2 comentários:

Geraldo Brito (Dado) disse...

Saudações e parabéns pelo blog!

beigesilkworm disse...

por isso que odeio este livro...justifica todos os devaneios machistas ignorantes e pendantes de masculinistas de plantaõa,que isnistem nesta idéia de que nossa natureza á masoquista e hipergâmica...