terça-feira, 4 de junho de 2013

A Direita, A Esquerda, Chávez E Companhia

Não tenho tido muito tempo para escrever e por isso demorei tanto para falar da morte de Hugo Chávez. Antes que seja acusado de atrasado, defendo a mim mesmo dizendo que a morte de Chávez e tudo que foi dito a respeito desse ícone tão polêmico da América Latina formarão argumentos que durarão muitas décadas mais. Não falo apenas da vida e morte de Chávez per se e sim, mais do que tudo, da velha discussão se ainda existem direita e esquerda. Chávez morreu para a alegria da direita sul-americana. Se eu uso o termo “direita” isso quer dizer que eu ainda acredito na divisão entre direita e esquerda e sim, eu acredito. Piamente. Antes que me mal interpretem, deixo claro que não acredito mais na instituição dos partidos políticos e obviamente não acredito que haja lógica nessas organizações e defendo minha opinião usando como exemplos os fisiológicos partidos políticos brasileiros e usando como exemplo máximo o abraço fraternal de Lula e Maluf, sem contar os anteriores abraços entre o ex-presidente e figuras como Sarney, Renan Calheiros, Michel Temer e etc. O PT, em uma busca frenética pelo poder e pela governabilidade, vendeu a alma ao diabo e fez alianças e amizades escusas que, por um lado lhe permitiu governar com certa tranquilidade e o fizeram bem, com mais de uma década de um bom governo, o melhor depois de Getúlio e Jango, eu diria. No entanto, manchou o seu nome, a sua marca, o seu ideal de partido imaculado e incorruptível. Para completar, não somente foram amigos do PT os envolvidos em escândalos de corrupção, mas inclusive caciques poderosos do partido que governa o país. Somam-se a isso as parcerias bizarras pelo Brasil afora que acabam passando a falsa ideia de que não há mais diferença de pensamento entre direita e esquerda. Há diferenças. Lula e Dilma podem deitar na mesma cama que Sarney ou com integrantes do novo-rico PSD, mas nunca pensarão da mesma forma. Dilma acredita em um Estado atuante e que exerça um papel determinante em relação a políticas sociais e inclusive elaborando regras para impedir a orgia do mercado financeiro; pelo outro lado, tem aqueles que dizem que programas sociais são coisas de “populistas” e que o governo não deveria intervir na economia somente em momentos de crises para salvar os bancos e grandes empresas. Há, então, pensamentos diferentes e que são amostras da existência da velha direita e esquerda. Vale também lembrar que a direita, ao mesmo tempo em que não tolera a interferência do Estado na economia/mercado financeiro, apoia a intervenção do Estado em aspectos comportamentais como a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a proibição às drogas. Vaja contradição! Hugo Chávez é um excelente exemplo que deixa clara a existência dessas duas doutrinas. Os que o acusam de “ditador” e que comemoraram sua morte são os de direita; os que acham Chávez um semideus e o idolatram ignorando alguns atos antidemocráticos do ex-presidente venezuelano, são esquerda. Simples. Sou pessimista e realista e acho que ambos, esquerdistas e direitistas, são hipócritas. Os esquerdistas que idolatram um político que fechou meios de comunicação são os mesmos que acusam a ditadura militar brasileira de ter sido um bando de facínoras antidemocráticos que impediam o livre discurso; por outro lado, os direitistas que chamam Chávez de ditador apesar de que tenha ganhado em TODAS as eleições de forma democrática e limpa e isso é constatado por institutos internacionais como o presidido por Jimmy Carter, são os mesmos que não se importavam com as ditaduras de homens que NÃO foram eleitos de forma democrática como Pinochet no Chile e os próprios ditadores brasileiros e sul-americanos. Também estes últimos não se importaram que Fernando Henrique tivesse feito o seu “mensalão”, comprado o congresso e aprovado a lei que instituía a reeleição no Brasil, mas se enfurecem que Chávez tenha feito o mesmo. Onde está a lógica? Os esquerdistas não deveriam idolatrar Chávez, pois ele não era 100% democrático apesar de ter sido eleito dessa forma, e os direitistas não deveriam repugná-lo por ser um ditador, pois antes e em outros casos, não se importavam com a doutrina ditatorial e isso justifica o meu uso da palavra hipocrisia. Direita e esquerda existem e sim, são hipócritas. A direita delicia-se com as condenações dos mensaleiros do governo do PT, enquanto que a esquerda faz manifestações em defesa desses condenados; por outro lado a direita não parece incomodar-se com o não-julgamento do mensalão mineiro coordenado pelo presidenciável Aécio Neves que inclusive deveria ter sido julgado antes do mensalão petista porque ocorreu antes. Hipocrisia. Por que a esquerda não se importa que Chávez não tenha sido totalmente democrático? Porque a esquerda defende a ideia de programas sociais, algo que a direita acha um absurdo, pois acredita que o Estado deve ajudar grandes empresas e bancos quebrados e não sua população em situação mais vulnerável e acusa tais governantes de “populistas”, pois, segundo eles, ajudam os pobres para ganharem votos. Por que a direita se importa tanto com a falta de democracia de Chávez quando defendias as ditaduras sul-americanas? Porque Chávez correu do país os investidores internacionais e limitou o poder de grupos empresariais que estupravam a economia nacional não deixando quase nada do lucro do petróleo para a população comum enquanto que nas verdadeiras ditaduras sul-americanas incluindo a menina dos olhos da direita que foi a chilena de Pinochet, o mercado especulativo interno e internacional enchia os bolsos de dinheiro e podia fazer seus negócios sem serem importunados. Os primeiros dizem que a falta de democracia de Chávez é “diferente”, pois a oposição também jogava sujo; os segundos dizem que a “ditadura” de Chávez quebrou o sistema produtivo do país como se a Venezuela fosse um país exemplar antes de Chávez e não uma republiqueta no melhor estilo árabe onde meia-dúzia de famílias dominam o coração da economia que é a produção de petróleo e o resto morre de fome. Vale também comentar um pouco mais sobre as acusações de Chávez ser populista. Segundo a direita, Chávez, Lula, Correa e agora Dilma ajudam as camadas mais carentes e que nunca foram ajudadas de seus países, pois são a maioria e garantiriam as suas continuidades no poder. A primeira conclusão que chego é que, para um político ser bom, deve ajudar ninguém e ser “mau” para que não seja querido pelo seu povo e, consequentemente, não ser reeleito. Deve-se fazer um mau governo, isso é o correto, para ser odiado pelo seu povo e não ser reeleito. Isso é uma estupidez. A lógica máxima e o motivo da existência de um Estado é para fazer uma sociedade melhor e servir atendendo os interesses da maioria. Se algum líder faz isso, será reconhecido pelo seu povo e, muito possivelmente, fará que seu grupo político permaneça no poder. É lógica, não “populismo”. Chávez era um anjo? Não. Um demônio? Não. Chávez tinha coisas boas e coisas más. Desenvolveu programas sociais que permitiram a muita gente frequentar uma universidade o que antes de Chávez era artigo de luxo na Venezuela. Chávez tornou a Venezuela o país com a menor diferença social do continente. Chávez atentou contra a democracia? Claro que sim. Fechou meios de comunicação contrários e tornou a vida de críticos impossível. Merece ser demonizado? Não, fez mais para a maioria da população, apesar de que sucateou grande parte do sistema produtivo do país. Esse sistema de Chávez e Cuba devem ser vistos como ideais? Não, claro que não. O sistema capitalista descontrolado que causou taxas de emprego recorde na Europa chegando a mais de ¼ da população em alguns países como Espanha e Grécia deve ser visto como o melhor de todos? Evidente que não. Podemos analisar o mundo de uma maneira simplista em preto e branco onde temos um certo e um errado? Não, jamais. Existem meios termos que poderiam ser vistos como modelos a seguir? Sim, basta ver que os países com melhor qualidade de vida do mundo são os chamados “estados de bem-estar social” onde o governo cobra muitos impostos, dá serviços de qualidade, controla a economia e a diferença social é pequena. No entanto, pensar assim cansa, o mais fácil é por a camisa de um lado ou de outro e cegamente criticar o lado contrário e fazer vistas grossas para o seu lado. Assim caminhamos todos em direção a estupidez do pensamento preconceituoso.

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