Na semana
passada me surpreendi pela falta de espaço que uma notícia, na verdade o
resultado de uma pesquisa, teve, ou melhor, não teve na mídia brasileira. Não
vou negar que vi a notícia em alguns meios, mas sempre pequena e escondida
entre outras tantas menos importantes.
A OXFAM que
é uma organização com atuação em cerca de 90 países e que tem como principal
objetivo a luta contra a pobreza, divulgou, em seu último estudo, que a
população 1% mais rica do planeta irá, prontamente, possuir mais riquezas do
que todo o resto da população mundial. Repito: quem fez o estudo foi a OXFAM
usando dados do banco Credit Suisse, não foi o governo de Cuba ou da Venezuela.
Primeiramente
devo repetir pela enésima vez que considero o capitalismo a menos pior entre
todas as doutrinas e o principal motivo é que o capitalismo é a única forma de
pensar que considera a genética humana, mais especificamente o desejo
intrínseco da maioria dos humanos por acumular propriedades. Qualquer doutrina
que ignora ou tenta abafar essa característica inegável, tende a fracassar. No
entanto, sou um dos primeiros a criticar a forma com que o capitalismo é gerido
em grande parte de nossa sociedade. A turma de Miami que está nem aí para os
99% de baixo, de bate-pronto rebatem: “esses 1% tem o direito de estar onde
estão e aí estão por méritos próprios já que todos nós temos as mesmas
condições”.
O
contra-argumento proveniente de Miami me faz pensar: será mesmo que temos as
mesmas condições? Será que um sistema que permite que 1% possua mais do que o
resto da plebe junta é assim tão perfeito? Será realmente que o Estado jamais
deverá intervir nos rumos da economia globalizada mundial já que essa
engrenagem é vista como perfeita e imperturbável pela elite desse planeta? Uma
vez li uma declaração de Warren Buffet, um dos homens mais ricos do mundo.
Dizia ele que pagava menos impostos que sua secretária. Será esse um mecanismo
justo? Seguindo lendo o artigo da OXFAM e outro dado me surpreendeu ainda mais:
85 pessoas possuem mais riqueza que 50% da população mundial. São 85 pessoas
contra quatro bilhões de pessoas, meus amigos. Será que esse sistema realmente
é assim tão imaculado? Miami diz que um sistema não pode evitar que estas 85
pessoas brilhantes sejam prejudicadas, pois isso seria ir contra a evolução de
nossa sociedade, pois impediríamos as mentes brilhantes de brindar o mundo com
suas genialidades. Será?
Para mim
economia é um dos temas mais complicados de entender entre tantos temas. Lendo
artigos sobre a teoria da relatividade, mais ou menos entendi pelo menos o
núcleo da teoria. No entanto a economia, para mim, é um mistério. Soluciono
isso lendo pessoas que entendem, como quase todos os Nobel de economia dos anos
recentes. Saliento aqui que o autor da pesquisa não foi o governo de Cuba ou da
Coreia do Norte e não estou dizendo aqui que leio Marx ou Engels. Refiro-me aos
mais recentes ganhadores dos prêmios Nobel de economia como, por exemplo, Joan
Tirole, o atual ganhador, que tem como foco de suas pesquisas os monopólios.
Resumindo as ideias desses caras de uma forma lúdica, dizem eles que o acúmulo
de capitais é um dos fatores que impede o crescimento econômico, pois o que diz
a turma de Miami de que esses capitais inevitavelmente voltam à sociedade é uma
mentira. Volto ao estudo da OXFAM que diz que nos últimos anos aumentou de
forma progressiva a porcentagem pertencente ao grupo dos mais ricos, ou seja,
em outras palavras, a “torta” não aumenta, pois o crescimento é travado pela
disparidade, mas aumenta o pedaço desse 1%.
O resultado é cada vez menos
“torta” para 99% da população mundial. Os 1% comem mais torta e deixam cada vez
menos migalhas para a cachorrada.
Usando
agora o método da comparação, vejamos quais são os dez países mais desiguais do
planeta: República Centro-Africana, Serra Leoa, Congo, Níger, Chade,
Guiné-Bissau, Guiné, Burkina Faso, Burundi, Libéria e Moçambique. Os dez com melhor
distribuição de renda são: Noruega, Austrália, Holanda, Suíça, Alemanha,
Islândia, Suécia, Dinamarca, Canadá e Irlanda. Pergunta difícil: onde
preferiríamos morar, na Noruega ou na República Centro-Africana? Se pudéssemos
escolher, gostaríamos de um mundo mais parecido a Serra Leoa ou à Austrália?
O grande
problema é que os beneficiados pela desigualdade são os detentores do poder em
países onde esse problema é grave e jamais mudarão esta situação, pois não lhes
convém. Um dado interessante: nos últimos quatro anos, onde o mercado global
padeceu com a grande crise econômica, as 80 pessoas mais ricas do mundo
aumentaram suas riquezas em 600 bilhões de dólares. Se esse sistema fosse assim
tão perfeito e justo como muitos defendem, não seria lógico que todos perdessem
juntos nesses quatro anos em valores proporcionais? Não seria mais coerente que
estivéssemos, plebeus e G80 juntos na saúde e na doença, na felicidade e na
tristeza? Pois esses cidadãos que estão entre os 50% mais pobres do mundo
PERDERAM 750 bilhões de dólares no mesmo período.
Outra
consequência da crise econômica causada, diga-se de passagem, não pela plebe
mundial e sim pelo avarento e desregulado sistema financeiro, é a tal
“austeridade” imposta por muitos países europeus. Direitos milenares que sempre
garantiram a altíssima qualidade de vida dos europeus estão sendo questionados
em muitos destes países. A solução para a crise causada pelos abutres foi
cortar benefícios dos 99% e, claro, diminuir impostos e facilitar a vida dos
criminosos 1%. Vale lembrar que o governo americano em seus planos de resgates
de bancos que são as organizações criminosas mais podres da Terra, fez jorrar
bilhões e bilhões de dólares nas contas destes que, na maior cara de pau, com
esse dinheiro pagaram bônus recordes aos seus executivos pelos “bons” trabalhos
prestados, como quebrar a economia mundial e países inteiros como a Grécia e o
Chipre, por exemplo. E esse mesmo governo americano não é capaz, ainda, de dar
saúde grátis a sua população mesmo sendo a maior economia de todas. Premiam-se
os culpados e punem-se as vítimas. Nesses momentos não posso deixar de citar o
governo islandês que, após a crise de 2008, colocou na cadeia a maioria dos
banqueiros de seu país por crimes financeiros e trata-se de um país que tem o
sistema bancário como seu carro-forte econômico.
Obama, para
dar um pouco de esperança a todos como eu que não confiam nos atos da elite,
anuncia aumentos de impostos para as grandes riquezas americanas em uma
tentativa de aliviar a carga cada vez mais dura que paira sobre as costas da
classe média americana. Medidas como essa são prontamente rechaçadas pela elite
brazuca miamista que detesta ver rico sofrer e pagar impostos.
Acusa que tudo
vai parar nos bolsos de políticos corruptos. Classe média conservadora brazuca
que se preze detesta ver gente metendo o bedelho em grandes fortunas ou em
grandes meios de comunicação. E também acabamos de assistir a vitória de um
partido na Grécia que promete descumprir com os acordos que têm a Grécia
enforcada e sua população atolada em 25% de desemprego e 50% entre jovens. O
que acontecerá? Paguemos para ver.