sábado, 25 de abril de 2015

Je suis coxinha


Não há, sob qualquer circunstância ou ponto de vista, como ser contra ou condenar as manifestações populares que acontecem em qualquer país do mundo. Qualquer pessoa que defende a democracia não deve se opor aos requerimentos de qualquer grupo da sociedade que sinta que deve ser ouvido pela maioria. Através das redes sociais vejo que algumas pessoas criticam e diminuem as manifestações que ocorreram em março e abril. As pessoas que às ruas foram têm seus motivos diminuídos por serem de classes sociais mais aquinhoadas o que, para mim, não deveria ser condenado. Isso é a democracia. O mesmo comentário vale para os manifestantes coxinhas que hoje estão nas ruas quando criticam qualquer comentário mais “social”, chamemos assim, quando este provem de pessoas da mesma classe deles. Adoro ver as postagens do perfil do Facebook chamado “Socialista de iPhone” que é das manifestações mais ignóbeis que rolam por aí ultimamente e que exemplifica perfeitamente meu último comentário.

O que penso eu dessas manifestações da turma do camarote que andam acontecendo pela primeira vez na história agora no quarto mandato petista? São sim aceitáveis em um regime democrático, mas expressam o que tem de pior na natureza humana

O combate à corrupção é um engodo para expressar todo o seu fanatismo direitista, porque, insisto, nunca foi tão clamorosa a diferença entre direita e esquerda no Brasil. O mesmo fanatismo que criticam dos “radicais de esquerda” existe também com a mesma intensidade cega e irracional do outro lado, dos dois lados.

Sou contra manifestações contra a corrupção? Evidentemente que qualquer pessoa é a favor; sou contra usar a corrupção como motivo para expressar o seu ódio e raiva. Por que estas mesmas pessoas não saíram às ruas após os múltiplos escândalos de governos pré-PT? O que mudou? Fácil pergunta. 

Mudaram os agentes da corrupção. Em governos anteriores a reação dos manifestantes de ocasião de hoje era diferente e, pedindo perdão pela redundância, o que existia era indiferença. A elite pensava: podem roubar a vontade, isso não altera a minha vida já que eu não necessito do Estado. Por que agora é diferente? Porque, repito, mudaram as personagens.

Vale também, antes de seguir com este raciocínio, salientar que os agentes não é que tenham mudado muito. O PT, para finalmente alcançar o poder depois de seguidas derrotas do Lula de barba preta, teve que adotar outra cara, incorporar o “lulismo paz e amor”, se afastar das alas mais radicais do partido e vender a alma para o diabo ao fazer alianças com o que tinha de pior no cenário nacional brasileiro. Devido à oposição raivosa que temos por partes destes protestantes de Miami, se faz vista (ou ouvidos) grossa (ou grossos) a locuções carimbadas como “mensalão do PT” ou “PeTrobras”. Se analisarmos a lista dos acusados pela operação Lava-Jato da polícia federal, fica escancarado que os petistas envolvidos eram minoria. A maioria era do PP, partido que, com outro nome, sempre esteve nos governos de FHC, Collor e Sarney, bem como o PMDB que sempre esteve, está e sempre estará aliado a qualquer coisa, desde o PT até o DEM passando por extraterrestres invasores imperialistas, desde que esteja, eternamente, no poder. E tem, entre os condenados, inclusive ex-presidente de partido oposicionista que lutou até o último momento com Dilma pelo poder. Ah, e tem também candidato falecido que foi a bola da vez para os protestantes da zona sul carioca, da Oscar Freire e do Parcão por alguns meses devido a ser quem poderia tirar o PT do trono. Então por que não vejo cartazes, entre aqueles que pedem intervenção militar, dizendo “fora PP” ou “fora PSDB”? Não seria a resposta fácil? Pura ideologia fanática irracional.

E as mudanças que a turma VIP pede? Eu vejo pedidos de ditadura ressuscitando, vejo “fora PT”, vejo “fora Dilma” vejo até “Dilma puta”, enfim, mas não vi absolutamente um único cartaz bradando contra o maior crime eleitoral de Dilma que foi “afrouxar” as leis trabalhistas algo que ela não faria nem que a vaca tossisse. Será que a turma do camarote não se interessa pelo bem-estar da plebe? 

Claro que não, porque em primeiro lugar, eles apoiam a precarização das leis trabalhistas e, em segundo lugar, qualquer coisa que o PT faça, mesmo que eles sejam a favor, eles simplesmente criticam ou se calam. O PT por muito tempo cortou o IPI, deu benefícios fiscais para grandes empresas, começou a ter relações pecaminosas com as privatizações de empresas públicas, colocou um neoliberal como ministro da fazenda e nada de a direita raivosa gostar. Não fica claro que é um ódio cego e insano? Por mais carinho que a Dilma faça na elite, o ódio ideológico fala sempre mais alto. Falando em cartazes, uma mulher erguia com orgulho um cartaz que dizia “sim ao feminicídio”. 

Juro que é verdade, estava na página do The Guardian. Evidente que a pessoa que defendia o assassinato de mulheres por seus parceiros, nem sabia o que significava o tal verbete, mas semanas antes Dilma havia promulgado uma lei que aumentava a pena de casos de assassinato contra mulheres por parte de seus cônjuges e se o PT fez a lei...sou contra! Dilma poderia fazer uma lei que proíbe os esquartejamentos de bebês menores de dois anos e aposto que haveria gente contra.

As causas da turminha vestida de amarelo que quer trazer de volta a sombra de marchas da família e baboseiras assim é o resultado de uma dor de cotovelo incapaz de cicatrizar. A elite não aguenta mais o PT no poder, mesmo estando este acompanhado por todos aqueles que toda a vida acompanharam os fantoches da elite. Esta turma de amarelo, que adora cantar o hino e se fantasiar de canário, não é muita afeita à democracia, isso todos sabemos e, por isso, quer retirar do cargo uma presidente eleita pela maioria que não tem qualquer crime comprovado contra a sua pessoa. Por que não esperar as próximas eleições e, com a verba triplicada do fundo partidário para os partidos aprovada pela presidente em meio a cortes de gastos para com a plebe e aumento de tarifas de eletricidade e gasolina, somada aos patrocínios lascivos que a elite dá para seus fantoches, não contratam os melhores e mais baixos marqueteiros do país e ganham as eleições? Teríamos algum jovem pleibói no comando cercado dos mesmos coveiros que temos hoje. A proibição do financiamento privado de campanhas seguirá sempre engavetada, o mensalão do PSDB não seria jamais julgado e o escândalo da Alstom tampouco. Será tão horrível esperar três anos mais? Igualmente tudo segue aparentemente funcionando da mesma forma de sempre, a única diferença é que agora alguns czares do PT também ganham o seu bocado de incentivo por parte da elite econômica do país, mas a cartas são as mesmas.

Falando em atos do nosso governo multicultural, os fantoches do poder acabam de aprovar a terceirização de todas as etapas do setor produtivo, proposta esta defendida pelo nosso suposto salvador da pátria Aécio Neves. O jogo do poder é claro. Os anões do congresso recebem suas mesadas da RBS, Gerdau, bancos, construtoras e etc e se aprova uma volta ao passado, uma volta ao período pré-Getúlio Vargas para a alegria do empresariado sanguessuga. Maiores lucros do topo da pirâmide, mais trilhões para se mandar para os paraísos fiscais e nada de cartazes da turma Mickey Mouse dizendo “fora RBS”, “fora Gerdau”, “fora Odebrecht” ou “fora banqueiros”. A elite se identifica com o gel no cabelo dos grandes executivos, ou melhor, “CEO´s” dessas nossas grandes e idôneas empresas e não se importa com a operação Zelote que desmascarou um escandaloso sistema de sonegação fiscal por parte da turminha lá de cima. Também não se importa que o Brasil seja o segundo país com mais sonegação de impostos no mundo, o quarto país com mais capital em paraísos fiscais e um país em que só plebe paga imposto. Em meio a tantas camisas amarelas, a elite raivosa brasileira, que até musa tem, diz que “sonegação não é crime” e “terceirização já” como vemos na foto adjunta e todos sorriem, inclusive os apresentadores globais com cara de anjo cansados.

Os números dos valores sonegados pelas grandes empresas brasileiras são maiores do que o valor roubado da Petrobras; o mensalão do PSDB aconteceu primeiro que o do PT; o escândalo da Alstom foi tão nocivo aos cofres públicos quanto o da Petrobras. Sendo assim, por que, caros amigos de amarelo apoiadores da ditadura, da volta da escravidão do trabalhador e a favor da sonegação de impostos não reservam sequer um cartazinho, pode até ser um post-it para vociferar contra estes? 

Fora RBS? Fora Gerdau? Fora Odebrecht? Fora o Bolsa-rico através dos empréstimos para grandes corporações pelo BNDES? Nada? Contradições e desespero, caros amigos, ódio e raiva cega e preconceituosa. 

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