quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

So Long

Porto Alegre ficou para trás mais uma vez. Fui-me embora novamente sem data para voltar. Essa estadia mais longa na terra natal deixou algumas percepções que não sei bem quais são. Assumindo que a felicidade é uma ilusão e que a vida é efêmera e vulgar, não posso ser muito exigente quando da análise de mais uma visita aos mesmos de sempre nos mesmos lugares.

Quando falo de Porto Alegre falo de meus familiares e amigos. Decepções sempre estão presentes, mas cada vez menos devido a pouca exigência causada pelos motivos explanados no primeiro parágrafo. Não se pode esperar muito e exigir muito de ninguém.

Chegar à casa de minha vó é sempre bom. Feijão com caldo grosso e doces não são os únicos motivos. É bom revê-la, bem como é bom voltar a praticar velhos hábitos que podem ser repugnantes em outros recintos que lá são corriqueiros e banais. A vida pacata de Ipanema também é um fator marcante em todas as voltas para a casa. O calçadão, os moradores ilustres, os personagens, todos são elementos que fundamentam a identidade do bairro.

Ainda falando nesse espaço administrado formidavelmente pela minha vó, a presença de meu irmão é simplesmente encantadora. Em uma época em que muitas vezes sinto que estou morto em vida quando analiso a humanidade e seus súditos, meu irmão é uma figura que resplandece no meio do vazio que assola a todos. Simples, querido por todos, é um grande vencedor e uma das poucas coisas que me causa orgulho. O meu irmão, como diria Obama em relação ao Lula, é o cara. Pessoa livre de qualquer arremedo de egoísmo e sempre disposto a ajudar aos seus entes queridos.

Meus amigos também seguem lá e me fazem sentir como se nunca tivesse deixado a vizinhança adjetivada de “tentadora” pelo meu querido amigo Diego. É sim uma vizinhança tentadora. Eu poderia ficar 100 anos de solidão sem dar o ar de minha desgraça que seria recebido da mesma maneira: sem qualquer empolgação, como se eu estivesse ido ao banheiro e voltado depois de dois anos. É bom ver que todos seguem iguais nos mesmos lugares. Depois de velho qualquer tipo de mudança no cotidiano é daninha. Um herói foi embora do bairro e deixou saudades; felizmente não há fim de semana em que não tenhamos sua boçal e leonina presença. O vizinho à vizinhança retorna, como já dizia o outro.

Meus irmãos não-biológicos também seguem causando-me uma dor profunda a cada momento em que deixo a terrinha. São eles parte fundamental na formulação desse espectro de Porto Alegre. Porto Alegre não é a mesma sem a presença deles, é como ter ido a qualquer terra desprovida de tango e rock and roll.

Eles sabem que estou falando de eles e nesse momento sinto falta de suas doenças, paranóias, complexos e amizade. É difícil encontrá-los. Em diferentes cidades e desconfortáveis aeroportos vejo faces, busco personagens, mas seria necessário mais mil anos para amar alguém como amo meus irmãos.

Os vi mais dementes e problemáticos que sempre, mas sempre lá, imutáveis e ininfluenciáveis. Seus ares depressivos e pessimistas casam perfeitamente com meu pensar e geram boas e tristes gargalhadas.

Já longe mais uma vez tudo se vê mais cinza e aquele guri mais uma vez se esconde, se afasta de tudo e de todos. Até a próxima, caras pessoas.

Um comentário:

Camila disse...

Ai guri, deu um saudosismo ler o teu post e o pior é que quando estamos aqui não valorizamos as coisas simples do nosso dia-a-dia nesta cidade tri.
Espero que possa retornar em breve!
Bjos