sexta-feira, 6 de junho de 2014

Direitinha Miami x Comunistas Cubanos

Acho que todos concordam que as regras, no Brasil, não são sempre cumpridas. As regras, para serem cumpridas ou não, dependem de fatores, de interpretações e a decisão final de cumpri-la ou não, quase sempre depende da consequência que esse cumprimento ou não causará para quem tem o interesse nessa consequência. Como podemos interligar os temas do rebaixamento da Portuguesa, os embargos infringentes dos envolvidos no escândalo do “mensalão” e o direito (ou não) de trabalhar dos famosos mensaleiros? Evidentemente que o cumprimento da regra, da lei, de forma fria e livre de interesses não é o que ocorre no Brasil. Comecemos pelo tema menos importante, a Portuguesa e o seu imbróglio pela permanência na primeira divisão do futebol brasileiro. A regra que qualquer criança ou mulher sabe é que, se um jogador recebe três cartões amarelos e esse número é válido quando falamos do futebol brasileiro, ele é automaticamente suspenso para o próximo compromisso. Pode haver confusão com tal regra? Talvez, nos casos em que há dúvidas se uma suspensão no campeonato brasileiro valeria ou não para a Copa do Brasil, por exemplo. Ou como no caso de Mandzukic, expulso no último jogo da Croácia nas eliminatórias e que não poderá jogar contra os brazucas. No entanto, no caso da Lusa, era no mesmo campeonato, ou seja, o jogador suspenso não poderia jogar na próxima rodada. E jogou. A Portuguesa não havia sido avisada de tal punição; a página da CBF não divulgou o terceiro cartão amarelo do jogador. Estes foram os dois argumentos que, em um país de interesses e de pouca frieza na hora de opinar, mais foram usados. Para mim, ambos totalmente estapafúrdios. Quem deveria saber e ter um mínimo de organização na contabilidade dos cartões amarelos é o clube, não os demais. Culpar os demais com o argumento de que é um clube pequeno enquanto que o beneficiado será um suposto grande (para mim o Fluminense não é grande) é choro de perdedor e incompetente. Por que a maioria das pessoas se manifestou furiosamente afirmando haver uma armação para beneficiar o time carioca? Porque essa maioria prefere ver um clube de maior poder desgraçado e um pequeno beneficiado. É o costume sul-americano de torcer sempre pelo mais fraco. Não houve armação. A Portuguesa com direito perdeu seus pontos, se a federação não houvesse punido a Lusa, abriria o precedente de outro clube ter um jogador suspenso, “esquecer” de tal suspensão e escalá-lo no próximo jogo. A regra foi cumprida. Após escutar meus argumentos, os mais reticentes dizem que então dever-se-ia punir a Portuguesa, rebaixá-la, mas não deixar o Fluminense não primeira divisão o que deixa claro que a indignação é contra a manutenção do suposto grande e não simpatia pelo pequeno injustiçado. A CBF agiu, pela primeira vez, de forma perfeita. Embargos infringentes. Qualquer pessoa com o mínimo de neutralidade admitiria que os condenados no processo do mensalão tivessem esse direito que lhes foi dado. Por que a indignação se a regra foi cumprida? Porque, como no exemplo anterior, havia ideologia ou vontade particular envolvida. Todos sabem que o Brasil possui apenas dois partidos: PT e ANTIPT; Os partidários do segundo partido vociferavam que havia sido mais um exemplo da impunidade brasileira perante seus criminosos corruptos. Pode realmente ter sido, mas seguiu-se a regra, a lei. A lei está errada e beneficia corruptos? Pode ser, mas a culpa não foi dos ministros acusados de serem marionetes do PT. Uma pergunta: por que a indignação não apareceu quando não se julgou o escândalo do mensalão mineiro, o primeiro, que a maioria nem sabe que existe que desviou ainda mais dinheiro, coordenado por Aécio Neves e companhia, antes do mensalão petista, que o crime tucano foi cometido anteriormente? Como sempre, por interesse. Antes de comentar o meu terceiro exemplo, deixo bem claro que sou a favor de que punam todos, não tenho partido, tenho apenas ideologia política, algo que os antipetistas não admitem terem. Dito isso, direciono minha metralhadora aos petistas. Por que insistem em que os seus condenados devem gozar do direito de sair de suas cadeias para trabalhar? A lei é clara e diz que isso somente pode acontecer após pelo menos um sexto da pena ter sido cumprida, o que não é o caso. Vive-se no Brasil uma das eleições com mais manifestações insanas e ignorantes de lados radicais que não apresentam argumentos ideológicos e sim um ódio assustador contra um governo que, se analisamos friamente, foi bom, para mim o melhor depois de Getúlio Vargas e Jango. E a corrupção? Existiu como existiu em todos os governos desse país. O PT não a inventou apesar de que é isso que a direitinha Miami quer que engulamos. Talvez o PT possa ser acusado por seus fieis seguidores, pois sempre pregou a ideia de cavaleiro da decência e depois, caiu na sujeira da corrupção. Ou pode ser acusado pelos radicais de esquerda que insistem em defender sistemas notadamente fracassados. O governo do PT, analisando em números frios, diminuiu a desigualdade social, aumentou o poder de compra dos mais pobres e dos mais ricos, tornou os bancos ainda mais lucrativos, deu seu “bolsa-rico” para os produtores rurais com empréstimos bilionários a juros de 1-3%, deu seu “bolsa-família” para os esquecidos, se vendeu mais carros, ou seja, lucro para as multinacionais montadoras, se comeu mais hambúrguer, ou seja, lucro para o demoníaco Mc Donald´s, inchou a classe média, tirou milhões de pessoas da pobreza, conseguiu fazer o país crescer mais que o governo anterior de FHC mesmo em tempos de crise, a pior desde 1929, investiu o que nunca ninguém investiu em educação superior e poderia seguir, mas acho que já é suficiente para ser considerado um bom governo, muito melhor que os governos de Sarney, Collor e FHC, o que pode não significar muito, mas deixa claro que não merece toda essa sangrenta raiva da direitinha Miami. A direitinha Miami posta fotos de pobres no Facebook com textos que dizem que esses pobres diabos não querem trabalhar porque vivem do bolsa-família, programa que, diga-se de passagem, a oposição, sim, o PSDB, quer que seja considerado filho seu também. O bolsa-família paga um valor irrisório, não são nem R$150,00 e é dado para pessoas em situação de emergência, ou seja, gente que passa fome. A direitinha Miami e seus conceitos de meritocracia esbraveja que estes devem é trabalhar! Evidente que sim, e tenho certeza que a maioria dos beneficiados quer trabalhar. No entanto, tentem ficar mais de 4 horas sem comer e vão se dar conta de que é pouco confortável e temos que admitir que governo algum no mundo emprega todo mundo em menos de quatro horas. Ah, crianças que comem mal, têm problemas de aprendizagem o que torna a meritocracia da direitinha Miami um argumento esdrúxulo. Quem terá mais chances de entrar numa universidade pública, o estudante de classe média ou o morto de fome? O bolsa-família só pode ser criticado por dois tipos de pessoas: desumanos ou direitistas Miami que estão embriagados no seu ódio a ver o PT no poder, não há outra. Vale também destacar que bolsa-família é dado apenas às mães que mantêm seus filhos na escola, ou seja, mais importante do que o que eles podem comprar com isso é o fato de manter crianças na escola. Torna-os mais competitivos no “justo” mercado da meritocracia e há menos chances de formar bandidos para importunar a direitinha Miami. Também ninguém faz economias com o dinheiro do bolsa-família. As elites sim desaparecem com esse dinheiro mandando para as ilhas Caimã ou Suíça, mas a chinelagem dos bolsa-família gasta esse dinheiro dentro da própria comunidade, pagando impostos e gerando desenvolvimento. Li histórias de pequenos povoados, principalmente no nordeste do país, que o PIB desses pequenos lugares perdidos nos mapas depende quase que exclusivamente do dinheiro que circula que agora pode ser gastado por sua população, dinheiro extra esse que veio do auxílio. O que isso gera? O dono da venda do povoado tem que contratar alguém para ajudar, pois aumenta o volume de clientes. O novo funcionário ganhará um salário e gastará comprando mais comida o que beneficiará o dono da venda que poderá comprar uma televisão nova e uma bicicleta pro filho, o que fará com que as lojinhas locais tenham que contratar mais gente...física quântica? Não, a regra básica do capitalismo, enquanto mais consumo e consumidores, melhor para a engrenagem do sistema. A direitinha Miami agora esbraveja: “ok, pode ser que ajude o sistema, mas o governo faz isso para comprar votos!” Esse, pelo menos para mim, é o argumento mais estapafúrdio entre os tantos da direitinha Miami. Ora, então será que um governo deve ser ruim para com a maioria de sua população para então não ser acusado de querer “comprar” o apoio? Os rechonchudos direitistas Miami com suas camisas Ralph Lauren com números imensos costurados por todos os lados agora dizem: “mas os comunistas do PT nos querem transformar numa Venezuela, em Cuba! Existem escolas que se chamam Che Guevara e as crianças agora têm cantar o hino da internacional comunista antes da aula!” Ave Maria, quanta mania de perseguição, parece que o efeito do Plano Cohen segue reverberando pelos xopins de Miami. Bom, sem falar que os bolsonarinhos não reclamam de colégios chamados Castelo Branco ou avenidas com o mesmo nome. Como sempre, dois pesos, duas medidas. É impressionante como esses dois países tiram o sono da direitinha Miami. Cuba dá pena. Uma ilha abandonada pela União Soviética há décadas que não deixa sua população sair do país e não tem nem Internet é vista como uma imensa ameaça. Na cabeça dos Ralph Lauren Cuba está para o Brasil como a Rússia está para a Ucrânia. Cuba não existe. Não é ameaça. O fato de a velha guarda retrógrada e ideóloga do PT admirar um país que não funcionou quando teve que caminhar com suas próprias pernas após o corte do cordão umbilical soviético não quer dizer que o partido queira que o Brasil seja Cuba, pelo contrário. Nunca os bancos ganharam tanto dinheiro. O crescimento econômico fez com que pequenas, médias e grandes empresas aumentassem seus lucros. Se a classe média compra mais, a elite ganha mais. Pobre viaja de avião, bom para os bolsos dos donos das companhias aéreas; a classe média está comprando mais comida – bom para os proprietários de grandes cadeias de supermercados. Outra vez: a lógica do capitalismo. Sobre a Venezuela, se vemos as manifestações dos Miami é de entristecer. Parece que a Venezuela era uma Noruega antes de assumir Chávez e companhia. Não era. Longe disso. A Venezuela pré-chavismo era um grande desastre. Diferentemente do que acontece hoje onde o governo vira a cara para a classe média e para a elite e se foca em dar benefícios aos pobres, antes de Chávez era um emirado mais afastado do Oriente Médio. Uma plutocracia da pior qualidade, onde grandes potências mundiais se instalaram para lucrar exorbitantemente com o ouro-negro enquanto que a massa não tinha nem o que comer. Talvez por isso não faltasse papel higiênico antes. Isso não poderia durar eternamente. Aí entra o que sempre digo: as elites, na maioria dos lugares do planeta, são extremamente gananciosas e burras. Não se dignam a dar o mínimo de condições aos mais pobres e depois acabam perdendo seu estrelato, vide a Venezuela, a Líbia, a Tunísia e a Tailândia, por exemplo. A direitinha Miami esbraveja que a segurança pública da Venezuela e a falta de liberdade de expressão e de clareza nas eleições que sucessivamente elegeram a turma do Chávez são vergonhosas! A Venezuela nas décadas passadas era tão violenta como é agora, a diferença é que antes o governo protegia aos mais aquinhoados, o que não o faz hoje. Vale citar um fato incrível. O Real Madrid foi jogar na Venezuela na época de Di Stéfano que, neste momento, era o maior jogador do mundo. O que aconteceu? Di Stéfano foi sequestrado! Uma baderna tão grande como é agora. Falta de liberdade? A direitinha Miami não parece se importar com a falta de liberdade da ditadura militar no Brasil e adora postar fotos do Bolsonaro louvando épocas de esplendor do país onde somente as elites tinham voz. Eu me dei ao trabalho de ler jornais venezuelanos online e tinha até uma notícia de capa que dizia: “Madona diz que a falta de liberdade na Venezuela é absurda”. Vários meios são contra o governo e seguem ativos. Falta clareza nas eleições? Esse, para mim, é o argumento mais idiota. Os governos de Chávez e Maduro ganharam eleições, pois a maioria, ou seja, as camadas mais pobres da população se veem beneficiadas por tais governantes e os reelegem! Simples! Além disso, vale salientar que o Instituto Carter, administrado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter e que trabalha com o acompanhamento de eleições pelo mundo afora, esteve na Venezuela em todas as votações e declarou serem os sufrágios nesse país livres de qualquer irregularidade. A direitinha Miami é tão limitada e raivosa que a essas horas, se seguem lendo meu texto, já devem estar dizendo que eu sou um comunista que apoio o mensalão. Não sou nem comunista, nem petista, como já havia dito antes. Apenas analiso fatos friamente. O PT está longe de ser perfeito, está recheado de corrupção interna e de aliados da pior qualidade como Maluf e Calheiros, por exemplo, que, diga-se de passagem, são de outros partidos, mas ainda assim conseguiu manter parte de sua ideologia que se viu refletida na economia e no papel social do Estado que é tão criticado pela direitinha all-inclusive que adora viajar de férias na França e postar vídeos de como funciona o sonhado e paradisíaco estado sueco ignorando que esses dois países são dos que mais benefícios sociais dão para suas populações. Os mesmos também inventaram um termo que admito é muito criativo que é a “esquerda caviar”. Mais um exemplo do pensamento ignóbil dessa direita que não suporta ver a ascensão do pobre, do que eles consideram inferiores. Será que por nascer em uma família abastada eu não posso pensar nos menos aquinhoados? É a mesma teoria de quem me critica por torcer pra Argentina. “Mas tu nasceste no Brasil!” E daí? Eu torço para quem me der na telha, livre arbítrio, liberdade de culto, de expressão, caros fascistas. Vociferam os raivosos miamistas que, por ter subido na vida, Lula ou qualquer outro “comunista” não pode mais se importar e querer o bem-estar dos esquecidos, pois isso seria oportunismo demagogo. Por quê? Quem disse que há de ser pobre para defender um pobre? Há de ser negro para defender o direito dos negros? Há de ser escravo para lutar contra a escravatura? Abraham Lincoln era um oportunista ou um herói? Tendo eu ganhado dinheiro e consequentemente melhorado de vida me obriga a seguir morando na rua e comendo lixo? E o culto miamista da vitória pela superação pessoal que existe, pois o capitalismo possibilita? Nasci negro, nasci pobre. Matei-me estudando, era brilhante, entrei numa universidade pública, terminei um curso com louvor e tenho um excelente trabalho, estilo novela da Globo. Devo eu ignorar a minha história e devorar meu caviar não dando a mínima bola para os que comem pão com água? E, para completar, mandar dar “cacete” na plebe, como declarou o ex-pobre Ronaldo Nazário? Os partidos são entidades fisiológicas que perderam suas identidades? Não há dúvidas; no entanto, a guerra radical de ideologias disfarçada de apartidarismos ideológico está mais intensa que nunca.

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