quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A Barata

Todos os dias acordo as 6h40min e chego em casa, em média, as 23h20min. Ontem, já mais para a 1h do que para as 0h, fui ao banheiro pela última vez antes de entregar-me à minha cama.

Saindo do banheiro, já apagando as luzes, vi uma barata. Robusta e lépida como todas as demais, uma ordinária.

Parei por uns segundos, o cansaço dono do meu corpo, olhei para baixo, ela estática me fitando e, imagino, já planejamento a maneira que iria escapar da maldade humana. Nada fiz. Passei por ela ignorando-a. Se ela se sentiu mal, feia ou acima do peso, não sei. Apaguei a luz e fui dormir.

Hoje de manhã a primeira coisa que pensei foi a minha última ação do dia anterior. Era 6h40min de novo. Amanheci e pensei: gostaria de ter nascido uma barata.

Tenho aula até as 22h45min, matéria insuportável, 8 créditos, professores desqualificados, desânimo total. Não tinha a vontade de ver a vida de uma maneira diferente, não era isso, apenas gostaria de ter nada para fazer hoje.

Admito que as baratas vivem eternamente com a tensão de poder ser esmagadas a qualquer momento. São conscientes da ira que geram na raça humana. Por outro lado, os humanos não são muito diferentes. Muitos buscam, até pagam, para ter a sensação de medo, perigo. Além disso, o nosso dia a dia não oferece todas as condições de segurança almejadas, enfim, não somos muito diferentes das baratas com relação aos pontos negativos.

Já se analisamos os pontos positivos, sou obrigado a dizer que só os alcanço a ver nos fins de semana. De segunda a sexta é só desgosto: horários, responsabilidades, encheção de saco. E as baratas? Não têm horários; muito menos responsabilidades. Comem quando sentem fome, dormem quando sentem sono, são ágeis, resistentes à radiação atômica, personagem central de obra clássica, enfim, enquanto eu me obrigava a ir dormir devido ao cansaço e à obrigatoriedade de despertar de novo, algumas horas depois, ela estava lá, passeando por um banheiro, muito provavelmente em busca de um grande amor ou apenas de um parceiro sexual também com insônia e lascívia.

Jamais esquecerei o olhar daquela barata burlando de minhas olheiras e desespero; se a vejo de novo, não hesitarei em matá-la, somente por vingança, sentimento bem de ser humano.

Finalizo louvando as crianças e o dia delas que está chegando. Melhor fase da vida. O período onde somos tão felizes quanto as baratas.

Um comentário:

Pree disse...

Pra melhorar tua reclamão, todo dia eu acordo às 6h10 e chego em casa 23 e picas...acho que estou em desvantagem, não?