quarta-feira, 27 de junho de 2007

A Arte De Escrever Mal

Dizia uma reportagem especial do jornal Le Monde sobre Charles Bukowski que ele teria dito, em uma entrevista concedida ao caderno "Diplomatique", que tinha consciência que escrevia mal e que o fato de saber isso era o que fazia com que seus textos fossem aceitáveis ou bons.

Não sei se é o único fator ou o determinante para uma boa escrita, mas concordo. Aliás, não acho que ele escrevesse mal e daí parte meu comentário de hoje.

As vezes penso: eu odeio cinema e literatura. Penso isso pois a maioria do que leio ou vejo é ruim, diria até que é muito ruim. O bom e o excelente são raros - e preciosos.

Nada é pior do que feia burguesa tentando parecer a mais gostosa do pedaço, a última bolachinha do pacote. Há somente uma coisa pior que é o texto pretensioso.

Refiro-me à tentativa do escritor de passar a idéia de que é um grande escritor, mais ainda, um sábio, um poço de sabedoria, um ser superior, esse maldito dogma de que quem escreve é quase que um ser metafísico.

Sou contra a "arte pela arte" na literatura, vide o Romantismo brasileiro, piegas, insuportável. Além disso, o uso de expressões e/ou opiniões, normalmente fatos ordinários do cotidiano de todos que são usados com o objetivo de arrancar um "ah, é bem assim mesmo, adoro esse escritor". Nada é mais patético que agradar ao leitor, a falta de coragem e de segurança de quem escreve, a falta de ousadia e o medo de chocar, de ser radical.

A vida é uma grande série de decepções. Decepcionamo-nos diariamente. A cada decepção vemos o quão iludidos e idiotas somos. A cada bom texto lido, nos decepcionamos e vemos o nosso grau de idiotice e com isso crescemos um pouco.

O que vale ler o relato de alguém que acordou com sono e bateu com o minguinho no pé da cama e sentiu dor lancinante? "Bah, é bem isso que acontece com a gente mesmo". Essa é reflexão com teto de cimento e barras de ferro que vamos ter. Aniquila, impede a verdadeira reflexão. Há limites.

Por isso, jovens e velhos "blogueiros" escrevam mal, por favor, agrado encontramos longe dos textos. As crianças e nossos amores seguem sorrindo sendo fonte renovável e inesgotável de agrado e prazer para qualquer um que tenha sensibilidade mínima e/ou um amor.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Reforma

Muito se fala de Reforma Política e Tributária, realmente são duas necessidades imediatas para o país melhorar um pouquinho. Mas outra reforma que deveria ser feita é na maneira com que são julgados crimes parlamentares. Não sei como se chamaria essa reforma, Judiciária não pode ser pois essa gente não é julgada como os pobres mortais, eles têm seus tribunais particulares e coniventes, mas o nome é o de menos. Poderíamos colocar um nome engraçado como estes das ações da Polícia Federal, novos e passados: Xeque-mate, Navalha, Sanguessuga, Vampiros, Anões do Orçamento, Apagão, enfim.

Renan Calheiros, presidente do Senado, está acuado. No entanto, não demonstra tanta preocupação ciente de casos passados ocorridos com amigos e desafetos.

Algo melhorou no Brasil. Antes, casos como este tinham pequena repercussão e, em muitos casos, eram abafados. Hoje não temos condenações adequadas, mas pelo menos temos a publicidade dos fatos. Infelizmente "o povo não tem memória" e por mais que vejamos difamações públicas como Collor, Sarney, Jader, Maluf, entre outros, eles são eleitos depois de alguns poucos anos.

A coisa está tão feia para Renan que ele, no desespero de justificar a origem do seu dinheiro, começou a "fabricar" notas fiscais de supostas vendas de gado. Os alegados compradores, são empresas que tiveram seus CNPJ's expedidos nas últimas semanas e não possuem sedes, donos, nada.

Até na avenida Paulista tem mais gados que na fazenda do Renan. Tudo é uma grande tentativa de escapar de um buraco obscuro e imoral que não tem saída.

O curioso da história é que, como em outros casos de nossa história corrupta, o estopim da crise foi dado por um envolvimento pessoal. Dessa vez "amoroso".

Teve um filho com uma jornalista "oportunista" e, naquela celeuma de pensões, acabou tendo os seus probleminhas. Barraco puro. Dessa vez não foi motorista, guarda-costas ou capataz e sim a amante ferida.

Há alguma chance de, após renunciar ao cargo, ele seja mandado para atrás das grades? Mais fácil o Grêmio reverter os 0-3 do Boca. Esse benefício de "julgamento especial" é o maior incentivador da corrupção política do país. Lembram dos juizes cariocas, outra classe que goza dessa diferenciação judicial? A punição foi uma "aposentadoria compulsória", ou seja, foram "obrigados" a se aposentarem recebendo salários integrais.

Esse é o próximo passo. O trabalho de investigação feito pela Polícia Federal no governo Lula é o melhor de toda a história desse Paraíso Tropical. No entanto, a minha reforma, ainda anônima, anseia pela sua aprovação.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Caxias Com Grife

Deu a lógica. Para quem tem um pouco de senso crítico, discernimento e não se deixa influenciar por discrusos acalorados e/ou papo furado da atmosfera na aldeia, o jogo ontem foi a coisa mais normal do mundo, mais previsível que final de novela.

Antes de começar o jogo resmunguei: o Boca vai ditar o ritmo, administrar a partida e fará o jogo se tornar chato. Não deu outra. O Boca com a bola, jogo chato, morno, primeiro tempo de causar sono, o Grêmio esbarrando na incapacidade individual de seus jogadores e na ampla, absurda superioridade do Caxias C.G. em todos os sentidos do rival. A defesa do Boca parece frágil, disse eu depois do primeiro jogo. Ora, cometi o erro de analisar um adversário que não vejo jogar constantemente. A defesa foi impecável e Cata Díaz foi o melhor em campo.

Acho que, com essa derrota, vamos acabar com essas paulocoelhices de "imortalidade" e mais não sei o que, essa lenga lenga de auto-ajuda. Tudo bem, o Marsiglia pela primeira falou algo que eu concordei e não tinha visto por esse lado. Segundo o ex-árbitro, a torcida estava com toda essa empolgação justamente por IGNORAR o adversário pois, se parasse para analisar o adversário, sem paixão e com o cérebro, nem iria ao estádio.

Sobre o jogo, hoje estou bonzinho, vou dar crédito a mais um midiático e agora um coirmão, Falcão. Pois o Paulinho disse que o Grêmio era a vontade tentando combater a técnica do Boca e foi essa a tônica do jogo. Segundo o mágico Mano Menezes, o Boca, com a vontade aflorada de meter gols no Grêmio na Bombonera, tornou os seus jogadores mais passíveis ao erro, enquanto que ontem, jogando com tranqüilidade, escancarou a todos a absurda diferença técnica dos elencos dos dois times. Ainda falando de Mano, ele disse: "não dava para chegar mais longe que o vice. O que acontece é que geralmete o melhor ganha e foi o que aconteceu". Aliás, jamais vi tanta coerência e frieza em uma entrevista de pós-jogo.

O Grêmio é um time médio. Convenhamos, o Mano tirou leite de pedra, pois levar um grupo sem reservas decentes (Éverton entrou no segundo tempo...) com Tcheco, Tuta, Patrício e Lúcio no mesmo time (é quase 40% dos 11 que iniciam!) até a final da Libertadores, é algo louvável. O Grêmio tem um jogador que gostaria de conhecer o seu empresário, que deve ser muito incompetente. Alguém responda: por que o Gavilán está jogando na América Latina ganhando em reais? É jogador de Europa. É, guardando as devidas proporções, o nosso Riquelme, me refiro à diferença dele em comparação com seus companheiros de time. Está em outro patamar.

O Boca sem Riquelme é muito mais time que o Grêmio; com Ele, é sacanagem. O homem é bom demais. Reclamou-se do Mano por não ter colocado marcação individual no homem. Ora, este marcador seria expulso sem sobra de dúvidas. Ele fez o certo e Riquelme foi extremamente bem marcado ontem. E Mano disse: "um craque tu podes marcar muito bem como fizemos hoje durante 80% do jogo, mas em um lance ele se livra da defesa, vai lá e decide". O cara é um monstro.

Lucas: desculpa, pessoal, mas dei prazo demais para que ele me convencesse. Vocês se aproveitaram que eu não estava na província para me venderem a idéia de que esse cara era fenômeno...e ele é fraquíssimo!

O Schiavi já completou algum jogo sem receber cartão amarelo? Não estou criticando, só uma curiosidade.

Torcida do Grêmio, foi legal a paixão cega, entendo, isso é legal, mas não caiam na onda de novo para evitar decepões. Resta o Brasileiro. A Libertadores não dava pra ganhar com esse time, mas o Brasileiro si se puede. Basta alguns arranjos. Temos a grana do Lucas e do Ânderson, dá pra montar um grupo melhor e um time forte.

Não foi pênalti. No mais, arbitragem perfeita.

Saudações tricolores.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Saudades

Ai, que saudades da civilização! Que saudades de Londres, quase 3 meses abaixo da linha do Equador já me estão matando.

Sinto falta da imponência de Londres, da diversidade, da forte identidade da cidade que aparece a cada esquina e construção.

O cheiro do inverno...o cheiro do frio chegando, as árvores secas do Hyde Park na altura de Bayswater, das promoções inacreditáveis das livrarias de Notting Hill, da elegância do povo, da beleza das mulheres e crianças, da simpatia das gordinhas roliças...

Do ruído do metrô chegando, do bafo quente, prenúncio da chegada do trem, dos avisos constantes e repetitivos de "Mind The Gap", "Can I have your attention, please", "This train is ready to depart" entre outros, a voz era sexi, eternamente irei formular no meu imaginário as feições da dama que pronuncia todos os dias sem se cansar ou se aborrecer essas simples e zelosas palavras.

Caminhar na orla do Tâmisa, programa de domingo, grátis, sentir o vento frio queimando o rosto, ver a alegria das crianças alimentando aos "flyrats", as malditas pombas gordas e saudáveis de Londres, saudades de usar o Oyster, de comer barato aos domingos em Camden Town, de conhecer gente interessante, imigrante, de escutar o sotaque inglês em uma conversa de pai pra filho no segundo andar do ônibus de manhã. O filho veste terninho e bermudas, estilo Bart Simpson e eles conversam sobre clima, futebol ou Congestion Charge.

A pompa inglesa, a fachada espetacular do Ritz Hotel, da Harrod's, a elegância de Chelsea e Kensington, as casa surreais de Hampstead, a harmonia dos parques, o futebol em Clapham domingo de manhã, o clima nostálgico e muito europeu de Portobello Market, as feiras, Greenwich e sua calma, mulheres não bonitas nem gostosas, senão espetaculares, obras divinas, alvas, deslumbrantes. Tudo. A efervescência, as novidades, as mudanças.

Alguém já se indagou se, quando se não está em algum lugar, será que esse lugar segue funcionando igual ou está congelado esperando que a gente chegue lá? Sempre tive essa dúvida que jamais será esclarecida, mas Londres eu sei que, a essas horas, ou a qualquer hora, está funcionando. É a cidade mais viva do mundo.

terça-feira, 19 de junho de 2007

O Rei De Havana

Olhem para a cara do autor na orelha do livro e já se terá uma idéia do nível da literatura a ser apresentada. A linguagem é de um calão subterrâneo, rechedada de palavrões e tenta, a todo o momento, passar a idéia de caos em um submundo de Havana.

O autor peca na insistência de atos sexuais bizarros e na repetição de ações pútridas, mas a obra é, no mínimo, interessante.

A vida de Reynaldo, "O Rei De Havana", uma vida sem a mínima esperança, perspectiva e sentido. Uma narração de suas "aventuras" nos meandros da podridão do meio ao qual faz parte.

O final do livro, o último golpe sujo do autor, lembra a devassidão do final de "O Perfume". Não é tão brilhante e tampouco surpreende tanto quanto, mas é cru, rápido, imapaciente e, claro, podre. Ânsia de vômito durante toda a rápida leitura e a certeza de que algo está fedendo perto do leitor são possibilidades que devem ser consideradas antes de iniciar a leitura.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Pan, Pan, Pan, Pan!

Pelo amor de Deus e/ou do Diabo, alguém sabe quando termina esse Pan? Qualquer tema dominante se torna insuportável. Mas, quando o tema é insuportável, a repetição dele se torna catalisador de suicídios.

A volta à Porto Alegre e ao trabalho de 8 horas diárias me puseram a par da televisão aberta. Sou, agora, compelido a ver Globo Esporte na hora de almoço. Após um almoço rápido, tonto com o tilintar de talheres das pessoas ao redor, todos na ânsia de alimentarem-se para voltar a produzir algo, saio para o segundo capítulo da tortura diária. O Globo Esporte é Pan.

A Globo quer nos convencer de que somos um povo amante dos esportes. Ora, odiamos esportes, isso é notório! Brasileiros gostam é de quem está ganhando. Se morre o Ayrton Senna e entra o Barrichello, cai audiência de Fórmula 1. Se a seleção brasileira está mal das pernas, os mangolões do vôlei ganham a atenção da Nação. E o tênis, esporte nacional? É assim. Odiamos esportes e eu mais do que todo mundo.

As Olimpíadas já são um porre, o que sobra para esse Panamericano? E para nos gaúchos, que nem participamos? Eu, só de birra, vou secar. Depois de acompanhar diariamente nordestino correndo atrás de uma tocha, eu revi meus conceitos e definições do verbete "sofrível".

O Brasil é a marionete da mídia. Todos estamos empolgados contando os dias para começar o Pan. O Pan é tudo que sempre queríamos! Imagina ver a bandeira verde e amarela no alto do pódio após o Brasil conquistar o ouro no tênis de mesa? Quanta emoção! Sem falar nos nossos fiéis representantes da Nação, os iatistas escandinavos e os jóqueis belgas. Temos que torcer por eles! São os salvadores da Nação!

Pra completar, tive que rir ao ver o Lula assinando o termo de compromisso do governo brasileiro para com a FIFA. Sim, em 2014 tem Copa do Mundo, viva o PAC e a Gautama, e o Lula assinou um documento que tinha, em seus tópicos, garantir segurança pública e, pasmem, transportes de qualidade...

Até o Haiti deve ter um sistema de transportes aéreo mais eficiente que esse caos brazuca. Temo por um festival de WO's na Copa e no Pan, com atletas que ficaram esperando vôo da VARIG em algum aeroporto fechado desse país.

Mas não há de ser nada, já faltam somente uns 15 dias, ou menos, nem sei, viva o Pan, Baloubet du Ruet e Torben Grael! E viva o Haiti, nossa colônia, irei torcer por eles no Pan!

quarta-feira, 13 de junho de 2007


Que Jogo!

Hoje vamos ver uma final de Libertadores de respeito. Final com o Inter, time covarde e regional, não é uma final clássica de Copa Libertadores, ainda mais quando o adversário da final é o São Paulo, time de bambis saltitantes

Mas já mandamos o São Paulo para casa e vamos para uma final classe A, contra o maior clube da América Latina, clube este que esteve presente em 4 finais somente na década vigente, ganhando três títulos. Vou mais além. O Boca é a maior instituição da Latrina, nada e ninguém move tantas paixões e loucura quanto o Clube Atletico Boca Juniors.

"La Bombonera no tembla, late", para os desconhecedores da língua oficial da América, "A Bombonera não balança, pulsa", essa é a idéia e o eslogam da Bombo, maior teatro do futebol mundial com sua arquitetura bizarra e com a constante presença do maior jogador de futebol de todos os tempos com seu carisma e insana loucura nos camarotes.

Grêmio e Boca são dois clubes grandes, enormes, gigantes; não são apenas grandes times como Cúcuta e Inter. O primeiro formou um time bom, mas, daqui 2 ou 3 anos, cai pra segunda divisão colombiana e sucumbe. O segundo, bem, todo mundo sabe o que é o Inter, time que, quando disputa a Libertadores, cai na primeira fase, vide 93 (classificavam 3 de 4) e 2007.

O Boca é o meu favorito. Tem o melhor time, bons jogadores em todas as posições a exceção do goleiro que é fraco e o melhor jogador do continente, Román Riquelme, gênio, plástico, artista da bola. Jogador que, não fosse sua condição de eterno guri pobre e acanhado, já teria ganho esses prêmios de melhores do mundo algumas vezes com a camisa do Barcelona, mas Román tem ojeriza e medo dos holofotes além de alergia à purpurina.

21h45min, ou na hora em que a novela acabar, vamos presenciar uma batalha campal histórica, uma final comparável a 83 quando o Grêmio enfrentou o poderoso e favorito Peñarol, uma final de dois castelhanos de fibra. E, por favor, aceitem, o Brasil está FORA da decisão da Copa Libertadores da América de 2007.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Tempo

A falta de assunto é algo que me entristece. Prefiro o silêncio aos assuntos estúpidos. Começo de estação é triste. Todo mundo sabe que esfria no outono assim como é notório e nada de espetacular o fato de termos verões insuportavelmente quentes. Por que todo mundo fala tanto do tempo?

Falta de assunto. Manhãs de 5 graus são excelentes para boas conversas, abordar assuntos interessantes. Dias chuvosos são perfeitos para uma reclusão de leitura ou Playstation, mas não falar da chuva, prospectar até quando e quantidade de chuva chovida.

Prefiro ser antipático e simplesmente aceitar as opiniões adversas, apesar de amar o frio e e a chuva. Calor é ordinário e promíscuo.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

O Papa é pop

A triunfante chegada do pontífice santíssimo salve salve Papa Bento XVI ao Brasil trouxe muitos problemas ao país. Além dos mais óbvios como o caos no trânsito das periferias em São Paulo e a fortuna gasta pelo governo, esse santo fato foi o responsável pelo assassinato da preguiça que adiava a construção do meu blogue. Tinha que escrever sobre essa comédia. A cada pós-almoço vendo as imagens, a cobertura midiática, idiótica, o fanatismo, as esperanças vendidas, propagadas, metidas goela abaixo, as declarações, os litros de pranto, aquela vontade de, meu Deus, tenho que escrever sobre isso. Posso rir, mas tenho a função como cidadão de escrever sobre isso, documentar esse momento de santíssima santidade.

Tudo bem, o alemão santo condenando o uso da camisinha, condenando o aborto, as mães solteiras, o segundo casamento e tudo mais, isso mereceria um texto, uma crítica, mas isso já está mais do que batido. Se fosse o único a relatar minhas idéias sobre o Pontífice amado de todos, obviamente abordaria esses temas, mas não é o caso. Vamos nos divertir com o xou de horror da chegada do representante de uma coisa que nem sabemos se existe na Terra. Alguém já parou para pensar e definir o que é um papa? É o representante de Deus na Terra. Ninguém sabe o que é Deus e ninguém tem certeza de sua existência e o seu representante é um dos caras mais importantes do mundo. Tudo é assim de curioso e de pitoresco no que rodeia isso tudo, essa pontificidade toda.

O Brasil é um estado laico. Bom, isso é o mínimo que se pode esperar de um país. O Lula declarou isso e depois completou: "se Deus quiser a chegada do Papa irá ser um catalizador dos nossos projetos para melhorar esse páis". Nada "laica" essa frase, mas tudo bem, o Lula só está continuando com a sua busca pela "governabilidade", não sobra nem para o Papa.
No entanto a declaração de Lula tem ecos na multidão. Multidão essa que está lá dormindo no chão, morrendo de frio, cansaço, desde as 5 da manhã em filas, tudo isso para ver esse "pop star". Sim, ele é um pop star, um Michael Jackson de 80 anos.
Vamos pensar na teoria da sociedade do espetáculo. A visita do Bento a qualquer lugar é, antes de qualquer coisa, um espetáculo. Atrai mais mídia, gente e holofotes do que qualquer pop star americano. Só Rolling Stones botou mais gente no Rio de Janeiro para vê-los e adorá-los, mas daí já é covardia. O Papa é foda, mas não é o Mick Jagger! Assim como Jesus Cristo não era tão famoso como os Beatles.

A visita do Papa ao Brasil é uma tentativa agônica da Igreja Católica de, primeiramente, criar uma boa imagem do Bento. Todo mundo abaixo do Equador o via como um cara amarrada, não tão bom velhinho como o João, seu antecessor. O papa chegou aqui todo carismático, sorrindo, falando em português, bem como já fizeram outros tantos de sua classe como Mick Jagger, Frank Sinatra, Bono Vox, esse último mais marqueteiro que o próprio Papa.
O Papa é tri legal, não há dúvidas. É alemão, mas não é chato como o Schumacher e o Kahn, por exemplo. Bom, o segundo e principal motivo da vinda do Papa ao maior país-pobre-católico do mundo, é que aqui está a salvação da Igreja como instituição.
Na Europa a Igreja Católica a cada dia que passa fica mais sem graça, mais esquecida. Suas idéias repetitivas (aborto, camisinha...) lá já encheram o saco. Aqui está a salvação, aqui é pobre e ignorante, nenhum mercado é mais receptivo do que esse. O Brasil recebe o Papa representando a América pobre e ignorante, representamos os nossos irmãos populosos e católicos México e Colômbia e também os pequenos.

Ao ver essas imagens de devoção popular em pleno século XXI, sim, cito o século como agravante pois para mim a Igreja e a religiosidade são coisas fora de moda que não consigo entender como ainda persistem existindo, me indago: será que tem alguém da classe média que ainda acredita nisso tudo?
Legal de ver a cobertura da Globo. O sorriso inebriado e "cult" de seus apresentadores com cortes de cabelo féxiom e fala mansa. Tudo muito legal, deveríamos trazer o Papa mais vezes aqui pra floresta, convidá-lo em época de carnaval, até, quem sabe, para ser samba-enredo da Beija-Flor.
Bom, agora, passado bom tempo da santíssima visita e bom tempo que eu acabei esse texto debutante, o coloco no ar inaugurando o blog.