quinta-feira, 12 de julho de 2007

Argentina

Cada vez tenho mais certeza - se é que "certeza" tem grau de intensidade - de que não há escola de futebol no mundo mais virtuosa que a argentina e isso não são olhos de "hincha". Não gosto e falo bem do futebol argentino por ser um torcedor e sim sou torcedor por admirar o futebol jogado nesse país.

Que o Brasil tem mais Copas do Mundo, é fato, assim como Alemanha e Itália, mas futebol é muito grande para ser resumido em Copas do Mundo. Deixemos o pragmatismo de lado e vejamos o futebol jogado dentro de campo.

A minha primeira Copa do Mundo como ser humano apto para tecer comentários coerentes foi a de 94. Nenhum time jogou metade do que jogou a Argentina até a fatídica e dramática exclusão do maior de todos os tempos por dópim. Do meio para a frente a Argentina contava com nada mais nada menos que Redondo, Caniggia, Balbo, Batistuta e Ele. O futebol apresentado era do mais alto nível, enchia os olhos, gols com trocas de passes intermináveis, individualidades, a Argentina apresentava um futebol maravilhoso em uma Copa de excelente nível técnico vencida por um time regular, apenas trabalhador e competente.

Em 98 um time de novo - como sempre - com muita qualidade. Seguia Batistuta, Ortega no seu apogeu, Gallardo aparecendo, Claudio López, Verón, mais um grande elenco, no entanto, menos que na Copa anterior. A primeira Copa sem Ele acabou com um gol genial de um gênio, Denis Bergkamp e uma arbitragem falha que não anotou um pênalti claro em cima de Ortega.

Grandes elencos e grandes times são a tônica do futebol argentino. O time campeão mundial sub-20 com Saviola, D´Alessandro, Maxi Rodriguez, Romagnoli e companhia foi um dos times que mais me encheu os olhos. Futebol agressivo, ofensivo, muita técnica, muita falta de respeito pelo adversário, soberba, isso tudo só poderia acabar com um título com direito a 4-0 na final.

A Copa de 2002 trouxe alguns desses craques do ano anterior, o favoritismo e outro elenco excelente, favorito ao título. O que se viu em campo na estréia foi uma atuação digna desse favoritismo, uma belíssima atuação de futebol total do Bielsa que culminou com a única vitória argentina nesse torneio de final trágico. Nos jogos seguintes contra Inglaterra e Suécia, vimos um time nervoso, acanhado, uma atitude semelhante ao que se viu em 94 após a despedida forçada Dele. Cada um vê um motivo para tal atitude. Eu acredito que 11 seres humanos não foram capazes de levar nas costas a responsabilidade de fazer uma população de quase 40 milhões de pessoas sorrirem em meio ao maior caos social de sua história. A seleção e seu bom futebol apresentado em amistosos anteriores e nas Eliminatórias e a isso se inclui o baile dado no Brasil em Núñez não foi capaz de encarar esse desafio amargo e isso é entendível. O jogador argentino é diferente do jogador brasileiro em caráter. Todos sentiam a responsabilidade que tinham, eles não se cansavam de comentar sobre a calamitosa situação política que vivia a nação e nos semblantes podíamos notar a preocupação. O jogador brasileiro é adepto do "vamos fazer o nosso papel e deixar cada um resolver seus problemas", ou seja, é mais pós-moderno, individualista e isso é positivo nesse sentido. Não há efervescência social que altere os ânimos de boleiros brasileiro. Alegria, alegria.

Nas Olimpíadas de Atenas em 2004, mais um time avassalador, lembrando muito, pela jovialidade e qualidade o sub 20 de 2001. Espetáculo de Tevez e companhia. Goleadas, golaçõs, massacres e uma surra na Itália na final.

Copa América 2005, derrota dramática nos pênaltis para um frouxo Brasil depois de exclentes apresentações dos abusados Tevez, D´Alessandro e cia.

Copa de 2006, golaços - os dois mais bonitos da competição eleitos pela FIFA - atuação inesquecível contra a Sériva & Montenegro, grande futebol e mais uma crua derrota nos pênaltis dessa vez para a Alemanha.

A seleção argentina de futebol é o único time do mundo que ataca o tempo inteiro como se estivesse precisando de um resultado a todo o momento, vide o time atual na disputa da Copa América e o seu sub 20 avassalador com Agüero, Zarate, Banega e cia. Conta com 2 dos 4 maiores jogadores do mundo no momento: Riquelme e Messi (os outros são Kaká e Cristiano Ronaldo), por que não ganha um título com a seleção principal? Não sei. A Argentina é uma terra muito dramática, as crises e lágrimas são intensas, vive-se e respira-se futebol a cada segundo. Talvez se fosse levado menos a sério, seriam imbatíveis.

No entanto, o futebol argentino não pára de ganhar títulos. É o maior campeão de Copas América, tem o dobro de títulos do Brasil e, de 9 finais disputadas entre os dois, ganhou 8 e perdeu uma - 2005 - nos pênaltis; tem mais Mundiais Interclubes que qualquer outro país, o dobro de Libertadores que o segundo colocado, pentacampeão mundial sub 20 e, o maior título de todos, a qualidade interminável, as trocas de passes, o maior de todos os tempos, o jogar futebol como ninguém, ganhando ou perdendo, enchendo os olhos de quem vê e exibindo jogadores da mais alta técnica.

A cada jogo da Argentina eu encontro respostas que esclarecem o porque que eu gosto tanto desse esporte. Domingo, espero que o placar seja um espelho das diferenças técnicas dos dois times, ou seja, 15-0.

4 comentários:

Fabio Sosa disse...

Faço minhas as palavras deste blogueiro, venho acompanhando o futebol argentino desde 1986, ano em que a Argentina sagrou-se bi campeã mundial de futebol. Desde esta época percebo que esta escola tem um diferencial em relação as demais. Talento, suor e alma. O jogador argentino faz esta diferença. O mundo deveria ser mais grato a Argentina, pelo show que nos oferece, apenas que nós brasileiros não aprendemos admirá-la pela nossa inconsequente soberba, ainda acreditando que no futebol, somos os melhores do mundo. Culpa de quem? Parábens mais uma vez ao autor deste texto que traz um viés não autorizado em nosso país. Afinal o sucesso do futebol argentino parece fazer mal por estas bandas. Inveja?

Silvio Pilau disse...

É...

Freguês...

Eduardo Colonia disse...

Pois é, Fábio, ainda ontem estava comentando: torço para o meu time, o Grêmio, ganhar, de qualquer jeito, na marra, sei lá, admiro o estilo bursco e tosco com que o Grêmio levanta taças. No entando, meu momento de me esbaldar, meu momento de torcer para um time que brilha, é quando vejo a minha seleção argentina jogar, é o meu momento de prazer, de deixar o sofrimento do Grêmio de lado. Infelizmente, uma atuação apática contra um "Grêmio" traiçoeiro na final nos tirou a taça, mas não o brilho. Já esqueci do jogo de domingo, mas não esqueço das atuações de Messi, Riquelme e cia nessa Copa América. De espírito renovado, espero a semifinal de quinta-feira do sub 20 contra o Chile.

Eduardo Colonia disse...

Sobre o "freguês", bom, chamo a história. É a segunda, de 10 finais entre Argentina e Brasil, que os amarelos ganham, sendo que a outra foi empate e vitórias nos pênaltis. São 14 títulos contra 8 do Brasil...ainda falta chão.

Segundo: não deveria responder a críticas de gaúchos torcedores da seleção brasileira. Não gosto desse tipo de gente bem como não suporto mulheres de brigadianos.