sexta-feira, 27 de julho de 2007

Romildo

Recomendo a compilação de contos "Romildo" do escritor italiano Alberto Moravia. Muitos dos contos que podem ser vistos no livro nunca foram publicados devido à morte do escritor. Após uma paralisia, seus últimos contos foram escritos de uma maneira muito peculiar e apaixonada. O velho Moravia, com um pincel atômico na mão, colocava seus garranchos em folhas de papel e as guardava em sua gaveta.

O resultado dessa seleção de contos publicados desde a década de 30 até a década de 80, além dos inéditos, é um livro muito interessante. Contos polêmicos, bizarrices, gente estranha, aristocracia européia, crítica social, tudo isso fluía da mente singular de Moravia, um admirador de Proust, Eliot e Edgaer Alan Poe.

O texto que abre o livro, uma história de um pai de família que recebe um homossexual em sua casa de praia, é contado em duas versões. O caso de uma enfermeira peruana que é convidada a imitar um animal dentro de uma jaula para dois homens de relação enigmática, um homem de negócios que pede a uma prostituta urinar em sua cabeça, são apenas alguns exemplos do que podemos encontrar na escrita de Moravia.

No entanto, estas histórias mais estranhas não têm um final tão bizarro quanto é esperado pelo leitor que pode frustrar-se. O escritor mantém o clima de que algo hediondo está para acontecer, mas sempre o final é a volta à cordial realidade. Os leitores acostumados com os finais retumbantes de filmes de Hollywood podem não gostar da atitude das personagens de Moravia que, no último minuto, acabam sendo salvas por ordinários comportamentos conservadores.

Obra rica, vale também pelas dicas literárias dadas pelo escitor ao longo dos contos e gera uma admiração pela pessoa de Moravia, um foragido da Itália de Mussolini que passou por inúmeros pontos, alguns inóspitos, do planeta e colocou, com máquina de escrever ou com pincel atômico, o testemunho de suas mais sinceras percepções.

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