terça-feira, 17 de julho de 2007

Live Earth

Até quando os meios de comunicação nos vão oferecer esses megaeventos disfarçados de salvadores da humanidade, defensores de causas impossíveis? Até quando nossos "ídolos" farão discursos piegas sobre criancinhas e paz no mundo?

O "Live Earth" e o discurso do Dunga ao final do jogo contra a Argentina foram mais dois exemplos dessa mania de passar a responsabilidade pelo fracasso da humanidade para a população pós-moderna. Ninguém pode fazer alguma coisa para salvar o mundo do derretimento global e tampouco podemos, nós, meros telespectadores da Globo, salvar as criancinhas de Ruanda. Pelé dedicou o seu milésimo gol a elas e agora Dunga conclamou a América a salvar os pequenos ruandeses e palestinos.

Festivais de música podem ser bons eventos, o "Live Earth" teve boas apresentações como a volta do "The Police" aos palcos ou a simples presença da beleza e graça de Joss Stone com seus pés nus, mas que fique por aí. Que as pretensões dos organizadores limitem-se a cifras recordes de faturamento e que os métodos para conseguirem tais cifras não sejam a tentativa de ser algo salvador da humanidade.

Após tantos filmes, tenho certeza que o Estados Unidos nos salvará de qualquer catástrofe e/ou invasão extraterrestre, estou muito tranqüilo e seguro quanto a isso. Os efeitos especiais dos filmes são tão bons, impossível que isso seja inviável de ser realizado. É um alívio não ter mais esse peso nas costas de ter que salvar a Terra em um caso extremo.

Madonna pediu ao público de Londres: "if you want to save the planet, put your hands up". Ora, que diferença faz nossas maõs erguidas ou apalpando o indivíduo mais próximo? O mundo continuará se destruindo, gases e poluição continuarão sendo emitidos.

Dunga disse: "é um título para criancinhas de Ruanda". Ora, o que esse maldito e injusto título mudará nas pobres vidas dos desnutridos infantes de Ruanda? Ou mesmo do Brasil? Nada, como já diria Guy Debord. O único efeito, se é que será realizado, será negativo. O título pode inspirar a emergente seleção de Ruanda a jogar inspirada no tacanho time do Dunga e não no genial time da Argentina.

É muita pretensão. A nossa sociedade está tão espetacularizada que todo mundo se crê importante, crêem que são semi-deuses pelo simples fato de serem "famosos". Somos números! Qual o problema de admitir que somos meras engrenagens de uma máquina claudicante, somos nada, somos mais um. Uns.

Madonna ou Dunga são números. Os seus feitos são tão relevantes como a publicação de um texto meu, que sou tão desimportante quanto eles, em um Blog. Por que não aceitar isso?

Chega de manifestações pela paz no Rio de Janeiro! Assim os jornalistas da Globo não precisarão ir atrás de pauta nunca mais. Todos os dias alguém coloca alguma coisa nas areias de Copacabana para escancarar para o mundo quantos números morrem a cada dia.

Não podemos salvar o mundo. Se o "Live Earth" e o Dunga querem fazer algo realmente útil para "salvar o mundo" que façam esse xou e esse jogo de futebol, duas coisas de uma desimportância invejável, no rancho de George Bush no Texas ou na reunião da cúpula do G8 ou em Davos. A parcela apta e dotada de mecanismos para salvar o mundo e as nossas criancinhas são poucos, são 8.

E eu não faço parte desses 8, tampouco sou amigo deles. Sou um número. E sou feliz, consciente de minha desimportância para a maioria da humanidade e para a sociedade.

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